Tendências/Debates: o jogo de cena e o café requentado da Folha de São Paulo

domingo, dezembro 07, 2008

A Folha de São Paulo, o maior e mais respeitável jornal do Brasil, tem uma coluna TENDÊNCIAS/DEBATES em que artigos publicados com assinatura, apesar de não traduzirem a opinião do jornal, obedecem ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

Em 06/12/2008 esta coluna da FSP abordou a seguinte pergunta “O criacionismo pode ser ensinado nas escolas em aulas de ciências?”. Um jornal governado pela máxima ditatorial de censura do Marcelo Leite que nunca deu espaço para o criacionismo, para o design inteligente ou para quaisquer críticos das atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida, fica meio difícil de acreditar que agora o ensino do criacionismo seja um problema brasileiro e uma tendência do pensamento contemporâneo.

Pergunta impertinente deste blogger: como e onde isso se deu na Folha de São Paulo? Nos demais veículos da Grande Mídia Tupiniquim? Nihil! Nada!

O conselho editorial da FSP sabe que o Brasil é um Estado laico e qualquer proposição para o ensino do criacionismo nas escolas públicas seria um esforço de Pirro de seus proponentes. Então surge a pergunta deste cético localizado — Por que dar espaço para algo que não é problema constitucional e nem tampouco tendência do pensamento em Pindorama? Como explicar esta súbita metanoia da liberalidade da FSP em “ouvir o outro lado”? A quem interessa isso? Quais são os verdadeiros objetivos por detrás deste factóide arquitetado pela editoria da FSP?

Eu convido o leitor para trilhar possíveis caminhos de como se deu a criação desta coluna de TENDÊNCIAS/DEBATES:

1. Objeto da reclamação de meia dúzia de pais de alunos do Mackenzie, Marcelo Leite, jornalista científico da FSP, no dia 30 de novembro de 2008, publicou o artigo “Criacionismo no Mackenzie”. Apesar de a escola ser confessional, Leite deplorava o ensino do criacionismo e a expulsão de Darwin (nada mais falso) das salas de aula daquela instituição.

2. Houve certa repercussão e reação dos leitores (vide cartas do Painel do Leitor), mas não a ponto de levar a FSP abordar uma questão particular e extrapolá-la para um universo maior — o ensino do criacionismo nas aulas de ciência das escolas públicas brasileiras. Qual o interesse velado desta coluna?

3. A FSP está careca de saber que a questão hoje em dia não é se as especulações transformistas de Darwin contrariam relatos de criação de concepções religiosas, mas se as evidências encontradas na natureza corroboram as especulações de Darwin. Elas não corroboram, e apontam noutra direção. Mas sobre isso Marcelo Leite reverbera golpes mortais com o seu tacape censurador: “Não damos espaço!”

A coluna TENDÊNCIAS/DEBATES de 06/12/2008 teria abordado as diversas tendências do pensamento contemporâneo se a pergunta fosse: “Ensinar a controvérsia sobre a evolução deve ocorrer em aulas de ciência?” ou “O que significa a nova teoria da evolução — a Síntese Evolutiva Ampliada — para o entendimento do fato da evolução?”

4. Esta súbita metanoia de “ouvir o outro lado” da FSP é uma esmola muito grande que qualquer cego que lê a FSP desconfia. Há interesses velados visando blindar as atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida de quaisquer críticas. Mesmo as críticas científicas. Por quê?

5. Meu amigo Charbel Niño El-Hani responderia àquelas perguntas? Eu duvido e posso estar enganado, mas acho que ele rejeitaria o convite da FSP se aquelas fossem as perguntas. A Nomenklatura científica está disposta para o livre debate dessas evidências contrárias às proposições fundamentais daquelas teorias? Não está, e eu sei do que estou falando. Ela é refratária às discussões sobre paradigmas nos seus estertores heurísticos. Não existe liberdade acadêmica de se contestar Darwin no Brasil e no mundo. Palestras sobre isso e sobre a teoria do Design Inteligente foram canceladas em universidades públicas e em evento promovido recentemente pela SBPC na Unicamp.

6. A coluna TENDÊNCIAS/DEBATES da FSP de 06/12/2008 foi apenas um jogo de cena para livrar a cara da FSP de ser um jornal atrelado à Nomenklatura científica, mas que pratica “um jornalismo crítico, moderno, pluralista e apartidário.” [1]
Fica aqui a sugestão para o Conselho Editorial da FSP: que tal uma nova coluna TENDÊNCIAS/DEBATES em fevereiro de 2009 com uma daquelas perguntas acima? Que tal convidar um dos membros do Design Inteligente para defender o “SIM” e um da Nomenklatura científica para dizer o “NÃO”?

Aquela coluna TENDÊNCIAS/DEBATES foi jogo de cena, reforçou o artigo-folhetim incendiário de Marcelo Leite. Todavia, a FSP serviu novamente café requentado para os seus leitores ao não abordar as diversas tendências do pensamento contemporâneo sobre a robustez epistêmica das atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida.

A FSP se diz “um jornal a serviço do Brasil”, mas há uma década sonega informações aos seus leitores sobre a crise teórica do darwinismo e de uma iminente e eminente mudança paradigmática em biologia evolutiva. Quem viver, verá. 2010 está bem ali depois das celebrações de louvaminhice, beija-mão e beija-pé de Darwin, e a vida teórica continuará cada vez mais diferente das proposições do homem que teve a maior idéia que toda a humanidade já teve (esse guri do Dennett não larga o meu pé).

Os vários ombudsman da FSP não me deixam mentir... nem o Maurício Tuffani.

NOTA

1. Manual da Redação Folha de São Paulo. 2ª. Ed. São Paulo, Publifolha, 2001, p. 10.