Darwin versus Adão ou A Natureza versus Darwin? Parte 1/2

quinta-feira, junho 15, 2006

Revista Fapesp

Edição 124 Junho de 2006

Ciência Paradigmas

Darwin versus Adão

“Avanço do criacionismo mobiliza cientistas na defesa da Teoria da Evolução”

O estardalhaço do título da Revista Fapesp teve dois objetivos – um espúrio: desqualificar todas e quaisquer críticas à Teoria da Evolução e o outro foi o de ‘jogar confetes’: apresentar os cientistas como sendo verdadeiros ‘paladinos da verdade’.

Não desqualifica as críticas, é falso, e deu um tiro no próprio pé: a História da Ciência revela ser a Teoria da Evolução a área científica mais pródiga em fraudes na tentativa de provar o FATO da teoria geral da evolução (um Australopithecus se transformar em Darwin).

A mobilização dos cientistas em defesa da Teoria da Evolução (termo por demais elástico e nunca explicitado) devido ao ‘avanço do criacionismo’ é um exagero, pois nos países laicos, especialmente o Brasil, o criacionismo não pode ser ensinado nas escolas públicas por razões constitucionais e legais.

Realmente “O Grande Debate” não perdeu fôlego nem a paixão de evolucionistas e antievolucionistas. As especulações transformistas de Darwin receberam críticas dos religiosos, mas a mais importante e nunca mencionada críticas veio de cientistas de sua época, tanto que Darwin se viu obrigado a escrever 4 capítulos no Origem das Espécies (30% da obra) tentando refutá-los. Assim sendo, o transformismo das espécies não é um embate somente de ‘idéias fundamentalistas’ versus ‘idéias não fundamentalistas’, mas o embate da interpretação das evidências encontradas na natureza se elas apóiam ou não as ‘idéias fundamentalistas evolutivas’ do naturalista inglês e seus discípulos.

Há três falsidades históricas gritantes da Revista Fapesp. Não tenho procuração dos criacionistas para defendê-los, mas eles sempre aceitaram e aceitam a tese da seleção natural como princípio conservador – o mais apto sempre sobrevive – mas não responsável por toda diversidade e complexidade dos objetos bióticos.

A Revista Fapesp está mal informada e má intencionada a respeito da Teoria do Design Inteligente. Fazendo parte da Nomenklatura científica, o que se podia esperar? O DI não foi, não é, e nunca será criacionismo e nem afirma que “a complexidade do homem e a sua perfeição são resultados – e a prova concreta – de um projeto divino.

A Revista Fapesp mentiu escancaradamente ao afirmar que o Design Inteligente “até tem status de disciplina em escolas públicas”. Faltou indicar quais escolas públicas deram esse status de disciplina para o DI. A revista teria sido mais séria jornalisticamente se tivesse informado aos seus leitores que a TDI já é considerada em curso de 36 universidades americanas! Como teoria científica, a TDI afirma tão-somente que certos eventos no universo são melhor explicados por causas inteligentes e que o design pode ser empiricamente detectado na natureza.

A Revista Fapesp repetiu neste artigo o velho, cansado e manjado mantra de que o Design Inteligente é ‘criacionismo em smoking barato’. Além de fingir não saber, ou é tática defensiva junto com a Grande Mídia Tupiniquim de polarizar, apresentou novamente a questão como sendo uma de religião (considerada como irracionalidade), versus ciência (tida como única racionalidade). A questão hoje em dia não é se as especulações transformistas de Darwin contrariam os relatos de criação de textos sagrados de tradições religiosas, mas se elas são apoiadas pelas evidências encontradas na natureza. Não são e apontam noutra direção – Design Inteligente.

O tema da V São Paulo Research Conference, promovido pela Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), entre os dias 18 e 20 de maio de 2006, não foi somente esta inquietação dos cientistas com o ‘avanço do criacionismo’, mas “como as contribuições que modernas abordagens, tais como, por exemplo, a bio-informática e a biologia molecular estão trazendo para a compreensão e eventual reinterpretação dos mecanismos de evolução”. Esta conferência teve o apoio da Faculdade de Medicina da USP, da Sociedade Brasileira de Imunologia e da Sociedade Brasileira de Química, menos da Sociedade Brasileira de Biologia. Estranho, não é mesmo?

As palestras foram bem técnicas, mas somente sobre pesquisas em nível de teoria especial da evolução (microevolução) e nenhuma em teoria geral da evolução (macroevolução). Por quê? Alguns palestrantes afirmaram: “Não esperávamos encontrar este resultado”, “Parece que a seleção natural não funciona aqui”, mas não indicaram como seria esta “reinterpretação” que se faz necessária nestes “mecanismos de evolução”.

Apresentei o pôster polêmico: “Uma Iminente Mudança Paradigmática em Biologia Evolutiva?” baseado na literatura científica especializada indicando que o neodarwinismo é um paradigma em crise há mais de 25 anos e precisa ser revisto e descartado. O artigo da Revista Fapesp nem mencionou os pôsteres. Alô, Ricardo Waizbort (FIOCRUZ), o seu pôster estava quase ao lado do meu. Foi um imenso prazer.

Apresentei-me ao Dr. Francisco Salzano e disse para ele que tenho alguns livros dele, e ele muito surpreso disse: “Ah, então é você o Enézio de Almeida?” Leu o meu crachá e perguntou: “Qual é a sua função na universidade ‘xyz’?” Respondi que era apenas um mestrando. “Quem é o seu orientador?” Eu declinei o nome, e ele ficou em silêncio. Não sei o que dizer dessa pequena e estranha ‘inquisição’. O tempo dirá...

