Imperdível a exposição “Revolução Genômica” em São Paulo

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Por dentro do DNA

29/02/2008

Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – A versão brasileira da exposição Revolução Genômica, criada pelo Museu de História Natural de Nova York, será aberta ao público nesta sexta-feira (29/2), em São Paulo, no Pavilhão Armando de Arruda Pereira, no Parque do Ibirapuera, onde permanece até 13 de julho.

Visitada por mais de 800 mil pessoas em diversos países, a mostra usa elementos interativos para explicar conceitos científicos e explorar o impacto das descobertas sobre o genoma na medicina, na agricultura e no cotidiano. O espaço da exposição também abrigará, nos finais de semana, um amplo ciclo de palestras relacionadas ao tema, com organização da revista Pesquisa FAPESP.

A exposição, instalada em uma área de 2 mil metros quadrados, foi trazida ao Brasil por intermédio do Instituto Sangari, que espera receber de 500 mil a 600 mil visitantes. O orçamento foi de R$ 4,5 milhões, segundo os organizadores. A exposição tem apoio de diversas empresas e instituições, entre as quais a FAPESP.

A curadoria é assinada pela professora aposentada do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo (USP), Eliana Beluzzo Dessen e pela jornalista Mônica Teixeira, assessora do Núcleo de Educação da Fundação Padre Anchieta e autora do livro O projeto Genoma Humano.

Segundo Eliana, a exposição foi ampliada em relação à original. Além da seção dedicada aos conceitos científicos relacionados ao DNA, seu estudo, seqüenciamento e aplicação, a versão brasileira ganhou uma introdução que remete à noção de biodiversidade, localizando o DNA no organismo das diferentes espécies, além de uma conclusão voltada às aplicações do conhecimento à genética de alimentos – um ponto forte da genômica brasileira.

“Fizemos também uma adaptação da linguagem à capacidade de leitura do público brasileiro. Nas seções complementares procuramos expressar as idéias usando menos texto e enfatizando a compreensão sensorial”, disse Eliana à Agência FAPESP.
Segundo a professora, que é coordenadora de Educação-Difusão do Centro de Estudos do Genoma Humano, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da FAPESP, a linguagem foi desenvolvida com foco em alunos do ensino médio.

“Sabemos que, por causa da abstração que envolve a genômica, os estudantes têm grande dificuldade para compreender. Por isso, a exposição procura associar a informação didática a uma apresentação intuitiva e concreta”, explicou.

A mostra começa com uma passagem por um salão que apresenta a diversidade de organismos existentes – incluindo animais vivos e taxidermizados, plantas, fotos e filmes. Em seguida, o visitante faz um passeio por dentro de uma célula com organelas tridimensionais, onde pode localizar o DNA.

Na segunda parte, que corresponde à exposição original, o visitante tem informações sobre a descoberta do DNA e aprende conceitos importantes como hereditariedade e os elementos que formam a dupla hélice do código genético.

Os conceitos são apresentados de forma interativa: o visitante pode, por exemplo, alterar os genes de uma mosca e observar, em uma projeção, as conseqüências no animal. São apresentadas também tecnologias de seqüenciamento.


Genômica e biodiversidade

A última parte reúne casos brasileiros de aplicação do conhecimento genômico, destacando o desenvolvimento de produtos agrícolas e o seqüenciamento da bactéria Xylella fastidiosa, praga que atinge plantações de laranja. “Essa parte é centrada em dois conceitos fundamentais em melhoramento genético: a seleção artificial e a seleção natural”, disse Eliana.

Exposição Revolução Genômica, criada pelo Museu de História Natural de Nova York, é aberta em São Paulo nesta sexta-feira (29/2). Conceitos científicos e impactos das descobertas sobre o genoma são apresentados com recursos interativos.

Para o paleontólogo Niles Eldredge, da curadoria do Museu de História Natural de Nova York, os acréscimos brasileiros, voltados para a biodiversidade, representaram um avanço para a exposição. “A montagem deu uma dimensão mais ampla à mostra, colocando em perspectiva a relação entre genômica e biodiversidade”, disse.

Segundo o paleontólogo, a versão brasileira ajuda a levantar diversas questões. “A discussão aborda perguntas como: por que a biodiversidade é importante para a vida na Terra, o que estamos fazendo para destruir a biodiversidade tão rapidamente e como salvar a biodiversidade no planeta”, afirmou.

De acordo com o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, que faz parte do comitê científico da exposição, o estímulo aos questionamentos é justamente um dos principais objetivos da mostra.

“A idéia de uma exposição desse gênero não é passar ao visitante toda a informação sobre o tema abordado. O objetivo é que o visitante seja levado a mais questionamentos e que saia fazendo perguntas mais inteligentes do que antes”, disse.

Para Brito Cruz, o caráter de divulgação científica da exposição é fundamental para o público brasileiro. “Nós, cientistas, achamos que a ciência é algo belo e fascinante, mas para o público ela pode parecer complicada e difícil. Temos que criar condições para que se possa perceber que as idéias fundamentais por trás do desenvolvimento científico são compreensíveis por todos”, afirmou.

A programação de eventos organizada pela revista Pesquisa FAPESP começa no próximo sábado (1º/3), às 15h, com a palestra “Biodiversidade e a sexta extinção”, apresentada pelo paleontólogo Niles Eldredge, do Museu de História Natural de Nova York.

Em conjunto com o também paleontólogo norte-americano Stephen Jay Gould, Eldredge criou, em 1972, a teoria do equilíbrio pontuado. Desenvolveu uma visão hierárquica dos sistemas evolutivo e ecológico, e também formulou uma teoria abrangente (sloshing bucket), que especifica em detalhes como a mudança ambiental rege o processo evolutivo. Um crítico das teorias da evolução focadas no gene, seu livro Why We Do It (2004) apresenta uma alternativa para a psicologia evolutiva, que se baseia nos genes para explicar o comportamento dos seres humanos.

Mais informações.

A especulação mirabolante de multiversos foi para o saco???

Title: Bayesian considerations on the multiverse explanation of cosmic fine-tuning
Authors: V. Palonen
Categories: physics.data-an gr-qc hep-th
Comments: 14 pages, 2 figures

The fundamental laws and constants of our universe seem to be finely tuned for life. Alongside design, the various multiverse hypotheses have been popular explanations for the fine tuning. This paper focuses on the multiverse explanations and reviews the four main suggestions on how inference should be done in the presence of possible multiple universes and observer selection effects. Previously unnoticed conditional dependencies of the propositions involved, results from Bayesian belief networks, and basic identities from probability theory are used to tease out the proper style of inference. In the case of cosmic fine-tuning, information about the observation is not independent of the hypothesis. It follows that the observation should be used as data when comparing hypotheses. Hence the approaches that use the observation only as background information are incorrect. It is also shown that in some cases the self sampling assumption by Bostrom leads to probabilities greater than one, leaving the approach inconsistent. The "some universe" (SU) approach is also found wanting and several reasons are given why the "this universe" (TU) approach
seems to be correct. The converse selection effect -requirement for SU by White is clarified by showing formally that the converse condition leads to SU and its absence to TU. The overall result is that because multiverse hypotheses do not predict the fine-tuning of this universe any better than a single universe hypothesis, the multiverse hypotheses fail as explanations for cosmic fine-tuning. Conversely, fine-tuning data does not support the multiverse hypotheses.
PDF aqui. [181 KB] http://arxiv.org/abs/0802.4013

O discurso stalinista de dois agentes de elite da KGB da Nomenklatura científica Parte 1 de 2

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Quando Hitler começou a sua campanha de ódio contra os ciganos, muitos alemães silenciaram — “Não é com a gente”. Em seguida vieram os homossexuais, e a maioria heterossexual ficou silenciosa — “Não é com a gente”. Mais adiante Hitler desencadeou a sua política de limpeza étnica — “a solução final”, eliminando fisicamente a mais de 6 milhões de judeus. Os alemães ficaram em silêncio — “Não é com a gente”. Depois Hitler se voltou contra os de concepções religiosas, eliminando os cristãos (Dietrich Bonhöeffer é o exemplo-mor de resistência ao nazismo), “Agora é com a gente”, mas já era tarde demais para pedir ajuda a alguém...

O silêncio tem pelo menos três significados: o silêncio que fala mais alto, o silêncio que nada diz, e o silêncio que tudo consente. Eu fui ateu e marxista-leninista na juventude (agitador estudantil na Escola Técnica de Manaus e Universidade Federal do Amazonas). Hoje, eu não tenho mais fé no ateísmo e nem em Marx (engraçado, ele ainda reina perene nas universidades públicas brasileiras, especialmente na USP).

Hoje, eu também não tenho mais fé nas especulações transformistas da teoria geral da evolução de Darwin. Eu sou pós-darwinista, mas não é por razões de relatos de criação das concepções religiosas, mas a não corroboração do fato, Fato, FATO da evolução pelas evidências encontradas na natureza. Daí o desafio à Nomenklatura científica.

Quando eu assumo neste blog o papel de “Advogado do Diabo” dos criacionistas, é porque, na condição de proponente e defensor das teses da teoria do Design Inteligente, eu rompo a covardia dos silêncios que fala mais alto, que nada diz, e que tudo consente, para falar mais alto, para dizer alguma coisa, e não consentir com a demonização dos de concepções religiosas e críticos científicos de Darwin pelos discursos epistêmicos unilaterais e totalitários como os artigos de Marcos Cesar Danhoni Neves (professor titular da Universidade Estadual de Maringá e secretário regional da SBPC-PR) e Heloisa Maria Bertol Domingues (coordenadora de História das Ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST) recentemente publicados no JC E-Mail.

Aliás, o órgão da SBPC deveria se prestar à sua função específica original: divulgar tão-somente a ciência e a tecnologia. Mijar fora do caco, como está fazendo agora, é malversação de fundos públicos e utilizar indevidamente o espaço do JC E-Mail para a defesa da agenda do materialismo-filosófico.

Como alguém que paga os salários da turma do JC E-Mail e dos augustos membros da SBPC, vai aqui o meu protesto com a má utilização daquele veículo que está virando um pasquim dos neo-ateus fundamentalistas pós-modernos chiques e perfumados a la Dawkins, Dennet, Harris et caterva.

Esses Bérias da vida intimidam os demais membros da comunidade científica em nome, supostamente, da defesa de um Estado laico e da manutenção da ciência qua ciência. Nada mais falso. Eu sei de onde eles estão vindo e para onde estão indo: o discurso monolítico materialista-filosófico que se traveste de discurso científico blindando certas teorias científicas de serem questionadas e debatidas. A cantilena desses agentes de elite da KGB da Nomenklatura científica deve ser repudiada por todos os acadêmicos por ferir justamente o ideário da universidade: o livre debate das idéias.

Os leitores deste blog que me perdoem o longo texto, mas vou entremear meus comentários nos dois artigos com os sinais >>> e o texto do autor com +++++.

JC e-mail 3455, de 22 de Fevereiro de 2008.

13. Um grito de alerta!: De criacionismo, educação e liberdade, artigo de Marcos Cesar Danhoni Neves

“Devemos lutar para que o Estado laico se imponha”

Marcos Cesar Danhoni Neves é professor titular da Universidade Estadual de Maringá e secretário regional da SBPC-PR. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

Hoje vou despir-me de meu papel de Secretário Regional da SBPC-Paraná para falar só como pai preocupado com a educação no país e, especialmente, com a educação de minhas filhas num Estado que necessariamente deveria ser laico em sua essência.

>>> Danhoni Neves usa de dois pesos e duas medidas — do tipo, façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço. Essa liberdade de se “despir” do seu papel de Secretário regional da SBPC-Paraná e falar só como pai preocupado com a educação no país, não estaria cara-pálida em claro conflito de interesses? Danhoni Neves pode se despir, mas a ministra Marina Silva não??? Danhoni Neves usa de Novilíngua no seu discurso materialista-filosófico em defesa de Darwin.

Danhoni Neves afirma que a ministra Marina Silva, em claro conflito de interesses, aceitou pagamento de um grêmio religioso para participar de um evento privado durante o exercício de um cargo público. Não conheço pessoalmente a ministra, mas sabendo de sua formação religiosa, a acusação do mequetrefe paranaense deve ser investigada a fundo. Se demonstrada a falsidade da acusação, cabe processo pela ministra Marina Silva por danos morais. Uns R$ 100.000 (cem mil reais, pelo menos). Danhoni Neves, você tem este dinheiro? Espero que tenha, pois creio que cabe aqui um processo jurídico contra você.

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Tenho duas meninas, uma de dez e outra de dois anos. A de dez encontra-se atualmente na 5ª. série do Ensino Fundamental, e eu e minha mulher, como fazemos todos os anos, procuramos nos inteirar sobre os professores e sobre os materiais didáticos (livros, inclusive) que serão utilizados na escola.

Em relação à escola, minha filha a tem freqüentado por oito anos. A razão da escolha foi a estrutura, o corpo docente, a qualidade do ensino ali ministrado e, principalmente, seu caráter laico.

Ano passado, no mês de dezembro, fomos, eu e minha esposa, conversar com a coordenação pedagógica da escola para conhecer melhor o projeto didático para a 5ª. série. Pedimos também para ver os livros didáticos que seriam utilizados.

Folheamos todos eles, buscando informações sobre qualidade, ausência de preconceitos, conteúdo, cientificidade e laicidade. Preocupava-me a escolha do livro de ciências, pois acompanhei, preocupado, o recrudescimento de agremiações religiosas em ações para influenciar políticas públicas e livros didáticos para o ensino de religião e de mitos cristãos criacionistas. Respirei aliviado ao terminar de examinar o livro de ciência.

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É compreensível a preocupação de Danhoni Neves e sua esposa com o conteúdo dos livros didáticos. Ele respirou aliviado porque não encontrar certo tipo de conteúdo nos livros de ciência. Pergunto a Danhoni Neves: Onde você estava quando em várias décadas constavam duas fraudes e várias distorções de evidências científicas a favor do fato, Fato, FATO na abordagem da evolução nos livros-texto de Biologia do ensino médio? Em 2003, não estava. Em 2005, muito menos, pois ele não fez parte do grupo que elaborou e enviou uma análise-crítica desses livros-texto ao MEC/SEMTEC.

A omissão de Danhoni Neves nesta questão é compreensível: Darwin locuta, causa finita, mas a sua omissão é uma covardia gritante. Como cientista, ele deveria saber melhor que o neodarwinismo se encontra nos seus estertores epistêmicos e uma nova teoria da evolução deve ser anunciada. Não será antes de 2010, para não estragar as festas de louvaminhice dos 200 anos de Darwin e dos 150 anos do Origem das Espécies.

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No entanto, qual não foi minha espantosa e desagradável surpresa ao examinar o livro de História, intitulado “História, Sociedade e Cidadania” (5ª. série), de Alfredo Boulos Jr. (Editora FTD: São Paulo). O livro apresentava uma tendência muito forte em impregnar nas cabeças de crianças de 10 a 11 anos o mito criacionista cristão, quando, especialmente, tenta confrontar duas “teorias”: a dos evolucionistas e a dos (pasmem!) “criacionistas bíblicos modernos” (o adjetivo “moderno” empregado aqui já denota uma tentativa de dar lustro a uma velha e obscura história mítica ligada a uma das tantas religiões monoteístas atualmente existentes, especialmente a cristã).

Perguntei à coordenação da escola se aquele livro ainda estava em análise ou se seria efetivamente utilizado: desgraçadamente, foi-me respondido que o livro já era adotado há um ano e continuaria a ser empregado por todos os quatro anos seguintes do Ensino Fundamental.

Protestei com veemência porque o livro mistura ciência e religião, relativiza a ciência e força alunos (e professor, como conversei mais tarde) a se verem diante de uma absurda escolha entre ciência (evolucionismo) e religião (criacionismo).

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Em defesa do Estado laico, aqui eu me posiciono do lado de Danhoni Neves: as cosmovisões de criação das concepções religiosas não devem ser ensinadas nas escolas públicas. Contudo, em defesa maior do Estado laico e da ciência, eu me posiciono contra a posição canhestra de Danhoni Neves de blindar as atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida de críticas científicas: nós do Design Inteligente somos a favor que essas teorias sejam ensinadas objetiva e honestamente, com as evidências a favor e contra sendo informadas aos alunos.

Do que jeito que está atualmente, é desonestidade acadêmica. Danhoni Neves, como educador preocupado com a educação de suas duas filhas e dos filhos dos outros, nem se incomoda com isso. Darwin é capo de tutti capi, capice???

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Após essa conversa, pensei que havia estimulado a reflexão na escola para que fosse repensada a adoção de um livro de idolatria religiosa numa área que pertence às Ciências Humanas (História). Porém, tal não ocorreu. Um mês depois, recebemos a lista de material didático e o famigerado livro lá estava listado.

Com a matrícula já feita, comprei o exemplar num sebo pois me recusei a pagar R$ 67,00 num livro doutrinário (acabei pagando R$ 10,00 no sebo).

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Danhoni Neves defendeu a sua cosmovisão com unhas e dentes ao pedir a adoção de um livro de idolatria religiosa. Por que não pediu um livro que relata as muitas fraudes perpetradas por cientistas para corroborar o fato, Fato, FATO da teoria geral da evolução. Mas o que é uma fraude, duas fraudes, três fraudes, quatro fraudes, cinco fraudes, seis fraudes, em nome da ciência quando a questão é Darwin, não é mesmo Danhoni???

Danhoni Neves nos deu uma aula de economia: comprou o livro no sebo e economizou R$ 57,00. Alô Lula, chama o Danhoni Neves para ministro da Fazenda. Mantega, se cuida mano, o Danhoni Neves está no pedaço!

