Em artigo muito bem escrito, e bem diplomático para agradar a gregos e troianos – “Conciliando ciência e religião”, Marcelo Gleiser ‘quase acertou na mosca’: o mito da guerra ‘ciência versus religião’. O texto da FSP de 25 de junho de 2006 pode ser lido no JC E-Mail.
Muito suspeito este artigo. A Grande Mídia Tupiniquim, e especialmente a editoria de ciência da Folha de São Paulo sempre foi hostil às críticas feitas à ‘falsa ciência’ por críticos de tradições religiosas. Marcelo Leite disse que ‘não damos espaço’ para os críticos de Darwin. Isto é, os pequenos ditadores de corações e mentes mandam os de tradições religiosas para os seus devidos lugares culturais que são as suas catacumbas e guetos eclesiásticos...
Não sei não, mas este tipo de artigo do Marcelo Gleiser está ‘cheirando’ muito mais a uma ‘encomenda’ da Templeton Foundation...
Gleiser poderia ter ido direto na jugular da Nomenklatura científica quando a ciência é questionada empiricamente em algumas de suas mais ‘adoradas’ teorias – a teoria geral da evolução. Não foi porque ele não é doido de colocar o seu pescoço na guilhotina da KGB [revisão por pares – peer-review é mais chique...]. Bem, como existem outros cientistas bem mais corajosos do que Marcelo Gleiser et al. e que nada têm a perder – não dependem da Academia para o seu sustento material, eis aqui um artigo interessante sobre esta questão:
O Mito da Guerra
Cornelius Hunter
No século dezenove os evolucionistas defenderam o que se tornaria conhecido aos historiadores de ciência como a tese da guerra. A tese da guerra é um modelo de relação entre a ciência e a religião e algo mais ou menos assim. A ciência é religiosamente neutra e ocasionalmente suas novas verdades menosprezam crenças religiosas. Embora muitos dos fiéis possam se adaptar às novas descobertas da ciência, aqueles fundamentalistas cabeças-duras não têm escolha a não ser o de se tornarem obstrucionistas, combatendo o progresso científico em cada etapa.
É claro que nem tudo da ciência é religiosamente neutro (a teoria da evolução é um exemplo óbvio). Desempacotando a tese da guerra, como eu faço no meu livro (a ser publicado) Science’s Blindspot [algo como “O que a ciência não pode ver”], é um exercício interessante, mas longo demais para publicar num blog. Basta dizer que a tese da guerra é um bom exemplo de um mito de um dia moderno. E como qualquer bom mito, a tese da guerra tem boas razões para a sua existência. Os evolucionistas usaram o mito para ornar a evolução como sendo “somente ciência”, e os evolucionistas de hoje continuam a usar o mito pelo mesmo propósito.
Divirtam-se com a ironia. A crítica científica é repudiada como um dogma religioso enquanto que a evolução, uma teoria que é religiosamente impulsionada com problemas científicos monumentais, é dada um alto fundamento baconiano. Embora os evolucionistas usem o mito da guerra para reivindicar objetividade científica, é na verdade a teoria da evolução que é, por qualquer definição do termo, uma teoria religiosa.
A tese da guerra é uma generalização demasiadamente simplista de um debate de muito mais nuance. Mas as descrições de nuances não são engraçadas porque elas forçam as pessoas a lidarem com o ponto de vista de seus oponentes, e considerarem os problemas com a sua própria posição. As generalizações simplistas, por outro lado, são úteis para argumentar a favor de sua própria legitimidade e desconsiderar a dos oponentes.
Daí o mito da guerra. Hoje nós o encontramos até na literatura técnica. Por exemplo, em artigo recente no Plos Biology, Lisa Gross, citando liberalmente a Jon D. Miller da Northwestern University Medical School, descreve as controvérsias atuais usando as caricaturas do mito da guerra dignas de qualquer polêmica do século dezenove. Os americanos, nós somos informados, têm reservas de cunho religioso sobre a ciência e “a ideologia religiosa se esparramou na esfera pública”. Ela adverte sobre “Grupos Religiosos” dispostos a coisas ruins e pinta um quadro ameaçador:
Miller há muito tem se preocupado sobre um crescente movimento anticiência. O clima atual é ainda mais perturbador, diz ele, com o surgimento de ataques organizados contra a ciência em oposição ao pano de fundo das novas guerras culturais.
“Um crescente movimento anticiência” e “o surgimento de ataques organizados contra a ciência”? Isso parece pior do que o crime organizado. E quem são realmente estes vilões? Quem que pensa que a evolução não é um fato. Não são eles religiosos fanáticos dispostos a corromper a ciência?
Os evolucionistas fazem prosperar o mito da guerra. Eles promoveram o mito um século atrás e eles perpetuam o mito hoje. Eles estão bem atentos quanto as premissas religiosas no debate das origens quando eles próprios estão atolados de premissas religiosas.
Questione a evolução e você é “anticiência”. Peça uma demonstração da evidência empírica que toque a evolução e você está voltando o relógio para a idade das trevas. E tais ameaças à ciência devem ser tratadas. Como Miller observa, “A era da ciência apartidária já foi”, como se o darwinismo fosse meramente boa ciência e solidamente empírica. O que nós devemos lembrar é que para Miller e o mito da guerra, os apartidários são aqueles que apóiam a evolução, e os partidários são aqueles que a consideram problemática.
A aparição do artigo de Lisa Gross em uma publicação técnica não é um sinal de obscuridade, mas antes de ubiqüidade. O mito da guerra é agora tão prevalente que alcança até as páginas daquelas publicações especializadas monótonas que do contrário são cheias de artigos técnicos. Na literatura popular, a tese do mito da guerra está num baticum constante, moldando o debate para os evolucionistas então trombetearem a sua justiça. Como o crítico leal do design Paul Gross escreveu recentemente numa resenha:
“A guerra (deve ser assim chamada) entre a ciência e o Movimento do Design Inteligente guiado pela fé fundamentalista é de uma importância profundamente preocupante para a educação em ciência, e para a própria ciência – e assim, inevitavelmente, para a cultura contemporânea. A seriedade das implicações somente foi reconhecida recentemente, provavelmente tarde demais para um cessar razoável das hostilidades”.
O uso e a aceitação ampla do mito da guerra são lamentáveis, mas não surpreendente considerando-se o ponto de vista evolutivo. O mito da guerra não é um erro ingênuo ou uma tática secreta. Como eu discuto no Science’s Blindspot [“O que a ciência não pode ver”], o mito da guerra é uma conseqüência natural das premissas metafísicas embutidas na evolução. Os evolucionistas não estão sendo matreiros ou estúpidos; antes, considerando-se as suas premissas o mito da guerra é a explicação lógica para a crítica de sua teoria. A prevalência do mito é simplesmente um reflexo de sua teologia subjacente.
Postado por Cornelius Hunter em 19 de junho de 2006, 01:54 PM
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Marcelo Gleiser bem que tentou...