Outros passaram ao largo intrigados, desconfortáveis e até irritados. O Dr. Aldo Mellender de Araújo foi o único dos palestrantes que leu atentamente o pôster e me perguntou: “Você tem uma outra teoria para repor o neodarwinismo?”. Respondi que o tema do pôster era um registro historiográfico da necessidade de revisão ou descarte de uma teoria científica em crise epistêmica e que era a função dele e dos demais biólogos elaborarem as revisões e/ou uma nova teoria da evolução.

Amabis foi um palestrante darwinista entusiasmado que em algumas ocasiões de sua palestra me pareceu mais um pastor neopentecostal entusiasmado do que cientista. Será que ele desconhece que a “Árvore da Vida” de Darwin está mais para ‘grama’ do que uma só árvore? E que LUCA (Last Universal Common Ancestor) é uma entidade biológica fruto mais da imaginação do que de evidências empíricas? A afirmação de que “somos assim por acaso, e não por conta de um projeto inteligente”, não é uma afirmação científica, é ideológica.

A ira fundamentalista da Nomenklatura científica darwinista contra os oponentes, especialmente nós do movimento do Design Inteligente, é compreensível: o darwinismo funciona como uma religião (Michael Ruse, renomado filósofo de biologia evolutiva, canadense radicado nos Estados Unidos). Nós do Design Inteligente estamos decretando a “morte de Darwin” na Academia. Quando exponho as entranhas carcomidas e putrefatas do neodarwinismo aqui neste blog, “é como confessar um crime”...

Darwin não esperou 20 anos para publicar a sua “teoria” por causa da “ira fundamentalista” – isso é fenômeno religioso muito recente. Agnóstico que era, Darwin não teria nenhuma dificuldade em levar adiante a sua tese. Dizem por aí que Darwin esperou todo este tempo temendo ser apanhado com ‘a mão na cumbuca’ por ter plagiado a idéia de seleção natural já vista em artigos de Edward BlythThe Varieties of Animals publicado no Magazine of Natural History em 1835 (Darwin and the Mysterious Mr. X, Loren Eiseley. J. M. Dent & Sons, Londres, 1979, p. 89).
Ao contrário de Darwin, Blyth considerava a seleção natural como uma influência conservadora tendendo a preservar o status quo. Dizem que Blyth era criacionista...

A idéia de evolução é muito antiga: vem desde os gregos antigos. Apesar de ser idéia corrente na Europa do tempo de Darwin, os cientistas não ficaram com um pé atrás com essa idéia, mas com a seleção natural ser o mecanismo evolutivo. Corrijo aqui o erro em História da Ciência da Revista Fapesp, mas Darwin não esperou ‘cinco edições subseqüentes’ para ser ‘obrigado a dialogar com seus críticos’. Desde o longo processo de elaboração de sua ‘obra mais famosa’ (não seria ‘confusa’), Darwin ‘viu-se obrigado a dialogar com seus críticos’ – escreveu 4 capítulos respondendo às objeções científicas dos seus pares. Não conseguiu. Nem ele e nem seus discípulos até hoje...

A ciência sempre revisa os erros tidos como verdades em determinadas teorias. Isso às vezes demora muito tempo. No caso de Darwin, ele se viu obrigado a corrigir os seus erros imediatamente em cinco edições posteriores. É falsa a afirmação de que ‘avanço da biologia, da genética e da biologia molecular no século 20’ deram a Darwin ‘um status semelhante ao de Copérnico no panteão da ciência’. São justamente essas áreas científicas que estão ‘destronando’ Darwin da posição de “theoria perennis” em ciência. Por quê? A tese de Copérnico é facilmente comprovada, já as de Darwin... Mayr disse que elas são ‘reconstruções históricas de eventos que não podem se repetir’. É preciso aceitar ‘pela fé’...

Alguém pode me explicar o que essa tal de ‘posição do Homem em relação ao Universo’ tem a ver com ciência qua ciência? É mais um clichê ideológico. Não é ciência! É engana trouxa!


Por que a Revista Fapesp não mencionou o ‘eclipse da teoria da evolução’ logo após Darwin? Quais as razões desse ‘eclipse’? Foram questões científicas ou meramente de um bando de ‘fundamentalistas’? Kuhn disse que quando surgem anomalias que o paradigma não consegue responder, os que praticam ciência normal não abandonam o paradigma, mas tentam salvá-lo criando teorias ad-hoc. O neodarwinismo dos anos 30 e 50 foi justamente isso – uma teoria ad-hoc tentando salvar as teses transformistas de uma teoria científica do século 19.

Estranho, mas a conferência iria considerar ‘a eventual reinterpretação dos mecanismos de evolução’. Nenhum dos palestrantes sequer comentou as muitas dificuldades fundamentais de suficiência epistêmica do neodarwinismo por mim destacadas no pôster embasado na literatura científica atualizada de diversos especialistas de renome científico: (a) Questões de padrão (como os organismos são inter-relacionados e como nós sabemos isso?); (b) Questões de processo (os mecanismos da evolução e os vários problemas em aberto naquela área), e (c) Questões sobre a questão central – a origem e a natureza da complexidade especificada de informação biológica.

A pesquisa de Salzano sobre o DNA de várias tribos brasileiras vai tão-somente corroborar ‘variações’ dentro da espécie humana, mas nunca uma especiação, i.e. um Homo sapiens sapiens transmutando-se em sabe-se sei lá o quê. Além disso, pesquisas mais recentes já estão destronando o DNA como ‘mapa da vida’. Aguardem trabalho de um teórico do Design Inteligente sobre esta questão.