Se a cosmovisão materialista-filosófico de Danhoni Neves pode ser ensinada nas escolas públicas, e a posição dele e da atual Nomenklatura científica é uma posição ideológica, o Estado laico só pode ser laico se autorizar tão-somente o ensino desta Weltanschauung??? O buraco, Danhoni Neves, é mais embaixo!

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Pedi então para conversar com o professor da disciplina de História para colocá-lo à par de minhas objeções em relação ao livro, entre as quais, listei:

- apresentação de propaladores de idéias religiosamente canhestras (ligadas a diversos credos cristãos fundamentalistas) como “estudiosos”. O autor afirma que sua “obra” apresentará “versões divergentes” da História;

>>>

Eu não conheço o livro em questão, mas Danhoni Neves como “professor de História e Epistemologia da Ciência num curso de graduação em Física e no curso de Mestrado em Educação para a Ciência” revela profunda ignorância (intencional???) sobre o surgimento da ciência moderna.

Ele sabe, mas finge não saber porque lhe é conveniente na sua catilinária excludente, mas Johannes Kepler, Blaise Pascal, Robert Boyle, Nicolaus Steno, Isaac Newton, Michael Faraday, Charles Babbage, Louis Agassiz, James Young Simpson, Gregor Mendel, Louis Pasteur, Lord Kelvin, Joseph Lister, James Clerk Maxwell, William Ramsay, foram os antigos “propaladores de idéias religiosamente canhestras”, homens “estudiosos”, que Danhoni Neves procura demonizar nos seus exemplares modernos desqualificando-os academicamente.

Será que Danhoni Neves, professor História e Epistemologia da Ciência num curso de graduação em Física e no curso de Mestrado em Educação para a Ciência, sabe em quais áreas científicas esses “propaladores de idéias religiosamente canhestras” pontificaram???

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- à página 39 existe um absurdo que precede o outro absurdo do suposto “confronto” evolucionismo X criacionismo: uma ilustração que coloca grandes répteis do Jurássico junto com pequenos e grandes símios modernos;

- às pgs. 42 a 43 é feita a exposição da teoria evolucionista e a apresentação da discutível “tese” (que, afinal, é questão de fé...cristã!) dos “criacionistas bíblicos modernos”, como se isso fosse matéria de ciência. Depois, para mostrar um suposto equilíbrio entre “versões divergentes”, aparecem dois textos: um em defesa do evolucionismo e outro em defesa do criacionismo.

- à pg. 48, um estranho exercício de redação convida o aluno a escrever sobre uma “réplica” de um grande dinossauro (estranho o uso da palavra “réplica” e não de uma expressão como “réplica fiel de um fóssil de ...”);

>>>

Eu não vou entrar em detalhes quanto aos supostos “absurdos” dos criacionistas. Eles são adultos para se defenderem nesta questão, mas quero destacar para este professor de História da ciência que o confronto “evolucionismo” vs “criacionismo” é muito mais antigo do que ele imagina. Vai além do tempo de Darwin. Deve ter ocorrido em outras civilizações além da dos gregos antigos.

Como educador, entendo que a prática educacional deve ser uma preconizada por Edgar Morin, francês, um dos maiores filósofos contemporâneos, descrita no
livro Os sete saberes necessários à educação do futuro (Brasília/São Paulo, UNESCO/Cortez, 2000). Mesmo sendo academicamente evolucionista, na sua sugestão à UNESCO para a educação do futuro, Morin assim se expressou:

“As ciências permitiram que adquiríssemos muitas certezas, mas igualmente revelaram, ao longo do século XX, inúmeras zonas de incerteza. A educação deveria incluir o ensino das incertezas que surgiram nas ciências físicas (microfísica, termodinâmica, cosmologia), nas ciências da evolução biológica e nas ciências históricas” (MORIN, 2000:16).

Além desta sugestão de Morin, a educação deveria favorecer o ensino das ciências baseadas nas evidências conforme as teses propostas por Gary Thomas e Thomas Pring no livro Educação Baseada em Evidências (Porto Alegre, Artmed, 2007).

Nós não vemos a sugestão de Morin e nem a educação baseada em evidências ocorrendo em nossas escolas públicas. O que nós assistimos passivamente, é a doutrinação de nossos filhos no materialismo filosófico travestido de ciência. Já chegou a hora de um confronto diretos das idéias.

Alô MEC/SEMTEC/PNELEM, aguardem a enxurrada de contestações de conteúdos inadequados e favorecendo a Weltanschauung filosófico-materialista.
em livros didáticos daqui pra frente

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- o texto apresenta também à pg. 101 um estranho texto que quer fazer passar uma tese absurda de que o mundo egípcio foi essencialmente monoteísta. Como professor de História e Epistemologia da Ciência num curso de graduação em Física e no curso de Mestrado em Educação para a Ciência, sei que o único período monoteísta da longa história (~ três mil anos) do Egito Antigo foi o do faraó Akhenaton.

Diz Cardoso: “nos ambientes culturais marcados pelas grandes religiões monoteístas da atualidade, como o cristianismo e o islamismo, “politeísmo” é muitas vezes termo pejorativo, carregado de preconceitos derivados de acreditar-se numa superioridade inerente, intrínseca, do monoteísmo. Preconceitos a que muitos egiptólogos não eram imunes. Alguns chegam a explicitar abertamente sua convicção de haver grandes semelhanças da religião egípcia - por trás de uma fachada politeísta enganosa - com o cristianismo. É o caso de Christiane Desroches-Noblecourt e de François Daumas (Amour de la vie et sens du divin dans l’Égypte ancienne. Cognac: Fata Morgana, 1998. Col. “Hermès”): este último faz, por exemplo, um paralelo absolutamente anacrônico entre o texto egípcio Reflexões de um desesperado com a segunda epístola aos coríntios do apóstolo cristão Paulo.” (In: CARDOSO, C.F. “O faraó Akhenaton e nossos contemporâneos”)

- além da vontade inequívoca do autor da “obra” em tela de passar uma visão cristã da História, distorcendo fatos históricos, encontramos também, à pg. 155, um erro imperdoável para um livro de História: uma fotografia do templo de Hatschepsut (construído pela única mulher faraó do Egito Antigo). Erroneamente, a legenda do livro apresenta o templo como pertencente a uma cidade-estado grega [sic]!

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Danhoni Neves tem toda razão aqui em relação aos erros históricos e de um favorecimento à visão monoteísta.

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- em todo o livro há longos trechos destinados à Moisés, à diáspora judaica, ao “Cântico dos Cânticos” (sem os trechos mais picantes desse poema de amor...), à fundação do Estado de Israel (sem falar na fragmentação do território palestino), etc. Procurei pelos grandes filósofos gregos, Sócrates, Platão e Aristóteles: encontrei-os, pobres, em duas únicas páginas quase ao final da “obra”.
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Lamentável estas omissões.

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O que é muito estranho (e compreensível!) numa “obra” desse naipe é a total ausência da propalada “divergência de versões”, pois, em relação ao criacionismo, não se menciona em nenhum momento o movimento de fundamentalistas cristãos nos EUA que foi responsável direto pela proibição do ensino do darwinismo em diversos Estados daquele país ou da inacreditável política “educaticida” (termo que acabei de inventar para “homicídio da educação) do casal Rosinha-Garotinho em ensinar nas escolas cariocas o criacionismo como verdade científica. Não há versões divergentes!

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Danhoni Neves desconhece a realidade histórica jurídico-educacional dos Estados Unidos. Na maior democracia do mundo, as comunidades têm participação direta e opinam sobre o conteúdo do que vai ou não ser ensinado. Aqui em Pindorama, o conteúdo é enfiado goela abaixo dos tupiniquins.

Sem dúvida que grupos fundamentalistas cristãos nos EUA foram responsáveis pela proibição do darwinismo em muitos estados daquele país. Contudo, Danhoni Neves não menciona que John Scopes declarou ser favorável ao ensino de visões extremas da evolução. Coisa que os Danhonis Neveses dos EUA estão hoje impedindo de ocorrer nas escolas públicas americanas com processos judiciais caríssimos. Hoje, nos Estados Unidos, e aqui em Pindorama, não há versões divergentes apresentadas nas escolas públicas. Darwin locuta, evolutio finita!

Danhoni Neves é lingüisticamente sub-reptício. Novilíngua de 1984 de Orwell.

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O livro parece que foi escrito para sobreviver de alguma forma à avaliação do PNLD (Plano Nacional do Livro Didático), tentando se adaptar aos critérios avaliativos, mas mantendo sua linha doutrinária cristã.

Em relação ao PNLD de História, que pode ser consultado diretamente no site, é decepcionante saber como a resenha e a escolha do livro foi feita de forma apressada e superficial. Afirmo isso até como participante de processos de avaliação educacional em diferentes níveis de ensino (incluindo o Ensino Fundamental).

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Será que Danhoni Neves consegue distinguir a mão direita da esquerda? Parece que não. Como “participante de processos de avaliação educacional em diferentes níveis de ensino (incluindo o Ensino Fundamental)” como é que ele deixou passar as duas fraudes e as distorções das evidências científicas a favor do fato, Fato, FATO da evolução naqueles livros?

Se sabia, Danhoni Neves ficou em silêncio pétreo mais do que conveniente para um agente da elite da KGB da Nomenklatura científica. Eu chamo isso de “síndrome ricuperiana” — o que Darwin tem de bom a gente mostra, o que Darwin tem de ruim, a gente esconde! Chamam isso de objetividade científica. Eu chamo de desonestidade acadêmica. Mas, fazer o quê se o que impera na comunidade científica atual é a “síndrome dos soldadinhos-de-chumbo”: todo o mundo pensando igual e ninguém pensando em nada!

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Para as coleções de livro de História, podemos encontrar no PNLD, o seguinte texto:

“Concepção de História: A concepção de História adotada na Coleção deve viabilizar que o ALUNO APRENDA A PENSAR HISTORICAMENTE, compreendendo os diferentes processos e sujeitos históricos, as relações que se estabelecem entre os grupos humanos nos diferentes tempos e espaços. Deve possibilitar a incorporação da renovação historiográfica, partir de um problema ou conjunto de problemas, ou de diferentes versões, proporcionando a formação para a autonomia, a crítica e a participação na sociedade.

Construção da cidadania: Este item considera se a coleção aborda a diversidade das experiências humanas com respeito e interesse, ESTIMULANDO O CONVÍVIO SOCIAL, o respeito, a tolerância e a liberdade, se abrange a formação da cidadania no conjunto do texto didático, e não apenas nas atividades ou em um capítulo, relacionando-a ao conteúdo histórico. Se aborda as temáticas das relações étnico-sociais e gênero, considerando o COMBATE AO PRECONCEITO, à discriminação racial e sexual e à violência contra a mulher, visando à construção de uma sociedade anti-racista, justa e igualitária e, enfim, se discute a historicidade das experiências sociais, trabalhando conceitos, habilidades e atitudes na CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA e contribuindo para o desenvolvimento da ética necessária ao convívio social.” [grifos meus]

Se pensássemos como as diretrizes de concepção e avaliação do PNLD o livro “História, Sociedade e Cidadania” deveria ter recebido os piores scores dos itens avaliativos, pois deturpa a história (veja, p.ex., o caso de misturar, numa ilustração, grandes répteis com mamíferos e primatas modernos), compara o que não deve ser comparado (misturando, propositalmente, ciência e religião, confundindo alunos e pais, e repercutindo preconceitos religiosos, mesmo que de forma dissimulada), e não constrói uma sociedade igualitária pois, desde o princípio, a “obra” atenta contra a laicidade.

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Por que será que Danhoni Neves “pinçou” exclusivamente um livro de História e não de Biologia? É porque aqui a porca torce o rabo! No nível do ensino Médio, o MEC propôs “a formação geral, em oposição à formação específica”, mas com “o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização”. Esse projeto de reforma curricular do Ensino Médio teve por objetivo “facilitar o desenvolvimento dos conteúdos, numa perspectiva de interdisciplinaridade e contextualização”, pois a interdisciplinaridade estabelece “ligações de complementaridade, convergência, interconexões e passagens entre os conhecimentos” (PCN, 1999, p. 16, 18, 26).

A Lei de Diretrizes Básicas (LDB) 9.394/96 preconiza no Art. 35, I, III que o ensino médio tem entre suas finalidades habilitar o educando a ser capaz de continuar aprendendo, a ter autonomia intelectual e pensamento crítico. Os PCNs do Ensino Médio, nas suas Diretrizes Curriculares Nacionais (Competências e Habilidades das Ciências Naturais) afirmam que o currículo deve permitir ao educando “compreender as ciências como construções humanas, entendendo que elas se desenvolvem por acumulação, continuidade ou ruptura de paradigmas...” e que “a ciência não tem respostas definitivas para tudo, sendo uma de suas características a possibilidade de ser questionada e de se transformar”.


A “laicidade” do Estado pressupõe o questionamento das teorias científicas. Coisa que, aparentemente, Danhoni Neves et caterva são contra!


Mas como o PNLD avaliou a “obra”?!? É aí que reside talvez o maior perigo: o MEC dar aval a um material “didático” que compromete as bases da própria educação básica. A obra foi avaliada da forma que segue:

1.Concepção de História = bom
2.Conhecimentos históricos = bom
3. Fontes históricas / documentos = bom
4. Imagens = bom
5. Metodologia de ensino-aprendizagem = suficiente
6. Capacidades e habilidades =ótimo
7. Atividades e exercícios = bom
8. Construção da cidadania = bom
9. Manual do Professor = bom
10. Editoração e aspectos visuais = não [contemplado]

Em síntese, o livro em discussão está dentro de parâmetros de “qualidade” adotado pelo MEC e valida seu pressuposto fundamental: “(a obra) deve possibilitar a incorporação da renovação historiográfica, partir de um problema ou conjunto de problemas, ou de diferentes versões, proporcionando a formação para a autonomia, a crítica e a participação na sociedade.

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Com a palavra os meus amigos do MEC/SEMTEC/PNLEM. A integridade de sua avaliação foi colocada em xeque por Danhoni Neves.

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Pergunto-me: será que com todos os problemas aqui apresentados, a escola que adotou o livro estará proporcionando “autonomia, crítica e participação na sociedade”?

Os únicos dois “poréns” listados sobre a “obra” em tela pelo PNLD foram:

- “não se verifica eficaz preocupação quanto aos graus de complexidade e especificidade na abordagem dos conteúdos”. (PNLD, 2008, p. 97);

- “Permanecem, no entanto, algumas lacunas, podendo-se apontar muitas expressões incomuns, de difícil compreensão para os alunos e não contemplados no glossário. Em relação ao conjunto dos aspectos gráficos, verifica-se um certo descuido quanto à harmonia da página, contendo excesso de recuos, algumas ilustrações pouco integradas, em muitos casos, uma impressão visual que desfavorece a atenção do leitor”. (PNLD, 2008, p. 98)

Vê-se pois que a avaliação da “obra” tocou apenas aspectos superficiais, irrelevantes para um processo que deveria avaliar a correção histórica e a construção da autonomia, da crítica, e da formação integral do sujeito na sociedade plural que vivemos.

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Os questionamentos de Danhoni Neves são lícitos. Ele deveria redirecionar esses seus questionamentos para os livros didáticos de Biologia no que diz respeito à autonomia, à crítica. Afinal de contas, a justiça epistêmica que Danhoni Neves se sente lesado, é uma via de duas mãos: é preciso encampar o questionamento do conteúdo de outros saberes em nossos melhores autores de livros-texto de Biologia. O que temos hoje, não é ciência, mas doutrinação no materialismo-filosófico.

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No entanto, analisando esse caso podemos colocá-lo dentro de um contexto mais amplo como foi, p.ex., a participação da ministra Marina Silva na reunião de um grêmio religioso evangélico sobre a “discussão” do criacionismo.

“Ao participar do 3o Simpósio sobre Criacionismo e Mídia, em São Paulo, ela equiparou o evolucionismo, a teoria mais aceita entre os cientistas para explicar a evolução da vida na Terra, ao criacionismo, a crença religiosa em que a vida foi criada por Deus exatamente como descreve a Bíblia. Depois, em entrevista a um blog de jovens adventistas, Marina – uma ex-candidata a freira que se tornou evangélica e é missionária da igreja Assembléia de Deus desde 2004 – defendeu o ensino nas escolas do criacionismo ao lado do evolucionismo.” (In)

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A estratégia retórica de Danhoni Neves ao “pinçar” o pronunciamento da ministra Marina Silva, “despida” de sua função de ministra, num evento público, deixaria Göebells, ministro de Propaganda de Hitler, babando de inveja. Eu fiz uma paródia do editorial da Folha de São Paulo que criticou a ministra. Vide mais abaixo a réplica deste blogger ao editorial da Folha “Pravda” de São Paulo.

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Francis Collins, famoso geneticista do Projeto Genoma, e devoto do cristianismo, afirma que se faz uma perigosa confusão semântica quando se afirma que a o evolucionismo é mais uma “teoria” entre tantas outras.

“Em ciência, uma teoria é uma coleção de observações reunidas numa visão consistente”, diz Collins. “A teoria eletromagnética é um exemplo. O termo ‘teoria’ não significa que ela ainda seja hipotética ou que não esteja correta. A biologia não faz quase sentido algum sem o evolucionismo para sustentá-la.” (In)

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Danhoni Neves é menino maroto. Ele usou aqui da estratégia “uma no cravo, outra na ferradura”, ao “pinçar” Francis Collins, em contraposição à ministra Marina Silva, como exemplo de “devoto do cristianismo”. Ledo engano de Danhoni Neves: a ministra Marina Silva é cristã. Francis Collins não é cristão, é deísta.

