Divulgação Científica
Animais surgiram em lagos
28/7/2009
Agência FAPESP – Os primeiros animais surgiram a partir da evolução de organismos unicelulares em pluricelulares, que levou cerca de 3 bilhões de anos, e nos oceanos. Pelo menos é o que se acreditava. Mas um novo estudo aponta que provavelmente só a primeira parte da afirmação é correta.
Um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos e do Canadá descobriu em amostras de rochas escavadas na China os mais antigos fósseis de animais de que se têm notícia. Os registros paleontológicos estão depositados não em sedimentos marinhos, mas em depósitos de antigos lagos.
“Sabemos que a vida nos oceanos é muito diferente da vida em lagos e, pelo menos no mundo moderno, os primeiros representam ambientes muito mais estáveis e consistentes em comparação com os segundos, que tendem a ter duração mais curta, em termos evolucionários. Por conta disso, é surpreendente que a primeira evidência de animais esteja associada com lagos, que são ambientes que variam muito mais do que os oceanos”, disse Martin Kennedy, professor do Departamento de Ciências da Terra da Universidade da Califórnia em Riverside.
Análise de fósseis encontrados na China aponta que mais antigos organismos animais não teriam surgido em oceanos, como se acreditava (divulgação)
O estudo, cujos resultados serão publicados esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, levanta importantes questões a respeito de quais aspectos do ambiente terrestre mudaram para permitir a evolução animal.
Os pesquisadores centraram o trabalho na formação Doushantuo, no sul da China, que contém fósseis altamente preservados com cerca de 600 milhões de anos.
“Nossa primeira surpresa foi descobrir na região uma abundância de um mineral chamado argila bentonítica. Em rochas com essa idade, essa argila é normalmente transformada em outros tipos. Mas a que encontramos não passou por tal transformação e mantém uma química especial que, para que tenha sido formada, exige condições específicas na água. Justamente condições comumente encontradas em lagos salgados e alcalinos”, disse Tom Bristow, colega de departamento de Kennedy e outro autor do estudo.
Segundo os pesquisadores, análises feitas mostraram que os minerais e a composição química das rochas não são compatíveis com depósitos sedimentares de ambientes marinhos. “Há muitas linhas de evidência que indicam que esses primeiros animais viveram em ambientes lacustres”, disse Bristow.
“É possível que existam outros organismos tão ou mais velhos em ambientes marinhos que ainda não foram descobertos. Mas nosso trabalho mostra que a gama de hábitats dos primeiros animais é muito mais extensa do que se imaginava. Ele também levanta a possibilidade intrigante de que a evolução animal ocorreu primeiramente em lagos e está ligada a um aspecto ambiental único de tais ambientes”, disse Kennedy.
De acordo com o pesquisador, como lagos não estão geralmente ligados com outras formações semelhantes e são muito menores do que oceanos, pode ter ocorrido uma evolução em paralelo de organismos. “Agora, precisamos esperar para ver se fósseis semelhantes são encontrados em outros locais”, apontou.
O artigo Mineralogical constraints on the paleoenvironments of the Ediacaran Doushantuo Formation, de Thomas Bristow e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em www.pnas.org.
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