Lucy saí de cena e Ardi ganha os holofotes, por ora...

sábado, outubro 03, 2009

JC e-mail 3861, de 02 de Outubro de 2009.

16. Grupo acha o mais antigo esqueleto de ancestral humano

Ardi, uma fêmea de 4,4 milhões de anos desenterrada na Etiópia, desbanca a célebre Lucy, 1 milhão de anos mais jovem. Espécie habitava floresta e podia viver tanto no solo quanto sobre as árvores



Reinaldo José Lopes escreve para a "Folha de SP":

Com 4,4 milhões de anos, apenas 1,2 metro e 50 kg, Ardi não é exatamente uma beldade, mas antropólogos do mundo todo já caíram de amores por ela. O fóssil etíope, que acaba de ser apresentado à comunidade científica, é o retrato mais antigo e mais completo dos ancestrais da humanidade.

Ardi destrona outra fêmea famosa, Lucy, uma Australopithecus afarensis cerca de 1 milhão de anos mais jovem. Até agora, Lucy era o mais completo exemplar de ancestral primitivo do homem a ser achado.

A nova "moça" sugere um quadro inesperado sobre as origens humanas. Não se deixe iludir pelas semelhanças superficiais: os primeiros hominídeos, como são chamados esses predecessores do homem, não eram meros chimpanzés, mas criaturas com anatomia e hábitos bem distintos dos que se vê entre os grandes macacos africanos de hoje.

Os detalhes do corpo de Ardi e de seus parentes, membros da espécie Ardipithecus ramidus, mostram que tanto os chimpanzés quanto a linhagem humana passaram por grandes transformações desde que se separaram. "É exatamente o que Darwin previu sobre essas duas linhagens", declarou Tim White, da Universidade da Califórnia em Berkeley, que coordenou os estudos sobre Ardi.

White e companhia publicam suas conclusões sobre o fóssil e o ambiente onde vivia numa coleção de 11 artigos na revista especializada americana "Science". "É uma realização extraordinária, porque os fósseis foram achados originalmente em pedacinhos, que tiveram de ser reconstruídos com a ajuda da última palavra em computação gráfica", avalia John Fleagle, paleoantropólogo da Universidade de Stony Brook (EUA), que comentou a pesquisa a pedido da Folha.

Esse esforço todo começou em meados dos anos 1990 e só terminou agora. Hoje, a equipe de pesquisa pode afirmar com confiança que Ardi era uma primata que, no chão, andava com duas pernas, mas também era capaz de escalar árvores e andar por elas como quadrúpede, apoiando-se nas palmas de suas mãos e pés.

Para conseguir isso, os dedões do pé eram capazes de agarrar objetos, como os polegares humanos, e as mãos podiam se voltar bastante para trás, com as palmas para cima, facilitando a tarefa de se prender aos galhos.

Ao mesmo tempo, porém, a fêmea e seus parentes não estavam adaptados a ficar se balançando de galho em galho nem caminhavam apoiados sobre os nós dos dedos, duas características que definem os chimpanzés. "É uma mudança enorme diante das visões atuais", diz Fleagle. "Todo mundo achava que, quanto mais antigos os fósseis, mais os hominídeos seriam parecidos com os chimpanzés de hoje", diz ele.

Completando o pacote de traços inesperados, os dentes caninos dos machos de A. ramidus são modestos, e o tamanho deles e das fêmeas é igual, o que indica uma espécie relativamente pacífica, diferente dos agressivos chimpanzés.
(Folha de SP, 2/10)

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NOTA IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:

Tim White já teve os seus 15 minutos de fama com Ardi. Agora vamos ao que interessa e levantar alguns questionamentos que um bom jornalista científico como o Reinaldo José Lopes deveria fazer. White datou Ardi em 4.4 milhões de anos BP (before present - antes do presente), enquanto que a Lucy, de Johanson, não foi achada muito distante de Ardi e datada em 3.2 milhões de anos BP:

(1) Em qual direção a evolução estava indo por 1.2 milhões de anos entre Ardi e Lucy?

(2) O quanto que a paisagem se alterou geologicamente naquele tempo (1.2 milhões de anos)?

(3) Seria possível que estas duas espécies fossem contemporâneas?

(4) O mesmo Tim White que trabalhou com os fósseis "os fósseis foram achados originalmente em pedacinhos", é o mesmo Tim White que há seis anos atrás chamou a atenção dos cientistas que a deformação geológica dos fragmentos dos fósseis podem produzir impressões enganadoras da diversidade de espécies:

"There are two questions to be asked in considering whether the fossil constitutes evidence of early hominid species diversity. First, are the described morphological differences from the A. anamensis to A. afarensis lineage real, or are they merely artifacts of postmortem fossilization processes? Second, does the putatively new morphology lie outside the expected range of phenotypic variation of this lineage? Fortunately, the history of vertebrate paleontology provides a largely unappreciated but critically important perspective on the first question. Modern primate skeletal collections help to address the second." PALEOANTHROPOLOGY: Early Hominids--Diversity or Distortion? White, Science 28 March 2003: 1994 March 28, 2003.

Parece que o Tim já estava trabalhando com esses 'pedacinhos' de Ardipithecus quando ele fez a afirmação acima (vide, por exemplo Ardipithecus Skeleton May Fill Gap in Human Evolution, 04/13/2006 e especialmente os embates entre os especialistas em Rivals argue over whether the fossilized skull is more ape than human, de Helen Pearson (Nature 10/10/2002) e o artigo de Ann Gibbons, “Paleoanthropology: Oldest Human Femur Wades Into Controversy,” Science, Vol 305, Issue 5692, 1885 , 24 September 2004.

O que se percebe é nada mais do que mudança de nomes de possíveis elos na evolução humana, e as frases retóricas de que o achado 'lança nova luz' ou 'derruba todo o entendimento anterior que tínhamos sobre a evolução humana' y otras cositas mais.

Para quem sabe inglês, vide os artigos de Casey Luskin abaixo:

1. Bones of “Ardi,” New Human Evolution Fossil, “Crushed Nearly to Smithereens”.

2. Artificially Reconstructed “Ardi” Overturns Prevailing Evolutionary Hypotheses of Human Evolution.

E os artigos de John Hawks, antropólogo evolucionista, sobre Ardi:

1. Ardipithecus FAQ

2. Unpersuaded (Sobre cientistas 'céticos' de alguns aspectos da pesquisa.

3. Losers of the day.

4. "Discovering Ardi"

5. Ardi woes.

Ultimamente a Grande Mídia vem dando destaque para descobertas assim, sem nenhum questionamento: Darwin dixit, evolutio finita! Por que não ler as pesquisas cum grano salis antes de servir somente de garoto-propaganda de Darwin? Nenhum jornalista científico que se preze deve desempenhar um papel desses.

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O especial sobre Ardi pode ser baixado gratuitamente, mas é preciso se inscrever no site da Science.