Realmente Danhoni Neves está coberto de razão com a confusão semântica sobre o termo “teoria”, esclarecida por Francis Collins acima. Contudo, e aqui eu tomo outra direção em relação ao “famoso geneticista do Projeto Genoma, e devoto do cristianismo” quanto a biologia não fazer sentido algum “sem o evolucionismo para sustentá-la”. Isso é o famoso mantra dobzhanskyano de que nada em biologia faz sentido a não ser à luz da evolução. Contrariando Dobzhansky, nada em evolução faz sentido, a não ser à luz das evidências.

Não se esqueçam que Theodosius Dobzhansky quando esteve no Brasil, quando as evidências não corroboravam a teoria, disse; “As evidências? Ora, que se danem as evidências, o que vale é a teoria”.

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A despeito de toda a admiração que tenho pela Ministra Marina Silva (a quem conheci durante uma de suas palestras em Roma em 1995, quando realizei meu pós-doutorado na Università La Sapienza), pergunto-me se uma ministra de Estado, em claro conflito de interesses (aceitar pagamento de um grêmio religioso para participar de um evento privado durante o exercício de um cargo público), deveria emitir uma opinião dessa espécie num Estado laico. Portanto, dentro desse macro-contexto, não é de surpreender as razões da superficialidade da avaliação do PNLD e a aprovação de livros em claro confronto com os princípios basilares da ciência e da laicidade.

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A Exma. Ministra Marina Silva que me perdoe, mas eu vou ser grosseiro aqui no exemplo para detonar as falácias deste argumento orwelliano de Danhoni Neves. Se após a leitura dos “Cântico dos Cânticos”, a ministra e o seu legítimo esposo se deleitarem com os trechos mais picantes desse poema de amor, e partirem para os finalmentes na cama, ela faz isso na capacidade de ministra de Estado ou de mulher amada pelo seu marido?

Como vê, pobre Danhoni Neves, a subjetividade é direito sagrado de cada cidadão. Dizer que a ministra Marina Silva não tem direito de opinião porque investida de função pública, é ser sim canhestro e castrador no discurso. Em que pese a defesa do Estado laico, nós ainda somos humanos, profundamente humanos: amando, odiando, sorrindo, chorando, esperando contra a esperança...

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Sobre a questão do Estado laico, fruto da Revolução Francesa, interessante recorrer à visão de um homem de religião, Padre Sorge:

“A Revolução Francesa sanciona uma descristianização inicial muito tempo antes, com o fim da cristandade medieval. O distanciamento entre fé e cultura, entre religião e progresso, entre política e ética, entre Igreja e Estado, entre sacro e profano inscreve-se num processo histórico plurissecular que tem suas origens no Humanismo, na Renascença, na reforma protestante, no Iluminismo. A Revolução Francesa representa apenas a passagem crítica desse processo. Com ela “cristão” cessa definitivamente de ser sinônimo de “cidadão”. Agora, no centro da vida social, instala-se o homem em vez do fiel.” (SORGE, 1989, pp.114-115)

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Danhoni Neves, defensor do Estado laico, se esquece, intencionalmente, que o homem como medida de todas as coisas tem se mostrado um péssimo capitão de seu destino e dos outros. Ao tentarem imputar todas as mazelas deste mundo somente aos de concepções religiosas, Danhoni Neves et caterva se esquecem
Intencionalmente que o materialismo filosófico cometeu o genocídio de mais de 100 milhões de pessoas através de Hitler, Lenin, Stalin, Fidel Castro, Pol Pot.

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Sobre a deplorável questão da Ministra Marina Silva, a Folha de S. Paulo, em Editorial, salientou que: "Sob uma aparência de equanimidade, a tese faz parte de uma investida anticientífica que, com firmeza, cumpre repudiar. Pode-se, é claro, sustentar que a fé pessoal é compatível com o espírito científico; que religião e ciência não se opõem. Talvez não se oponham, mas certamente não se misturam. E é isto o que o criacionismo tenta fazer, sem base comprovada, e com um aparato de falácias que um estudante médio, no Brasil ou em qualquer parte do mundo, não tem condições de identificar. Que a religião fique onde está, e não se faça de ciência: eis uma exigência, afinal modesta, mas inegociável, da modernidade" (FOLHA DE S. PAULO, Editorial, 2008).

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Eis a íntegra do texto que eu repliquei o editorial orwelliano da Folha “Pravda” [Verdade] de São Paulo”:

Ateísmo, não!

GRAVES E COMPLEXOS problemas não faltam à ministra Marina Silva, em suas atividades na pasta do Meio Ambiente. Como se estes não bastassem, sua participação no 3º Simpósio sobre Ateísmo e Mídia, promovido pelo Centro Universitário Ateísta de São Paulo – Diálogos Impertinentes (Folha “Pravda” de São Paulo), veio a colocá-la em dificuldades de outro tipo, diante das quais o cargo que ocupa no Estado brasileiro recomenda cautela que não soube observar.

Em palestra intitulada “Meio Ambiente e Ateísmo”, Marina Silva valeu-se de sua formação ateísta para transpor em chave filosófico-ateísta o tema da preservação dos recursos do planeta.

Nada que inspirasse maiores reparos, portanto – assim como não se discute o direito de um ministro professar, pessoalmente, qualquer tipo de ateísmo ou teísmo.

Os adeptos do ateísmo, entretanto, não se contentam com pouco – como política de Estado eles cometeram um Holocausto global: mataram mais de 100 milhões de pessoas no século 20 – e depois da conferência a ministra foi instada, em entrevista, a dar sua opinião sobre o ensino das filosofias ateísta-materialistas nas escolas públicas brasileiras. Num estilo próximo ao dos ultraliberais russos, considerou a la Mikhail Gorbachev que “as duas visões” devem ser oferecidas aos alunos, para que “decidam” por si mesmos.

Sob uma aparência de equanimidade, a tese faz parte de uma investida anticientífica que, com firmeza, cumpre repudiar. Pode-se, é claro, sustentar que o ateísmo pessoal é compatível com o espírito científico; que ateísmo e ciência não se opõem.
Talvez não se oponham, mas certamente não se misturam. E é isto o que o ateísmo tenta fazer, sem base cientificamente comprovada, e com um aparato de falácias que um estudante médio, no Brasil ou em qualquer parte do mundo, não tem condições de identificar, mas é enfiado goela abaixo e sem direito a questionar ou de espernear. Que o ateísmo fique onde está, e não se faça de ciência: eis uma exigência, afinal modesta, mas inegociável, da modernidade.

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Definitivamente a separação entre Estado e Religião, Ciência e Religião é mister que ocorra. Estamos assistindo nos últimos dias, a tentativa de uma Igreja Evangélica em silenciar a imprensa, para, num ato autoritário, usando os instrumentos da democracia, solapar a liberdade de pensamento.

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Nós do Design Inteligente somos a favor da separação de Estado e da Religião, mas entendemos também que o Estado laico não deve privilegiar uma posição filosófico-materialista, pois assim o estado estaria defendo uma posição ideológica em detrimento das outras posições. Não existe isso de separar a ciência da religião ou a religião da ciência. A ciência é tão-somente a descrição aproximada da realidade. Ateus, agnósticos, e teístas filosóficos podem sim fazer ciência.

Infelizmente, o bom naturalismo metodológico foi seqüestrado pelo naturalismo filosófico promovendo a agenda espúria dos ateus, agnósticos, céticos e quejandos, como se isso fosse a própria ciência. Nada mais falso!

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Devemos lutar para que o Estado laico se imponha, ou estaremos construindo o terreno fértil para o nascimento de “madrassas” (escolas fundamentalistas do Islã) cristãs e de um Estado baseado no sectarismo religioso perpetuado pela des-educação de sistemas e livros ditos didáticos.

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Estou com Danhoni Neves e não abro. Nós devemos lutar sim para que o Estado laico se imponha, ou nós estaremos construindo o terreno fértil para o nascimento dos campos de concentrações e os Gulags para a “reeducação” dos críticos e oponentes de determinadas teorias científicas. Não se esqueçam que Dennett afirmou que pessoas de concepções religiosas deveriam ser colocadas em zoológicos. Fazendo assim, nós estaremos evitando a implantação de um Estado baseado no sectarismo materialista perpetuado pela deseducação de sistemas e abordagens capciosas de livros didáticos.

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A modernidade deve, enfim, se impor como um ato próprio da democracia e da convivência plural. Do contrário, estaremos fadados ao fundamentalismo e ao analfabetismo completo, num mundo privado da liberdade de pensar e da democracia!

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Danhoni Neves, eu estou com você não abro neste parágrafo. Especialmente no que diz respeito à “convivência plural”. Se não, nós “estaremos fadados ao fundamentalismo e ao analfabetismo completo, num mundo privado da liberdade de pensar e da democracia!”

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REFERÊNCIAS
FOLHA DE S. PAULO. Criacionismo, Não! (Editorial – A2). Edição de 20 de janeiro de 2008.
SORGE, P. “Enfim a Igreja Aprovou 1789”. In: A Revolução Frnacesa”. São Paulo: Editora Três, 1989, pp. 114-116.
TRAUMANN, T. “A Ministra Criacionista: Marina Silva, do Meio Ambiente, mistura Religião e Ciência e defende o Ensino do Criacionismo”. Rio de Janeiro: Revista Época, Ed. 506, 2008. Disponível em.

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O discurso materialista-filosófico de Danhoni Neves em defesa do Estado laico é, na verdade, ditatorial e antropofágico, pois silencia os oponentes, e impede o avanço da ciência na consideração de novas idéias.

Danhoni Neves, você é um perigo para o avanço da ciência e das liberdades de consciência.

Vade retro, Danhoni Neves!!!

DESAFIO IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:

Eu creio que já chegou a hora de os membros da SBPC dissonantes do atual discurso materialista-filosófico manifestaram publicamente o seu desagrado no JC E-Mail, caso contrário, o que aconteceu com os alemães de concepções religiosas, que ficaram sem ter a quem pedir ajuda, cairá sobre vocês. Aí, será muito tarde...


Marcelo Gleiser: quais são as leis que regem a evolução???

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Por eu não ter formação acadêmica em biologia, e eu reconheci isso logo no início deste blog, os meus críticos na internet, especialmente a galera dos meninos e meninas de Darwin, desconhece que se este critério fosse adotado, Charles Robert Darwin [ele não gostava de ser chamado assim] jamais poderia ter escrito o Origem das Espécies: a única formação acadêmica do homem que teve “a maior idéia que a humanidade já teve” [menos, Dennett, menos] foi um mestrado em teologia.

Bem, mas é de se esperar que quem for escrever sobre biologia evolutiva entenda pelo menos um pouco do que vai abordar. Abaixo o artigo de Marcelo Gleiser, professor de Física Teórica na Universidade Dartmouth, publicado na Folha de São Paulo [via JC E-Mail] onde o menino da TV Platinada afirmou a existência das “leis que regem a evolução”. Leis que regem a evolução??? Gleiser, você não confundiu alhos com bugalhos???

Alô, Marcelo Gleiser, no próximo artigo na Folha de São Paulo você poderia nos dizer que leis são essas??? A evolução é uma teoria histórica...

Fui...pensando que o artigo foi mais subjetivamente melodramático do que propriamente científico.

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JC e-mail 3456, de 25 de Fevereiro de 2008.

19. Origem comum, artigo de Marcelo Gleiser

A visão moderna do cosmo aproxima as pessoas

Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo". Artigo publicado na "Folha de SP":

Lendo os jornais, assistindo aos noticiários na TV, ou simplesmente prestando atenção ao que se passa à nossa volta, não há nada mais óbvio do que as diferenças da sociedade; conflitos políticos, raciais, domésticos, disparidades financeiras, preconceitos arraigados, enfim: um quadro que mostra o quanto somos diferentes uns dos outros e o quanto ainda temos que lutar para que essas diferenças sejam diminuídas.

Nessas horas, imagino que ninguém pense muito no que as ciências físicas e biológicas têm a dizer. Ninguém imagina que a visão moderna do cosmo nos aproxima uns dos outros de modo profundo, essencial.

Talvez essa visão não ofereça consolo ao vermos uma criança pedindo esmola na rua, ou baleada no tráfico de drogas. Mas, se interpretada de forma correta, deveria oferecer um novo modo de pensar sobre o mundo e sobre nosso lugar nele. Seria ao menos um começo.

A pressão pela sobrevivência é e sempre foi a mola que propulsiona a vida, com todas as coisas boas e ruins que ela traz. A diferença humana é que adicionamos ao que é necessário quantitativamente -comida, abrigo, reprodução- aquilo que é qualitativamente aprazível.

Não queremos apenas comer, queremos comer bem; não queremos apenas procriar, queremos ... bem, você me entende.

Mas me pergunto se não está na hora de repensarmos nossa dependência das leis que regem a evolução, se não podemos, tal como tentamos fazer com as doenças, repensar a doente condição humana, combatê-la com nossa arma mais poderosa, nossa capacidade de reflexão.

Talvez precisemos começar do começo para que as coisas mudem, do começo não só da civilização, mas do começo de tudo. Somos todos, ricos e pobres, reis e camponeses, grilos, baleias e samambaias, produtos do cosmo, das mesmas leis que regem a natureza, compostos dos mesmos elementos químicos, forjados há bilhões de anos nas mesmas estrelas.

Nossa história, a minha, a sua, a de todo mundo nesse planeta, começou ao mesmo tempo, cerca de 14 bilhões de anos atrás, quando nosso universo começou sua expansão. Foi então que essa massa de energia começou a moldar as partículas que formam tudo o que existe, os primeiros elétrons, os prótons e nêutrons, os primeiros núcleo atômicos.

Passados 400 mil anos, com o Universo ainda na sua infância, surgiram os primeiros átomos, os tijolos fundamentais da matéria.

Conglomerados de átomos, atraídos pela gravidade, formaram nuvens de matéria que, girando de forma instável, contraíram-se para formar as primeiras estrelas. Essas viveram pouco, vítimas de sua enorme massa.

Ao morrer, entraram em colapso, forjando em suas entranhas os elementos químicos mais pesados -carbono, oxigênio, ferro- lançados ao espaço em seus últimos estertores. Esses átomos espalharam as sementes da vida pelo espaço. Outras estrelas nasceram e outras morreram cosmo afora.

Passados quase 10 bilhões de anos, nasceram o Sol, os planetas, a Terra e a Lua, todos com infâncias violentas: cometas e asteróides bombardeando suas superfícies, radiação solar letal e poucas chances de a vida surgir.

Mas em um deles, por não estar nem muito longe nem muito perto do Sol, a água pôde manter-se líquida; por ter a massa certa, criou uma camada protetora à sua volta, a atmosfera. Aos poucos, os elementos químicos foram se combinando, formando moléculas complexas. Delas, surgiu a vida. E dela, surgimos nós. Nossa história, se contada assim, do começo, é a mesma.

Precisamos de 10 mil anos de civilização para aprendermos isso. Espero que não sejam necessários outros 10 mil para usarmos esse conhecimento com sabedoria.

(Folha de SP, 24/2)

Fraude nas pesquisas de genomas humanos e chimpanzés???

A Grande Mídia internacional e tupiniquim nos bombardearam com os tais de 99% de semelhança entre os genomas humanos e de chimpanzés. QED: Foi comprovada e demonstrada cientificamente a relação filogenética evolutiva entre os primatas! Mas o percentual foi caindo, foi caindo, e o 1% de dessemelhança nem sequer recebeu o devido destaque na mídia.

Você leu alguma coisa na Folha de São Paulo? Você leu no resto da Grande Mídia tupiniquim? Coisas assim são varridas desavergonhadamente para debaixo do tapete pelas editorias de Ciência dos mais importantes veículos informativos em Pindorama.
E se alguns estudos sobre a tão propalada “semelhança genômica” entre humanos e chimpanzés estivessem sob suspeita de fraude, a FSP publicaria? Creio que não. Lá, quando a questão é Darwin, se for para fortalecer os críticos e os de visões extremas da evolução, segundo Marcelo Leite: “Não damos espaço!”

Gente, hoje cedo de manhã eu quase tive um troço ao ler um e-mail da comunidade científica da qual faço parte, remetendo-me para a página de um cientista evolucionista que, juntamente com outros cientistas, levantou graves suspeitas de fraude em uma pesquisa de “semelhança genômica” entre humanos e chimpanzés.
Eu vou traduzir somente a introdução e remeter os leitores para a página em inglês deste cientista americano corajoso. E o estranho silêncio da Nomenklatura científica que, ao que tudo indica, não levou o caso adiante...

A hibridização de DNA nos macacos — Questões técnicas

“Bem possivelmente o trabalho mais amplamente citado da evolução de primatas nos anos 1980s foi o de Sibley e Ahlquist, usando o DNA para estudar a filogenia de primatas em trabalhos publicados em 1984 e 1987 no The Journal of Molecular Evolution. Eles concluíram que, em vez de produzir uma relação efetivamente eqüidistante entre os humanos, chimpanzés, e gorilas, conforme a maioria dos dados mostrava, a técnica deles provava que os humanos e chimpanzés ficavam numa relação filogenética especial um com o outro como parentes mais próximos. A técnica deles foi chamada de hibridização de DNA, e eles já vinham aplicando-a extensivamente a problemas de filogenia de aves.

Mas os dados deles sobre os macacos não produziram a conclusão filogenética deles publicada. Acidentalmente descoberta por outros cientistas (Vincent Sarich, da Universidade da Califórnia-Berkeley, Carl Schmid, da Universidade da California-Davis, e eu), muito dos dados deles tinham sido alterados. Essas alterações não tinham sido reportadas, e eram desconhecidas dos revisores e dos leitores dos seus trabalhos de 1984 e 1987. Quão importantes foram essas alterações?
Sibley et al. admitiram que no trabalho deles de 1990 que se não fosse pelas alterações dos dados deles, "... seria virtualmente certo que Sibley e Ahlquist teriam concluído que Homo, Pan e Gorilla formam um tricotomia" [p. 225]. Assim, as únicas questões relevantes são a natureza exata das alterações de dados previamente não relatada, e a sua validade. Essas alterações podem ser presumivelmente julgadas pela maioria dos cientistas em atividade.”

