“Darwin-das-lacunas” não consegue explicar a complexidade biótica

quinta-feira, outubro 30, 2008

Inicialmente eu intitulei este pequeno artigo de “No mato das evidências sem cachorro epistêmico para explicar a complexidade das coisas bióticas”, mas optei por este: “Darwin-das-lacunas” não consegue explicar a complexidade biótica.

Eu não vou fazer o papel do “Advogado do Diabo” dos crentes de subjetividades religiosas como faço de vez em quando neste blog. Antes, vou ser o “Promotor do Diabo” contra o “Darwin-das-lacunas” da Nomenklatura científica.

O “Darwin-das-lacunas” da Nomenklatura científica é igual ao “Deus-das-lacunas” dos religiosos. Tem as mesmas características de resposta, guardando-se as proporções, é óbvio: onipotência para explicar o inusitado, mesmo quando não se tem evidências que corroborem o que desejamos fosse realidade. Wishful thinking, periferia! Que o nosso desejo seja realidade!

O “Darwin-das-lacunas”, atitude irracional, vem sempre acompanhado da emissão de novas “notas promissórias epistêmicas”: “Não sabemos hoje, mas saberemos amanhã.” “A evolução é mais sábia do que você, idiota”. Ou então a confissão: “Nós não esperávamos encontrar isso”.

O problema dessa atitude irracional, é que não se considera o fato de a biologia evolutiva ser uma ciência histórica. A biologia evolutiva, diferentemente das “ciências duras”, não tem leis científicas para guiar suas pesquisas empíricas como tem a Física. Tem somente princípios norteadores guiando as “reconstruções históricas”, aceitos a priori, que seriam os cenários mais plausíveis de terem ocorrido historicamente. É a crença a priori. Dogma. Fé. Salto no escuro à la Kierkegaard, oops, à la Darwin. Credo quia absurdum est! Traduzindo em graúdos: irracionalidade!

Na edição da revista Nature de 30 de outubro de 2008, no sumário do editor e em dois artigos, nós ficamos sabendo de mais evidências de complexidade biológica [nós do Design Inteligente “adoramos” a palavra “complexidade”!] encontradas na natureza onde a teoria geral da evolução esperava encontrar simplicidade:

“MicroRNAs, the small inhibitory RNA molecules discovered in 1993 in the roundworm Caenorhabditis elegans, are widely distributed in complex animals. It is commonly assumed that they arose as a way to fine-tune gene expression when animals developed bilateral symmetry — becoming complicated enough to have anterior and posterior ends as well as a top and bottom. But new work, based on sequencing the total RNA content of representatives of three basal metazoan phyla (a placozoan, a sponge and a sea anemone) and a unicellular choanoflagellate suggests that microRNA has been around for much longer than was thought.

It seems that the regulatory microRNA pathway arose very early in metazoan evolution — when multicellularity emerged — although the machinery was subsequently lost in some lineages.” [1]

“It is commonly believed that complex organisms arose from simple ones. Yet analyses of genomes and of their transcribed genes in various organisms reveal that, as far as protein-coding genes are concerned, the repertoire of a sea anemone — a rather simple, evolutionarily basal animal — is almost as complex as that of a human.” [2]


“Here we identify small RNAs from animal phyla that diverged before the emergence of the Bilateria. The cnidarian Nematostella vectensis (starlet sea anemone), a close relative to the Bilateria, possesses an extensive repertoire of miRNA genes, two classes of piRNAs and a complement of proteins specific to small-RNA biology comparable to that of humans. The poriferan Amphimedon queenslandica (sponge), one of the simplest animals and a distant relative of the Bilateria, also possesses miRNAs, both classes of piRNAs and a full complement of the small-RNA machinery.” [3]

A questão científica da complexidade biológica precisa ser considerada cum granum salis e debatida publicamente pela Nomenklatura científica.

