O fato, Fato, FATO da evolução é explicado hoje através do neodarwinismo, uma teoria que a Nomenklatura científica sabe ter morrido epistemicamente há quase 30 anos, mas que teima ser “posição ortodoxa e consensual” nos melhores livros-texto de Biologia do ensino médio e superior.
Uma pergunta bem indiscreta deste blogger:
Se a Nomenklatura científica sabe que esta teoria científica não é corroborada pelas evidências, mas teima aqui e ali afirmar que o fato, Fato, FATO da evolução é explicado por esta teoria, a Nomenklatura científica não está em flagrante descompasso com a verdade científica? E se for assim, o nome para isso não é “desonestidade acadêmica”? Afinal de contas, ciência e mentira não podem andar de mãos dadas, mas formaram e estão formando gerações de cientistas em cima de um embuste epistemológico. Tudo isso com o aval do MEC/SEMTEC/PNLEM.
O fato, Fato, FATO da evolução através da seleção natural, a teoria científica tão bem comprovada quanto a lei da gravidade [será???] é hoje explicado aos alunos como se a teoria de Darwin fosse “epistemicamente robusta” explicando o maior número possível de fenômenos [como explicar se não tem nenhuma lei, a não ser um tal de princípio da seleção natural] e não tivesse dificuldades fundamentais [e como tem] no contexto de justificação teórica. O pior que tem, Darwin não fecha esta conta – explicar a origem das espécies, tanto é que uma nova teoria da evolução está sendo elaborada – Síntese Evolutiva Ampliada, que não será selecionista, e que você ficou sabendo aqui neste blog.
Darwin afirmou que o fato, Fato, FATO da evolução podia ser explicado pela seleção natural, mecanismo evolutivo importante, mas não o único. Atualmente os darwinistas continuam afirmando isso: se não for X então Y, se não for Y então Z, se não for Z então todo o ABC. É transferência horizontal de gene pra cá, transferência vertical de genes pra lá, y otras cositas mais.
Para exemplificar esta “robustez epistêmica”, cito aqui David Stove, um filósofo australiano ateu, numa de suas críticas ao smorgasbord teórico darwinista. [1]
“Se amanhã você descobrisse uma nova espécie de aparência não muito darwiniana, na qual cada par adulto produzisse em média 100 descendentes, mas que o pai sempre matava todos eles bem jovens, exceto um que era escolhido por algum processo randômico, não levaria mais do que dois minutos para um neodarwinista vestido com armadura “provar” que esta estratégia reprodutiva, apesar de sua superficialmente contra-indicação, é na verdade a estratégia otimizada para aquela espécie. E o que é mais impressionante, ele será capaz de fazer a mesma coisa mais tarde, se for demonstrado que a espécie tinha sido descrita erroneamente da primeira vez, e que na verdade o pai sempre deixa vivo três dos seus cem descendentes. Na casa neodarwinista há muitas mansões: tantas, na verdade, que se determinado fato estranho não couber numa mansão, certamente há outra na qual encaixará para ser admirado.” [2]
Uma teoria assim tão elástica em seus mecanismos, é uma teoria que deve ser melhor discutida naquilo que se propõe entregar e nunca entrega: o fato, Fato, FATO da evolução. Do jeito que está não pode ficar. Alguma coisa precisa ser feita.
NOTAS:
1. “smorgasbord” é uma palavra sueca que significa um prato feito com uma variedade de comidas. Bem apropriada para o atual estado de confusão teórica nos arraiais darwinistas. A ciência abomina “o vácuo teórico”, mas nós estamos “viajando” em biologia evolutiva sem teoria nenhuma a nos guiar. E ainda dizem que a evolução é “o fundamento, o alicerce de toda a ciência biológica”. O alicerce tem se demonstrado um de areias epistêmicas movediças.
2. “If you discovered tomorrow a new and most un-Darwinian-looking species of animals, in which every adult pair produced on average a hundred offspring, but the father always killed all of them very young, except one which was chosen by some random process, it would take an armor-plated neo-Darwinian no more than two minutes to "prove" that this reproductive strategy, despite its superficially inadvisability, is actually the optimum one for that species. And what is more impressive still, he will be able to do the same thing again later, if it turns out that the species had been misdescribed at first, and that in fact the father always lets three of his hundred offspring live. In neo-Darwinianism's house there are many mansions: so many, indeed, that if a certain awkward fact will not fit into one mansion, there is sure to be another one into which it will fit to admiration.” Against the Idols of the Age, David Stove, p. 244.
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Vide resenha "Defending Common Sense" de Scott Campbell deste livro. Eu destaco o parágrafo inicial e interessante sobre este filósofo desconhecido por nós brasileiros:
The greatest philosopher of the twentieth century may not have been Wittgenstein, or Russell, or Quine (and he certainly wasn’t Heidegger), but he may have been a somewhat obscure and conservative Australian named David Stove (1927-94). If he wasn’t the greatest philosopher of the century, Stove was certainly the funniest and most dazzling defender of common sense to be numbered among the ranks of last century’s thinkers, better even—by far—than G. E. Moore and J. L. Austin. The twentieth century was not a period in which philosophers distinguished themselves as essayists, or even as capable of writing interestingly on any subject outside their speciality (or even within it). Stove, though, was an essayist, polemicist, and wit of the highest order, rather like a super-intelligent H. L. Mencken. A heavyweight admirer was once led to write that “Reading Stove is like watching Fred Astaire dance. You don’t wish you were Fred Astaire, you are just glad to have been around to see him in action.”