...

Jonathan Marks
Department of Sociology and Anthropology
University of North Carolina at Charlotte

email: jmarks@email.uncc.edu
phone: (704) 687-2519
fax: (704) 687-3091

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NOTA DESTE BLOGGER:

Eu entendo que a ciência é feita por humanos falíveis e sujeitos à vaidade quanto a um lugar no Panteão dos notáveis. Essa busca desenfreada pelo tal de “elo perdido” [Não seria toda uma “corrente perdida”???] tem levado muitos cientistas darwinistas a perpetrarem “fraudes” para provar o fato, Fato, FATO da evolução.

Eu não tenho todas as informações sobre o assunto, a não ser as versões apresentadas por Jonathan Marks, mas as que tenho não deixam nenhuma sombra de dúvida: Sibley e Alquist cometeram fraude.

Uma nota dirigida especialmente para a Grande Mídia: Todas as vezes que temas como esse, ou outros contrariando o atual paradigma forem publicados neste blog, é mais uma prova de que o jornalismo científico que está sendo despudoramente praticado precisa mudar: a internet é uma fonte gigantesca de informações, e os senhores serão apanhados de calças na mão praticando um jornalismo chifrim que merece o repúdio e a revolta de toda a sociedade: estão escondendo informações contrárias às especulações transformistas de Darwin.

Senhores, acordem, não dá mais para esconder informações da sociedade cibernética. Se esconderem, nós desvelamos aqui neste blog. Para sua vergonha!

A teoria geral da evolução passa no teste do contexto da justificação teórica?

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

São várias as teorias da evolução (Ernst Mayr lista pelo menos cinco no capítulo 6 do seu livro “Biologia, Ciência Única”, São Paulo, Companhia das Letras, 2005, pp. 113-132).

Que a teoria especial da evolução é um fato, Fato, FATO [microevolução intra-espécies com limitação na variabilidade genética] tão bem estabelecido como a lei da gravidade, ninguém discute. Até os criacionistas estão convencidos disso. Muito mais a turma do Design Inteligente. Aqui, realmente, há uma montanha de evidências corroborando a teoria especial da evolução de Darwin.

E a teoria geral da evolução [macroevolução interespécies, uma espécie se transformando em outra]? Aqui, os darwinistas ortodoxos fundamentalistas [obrigado Stephen Jay Gould pela pérola] retoricamente afirmam existir uma “montanha de evidências” corroborando o fato, Fato, FATO da evolução. Só que ninguém até hoje viu essa montanha. Se a montanha inexiste, Darwin chama a montanha à existência:

Abracadabra! Oops, é preciso aceitar a verdade do axioma transformista a priori. Não é preciso demonstrá-lo...

Na condição de “simples professorzinho do ensino médio” [será?], eu lanço o seguinte desafio para a Nomenklatura científica, e espero contar com o apoio maciço da Grande Mídia tupiniquim, especialmente o caderno de Ciências da Folha de São Paulo (Claudio Ângelo, dá uma força, cara!), para encampar esta idéia epistêmica revolucionária:

Que tal os cientistas darwinistas de carteirinha partirem para uma pesquisa científica objetivando validar de vez as idéias de Darwin além da evolução microevolutiva, i.e., que tal validar empiricamente a evolução macroevolutiva? Os resultados, quaisquer que eles forem devem ser anunciado publicamente nas grandes publicações científicas e na Grande Mídia internacional e tupiniquim.

Não vale apelar para a estratégia de Ernst Mayr “saída para esquerda, saída para a direita” descrita no capítulo 2 do livro acima mencionado (pp. 27-35) de que a Biologia evolutiva é uma ciência autônoma em relação às demais ciências. Por que esse status epistêmico diferente? É por que a teoria geral da evolução faz parte das ciências históricas? Se for o caso, o que isso significa para a teoria geral da evolução em termo de “robustez” científica no contexto da justificação teórica? Seria realmente uma teoria científica ou apenas uma mera hipótese promovida a status de teoria sem o devido embasamento empírico???

Please, mais Bacon aqui no meu “sanduba” epistêmico, porque o recurso retórico de Mayr é para blindar “a idéia mais brilhante que a humanidade já teve” [obrigado Dennett por esta pérola] de quaisquer críticas, mesmo as científicas: mais empirismo em biologia evolutiva e seguir as evidências aonde elas forem dar. Se o desafio for aceito, e deveria, pois se é “a idéia mais brilhante que a humanidade já teve”, ela deveria ser rigorosa e objetivamente examinada. Aqui eu ouso fazer uma predição, aquela “montanha de evidências” a favor do fato, Fato, FATO da evolução, subitamente, vai se transformar em miragens, oops, “just-so-stories”, oops novamente, estórias da carochinha...

Darwin faleceu no dia 19 de abril de 1882. Será que em 19 de abril de 2012, nós veremos finalmente o “enterro” da teoria geral da evolução de Darwin? Afinal de contas, a Nomenklatura científica já está elaborando a síntese da síntese da teoria sintética, mais conhecida como neodarwinismo. Esta nova teoria da evolução ainda não foi anunciada, para não estragar as celebrações de louvaminhice a Darwin em 2009.
Em 1909, apesar das celebrações de louvaminhice, Darwin não passou no teste epistêmico rigoroso. Houve muito “beija-mão” e “beija-pé” de Darwin, mas houve também ousada contestação de alguns aspectos de sua teoria: especialmente o mecanismo evolutivo da seleção natural. [1]

Por ocasião das celebrações dos 200 anos de Darwin e dos 150 anos de publicação do Origem das Espécies, a Nomenklatura científica internacional e tupiniquim será obrigada a reexaminar o papel pífio da seleção natural na origem das espécies e a sua nova teoria da evolução à luz da complexidade irredutível [Michael Behe] e da informação complexa especificada [William Dembski].
Quem viver, verá!

NOTA:

1. Vide RICHMOND, Marsha L., “The 1909 Darwin Celebration — Reexamining Evolution in the Light of Mendel, Mutation, and Meiosis”. ISIS 2006 97:447-484.

UM CONVITE DESTE BLOGGER PARA OS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO NO BRASIL:

Encostem seus professores de Biologia na parede, e peçam para eles fornecerem esta “montanha de evidências”. Não vale “just-so stories”, oops, estórias da carochinha. Às vezes é necessário abandonar a fé que temos em qualquer coisa para que ela sobreviva de forma mais salutar e menos ideológica.

O ensino da teoria geral da evolução deve ser um baseado não na metafísica darwinista, mas nas evidências encontradas na natureza: Empirica, empirice tratanda! Das coisas empíricas, considera-se empiricamente!!!

Campanha contra violência às mulheres


Como eu não faço parte de nenhum "clube do Bolinha", e sou fã das Luluzinhas, eis aqui o meu apoio a esta organização que combate a violência perpretada contra as mulheres.



Vale a pena participar desta campanha!

BOMBA! BOMBA! Lewontin ‘falou e disse’: a evolução do cérebro é mera paleofantasia!

sábado, fevereiro 23, 2008

Como vai a sua pressão arterial? E o coração, vai bem? Você está sentado? De bem consigo e com todo mundo? Então você pode ficar sabendo de mais uma peraltice do Richard Lewontin. Sim, Lewontin, lembra aquele menino peralta, o Stephen Jay Gould de saudosa memória pela sua coragem e honestidade científicas, que juntamente com outro menino peralta, Niles Eldredge [hoje, Gould se envergonharia de Eldredge]ousaram desafiar e contrariar a Darwin e à Nomenklatura científica do seu tempo propondo uma nova teoria da evolução: a do equilíbrio pontuado: a estase observada no registro fóssil são dados, evidências que não podem ser desconsideradas simplesmente porque não justificam a teoria geral da evolução de Darwin.

Qual foi a peraltice desta vez deste já não tão menino peralta, mas ainda darwinista de carteirinha? Onde ele cometeu este mais novo impropério? Sobre o que Lewontin falou que não devia ter falado? O darwinismo tem sido uma teoria científica que explica tudo — de uma simples dor de cabeça até a existência de vida em multiversos postulados que evoluíram [os multiversos ainda desconhecidos também] pelos mesmos processos gradualistas darwinianos: acaso, necessidade, mutações filtradas pela seleção natural [e inúmeros mecanismos evolutivos conhecidos e desconhecidos] ao longo de bilhões e bilhões de anos. O darwinismo é uma “teoria do tudo”, afinal de contas esta foi, é e será a idéia mais brilhante que a humanidade já teve [Obrigado pela pérola, Daniel Dennett].

Bem, mas nem tudo é como 2+2 = 4 no darwinismo. A teoria da evolução é um produto da mente, mas quando tenta explicar o cérebro, os cientistas estão mais perdidos do que cego em tiroteio: estão completamente no escuro! Gente, esta foi a mensagem surpreendente de Richard Lewontin, da Universidade Harvard, na reunião anual da American Association for the Advancement of Science [Associação Americana para o Desenvolvimento da Ciência — a SBPC dos gringos].

Onde que eu fiquei sabendo disso? Na Folha de São Paulo? Nem pensar! Na VESGA, oops, na VEJA? Nem de longe! No resto da Grande Mídia tupiniquim? Nem a mil anos-luz [apesar de eu esperar contra esperança]. Não gente, a GMT está de rabo preso com Darwin, e não abre! “Não damos espaço” [Marcelo Leite – FSP] para visões extremas da evolução. Eu fiquei sabendo disso através de um gigante que leu no jornal inglês The Guardian, o blog de James Randerson. Ele começou citando a Lewontin: “Nós não sabemos nada sobre a evolução do cérebro. Os cientistas ainda estão completamente no escuro sobre porque o cérebro humano evoluiu para ser tão grande.” Ué, mas Darwin não havia explicado tudo sobre a evolução? O neodarwinismo não veio dar uma ajuda para o estabelecimento do fato, Fato, FATO da evolução, e nós ainda estamos “completamente no escuro” sobre a evolução do cérebro???

Randerson considera Lewontin “um dos rabugentos extraordinários da ciência.” Não é pra menos. Junto com Stephen Jay Gould, Lewontin tem argumentado historicamente contra o panselecionismo, ou a idéia de que a seleção natural produziu todas as características. Algumas características são meros artefatos como os efeitos decorativos nos pilares góticos.

Randerson afirmou que Lewontin se apresentou de “forma fantasticamente rabugenta” na reunião em Boston:

“A sua campanha contra o panselecionismo estava em evidência: ‘A evolução não é a evolução de características, mas a evolução de organismos’, disse ele.

Mas, ele ainda tinha uma mensagem mais séria e pensativa, resumida no título de sua palestra — “Por que nós nada sabemos sobre a evolução da cognição”. Ele desconsiderou todas as suposições sobre a evolução do pensamento humano, chegando à conclusão de que os cientistas ainda estão completamente no escuro sobre como que a seleção natural produziu o grande aumento no tamanho do cérebro humano na linhagem humana.”

Quais as razões para tanto pessimismo de Lewontin quanto à capacidade heurística da “maior idéia que a humanidade já teve”? Seguindo a Bacon — “seguir as evidências aonde elas forem dar”, Lewontin teve os principais pontos da sua palestra resumidos assim por Randerson:

1. Fósseis: “Apesar de um punhado de fósseis hominídeos que voltam no tempo uns 4 milhões de anos ou mais, nós não podemos ter certeza de que algum deles esteja na principal linhagem até nós. Muitos ou todos eles poderiam ter sido ramos evolutivos laterais.

2. Interpretações: “Pior, os fósseis que nós temos são difíceis de interpretar. ‘Eu não tenho a mínima idéia o que a capacidade craniana [de um fóssil hominídeo] significa’, confessou Lewontin.”

3. Postura: Lewontin expressou dúvidas que nós podemos ter certeza que os hominídeos andaram eretos.

4. Forças seletivas: “Ele também não está convencido de que nós podemos usar as atuais forças seletivas para inferir o que a seleção natural estava fazendo com os nossos ancestrais.”

Pára tudo. Pára o universo darwinista que eu quero descer! Assim não dá, assim não! Falando desse jeito Lewontin, você vai municiar os criacionistas e a turma perversa do Design Inteligente com argumentos contra Darwin, o homem que teve “a maior idéia que a humanidade já teve”!!!

O resumo de tudo isso é a descrição de como os pesquisadores evolucionistas usam antolhos epistêmicos intencionalmente, e não podem, por isso mesmo, ter certeza sobre as causas e os efeitos nos artefatos bióticos ou fossilizados pesquisados.
Randerson encerrou o seu texto com uma frase que arrebenta com as décadas de pesquisa e contos da carochinha:

“Resumindo, apesar de milhares de artigos científicos e inumeráveis capas da National Geographic, nós não temos feito muito progresso em compreender como surgiu o nosso órgão mais complicado e misterioso.” E citou a Lewontin, “Nós estamos em dificuldades muito sérias tentando reconstruir a evolução da cognição. Eu nem estou certo do que nós queremos dizer com o problema.”

Até aqui nós vimos o relato de um blogger. E como que a Nomenklatura científica acima do Rio Grande reportou a fala de Lewontin? Com vocês, a revista Science, órgão da AAAS [1]: “Richard Lewontin sabe como ganhar a atenção de uma platéia” foi a linha de abertura da notícia. Depois eles mencionaram mais de sua técnica de ganhar a atenção da platéia: “Nós não temos o registro fóssil da cognição humana. Por isso, nós inventamos estórias.” Título bem sugestivo do artigo de Michael Balter, da Science: “How Human Intelligence Evolved — Is It Science or ‘Paleofantasy’? [Como evoluiu a inteligência humana – é ciência ou paleofantasia?]”.

Balter salientou imediatamente que outros cientistas na reunião discordaram com o pessimismo de Lewontin. Dean Falk (Universidade estadual da Flórida) apontou para a evidência fóssil [???], e Christopher Walsh (da Escola de Medicina de Harvard) citou pesquisas genéticas. Leslie Aiello (Fundação Wenner-Gren Foundation para Pesquisa Antroplógica) apontou para pesquisa que pode “nos levar além da paleofantasia de que Richard Lewontin está falando.” Ela disse que existe bastante evidência para grandes períodos de tempo na história evolutiva, tais como “a divisão entre as linhagens dos chimpanzés e humanos cerca de 6 milhões de anos atrás, e a invenção de ferramentas de pedra começando há cerca de 2.5 milhões de anos atrás.” Alguns desses grandes períodos de tempo podem ser correlacionados com a mudança climática, ela argumentou. Tudo isso parece ser meras sugestões que podem fornecer insight, mas não são séries de evidências definitivas que resultam em conclusões sólidas.

Marc Hauser (psicólogo de Harvard) disse coisas que pareciam reforçar o pessimismo de Lewontin. Ele argumentou que as lacunas entre os humanos e outros animais inteligentes são muito maiores do que a lacuna entre aqueles animais e os vermes. Ao mostrar as muitas maneiras pelas quais a cognição humana é única, Hauser descreveu as capacidades de animais inteligentes como sendo estreitas, “inteligências de raios laser” por focalizarem em problemas estreitos, enquanto que os humanos têm “inteligência de holofote” aplicável a uma ampla gama de problemas. Até o uso de ferramentas pelos chimpanzés é “colossalmente diferente” do que os humanos fazem, disse ele. Balter finalizou, “Ele espera que as diversas diferenças humanas resumidas na sua ‘hipótese de exclusividade humana [‘humaniqueness hypothesis’, em inglês] produzirá pistas sobre como a nossa espécie evoluiu.”

Uau, pensar que eu e você pensávamos que Darwin já tinha explicado tudo sobre a “origem das espécies”...

Para saber mais sobre as opiniões de Marc Hauser sobre a “hipótese da exclusividade humana” que enfatiza as quatro lacunas cognitivas entre os humanos e os animais (capacidade de recombinar informação, de aplicar informação a novos problemas, de usar representações simbólicas, e de pensar abstratamente), vide Science Daily.

No final do artigo, Hauser é citado dizendo: “Para os seres humanos, estas capacidades cognitivas importantes podem ter aberto outras avenidas de evolução que os outros animais não exploraram, e esta evolução do cérebro é a fundação sobre a qual a evolução cultural foi construída.” Pausa para reflexão: esta declaração de Hauses assume o fato, Fato, FATO da evolução, em vez de mostrar quais mutações ou variações cruzaram a divisão interespécies. Medir o rio Amazonas não é a mesma coisa que encontrar uma ponte cruzando aquele majestoso rio que tanto nos orgulha.

NOTA:

1. Michael Balter, News of the Week, “How Human Intelligence Evolved--Is It Science or ‘Paleofantasy’?” Science, 22 February 2008: Vol. 319. no. 5866, p. 1028, DOI: 10.1126/science.319.5866.1028a.

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Comentário impertinente deste blogger:

Eu acho que a palestra de Lewontin pode muito bem ser comparada como a ação de um piloto kamikaze na Segunda Guerra Mundial. Razão? Ele explodiu uma bomba epistêmica lá na sede da Nomenklatura científica do Tio Sam demonstrando que no contexto da justificação teórica sobre o fato, Fato, FATO da evolução [obrigado Michael Ruse pela pérola], Darwin não fecha as contas.