Com o avanço das ciências emasculando cada vez mais a capacidade heurística darwiniana, a resposta “Darwin-das-lacunas” tem se mostrado cada vez mais pífia, mas ao mesmo tempo surpreendentemente reveladora: os darwinistas fundamentalistas xiitas ortodoxos não têm idéia de como responder ao desafio que a “complexidade” [especialmente a complexidade irredutível de sistemas biológicos] traz para seus modelos de construção da complexidade das coisas bióticas. Aqui, a Nomenklatura científica se encontra no mato das evidências sem cachorro epistêmico capaz de explicar a origem e a evolução da complexidade das coisas bióticas.

A resposta “Darwin-das-lacunas” é tão-somente o ópio dos cientistas. Estupefaciente poderoso bloqueando a compreensão da realidade epistêmica, mas que provoca sensação intensa de bem-estar noutra dimensão ideológica.

Fui, nem sei porque pensando em Van Gogh...

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NOTAS:

1. MicroRNAs an early feature of metazoans (Editor’s summary)

MicroRNAs, the small inhibitory RNA molecules discovered in 1993 in the roundworm Caenorhabditis elegans, are widely distributed in complex animals. It is commonly assumed that they arose as a way to fine-tune gene expression when animals developed bilateral symmetry — becoming complicated enough to have anterior and posterior ends as well as a top and bottom. But new work, based on sequencing the total RNA content of representatives of three basal metazoan phyla (a placozoan, a sponge and a sea anemone) and a unicellular choanoflagellate suggests that microRNA has been around for much longer than was thought.

It seems that the regulatory microRNA pathway arose very early in metazoan evolution — when multicellularity emerged — although the machinery was subsequently lost in some lineages.

2. Evolutionary biology: Small regulatory RNAs pitch in
Ulrich Technau
Nature 455, 1184-1185 (30 October 2008) | doi:10.1038/4551184a

Summary: How did organismal complexity evolve at a cellular level, and how does a genome encode it? The answer might lie in differences, not in the number of genes an organism has, but rather in the regulation of gene expression.

It is commonly believed that complex organisms arose from simple ones. Yet analyses of genomes and of their transcribed genes in various organisms reveal1, 2 that, as far as protein-coding genes are concerned, the repertoire of a sea anemone — a rather simple, evolutionarily basal animal — is almost as complex as that of a human.


3. Early origins and evolution of microRNAs and Piwi-interacting RNAs in animals
Andrew Grimson, Mansi Srivastava, Bryony Fahey, Ben J. Woodcroft, H. Rosaria Chiang, Nicole King, Bernard M. Degnan, Daniel S. Rokhsar & David P. Bartel

Nature 455, 1193-1197 (30 October 2008) | doi:10.1038/nature07415

Abstract: In bilaterian animals, such as humans, flies and worms, hundreds of microRNAs (miRNAs), some conserved throughout bilaterian evolution, collectively regulate a substantial fraction of the transcriptome. In addition to miRNAs, other bilaterian small RNAs, known as Piwi-interacting RNAs (piRNAs), protect the genome from transposons.

Here we identify small RNAs from animal phyla that diverged before the emergence of the Bilateria. The cnidarian Nematostella vectensis (starlet sea anemone), a close relative to the Bilateria, possesses an extensive repertoire of miRNA genes, two classes of piRNAs and a complement of proteins specific to small-RNA biology comparable to that of humans. The poriferan Amphimedon queenslandica (sponge), one of the simplest animals and a distant relative of the Bilateria, also possesses miRNAs, both classes of piRNAs and a full complement of the small-RNA machinery.

Animal miRNA evolution seems to have been relatively dynamic, with precursor sizes and mature miRNA sequences differing greatly between poriferans, cnidarians and bilaterians. Nonetheless, miRNAs and piRNAs have been available as classes of riboregulators to shape gene expression throughout the evolution and radiation of animal phyla.

NOTA DO BLOGGER: A Nature, bem como outras publicações científicas esão disponíveis gratuitamente para professores, pesquisadores e estudantes de universidades públicas e privadas no site do CAPES-Periódicos.