“A questão da evolução está gerando mais controvérsia e discussão hoje do que em qualquer tempo desde o “Grande Debate” no século dezenove. Em simpósios internacionais de prestígio, nas páginas de publicações científicas importantes e até nas galerias sóbrias do Museu Britânico de História Natural, cada aspecto da teoria da evolução está sendo debatido com uma intensidade que tem sido raramente vista recentemente em qualquer outro ramo de ciência.
Não é difícil entender por que a questão da evolução deveria atrair tanta atenção. A idéia tem chegado a tocar todo aspecto do pensamento moderno; e nenhuma teoria em tempos recentes tem feito mais para modelar o modo como nós nos vemos a nós mesmos e a nossa relação com o mundo ao nosso redor. A aceitação da idéia há cem anos atrás iniciou uma revolução intelectual mais significante e mais abrangente do que até as revoluções copernicana e newtoniana nos séculos dezesseis e dezessete.
O triunfo da evolução significou o fim da crença tradicional no mundo como uma ordem criada com propósito – a tão-chamada perspectiva teleológica que tinha sido predominante no mundo ocidental por dois milênios. De acordo com Darwin, todo o design, ordem e complexidade da vida e a estranha intencionalidade dos sistemas vivos eram o resultado de um simples processo cego e aleatório – seleção natural. Antes de Darwin, os homens acreditavam que uma inteligência providencial tinha imposto o seu misterioso design sobre a natureza, mas agora o acaso reinava supremo. A vontade de Deus foi substituída pelo capricho de uma roleta. O rompimento com o passado foi completo.
Por causa de sua influência em áreas bem distantes da biologia, os problemas atuais na teoria da evolução têm sido amplamente divulgados e têm cativado a imaginação pública a ponto de tópicos como as lacunas no registro fóssil ou as metodologias competidoras em taxonomia – assuntos que normalmente seriam considerados obscuros ou esotéricos – são discutidos em detalhe em revistas populares e até nos jornais diários. Qualquer sugestão de que possa haver algo seriamente errado com a visão darwiniana da natureza está destinado a excitar a atenção pública, pois se os biólogos não podem substanciar as assertivas fundamentais do darwinismo, sobre as quais repousam tanto da textura do pensamento do século vinte, então claramente as implicações intelectuais e filosóficas são imensas. Não é de admirar, então, que o atual tumulto em biologia esteja despertando tão difundido interesse.
Praticamente há duas posturas filosóficas diferentes para o debate. Por um lado, alguém pode adotar a posição conservadora e considerar as dificuldades como anomalias essencialmente triviais e meramente enigmáticas, que serão todas eventualmente reconciliadas de algum modo com o referencial teórico tradicional. De modo alternativo, alguém pode adotar uma posição radical e considerar os problemas não como quebra-cabeças, mas como instâncias contrárias ou paradoxos que nunca serão explicados adequadamente dentro do referencial teórico ortodoxo, e, portanto indicativo de que há algo fundamentalmente errado com o atual ponto de vista de evolução aceito.
Enquanto a maioria dos biólogos que escreveram recentemente sobre a evolução admita que os problemas sejam sérios, quase todos adotam uma posição definitivamente conservadora, crendo que eles podem ser resolvidos fazendo somente pequenos ajustes ao referencial teórico darwiniano.
Neste livro eu adotei a postura radical. Ao apresentar uma crítica ao atual modelo darwiniano, desde a paleontologia à biologia molecular, eu tentei demonstrar porque eu creio que os problemas são por demais severos e por demais intratáveis para oferecer qualquer esperança de resolução em termos do referencial teórico darwiniano ortodoxo, e que, conseqüentemente, a visão ortodoxa não é mais defensável”.
Duvido que algum ultradarwinista fundamentalista douto ou alguém da Nomenklatura científica saiba qual foi o cientista evolucionista que escreveu este prefácio. Este livro foi sugerido a várias editoras tupiniquins que rejeitaram publicá-lo em português em 1998.
Nota bene: o ceticismo científico da teoria da evolução é um fenômeno desde o tempo Darwin. Sua teoria foi remendada pelo neodarwinismo nos anos 1930s. A síntese moderna vem enfrentando dificuldades desde então. Se você souber qual foi o evolucionista cético de renome que escreveu este prefácio, escreva-me:
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