Eu queria ver a cara de decepção dos meninos e meninas da galera de Darwin. Depois desta confissão sincera de Lewontin de que os cientistas não estão fazendo ciência, mas estão em Paleofantasilândia, eles vão ter que arrancar das paredes dos seus quartos aquelas capas policrômicas da National Geographic, da VEJA, da Superinteressante, da Galileu, da Época, “ilustrando” o fato, Fato, FATO da evolução humana. Eles vão assistir agora às séries do Fantástico da TV Globo e os documentários ideológicos da TV Brasil com um pé atrás, e mais ceticismo localizado das “estórias” inventadas. Alô, MEC/SEMTEC/PNLEM, olho atento naquelas “reconstituições artísticas” da evolução em nossos melhores livros didáticos de Biologia do ensino médio. Lewontin disse que é um punhado de “estórias inventadas”!

Lewontin, cara, muito obrigado, apesar de sua ignorância sobre qual era mesmo o significado do problema, você pegou pesado com Darwin, mas a sua palestra “arrasa quarteirão” foi Pro bonum Scientiae!

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Nota esclarecedora deste blogger:

Richard Lewontin não está na folha de pagamento do Design Inteligente. Às vezes, é necessário abandonar a fé em Darwin para que ela sobreviva de forma mais salutar, menos ideológica, e mais científica.

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Sob os ombros de um gigante.

Não é somente a revista VEJA que é VESGA há muito tempo

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

NASSIF X VEJA
Fonte: Direto da Redação

Urariano Mota

A série de artigos de Luis Nassif publicados em http://www.projetobr.com.br/blog/5.html , sobre a revista Veja, tem sido uma das coisas mais importantes da imprensa brasileira nos últimos tempos. Pela clareza, pesquisa, conhecimento dos bastidores e das redações, é algo que deveria ser indispensável nos cursos de jornalismo. O bom repórter, essa qualidade rara que nunca entra em pauta, deveria também ler e meditar os fatos ali noticiados, mas não só, deveria também estudar a sua carpintaria, de como se faz um livro, um seriado, um folhetim de suspense, em processo.

Começado por “O maior fenômeno de antijornalismo dos últimos anos foi o que ocorreu com a revista Veja. Gradativamente, o maior semanário brasileiro foi se transformando em um pasquim sem compromisso com o jornalismo, recorrendo a ataques desqualificadores contra quem atravessasse seu caminho, envolvendo-se em guerras comerciais e aceitando que suas páginas e sites abrigassem matérias e colunas do mais puro esgoto jornalístico”.

Assim começados, os artigos continuam em capítulos devastadores, como esse perfil de um certo Diogo Mainardi: “um ‘colunista sela’ – nome que se dá ao colunista pouco informado que se deixa ‘cavalgar’ pela fonte, tornando-se mero repassador de recados, em troca da repercussão que as notas proporcionam... com falta de escrúpulos suficiente para cometer qualquer assassinato de reputação que lhe fosse encomendado... (dotado de) escassa informação em política, história e, especialmente, sobre o intrincado mundo dos negócios e das disputas empresariais. Mas ávido pelas benesses que a exposição jornalística trazia..”.

E vêm casos, mais casos, que vão além do ridículo, como a história do “boimate” divulgado na revista nos termos de “num ousado avanço da biologia molecular, dois biólogos de Hamburgo, na Alemanha, fundiram pela primeira vez células animais com células vegetais - as de um tomateiro com as de um boi. Deu certo”, de monstros do lago Loch Ness, ou de capas festeiras da queda de Hugo Chávez. A série de Nassif se dirige mais para as negociatas, para as matérias plantadas por interesses privados, que atapetam decisões judiciais ou procuram torcer o caminho de políticas do Governo. Desvenda “notícias” políticas e econômicas, enfim.

Como vêem, o serviço de utilidade pública, o desmascaramento de uma farsa na grande imprensa não é pequeno. No entanto, senhores, a repercussão nos jornais, na imprensa de papel – que papel ! – tem sido de um cerrado silêncio. Não fosse a Internet, esse trabalho seria solitário, de um Davi fracassado contra Golias. Mas não, a série se transformou em produção coletiva. Para ele acorrem cidadãos das mais diferentes especialidades e competências, que já desconfiavam da natureza da revista, mas não tinham substância, dados, provas, que vêm agora com aquilo que na retórica é conhecido como argumento ad hominem, ou seja, nesse caso, as provas contra a revista estão na revista.

Bismarck afirmava que as pessoas não sabiam como se fazem as leis e as salsichas. Com os artigos de Nassif aprendemos agora como também se fazem revistas como a Veja. E por isso largamos a digestão dessa Reader’s Digest.

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Comentário impertinente deste blogger: Quando a questão é Darwin, a revista é VESGA!

Interessante a chamada para este artigo “A NOTÍCIA, O QUE É?” Todo mundo sabe o que é, mas ninguém sabe definir com exatidão. Para resumir: Notícia é aquilo que o editor no poder disser que é. E isso não se ensina na escola. (24/01/2008 )

Claudio Weber Abramo foi articulista na Folha de São Paulo e sabe muito bem como funciona a “censura” na redação. Marcelo Leite, também da FSP, encerrando uma mesa-redonda numa conferência sobre evolução, instado sobre como a mídia reagiria diante do avanço do criacionismo no Brasil (leia-se Design Inteligente por tabela), respondeu: “Não damos espaço!”. É esse o jornalismo intelectual, oops unilateral que nós temos em Pindorama: “Não damos espaço”. E o Manual de Redação da FSP tem diretrizes para seus jornalistas “ouvirem o outro lado”. Nós do Design Inteligente há uma década não somos ouvido por este grande jornal.

Cheira muito mais a diktadura epistêmica, oops, relação incestuosa da Grande Mídia com a Nomenklatura científica violentando a cidadania de toda uma nação em ter acesso a informações sobre as dificuldades fundamentais das atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida discutida intramuros. Os alunos do ensino médio estão sendo engabelados há décadas pelo conteúdo distorcido e uso de fraudes para corroborar o fato, Fato, FATO da evolução.

O nome disso é desonestidade acadêmico-jornalística! Esses oráculos do Olimpo da Grande Mídia se ofendem facilmente quando denunciados com a mão na cumbuca.

Não é somente a revista VEJA que é VESGA em relação a esconder as insuficiências epistêmicas das especulações transformistas de Darwin.

Revirando o baú da USP em 2002: Darwin, herói ou fraude?

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Fonte: Observatório da Imprensa

CIÊNCIA

DEBATE OCULTO

Darwin, herói ou fraude? Parte 1 de 2

Gildo Magalhães (*)

O darwinismo, nas diversas formulações que recebeu desde sua proposição inicial por Charles Darwin em A Origem das Espécies, seja a do neodarwinismo, seja da versão sintética, ou da sociobiologia ou ainda outras, é uma teoria amplamente aceita por biólogos e não-biólogos. Dito da maneira mais simples, é a evolução por seleção natural regida pelo acaso, ou seja uma teoria que explica a evolução dos seres vivos através do surgimento de mutações ao acaso (das quais se originam variações com relação a um conjunto denominado "espécie") e subseqüente seleção de algumas dessas mutações pela ação do meio exterior (geralmente chamado de "ambiente", ou mais genericamente de "natureza"), aplicada a tais seres vivos. O resultado final se expressa na condição de indivíduos com tais mutações serem mais "adaptados" às hostilidades do ambiente e conseguirem ter mais descendentes do que as variações menos "adaptadas".

Saudado como um pilar da ciência contemporânea, ocorre no entanto que um exame das bases e das aplicações do darwinismo revela um paradigma que vem sendo bastante questionado desde sua apresentação. Trata-se de uma "revolução científica" em permanente crise, mas tão ferrenhamente defendida pela comunidade científica que se torna difícil contestá-la, sem o perigo de descrédito imediato, e quem o faz corre o risco de ser considerado não-científico ou irremediavelmente obsoleto. A teoria vem conseguindo enfrentar várias críticas com aparente satisfação, mas acaba sendo remendada à moda dos epiciclos, apesar da complicação que representam os artifícios destinados a salvar essa teoria, cujos fundamentos filosóficos e ideológicos não são suficientemente explicitados para todos.

O debate em torno da questão existe, mas ele é meio "escondido" de nossos alunos de Ciências Biológicas, ou mesmo de história das ciências, devido ao propósito de se torná-los antes de tudo adeptos dos paradigmas vigentes, sem lhes dar oportunidade para explorarem as possibilidades contrárias a tais paradigmas. A omissão é a regra geral, apesar de que muitos dos adeptos do darwinismo sabem que existem outros pontos de vista, e negam-se a falar nisto ou a escrever sobre as dissensões, a não ser para ridicularizá-las. É o que temos por exemplo numa publicação recente (Ridley, 1997), em que são apresentados 64 trabalhos sobre evolução, muitos deles de clássicos dos séculos 19 e 20, sem incluir um só que fosse contrário ao darwinismo.

Um contra-exemplo da atualidade do debate, que raramente chega ao conhecimento público como aconteceu neste caso, é o número especial de Les Cahiers de Science et Vie (1991), significativamente intitulado "Darwin ou Lamarck, a Querela da Evolução". Temos outra exceção no trabalho de Émile Noël (1981), que selecionou nove cientistas de renome envolvidos com as biociências, mas teve o cuidado de reunir tanto pessoas favoráveis quanto contrárias ao darwinismo, havendo mesmo aquelas que declararam não ter muita certeza quanto à posição mais correta. No cotidiano temos observado que um bom número de cientistas dessa área preferem dizer que não lhes importa se a teoria está correta ou não, pois não dependem dela nos seus afazeres diários. Evidentemente esta postura que se pretende pragmática não é satisfatória, pois todos encontramos no dia-a-dia alusões diretas ou indiretas de aplicações do darwinismo em alguma de suas formas.

Com o presente ensaio, objetiva-se rever sumariamente as posições em jogo no domínio da biologia, mas certamente esse escopo pode ser proveitosamente ampliado para incluir toda uma gama de aplicações em outros campos, da economia à antropologia, da epistemologia e da psicologia behaviorista à literatura, o que pretendemos fazer futuramente. Inicialmente, vamos rever alguns fatos mais conhecidos da biografia de Darwin.

As contribuições de Darwin

Charles Darwin (1809 -1882) nasceu perto de Shrewsbury em família inglesa de posses, com antecedentes notáveis. Seu avô paterno, Erasmus Darwin, foi um pensador que escreveu influente obra evolucionista, com uma teoria transformista que continha afinidades com a de outro evolucionista, o francês Lamarck. Por parte de mãe, era neto de Josuah Wedgewood, rico industrial da cerâmica que participou da chamada "revolução industrial" na Grã-Bretanha, associando-se a Watt e outros em aplicações de máquinas a vapor para vários empreendimentos.

A biografia de Charles Darwin é interessante, embora a maior parte do que se escreve a respeito seja laudatório e pouco crítico (especialmente quando se trata de biógrafos britânicos), realçando sempre seu lado de "gênio" (p. ex. Buican, 1990). Em trabalho recente, Desmond e Moore (2001) apresentam um enfoque mais interessante, examinando as raízes sociais e culturais do biografado, porém mantendo o tom benevolente para com os tormentos pessoais e dilemas morais de Darwin. É bem conhecida sua viagem pelo mundo a bordo do Beagle, em que fez anotações sobre fauna, flora e geologia dos lugares visitados. Também se conhece sua amizade com Charles Lyell, um dos fundadores da moderna geologia e que tinha sido amigo já de seu avô Erasmus. Sua vida confortável proporcionada pelas rendas de uma boa herança lhe deram o tempo necessário para se tornar um aplicado naturalista, menos por formação do que por ser um amador dedicado. A relação a seguir de trabalhos publicados por Darwin dá uma idéia de seu empenho e interesses, enquanto estudioso da História Natural.

· Remarks upon the Habits of the Genera Geospiza, Camarhynchus, Cactornis and Certhidea of Gould (1837)
· On Certain Areas of Elevation and Subsidence in the Pacific and Indian Oceans, as Deduced from the Study of Coral Formations (1838)
· Narrative of the Surveying Voyages of His Majesty’s Ships Adventure and Beagle, between the years 1826 and 1836, describing Their Examination of the Southern Shores of South America, and the Beagle’s Circumnavigation of the Globe. Vol. III. Journal and Remarks, 1832-1836 (1839)
· Humble-Bees (1841)
· The Structure and Distribution of Coral Reefs (1842)
· Geological Observations on South America (1846)
· Does Salt-water Kill Seeds? (1855)
· Productiveness of Foreign Seed (1857)
· On the Tendency of Species to Form Varieties; and on the Perpetuation of Varieties and Species by Natural Means of Selection (1858)
· On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life (1859)
· Natural Selection (1860)
· Fertilisation of Orchids by Insect Agency (1860)
· On the Various Contrivances by Which British and Foreign Orchids are Fertilised by Insects, and on the Good Effects of Intercrossing (1862)
· Variations Effected by Cultivation (1862)
· Recollections of Professor Henslow (1862)
· The Variation of Animals and Plants under Domestication (1868)
· Origin of Species (1869)
· The Descent of Man and Selection in Relation to Sex (1871)
· Pangenesis (1871)
· The Expression of the Emotions in Man and Animals (1872)
· Perceptions in the Lower Animals
· Flowers of the Primrose Destroyed by Birds (1874)
· Insectivorous Plants (1875)
· The Effects of Cross and Self-Fertilisation in the Vegetable Kingdom (1876)
· Sexual Selection in Relation to Monkeys (1876)
· The Different Forms of Flowers on Plants of the Same Species (1877)
· A Biographical Sketch of an Infant (1877)
· Erasmus Darwin (1879)
· The Power of Movement in Plants (1880)
· The Formation of Vegetable Mould, through the Action of Worms, with Observations on Their Habits (1881)

Além desses trabalhos de zoologia, botânica, geologia e biografia, postumamente foram editadas sua autobiografia e numerosa correspondência, bem como parte dos seus diários –restando ainda por publicar sua íntegra.

Também é famoso o episódio da prioridade na publicação da sua teoria evolutiva. Em termos do que hoje é consagrado na prática científica, a prioridade seria de Alfred Wallace, mas Lyell orientou Darwin a publicar sua própria teoria juntamente com o manuscrito que este recebera de Wallace, apesar de as duas teorias conterem também pontos de diferença. Na verdade, a historiografia oficial desses eventos, escrita por adeptos do darwinismo, começa a sofrer contestações, pois há uma discrepância entre a versão preliminar de Darwin para o famoso capítulo IV de A Origem das Espécies e a versão final da publicação (1859), que estranhamente coincide muito bem com o manuscrito de Wallace. Desde a década de 1980 foi levantada a hipótese de que Darwin teria inserido o texto de Wallace no seu, naturalmente omitindo o nome de Wallace, podendo mesmo Lyell ter destruído as provas materiais desse plágio (Ferreira, 1990, pp. 59-63). Este teria sido um episódio digno da "sobrevivência do mais apto"!...

Bases ideológicas do darwinismo

A própria disputa por uma prioridade na publicação pareceria algo forçada, uma vez que havia várias outras teorias evolutivas já propostas, além das de Darwin e Wallace, algumas com bastante superposição a estas. O que fez com que a de Darwin fosse tão amplamente divulgada? A resposta está na ideologia na qual se apoiava implicitamente Darwin: no laissez-faire do liberalismo econômico (que nada tem a ver com os princípios do liberalismo como doutrina da liberdade individual, consagrados como direitos universais) defendido por Adam Smith em A Riqueza das Nações (1776) – e que ainda é usado, até mesmo por darwinistas "revisionistas" como Stephen Jay Gould. Toda uma tradição da filosofia empiricista britânica que deságua em Adam Smith, ao prever a regulação do conjunto da economia pela "mão invisível" do mercado, se casava bem também com a teoria econômica de Thomas Malthus. Este, em seu ensaio sobre as populações (publicado em 1798 e confessamente livro de cabeceira de Darwin), propunha que a demografia humana cresceria geometricamente, enquanto que os recursos cresceriam menos, de forma aritmética.

São conhecidas as soluções de Malthus para a "superpopulação" resultante desse suposto desencontro: epidemias, guerras, a fome e outras catástrofes se incumbiriam de estabelecer um equilíbrio, o que se casava bem com os ensinamentos de Adam Smith sobre a auto-regulação do mercado. Certamente no auge do imperialismo e colonialismo britânico, uma teoria evolutiva que defendia aspectos como uma inevitável luta pela vida, espécies mais favorecidas e uma seleção natural regida pelo acaso, tinha condições de atrair a seu favor a opinião pública da sociedade vitoriana, que se enxergou justificada pela "ciência" e ajudou a promover ideologicamente a teoria de Darwin.

O darwinismo legitima assim a desigualdade das classes e das raças, bem como aceita a luta, e por extensão as guerras, como fator crucial para a civilização, pois determina quem é o mais apto (Ruffié, 1988). Esta é uma tendência peculiar e coerente com toda a corrente filosófica do empiricismo britânico, como por exemplo no conceito de sociedade apresentado por Thomas Hobbes, que concluiu pela afirmação de que "o homem é o lobo do homem". O neoliberalismo de hoje, especialmente depois da era Thatcher, e que chegou mais tarde ao poder no Brasil pelas mãos principalmente dos governos de Collor e Fernando Henrique Cardoso, admite os mesmos princípios que os similares do liberalismo da era vitoriana, apenas intensificados pela atuação global do capital.

A teoria malthusiana é igualmente a base ideológica de movimentos mais atuais, como o que propunha o "crescimento nulo" da população na década de 1970, embora tenha havido um abrandamento do radicalismo dessa proposta, que deu lugar àquela outra aparentemente mais suave, a do "crescimento sustentável". E na biologia, o espectro da ameaça do crescimento populacional tem sido a justificativa de ações ambientalistas de cunho ecológico conservador, que defendem o darwinismo ferozmente (como em Ehrlich, 1993). Essas propostas se baseiam em inferições estatísticas tão duvidosas que, não obstante sua aparente convicção, são passíveis de contestação também matematicamente, em "perigos" como o aumento populacional, o super-aquecimento do planeta, o fim da biodiversidade e a escassez de alimentos e de energia, como já o demonstrou recentemente um ecologista arrependido e ex-militante do movimento Greenpeace (Lomborg, 2001).

De fato, as análises estatísticas de Lomborg demonstram que, pelo contrário, a crescente urbanização tende a minorar os problemas econômicos da sociedade, e que a Terra ainda tem muito potencial para crescimento demográfico e possibilidades imensas de alimentar adequadamente essa população. Historicamente as pessoas da atualidade estão sendo melhor alimentadas do que antigamente, mas o espectro da fome existe devido a um problema distributivo, ou seja político, e não técnico ou de falta de alimentos. A saúde e a expectativa de vida só têm aumentado, até mesmo nos países subdesenvolvidos. Claro que é necessário cuidar nacional e internacionalmente do referido problema da distribuição de bens e riquezas, mas a decisão de fazer as economias crescerem e acelerarem cada vez mais também é vital para se resolver o problema. Aprofundar a industrialização é a melhor alternativa para todos e de todos os pontos de vista, apesar da ideologia anti-industrialista que se associou ao mito de sociedade "pós-industrial". A industrialização pode ajudar inclusive a diminuir a concentração de poluentes no ar; em particular, já foi demonstrado que a chuva ácida não está correlacionada com a emissão de NOx ou SO2 (Lomborg, 2001).

Recuperando uma agenda perdida na pregação romântica por um planeta mais "limpo", insistimos que a industrialização intensificada também é o único remédio adequado para problemas como a poluição das águas e o processamento do lixo. O uso de pesticidas (tanto industriais quanto naturais) não pode ser descartado para a produção de alimentos e eliminação da fome, tendo baixíssima correlação com doenças. Estudos mais desapaixonados também questionam que a variação do tamanho do buraco de ozônio seja função de efeitos de emissão causados pela industrialização (Maduro, 1990). Mesmo o aquecimento global tem sido contrariado por diversos especialistas em meteorologia, que em verdade apontam para a hipótese contrária, a de estarmos caminhando para uma nova era glacial (Hecht, 1994). O desflorestamento do planeta é certamente um problema, mas é localizado e a área cortada pode ser reflorestada, até mesmo se recuperando a diversidade vegetal e animal. Aliás, a propalada redução da biodiversidade em 40.000 espécies por ano (mesmo não havendo consenso entre os biólogos que permita saber exatamente o que é uma espécie) se revelou falsa, pois está mais perto de 200 espécies por ano – e a extinção pode ser desacelerada (Lomborg, 2001). Água e matérias-primas, inclusive os combustíveis não dão sinal de exaustão e novas tecnologias têm tornado possível tanto seu reaproveitamento quanto a descoberta de mais fontes energéticas. Em contrapartida, todas as propostas ambientalistas radicais têm um fundo na matriz malthusiano-darwinista.

Os antecedentes econômicos e ideológicos citados fizeram com que a obra de Darwin fosse muito bem divulgada pelos seus incentivadores, inclusive pela sempre citada contribuição do confronto público entre seu arquidefensor Thomas Huxley e o bispo criacionista Sam Wilberforce. Com o alarde e sensacionalismo criados em torno do episódio, logo a idéia de Darwin chegou a outros países. A propósito daquele debate, ele continha algumas sutilezas que a sua apresentação caricatural não deixa perceber, e algumas questões por ele levantadas continuaram sendo disputadas até hoje (Hellman, 1999). O grande impulso para a popularização das idéias darwinistas foi dado pela adesão de Herbert Spencer, na Inglaterra, e de Ernst Haeckel, na Alemanha, dois escritores muito populares e com afinidades ideológicas com a teoria de Darwin. No Brasil, o darwinismo teria chegado já na década de 1860, através de traduções francesas das obras de Darwin, Spencer, Haeckel e outros. Sua entrada nos meios acadêmicos brasileiros se deu com o médico Miranda de Azevedo em 1874, tendo-se divulgado pelo uso dos conceitos de evolução darwinista tão marcantes nas obras dos pensadores Sílvio Romero e Tobias Barreto (Collichio, 1988).

Por outro lado, houve sérias objeções a que nem Darwin nem seus patrocinadores souberam responder na época, tais como a idade da Terra e a diluição pouco a pouco das características dos progenitores, e portanto das variações, ao longo das gerações (o chamado "paradoxo de Jenkin"). Esta última dificuldade precisou esperar pela integração do mendelismo ao darwinismo, que se deu com a "teoria sintética", uma forma de neodarwinismo. Deve-se notar porém o ataque plenamente contemporâneo a Darwin, de origem mais filosófica e especulativa, feito pelo inglês Samuel Butler, que publicou já em 1863 seu artigo "Darwin entre as máquinas". A este se seguiu seu romance Erewhon, uma vigorosa sátira contra a hipocrisia moral vitoriana, na qual as máquinas seguem um esquema evolutivo darwiniano, para desnudar o que eram justificativas de domínio das classes abastadas sobre as mais pobres. O tema de Butler se presta admiravelmente à discussão da possibilidade de "inteligência artificial" – lembrando porém que a inteligência humana é um desafio não respondido pelo darwinismo (Blanc, 1994). As idéias de Butler foram modernamente retomadas em conexão sobre a discussão de máquinas que fazem outras máquinas, juntamente com uma hipótese de que o lamarckismo explicaria o mecanismo da evolução nos primórdios da vida (Dyson, 1998), sendo gradativamente substituído pelo mecanismo da seleção natural.

A teoria darwinista da evolução é, para seus atuais adeptos extremados, tão poderosa que mesmo para eventuais formas de vida alienígena, eles acreditam que esta terá se desenvolvido forçosamente de acordo com os princípios desta teoria (Dawkins, 1998). Os argumentos contrários ao darwinismo, quando expostos por darwinistas ortodoxos como Ernest Mayr ou Richard Dawkins, são sofismas que admitem o darwinismo como ponto de partida – para chegarem ao mesmo ponto de onde partiram. Por outro lado, embora seja como se verá adiante uma aparente dissidência, o chamado "saltacionismo" procura no fundo defender a teoria darwinista e atualizá-la, ainda que às custas de seu axioma de transformações lentas e graduais. Os seguidores da linha saltacionista afirmam que a evolução é materialista, não é finalista e não admite uma noção de progresso (Gould, 1979). Mesmo havendo subscrito a hipótese contrária à da teoria sintética, de que a seleção natural não é o único mecanismo determinante da evolução, ao longo de seus livros Stephen Jay Gould lembra que o próprio Darwin também falava de outros mecanismos além da seleção natural e Gould acaba fazendo concessões para nada mudar de fundamental, pois discorda veementemente de que o darwinismo esteja em crise ou em vias de ser superado – seus esforços são, pelo contrário, para revigorá-lo.

Uma das aplicações mais esdrúxulas dos seguidores do darwinismo tem sido a da epistemologia científica. Segundo essa visão, filósofos das ciências bastante renomados, entre os quais Karl Popper e David Hull, de maneiras e com alcances diferentes, teriam proposto que o próprio conhecimento avança por hipóteses que são selecionadas por mecanismos análogos ao da seleção natural: as idéias evoluem, sendo selecionadas as mais aptas na luta por sua existência (Ruiz e Ayala, 1998). Pode-se contra-argumentar notando que a história das ciências mostra que, diferentemente da evolução biológica, há idéias que vão e vêm, dando-se o retorno e atualização de uma idéia muito tempo depois do seu abandono (como por exemplo o sistema heliocêntrico de Aristarco e outros gregos, que só retorna após o Renascimento). Julgamos que a epistemologia, enquanto estudo do processo geral do conhecimento depende de se exercer um dom, este sim resultado da evolução biológica e não da seleção natural, que é a criatividade humana.

O evolucionismo sem Darwin

Pode-se indagar: mas há hoje em dia alguma teoria da evolução sem Darwin? Comecemos lembrando que a idéia de luta pela vida, com a sobrevivência e sucessão dos mais aptos, é bastante antiga, pois já se encontra no filósofo Lucrécio (98 – 54 a.C.), no seu longo poema De rerum natura, de cunho epicurista. A possibilidade de transformação só é contudo veiculada com mais ênfase após a descoberta das células ao microscópio (Barbieri, 1987). A comprovação de que há microrganismos invisíveis a olho nu durante o século 17 possibilitou uma idéia de alteração histórica nas formas de vida, em que aumentavam sua complexidade e diversidade. No século 18 foi estreitada a relação de paralelismo entre evolução e desenvolvimento embrionário, pois o embrião realiza a alteração de algo pequeno em seres diversificados e complexos; de fato, em 1744 o cientista Albrecht von Haller introduziu a palavra "evolução" para descrever o desenvolvimento do embrião (Gould, 1979). Sucederam-se então várias teorias propostas para a evolução, antes da de Charles Darwin, inclusive a de seu avô Erasmus Darwin.

A primeira teoria da evolução que se pode considerar completa foi a de Jean-Baptiste Lamarck, publicada em 1809, na Filosofia Zoológica, baseada em três grandes princípios. Segundo Barbieri (1987), tais princípios formam uma teoria correta da evolução se destituídos das últimas partes (indicadas em [], a seguir):

· A vida surgiu na superfície da Terra sob a forma de microrganismos [por geração espontânea];
· Os mecanismos alteraram-se e adaptaram-se ao ambiente, [mediante a hereditariedade dos caracteres adquiridos];
· A complexidade dos organismos aumentou com o tempo, [porque há neles uma tendência intrínseca que os impele para níveis de organização cada vez mais complexos].

Segundo Bourguignon (1990), Lamarck apresentou quatro leis da vida de forma algo diferente em 1815, mas que se podem equiparar aos três princípios acima, acrescidos de sua teoria da progressão biológica.

Minha hipótese é de que não é preciso retirar nada das proposições lamarckianas, embora seus pormenores possam conter inúmeros erros. Na primeira proposição, entenda-se por geração espontânea não aquela destruída pelo argumento dos experimentos de Redi, Spallanzani e Pasteur, mas a formação primitiva de organismos replicantes como as bactérias, a partir por exemplo de cadeias de RNA. Neste caso, as origens da vida foram a partir da não-vida, ou seja uma geração, sob determinadas condições, "espontânea".

Para manter a segunda proposição de Lamarck, é necessário contrariar o "dogma central" da biologia molecular pós-Crick/Watson e admitir como que uma extensão do que ocorre na transcriptase reversa e que obrigasse a proteína a agir sobre o RNA, que por sua vez agiria sobre o DNA como codificante, uma realimentação teoricamente possível e que não vai contra nenhuma lei físico-química conhecida. Vários autores (como Blanc, 1994; Bourguigon, 1990; Barbieri, 1987; Thullier, 1994) já apontaram que o próprio Darwin era um neolamarckiano, pois subscrevia inteiramente a tese de Lamarck de que o uso e desuso de órgãos, enfim de que alguns novos hábitos ensejados por mudanças no meio, produzem efeitos hereditários ao longo de numerosas gerações. Para Darwin, são apenas aqueles caracteres que não são herdados os que estão sujeitos à seleção natural (Bourguigon, 1990). As teses lamarckistas a esse respeito foram conservadas até por renomados biólogos mais contemporâneos, como Pierre Grassé. Hoje esta hipótese volta a ser examinada, como por exemplo nos casos da resistência adquirida pelos mosquitos aos pesticidas organofosforados (Bourguigon, 1990, p 140), em mutações bacterianas ou ainda em anticorpos de coelhos, como nas experiências de Steele e Cairns (Chauvin, 1999).

Na terceira proposição lamarckiana, encontramos um ponto de vista defendido até por numerosos darwinistas ortodoxos, como Thomas e Julian Huxley, Mayr e Dawkins, embora rejeitada por darwinistas não-ortodoxos, como Stephen Jay Gould.. Esse aspecto do lamarckismo, que carrega em seu bojo a noção de progresso como paralela à evolução biológica, e pelo qual o estágio mais perfeito conhecido seria o homem, talvez seja mais polêmico ainda do que os anteriores. Na física, algo equivalente é admitido pelas teorias antrópicas, em maior ou menor grau, conforme se aceite o chamado princípio antrópico forte ou fraco, respectivamente.

Muitas pessoas pensam erroneamente que criticar a teoria darwiniana da evolução significa defender o criacionismo religioso na sua forma fundamentalista, isto é, a que toma literalmente a interpretação das escrituras sagradas (no caso majoritário a Bíblia, especialmente no livro de Gênesis). É verdade que esta oposição se torna forte quando conceitos teológicos simplistas são assumidos, mas ela se esvai na medida em que se examinam conceitos mais sofisticados da Divindade, como os do paleontólogo e filósofo Teilhard de Chardin. Isto de qualquer maneira é um falso debate, pois seus termos se situam em esferas diferentes, só que muitas vezes essa polêmica tem sido habilmente utilizada para opor um dogmatismo a outro. É possível propor uma teoria da evolução sem a seleção natural como mecanismo principal, acreditando ao mesmo tempo que a idade do Universo seja de muitos bilhões de anos e que todos organismos que conhecemos na Terra tenham um ou mais ancestrais comuns. Ou seja, há teorias evolutivas contrárias ao darwinismo que não são místicas – assim como há darwinistas que também têm convicções religiosas, o que mostra que artigos de fé podem ser relativamente independentes de posições científicas.

Geralmente os meios de comunicação, e mesmo os círculos científicos, insistem porém em alimentar essa oposição, que não chega a penetrar no âmago das questões realmente interessantes e relevantes.

Lembramos ainda que há diversas outras teorias evolutivas propostas posteriormente à de Darwin, que não examinaremos aqui. Dentre estas, podem–se citar (de acordo com Bourguigon, 1990) a visão de hologênese do século 20 (D. Rosa), a da pedomorfose e neotenia (Garstang, Vandel) e a da fenocópia (Piaget). Há ainda uma série de proposições relativas à coerência interna do ser vivo (Pichot), flutuações (I. Prigogine), catástrofes (René Thom), auto-organização (H. Atlan e Winiwarter), reações autocatalíticas que levam o sistema a sair "da borda do caos" (Stuart Kauffman) e outras que lançaram hipóteses ainda não transformadas em teorias da evolução, mas que parecem convergir para tal num futuro próximo.

Seguindo uma indicação de Carol Hugunin (1995) destacaremos a seguir algumas fundamentações apresentadas por Darwin na Origem das Espécies por meio de Seleção Natural, ou a Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida, e as contrastaremos com idéias evolucionistas alternativas.

Variações ao acaso

O acaso darwinista age como um pseudo igualador das oportunidades das diversas espécies ou variações terem maior descendência. Uma variável, o tempo, se encarrega então de fazer sobressair os indivíduos mais adaptados a outra variável, o ambiente, num processo que, como proposto, se dá totalmente ao acaso. A isto se chama de processo "natural" de seleção, para fazer analogia com a seleção "artificial" feita de maneira determinista por criadores de pombos (e também praticada por Darwin), de gado ou milho.

A seleção de mutações produzidas ao acaso pode trazer uma certa facilidade de descrever determinadas evoluções, especialmente uma vez que elas já se considerem ocorridas, mas de forma alguma consegue de per si explicar o fenômeno evolucionista. A probabilidade de uma única molécula, como por exemplo a do albúmen do ovo, ser produzida por acaso e pela ação térmica usual, supondo um meio constituído por substâncias convenientes e com 500 trilhões de vibrações por segundo (aproximadamente correspondendo à velocidade da luz) é de 2 x 10-321, ou de 10243 anos (Hugunin, 1995) – e se estima que o Universo teria pouco mais de 1010 anos. Resulta que seria preciso que o gen já tivesse a idéia do conjunto a fabricar, antes de fabricá-lo. É este também o argumento contra o desenvolvimento do olho por acaso, a partir das reações bioquímicas necessárias (Behe, 1997).

Acontece que muitos evolucionistas desde os darwinianos de primeira hora, como Thomas Huxley, não aceitaram a seleção natural como sendo o único fator importante na evolução (Morris, 2000). De toda maneira, um mecanismo (força da seleção natural) cuja ação é imprevisível (já que intervém sempre o acaso) é muito pouco útil na ciência. Daí se sugerir que a seleção feita em indivíduos por contingências externas não teria o poder de criar, mas só o de organizar as espécies (Chauvin, 1999).

Indo mais além no questionamento, pode-se indagar: o universo como um todo é regido pelo acaso e entrópico (como nos modelos de Newton para a física, de Adam Smith para a economia política, ou de Darwin para a evolução)? Ou é neguentrópico e dependente duma geometria não-linear de espaço-tempo que direciona os fenômenos dentro de si, num sentido de otimização, verificado com um mínimo dispêndio de energia? Neste caso, variações ao acaso não resultarão em caminhos de mínima energia, caso se apliquem à evolução teoremas do cálculo variacional e da estabilidade de sistemas.
Acreditamos que foi por intuir essa dificuldade, e não por motivações puramente de ordem ética ou filosófica que outros evolucionistas, como Lamarck, Haeckel, Dwight Dana etc., apontavam para a direcionalidade da evolução. Se a finalidade de um órgão está dada para resolver um problema num dado ambiente, então o ambiente pode ter influenciado direta ou indiretamente seu desenvolvimento; caso se queira tratar isto pelo acaso, no mínimo se deveria usar uma estatística do tipo de probabilidades condicionadas, que pode alterar em muito o cálculo em relação ao puro acaso.

Por outro lado, a crença de que tudo se trata de um cálculo de probabilidades, em última instância é um apelo para o reducionismo biológico. A vida não se reduz a fenômenos físico-químicos e as tentativas de diversos biólogos como Jacques Monod e François Jacob de tratar essa questão revelam um viés ideológico para o mecanicismo. Isto se evidencia com a tentativa de decifrar o enigma contentando-se com um dado "positivo", hoje tido como o programa contido no genoma da espécie, e não buscando as causas do desenvolvimento desse tipo de dado, que é antes um resultado do que uma causa (Atlan, 1992). Seria tão ambicioso como querer que um computador se construísse a si mesmo, a partir de impulsos ao acaso que favorecessem uma construção mais eficaz e o computador fosse assim gerando seus próprios programas de construção.

A falácia do genoma como plano do organismo é portanto conceitual, o que se verifica até mesmo quantitativamente: sua memória não conteria sequer o plano detalhado das sinapses cerebrais, com as suas 1014 conexões. O que o genoma contém são as instruções para se construir determinadas proteínas, os dois tipos de RNA e o próprio DNA, além de uma organização hierárquica. Essa limitação justifica uma hipótese recente que busca complementar a explicação causal do genoma com a do seu meio, que é uma célula (e mais corretamente um grupo de células), que possa "dialogar" com o DNA (Chauvin, 1999). Penso que possíveis interações do genoma e do citoplasma não são explicadas pela seleção natural, e este é um campo propício para a pesquisa biomolecular que deveria ser incentivado.

Em vista das dificuldades inerentes apontadas nos modelos darwinistas, uma solução alternativa é a de considerar que há na natureza um processo de auto-organização, próprio da termodinâmica de sistemas abertos, e que propicie localmente uma diminuição da entropia. Uma versão aproximada disso é aquela a que chegaram os teóricos da termodinâmica dos sistemas não-lineares, como I. Prigogone, considerando sistemas materiais complexos que se estruturam espontaneamente, de forma a minimizar a produção coletiva de entropia (Jacquard, 1988). A auto-organização como mecanismo é uma alternativa à seleção natural. Naturalmente, pode-se questionar: como esse princípio aparece?

A resposta deveria ser procurada na própria estrutura do Universo, dentro do qual a vida é um aspecto importante, mas não o único. A origem e evolução da vida podem então ser consideradas em analogia com a origem e evolução dos elementos químicos na forma da tabela periódica, a partir de entidades como as chamadas "partículas" atômicas. Certamente a questão pode ser ainda refinada para a própria física, em que a energia tende a se auto-organizar em "pacotes" que são as ditas "partículas". A complexidade decorre da capacidade natural que tem a matéria de se auto-organizar, capacidade esta entendida não como um mecanismo (pois senão poderia sofrer dos mesmos entraves que o mecanicismo darwinista), mas sim como um processo permanente, uma propriedade do Universo que provavelmente sempre fez parte de tudo que existe.

Faria então parte da complexidade natural que moléculas com certo peso molecular, como certos tipos de RNA e mesmo peptídeos que estavam presentes quando a Terra era um planeta jovem, consigam se replicar (Morris, 2000). É interessante assinalar aqui que todas as transformações evolutivas são marcadas por quebras de simetria, observação para a qual Pasteur foi o primeiro a contribuir com descobertas fundamentais no seu trabalho sobre isomeria óptica no ácido racêmico, quando estudou o problema das doenças das uvas viníferas; a assimetria é que engendra a complexidade, que por sua vez acarreta a tendência à evolução.

O Universo portanto, desde seus constituintes fundamentais até os fenômenos vitais poderia ser compreendido como resultante da aplicação de um princípio único, que é a auto-organização, que leva inevitavelmente à complexidade, por aplicação reiterada do princípio, como aconteceu com a criação da vida. Isso repõe a questão da direcionalidade ao longo do tempo, que passa a existir de fato e não como uma abstração fabricada a posteriori.

Pelo contrário, a falta de um princípio ordenador tem levado os darwinistas a esposarem noções de "adaptacionismo" em que se faz amplo uso de sofismas, pelos quais eles justificam as adaptações pelas próprias necessidades de adaptação, conduzindo isto sim a um finalismo ingênuo (Chauvin, 1999). Esta deficiência do darwinismo só pode ser superada admitindo-se que as variações sejam dirigidas a uma finalidade (teleologia), que não é determinista, ou fixista, mas que deriva da mencionada tendência universal à complexificação.

DEBATE OCULTO

Darwin, herói ou fraude? – Parte 2
Gildo Magalhães (*)

Variações pequenas e graduais

O darwinismo ortodoxo tem sido associado a variações contínuas e "lineares", de certa forma "unidimensionais" (que hoje diríamos se darem ao nível dos gens), mas nem Darwin nem os seus seguidores conseguiram realmente explicar a origem das espécies e alguns não aderiram à idéia de transições lentas e graduais, como por exemplo Thomas Huxley (Morris, 2000). Darwin, em A Origem das espécies (1859), nem sequer acreditava inteiramente no conceito de espécie, achando que o que havia eram conjuntos de mutações, as variedades definidas mais fortemente.

Faz parte da problemática da taxonomia e da evolução que variação e seleção sejam conceitos diferentes, mas que muitos biólogos costumam englobar num mesmo processo (Barbieri, 1987; Chauvin, 1999). As visões diferentes dos biólogos atuais sobre o conceito de espécie indicam que a questão permanece em aberto: a especiação ainda é um mistério, também do ponto de vista bioquímico (Barbieri, 1987).

Como toda espécie apresenta polimorfismo, sendo este uma manifestação da variação genotípica, conclui-se novamente que a variação não pode ter sido o motor da evolução mas apenas determinou sua ramificação (Chandebois, 1996). Pierre Grassé vai mais além, dizendo que o darwinismo se limita a variações dentro de uma mesma espécie, e que nada tem a dizer sobre as linhas evolutivas maiores, isto é, de gêneros, famílias etc. (in Noël, 1981).

Note-se também que a teoria darwinista de variações graduais dificilmente explicaria o surgimento de divisões bem acima da especiação, como a dos reinos vegetal e animal. Não explicando a origem das espécies, tem-se mais uma forte razão para que a seleção natural não possa ser o mecanismo geral da evolução, mas sim e quando muito, o mecanismo do equilíbrio das populações (Bourguigon, 1990).

O fato é que os registros fósseis não demonstram as alterações graduais previstas, o que levou Stephen Jay Gould e Niles Eldredge a propor na década de 1970 que as espécies estão normalmente em estase. Seria assim relativamente rara a evolução, que se caracterizaria pelo aparecimento abrupto de uma espécie, o "saltacionismo", ou "evolução pontuada", ou o aparecimento de grupos inteiros como no caso das aves, dos cordados, ou insetos. Gould chegou a ser chamado de marxista, por defender na biologia "revoluções" ao invés de transições graduais. Acusações semelhantes cercaram a comemoração do centésimo aniversário da sede do Museu Britânico em 1981, quando darwinistas ortodoxos acusaram a nova exposição de fósseis de ser uma apologia da revolução e estar de acordo com a Dialética da Natureza, de Engels, devido à apresentação de esquemas de classificação cladistas, que segundo os críticos apoiavam as transformações descontínuas das espécies (Thuillier, 1981). A transformação abrupta já havia sido defendida por Cuvier em 1830, juntamente com sua outra objeção ao evolucionismo, a saber a existência de filos, que não teriam ligação entre si – hoje vemos as arqueobactérias como elementos comuns a toda vida, mas naquele tempo as menores unidades de mesma base taxonômica que poderiam funcionar como um tipo de "máximo divisor comum" eram os filos.

Como referido atrás, a hipótese de seleção natural descreve um mecanismo que ajuda a conservar espécies (variações) existentes e não a criar novas espécies. A alegação de biólogos de que já se constatou em tempos relativamente muito curtos a criação in natura de espécies vegetais e animais é contestada por outros cientistas. Casos clássicos desta suposta evidência da seleção natural em ação direta (e há poucos), como o da mariposa da bétula têm sido contestados. As conhecidas experiências de Kettlewell a este respeito – com uma espécie de mariposa que se torna negra nas zonas industriais, confundindo-se com o tronco coberto de fuligem das bétulas, não seriam uma evidência da seleção natural em marcha, já que tal mariposa nunca pousa nos troncos das bétulas, mas sim sob as folhas dos ramos; tampouco as experiências com drosófilas aladas e ápteras de Teissier conseguiram "demonstrar" a evolução natural, pois parecem ter sido eivadas de equívocos (Chauvin, 1999).

Em termos de biologia molecular, o darwinismo se defronta com este problema: como passar da microevolução à macroevolução? Há neste campo dificuldades atuais em querer usar a seleção natural para explicar a vida que foram de certa forma antecipadas pelo próprio Darwin, quando se deparou com problemas em torno da evolução de um órgão complexo (cf. suas obras Origem das espécies, A Fecundação das Orquídeas). Já referimos atrás o exemplo clássico do olho, também levantado por Darwin e que vai passando pelas reflexões de vários filósofos como Bergson no início do século 20 até chegar nas objeções de bioquímicos atuais (Behe, 1997).

Voltamos por essa via ao ponto relevante já mencionado, de que o darwinismo moderno vê no gen uma espécie de comando reducionista, mas mesmo que um determinado gen traduza um único comando que seja para fabricar uma proteína específica, esta é uma concepção muito simplificadora da biologia pois não explica porque as coisas são assim (Schützenberger, 1996). Será que o material genético tem outros papéis além de simplesmente transmitir o código genético? E como poderia haver gens independentes, que decidissem o que fazer, sem uma participação interdependente dos outros gens?
A visão mecanicista do homem como máquina de transmissão de gens é um ponto fundamental para justificar as teorias da sociobiologia, denunciadas como novas formas da ideologia do eugenismo, movimento fundado pelo primo de Darwin, Francis Galton, e disseminado pelo filho de Darwin, Leonard (Blanc, 1994;Thuillier, 1994; Lewontin, 1993). A eugenia se propagou rapidamente, fazendo parte de várias ideologias médicas e de saúde pública da primeira metade do século 20 – além da sua conhecida influência em movimentos racistas e fascistas, como o nazismo. Associado a este lado existe também todo um terreno de pseudo-ciências, como a frenologia e as tipologias criminosas de Lombroso (que foi paradoxalmente uma pessoa filiada ao socialismo). O Brasil ainda tem sociedades eugênicas e a eugenia está presente até hoje em alguns pontos do sistema educacional brasileiro (Bizzo, 1998).

Nesta manifestação extremada do darwinismo (por alguns chamada de "ultradarwinismo") que é a eugenia, admite-se a existência de um tipo genético uniforme. Ocorre porém que as pesquisas mostraram que o que há é uma enorme diversidade genética entre as populações para uma dada espécie. Conclusões a respeito de tal diversidade levaram à proposição da teoria do neutralismo das variações, como no trabalho feito por Motoo Kimura: a grande maioria dos alelos seria neutra do ponto de vista da seleção natural. O polimorfismo, admitido quando pelo menos 2% dos indivíduos são heterozigotos em relação a um determinado caráter das populações, é enorme: pelo menos 15% dos caracteres de um indivíduo são heterozigotos (Jaquard, 1988). Assim, Kimura chegou à conclusão de que a maior parte dos gens é neutra do ponto de vista da seleção natural. Esta solução é contudo mais darwiniana do que parece, por apoiar ainda mais o acaso: a substituição de um alelo não funcional (que é a maioria, como visto) por outro é devida ao acaso. O darwinismo retorna por esta via do acaso e é reforçado também porque se preserva o recurso à seleção natural, desta vez para a parte funcional dos gens.

Observamos que isto converge coerentemente de novo com a sociobiologia, quando esta aplica a teoria da seleção natural aos comportamentos, de forma que exista uma "natureza" humana geneticamente programada. Desta vez, a já citada teoria da neutralidade reforça a base para biólogos como Ernst Mayr recusarem a igualdade entre os seres humanos, já que geneticamente sempre há variações produzidas continuamente, de forma aleatória e sem compromisso com a seleção. Concorrendo para uma visão sociobiológica encontra-se a chamada psicologia evolucionária, que também procura demonstrar que muitos dos comportamentos humanos têm fundamentação genética.
A sociobiologia tem faces que parecem "boazinhas", como a da defesa darwinista do altruísmo animal, e a do aprovisionamento ("foraging") ótimo, que fazem generalizações de comportamentos animais para o humano. Na verdade, sem falar na questionabilidade dos dados quantitativos levantados por estes argumentos, esses comportamentos encontram outras explicações que não o darwinismo, e que são de ordem etológica e fisiológica,. Das teses sociobiológicas com tal fundamentação há algumas que caminham diretamente para conceitos de eugenia, como o "investimento parental", e outras que não caminham para lugar algum, como a coevolução, presumida como explicação do parasitismo e mimetismo (Chauvin, 1999).

Estudos de embriologia apresentam resultados embaraçosos para a diferenciação das espécies no darwinismo, desde a chamada "lei" de Haeckel (com a célebre afirmação de que a ontogênense recapitula a filogênese – algo nunca desmentido categoricamente, mas de que não se sabe o como e porquê), até os resultados surpreendentes da radiação mitogenética observada por Alexander Gurvitch, comprovando que há uma forma de a célula se "comunicar" com o meio (Voeikov, 1999).

Para explicar tais resultados, acreditamos ser possível usar a hipótese referida atrás, de que a receita do desenvolvimento embrionário não está escrita no ADN e sim no citoplasma da célula (Chandebois, 1996). Isto se daria de forma que o surgimento de tecidos e órgãos obedeça a um plano automático de complexidade, com funções desencadeadas internamente célula pela ação do seu entorno. É interessante que isto recolocando em discussão uma teoria epigenética da evolução, desta vez de forma mais moderna do que a epigenia em Maupertuis ou Needham. Nessa teoria da evolução, teríamos no citoplasma a memória da espécie; uma nova espécie surgiria então quando as modificações do fundo citoplasmático repercutissem no genoma após a fecundação do ovo, atingindo assim os cromossomas paterno e materno de um mesmo par (Chandebois, 1996, p. 216). Ora isto representa a possibilidade de "herança de caracteres adquiridos", agora traduzível em linguagem da biologia molecular, ponto a que voltaremos mais à frente.

De toda forma, o saltacionismo, ao menos aquele proposto por Gould e Eldredge, que na verdade retoma uma concepção mais antiga de Richard Goldschmidt (1940), é também uma forma de darwinismo, que se vê porém em dificuldades para explicar as macromutações a partir da biologia molecular. O resultado dessas inconsistências foi a fabricação de uma explicação estatística para a existência de tendências progressivas, como a complexificação crescente do sistema nervoso central (Schützenberger, 1996), ao invés de se admitir uma tendência natural para a complexificação, que por sua vez daria um fundamento para a concepção de progresso, assunto a que também retomaremos oportunamente mais adiante.

É claro que uma teoria evolucionista mas não darwinista poderia admitir a existência de saltos maiores, descontínuos. Exatamente devido à complexificação, e ao contrário das explicações darwinistas, diríamos que se trataria de saltos "não lineares", "geométricos", que se dariam talvez ao nível dos cromossomos.

Uma competição feroz

Desde os tempos de Darwin se apontou para a tautologia das descrições que concluíam pela "sobrevivência do mais apto" (expressão cunhada por Spencer) para sobreviver. No fundo, essa fraqueza decorre de ser pequeno o valor das explicações da seleção natural, sempre do tipo post hoc, ergo propter hoc. A justificativa maior para essa teoria enfatizar a luta pela sobrevivência, como apontado atrás, parece ter sido a da economia política do colonialismo britânico. A ideologia da competição autônoma entre os indivíduos e empresas era um baluarte do liberalismo teorizado por Adam Smith. Na situação idealizada por ele não há um fio condutor da economia, como seria o Estado dirigista. Pelo contrário, tudo é deixado à "mão invisível" do mercado, que é o homólogo à seleção natural de Darwin. Spencer, um dos darwinistas mais radicais do século 19, estendeu o conceito de sobrevivência do mais apto na natureza à esfera econômica e social (e ele mesmo chamou isto de darwinismo social).

Mas não se esqueça que o próprio Darwin, especialmente em A descendência do homem fez apologia da eliminação dos mais fracos pela seleção natural (Blanc, 1994), ao invés de se alinhar com os que achavam que se devia contrariar o laissez-faire do liberalismo, por exemplo tendo médicos para a população mais desassistida, cuidados sociais etc. Os defensores de Darwin tentam esconder que ele mostrou inclinações racistas em sua obra e não resistiu a flertar com a eugenia (Blanc, 1994; Thullier,1994). A extensão da eugenia para "limpeza" pela eliminação dos que não conseguem competir foi reafirmada como tese de biólogos como Konrad Lorenz no tempo da Alemanha nazista, e não tem deixado de surgir em vários momentos, inclusive nas discussões atuais sobre a ética da clonagem.

A natureza é porém diferente da selvageria da luta pela sobrevivência – ela exibe um tipo de harmonia que se poderia considerar homóloga ao descrito pela "concordância católica" de Nicolau de Cusa no século 20, que pregava a convivência pacífica entre as diferentes religiões. Mais modernamente essa tese de harmonia entre contrários se expressou no ideal republicano de reconhecimento dos mesmos direitos, independentemente de diferenças sociais e econômicas, de opiniões e culturas. Isto não quer dizer que se defenda a utopia de um jardim edênico, onde o carneiro pastasse ao lado do lobo, mas quer dizer que há uma relação de regulação coletiva. O indivíduo e os processos individuais (inclusive episódios de luta pela sobrevivência) existem na história enquanto ao mesmo tempo se observarem regras dentro do todo, o que mais uma vez vai contra o puro acaso.

Apenas as espécies menos complexas parecem à primeira vista obedecer a teoria malthusiana que serviu de base a Darwin, em que há um número prodigioso de descendentes em cada geração, dos quais só poucos chegarão à fase adulta, e aonde a sobrevivência parece ser devida ao acaso e à maior aptidão. Peixes, répteis e insetos podem comer uns aos outros e até mesmo seus parceiros sexuais e seus próprios ovos. Mas animais como os mamíferos superiores parecem agir diferentemente, com estruturas sociais mais elaboradas e o cuidado coletivo da prole. Portanto, mesmo em níveis menos complexos do que o homem, a regra não é a competição e a seleção, mas sim a cooperação e a interdependência entre os organismos, e isto não decorre de razões egoístas, pois está em concordância com a tendência à complexificação por nós defendida, que leva ao surgimento de componentes de socialização.

O que resta da teoria darwiniana de evolução sem essa influência das idéias malthusianas? A noção de seleção natural considera como evidência de sucesso a descendência numerosa. Quando se tenta aplicar o esquema darwinista para explicar a cooperação e o altruísmo, estes na verdade ocorrem por uma questão de egoísmo "genético" para produzir descendência mais numerosa, como se a informação genética se materializasse na forma de um raciocínio mental instintivo. Negam-se assim a própria cooperação, o altruísmo e a socialização como fatores formadores de comportamento, pois para o darwinista a decisão de ajudar outro membro da espécie ou mesmo outra espécie se deve a tal iniciativa individualista e não social. A harmonia da natureza contraposta à competição feroz pela sobrevivência coloca portanto uma pergunta mais radical do que a proposta por aqueles que, como Gould, repetem a frase de Darwin, de que a seleção natural não deveria ser o único mecanismo da seleção: a resposta não pode ser um mecanismo fixo?

A propósito da competição entre indivíduos, observamos que o cruzamento intra-específico ("inbreeding") foi observado por Darwin entre criadores de cavalos, cães e pombos para a seleção artificial de características desejadas. É conhecido que esta seleção genética pode conduzir rapidamente a doenças, como se observa facilmente hoje nos cães pastores alemães. Animais domesticados podem ser mais vantajosamente selecionados por cruzamentos misturados, inter-específicos ("outbreeding"), para maior versatilidade e vigor. É o que acontece também com sementes híbridas, de interesse agronômico exatamente por terem aquelas qualidades.
Por outro lado, a questão de sobrevivência tem uma relação mútua com o meio ambiente, que não é fixo, pois tem havido evoluções geológicas e climatológicas constantemente, às vezes em poucos milhares de anos, de forma que uma evolução por "seleção natural" não teria tempo para produzir adaptações perfeitas com ambientes instáveis. A própria evolução se dá de forma a que a vida seja cada vez mais homeostática (capaz de regular suas condições fisiológicas internas, a despeito de variações no meio), até chegar nos pássaros e mamíferos que são homeotérmicos.

E, finalmente, lembramos que o ser vivo está continuamente modificando seu ambiente. O aparecimento da fotossíntese é um grande exemplo disto, pois o enriquecimento da atmosfera com oxigênio levou à vida aeróbica, e posteriormente à máxima mobilidade graças ao desenvolvimento de um sistema nervoso, que por sua vez levou a um novo relacionamento com o meio (Bourguignon, 1990). O homem modifica ainda mais radicalmente seu meio, porque o faz em tempos recordes, podendo inclusive usar seu cérebro para refletir sobre esse fato e tomar decisões ambientais, quando assim o deseja. Desta forma, nem o meio ambiente nem tampouco a seleção natural, ou ainda a sua conjunção, podem ser os mecanismos da evolução. A existência de uma descendência mais numerosa é um resultado e não uma causa, enquanto que a miscigenação parece muito mais adequada para a dinâmica dum ambiente em evolução.

Igualdade natural entre as espécies, inclusive a humana

Do ponto de vista da seleção natural, o homem seria uma espécie pouco apta a sobreviver, sendo mais fraco e nu, mas na verdade é a espécie mais adaptada a condições ambientais instáveis, condição fundamental para a evolução e já referida no item precedente. Foi devido ao uso da razão pelo homem que sua presença se impôs às demais formas de vida, o que o levou a criar a linguagem articulada, a viver em sociedades complexas e enfim, ao contrário das demais espécies, a fabricar uma cultura altamente elaborada e transmissível sem ser de forma genética. É devido à infância prolongada que o homem desenvolve sua inteligência e criatividade, que o capacitam a assimilar e desenvolver tecnologias, desde o fogo até as espaçonaves. A Terra e sua biosfera são o oposto de um ambiente fixo (Vernadsky, 1997) e a evolução tem nela agido para gerar novas espécies que sucedem outras extintas sem tanta versatilidade para transformar a biosfera.

A visão darwinista do homem como mais um animal entre os demais também está por trás das propostas de prática eugênica. Mas antepondo-se a esta visão, observamos que a cultura fez com que a evolução fosse levada na direção desejada pelo homem, uma espécie de lamarckismo como reconhecido até por defensores do darwinismo (Gould, 1979).

O aparecimento e desenvolvimento da mente não podem ser devidamente explicados pela seleção natural, e isto em última análise é que diferencia o homem dos demais animais. Prova disso são as variáveis propostas para justificar a evolução humana, tais como capacidade craniana, bipedismo etc., que concorrem com o cérebro na mesma seqüência do famoso paradoxo do ovo e da galinha: quem nasceu primeiro? O homem, provavelmente já desde pelo menos 2 milhões de anos, tem a capacidade de falar ( pela anatomia da faringe) e desenvolveu a linguagem articulada que o caracteriza, de forma diferente da linguagem de qualquer animal.

Se por um lado o aparecimento do homem encontra dificuldades explicativas em termos de seleção natural, é certo que a evolução biológica do homem se encontra estacionada, pelo menos desde uns cem mil anos, fora talvez algumas variações de menor importância, como a cor da pele. O homem tornou-se agente cultural e econômico de seu contínuo desenvolvimento, enfim um homo sapiens, desde essa época recente, ou sua evolução cultural começa quando os restos fósseis nos põem em frente de alguém que já era humano devido a ser homo faber, um fabricante de ferramentas? Neste caso, teremos que recuar mesmo muito mais tempo e provavelmente qualquer antropóide teria, ainda que tosca e preliminarmente, o conjunto de todas as condições surgidas ex abrupto num salto evolutivo único.

Também no fenômeno humano podemos discutir a empregabilidade do conceito de acaso. O acaso revela-se como um contingenciamento das suas ações, mas isto é devido ao enorme número de variáveis em jogo, de difícil análise. De certa forma, a cultura humana anula um componente poderoso da imprevisibilidade: sabemos que, garantidas certas premissas (evitar uma guerra nuclear de holocausto total, evitar colisões catastróficas com asteróides etc.), é uma certeza e não por acaso que vamos descobrir cura para Aids e câncer, é certo que vamos saber mais física e química daqui a um século, sem dúvida que saberemos como buscar novas fontes de energia e poderemos com segurança prever que erradicaremos a fome se os homens e seus governos assim o quiserem, e assim por diante. Por outro lado, as demais espécies se sujeitam mais fortemente ao contingenciamento.

Em síntese, o homem consegue desvendar na natureza os princípios de ordenação do universo, como se evidencia por exemplo pelos estudos de forma e crescimento de D’Arcy Thompson, em que o esquema da chamada seção áurea (ou "divina", como diziam os antigos) permite compreender fatos básicos de reprodução e desenvolvimento mantendo-se a forma original. Usando sua razão ele descobriu assim algo que na verdade existiria com ou sem o surgimento do homem. Só que o homem penetra nessa explicação, que é a sua própria explicação existencial. Ser é crescer, no sentido evolutivo e no sentido de uma direcionalidade do processo vital.

Contrariando-se a premissa darwinista de igualdade entre as espécies, e passando a considerar o homem como ponto mais elevado da evolução, podemos empreender agora a análise de um dos pontos mais polêmicos que se instauraram no debate cultural, o do progresso. A aceitação do darwinismo pela ciência foi o fulcro sobre o qual se levantou a alavanca do relativismo cultural, que impregnou as ciências humanas e que ainda impera como seu paradigma, negando a noção de progresso, relegado a uma posição de ideologia enganosa.

A idéia de progresso

A maioria dos intérpretes atuais da obra de Darwin opina que para ele a evolução não tem o sentido de progresso ou de complexificação. Igualmente, a maioria dos biólogos rejeita a idéia de progresso aplicada à evolução. Stephen Jay Gould, por exemplo, acredita na contingência absoluta, em que a aparência de ordem é apenas porque se observariam extremos ("caudas") de distribuições estatísticas e não as suas regiões centrais (Gould, 2001).

O progresso medido como maior eficiência, maior complexidade, etc. (cf. Barahona, 1998), obviamente não deixa de conter juízos de valor antropométricos, mas é justo que assim o seja, pois a mente humana é o ponto alto que se verificou na evolução biológica – só a mente altamente desenvolvida do homem poderia julgar o processo do qual ela faz parte! Por outro lado, estou convicto de que a evolução biológica pode ser equacionada com o progresso devido ao comportamento "social" elementar até no nível das células, em que a informação é potencializada não pelo código genético de cada uma, mas pela interação das diferentes partes do citoplasma para uma dada célula e resultante da interação de diferentes células entre si (Chandebois, 1996).
Para fazer frente às objeções matemáticas de Gould, o biofísico Jorge Wagensberg (2002) propôs uma definição quantitativa de progresso aplicável aos seres vivos. Com uma formulação que parte da definição de entropia em acordo com a teoria da informação, ele demonstra uma identidade matemática, que se pode assim exprimir em linguagem simplificada:

(complexidade de um sistema) + (capacidade de antecipação do sistema quanto a mudanças no ambiente) º(incerteza do ambiente) + (ação do sistema sobre o ambiente).
Desta identidade é possível a definição de uma variável, a que se pode dar o nome de progresso (para ficar de acordo com o sentido mais intuitivo que a palavra adquiriu na época contemporânea), e que está ligada à independência do sistema com relação ao seu ambiente. Desta forma, quanto menores as variações de um sistema com relação às variações do meio ambiente, maior será sua independência e maior o grau de progresso alcançado. Com isto se consegue um paralelo entre complexidade, evolução e progresso: todos parecem seguir a "flecha do tempo", pois embora localmente e por algum tempo possa haver retrocesso nessas categorias, no geral uma vez instauradas não há volta para trás.

Pode-se opor alguma restrição nesta formulação à pretensão de abrangência do conceito informacional de entropia para se medir o conhecimento, pois este não se reduz à simples informação, e isto representa a diferença entre o que um computador "sabe" (mesmo ampliado através de recursos como a internet) e o que um ser humano faz quando cria algo novo. No entanto, não há dúvida de que a definição acima, mesmo contendo algum elemento reducionista, apresenta um argumento na mesma linguagem matemática a que devem ser sensíveis os defensores da eliminação do conceito de progresso, capaz portanto de demolir o relativismo cultural embutido na ojeriza de biólogos e cientistas sociais pelo progresso. A posição destes contra a ideologia do progresso se insere na esteira da idéia de decadência na história ocidental. Não pretendemos aqui desenvolver mais este argumento, limitando-nos no momento a afirmar que é preciso reverter essa tendência, livrando a cultura do clima de pessimismo que foi assim instalado.

Opondo-nos ao darwinismo, insistimos que podemos considerar que as variações das espécies não surgem ao acaso, mas como um fenômeno natural da criação de ordem de um nível superior, com um dispêndio mínimo de energia, otimizado de acordo com os princípios de Fermat e Leibniz a esse respeito. A ideologia do liberalismo é que promove a noção de acaso como fonte da evolução, e isto traz conseqüências importantes para a noção de liberdade humana.

A liberdade humana não pode ser circunscrita a um conjunto de informações codificadas, por maior que seja sua capacidade de armazenamento. A criatividade da mente diferencia um robô programado de qualquer ser humano. O cérebro humano e sua propriedade de criar cultura parecem desafiar qualquer explicação darwinista (Blanc, 1994), de nada valendo o recurso às adaptações sem finalidade momentânea, ou "exaptações" de Stephen Jay Gould, que poderiam ser vistas como tentativas frustradas (cf. Chauvin, 1999) de escapar à tautologia fundamental do darwinismo, a citada aptidão de sobreviverem os mais aptos. Mesmo sem entrar na criação científica e artística, o mero funcionamento normal da mente manifesto pelo pensamento consciente é um sério problema para os darwinistas.

O problema geral do darwinismo, visto por este ângulo, é novamente que adota uma forma de mecanicismo, ou reducionismo. Nenhuma forma de algoritmo pode descrever o funcionamento da mente humana, como demonstra Roger Penrose em seu argumento matemático de funções não-recursivas para provar a impossibilidade da inteligência artificial (Penrose, 1990). Ora, julgamos que o cérebro humano é um exemplo mais complexo de um processo não-linear que é a própria evolução do universo, portanto explicar a seleção em termos algorítmicos como a descrição até hoje sugerida pela biologia molecular, certamente é uma ultra-simplificação que pode ter até um certo valor descritivo, mas não apreende a essência do fenômeno. A extensão dessa idéia reducionista através da psicologia evolutiva considera que a mente humana é composta de "módulos" mentais, como se houvesse um grande número de processadores paralelos no cérebro, com funções específicas. Entretanto, embora haja algumas áreas cerebrais efetivamente mais especializadas em determinadas atividades, as pesquisas indicam que o cérebro tem grande capacidade de remanejamentos e funciona com uma coordenação ampla – mesmo pessoas com problemas mentais sérios têm ainda a capacidade decisiva de criar, que é a atividade humana por excelência.

Observações finais

A história não se baseia unilateralmente em heróis ou vilões, embora não negue o papel do indivíduo. Se é o todo das relações sociais que determina as tendências de mudanças nessas relações, é certo que as características individuais mudam o rosto da história (como já dizia Plekhanov a propósito do papel do indivíduo). A história da ciência, desde que se tornou campo também de historiadores profissionais, filósofos, sociólogos e outros, tem desmistificado tantos "heróis da ciência" exatamente porque vê o cientista inserido numa sociedade, imerso portanto nas idéias e práticas nela correntes.

A ciência não é obra de gênios isolados, mas resulta duma sucessão de pessoas trabalhando e se influenciando mutuamente. As teorias científicas se constroem baseadas em idéias, em interpretações de fatos que também são idéias, e em sua capacidade para explicar o Universo em que vivemos. É verdade que há um fator determinante na história da ciência, que é a criatividade humana, encontrada nos cientistas, mas também nos artistas e mesmo na gente comum em graus diversos, e essa criatividade se manifesta basicamente em indivíduos.

Darwin foi um indivíduo que empreendeu diversas pesquisas de história natural e chegou a conclusões, muitas delas equivocadas. Herói ou fraude? Esta não é uma questão diretamente respondível. O comportamento de Darwin como pessoa humana parece ter deixado muito a desejar em diversas ocasiões, ele pode até ter cometido uma ou outra fraude, como na alteração de seu manuscrito de A origem das espécies, mas fatos semelhantes aconteceram também com outras pessoas. Ele é, não obstante, responsável pela sua teoria, cuja ideologia tem buscado se sustentar com apoio mútuo na ideologia geral do capitalismo como sistema, e suas idéias traem essas inspirações. Isto tem lhe valido muitos ataques, alguns até respondidos, mas de maneira não definitiva. A maioria das respostas que ele e seus seguidores deram não foram suficientes para contentar diversos cientistas e não-cientistas descomprometidos com sua ideologia inspiradora. Pelo contrário, muitas respostas foram de molde a apenas tentar evitar os problemas, mas só ampliaram as dúvidas.

O que se necessita é de humildade para reavaliar as bases da vida e dar conta de fenômenos já conhecidos há tempos, como a assimetria observada por Pasteur na passagem da luz polarizada, e tantas assimetrias de campos no Universo. Assim se pode começar a explicar as descobertas na embriologia por von Baer e Hans Driesch, ou da radiação mitogenética por Gurvitch, ou ainda a evolução do conjunto total da biosfera proposta por Vernadsky (1997). Para este cientista fundador da biogeoquímica, é a própria biosfera (que inclui desde camadas geológicas das rochas, até as camadas da estratosfera) que está continuamente em evolução, e não somente as espécies. O pensamento humano criativo, ou "científico", é assim por ele visto como uma nova "força geológica" na biosfera, qualitativamente diferente das forças físico-químicas e biológicas anteriores, o que passou a dar à biosfera o caráter distinto de "noosfera", através do fenômeno do conhecimento.

A organização interna é que dita a evolução – e aqui se aplica apenas em sentido de metáfora a imagem do automóvel que alguns críticos do darwinismo têm usado: o "motor" da evolução seria a direcionalidade ("progresso") e a variação genotípica sua "direção" (onde intervém o acaso na forma de buracos na estrada etc., o que faz variar a condução). O darwinismo como teoria evolutiva é tão falso quanto tomar o motor pela direção. O homem porém chegou num ponto em que intervém em ambos elementos da "dirigibilidade". Sua liberdade é a expressão de uma qualidade tendencial presente também na primeira forma de vida celular, e se passaram muitas épocas até que pudesse refletir sobre isso...

Para acabar com a fraude, é preciso que aqueles evolucionistas que não aceitam o darwinismo em nenhuma de suas formas deixem de ser comparados a defensores da terra plana ou coisa pior! A fraude real é perpetuar o ensino dessa teoria como um dogma sobre o qual se constrói a biologia, antropologia, psicologia, economia e muitas outras áreas do conhecimento, e não como uma hipótese de trabalho.

(*) Professor da História da Ciência da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo; texto apresentado na 5ª Semana Temática da Biologia da USP, em 24/9/2002

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Nota de agradecimento:

Quero agradecer publicamente ao jovem Marcos Gabriel Jr. pela dica deste texto bem elaborado do Prof. Dr. Gildo Magalhães dos Santos. O PDF deste texto pode ser obtido gratuitamente aqui.

Nota de esclarecimento: a publicação do texto não implica no endosso das teses do DI pelo Prof. Dr. Gildo Magalhães dos Santos ou da USP.