Newton e a maçã: o maior mito da história da ciência está on-line

terça-feira, janeiro 19, 2010

JC e-mail 3932, de 19 de Janeiro de 2010.


18. Newton e a maçã: o maior mito da história da ciência está on-line
Royal Society pôs na internet sete documentos inéditos, entre os quais o manuscrito que relata como Isaac Newton descobriu a gravidade
Se um dia for escrito um livro sobre grandes acontecimentos que nunca aconteceram, a história de como Isaac Newton descobriu a gravidade tem tudo para fazer parte da obra.

Ainda assim, a primeira descrição da cena - por William Stukeley, na biografia "Memórias de Sir Isaac Newton"-, foi digitalizada e está desde esta segunda-feira (18/1) disponível no site da Royal Society. Para comemorar o seu 350º aniversário, a instituição inglesa decidiu pôr on-line outros sete tesouros documentais.

Escrevia assim William Stukeley em 1752: "Depois do jantar, com o tempo ameno, fomos para o jardim e bebemos chá, debaixo da sombra de algumas macieiras." O amigo do cientista prossegue com a descrição. "[Isaac] disse-me que quando o conceito de gravidade lhe surgiu estava na mesma situação. [O pensamento] foi provocado pela queda de uma maçã, enquanto se sentava de     forma contemplativa. 'Por que deve aquela maçã descer perpendicularmente em direção ao chão?', pensou ele para si."

Este pequeno relato extravasou o manuscrito de 100 páginas e tornou-se um dos fatos científicos mais célebres de todo o mundo. Nunca se conseguiu perceber até que ponto a descrição é verídica, mas uma coisa é certa: nenhuma maçã atingiu o cientista inglês na cabeça, como nos diz a imagem cristalizada na     nossa memória coletiva.

O responsável pela biblioteca e pelos arquivos da Royal Society, Keith Moore, explicou ao "The Guardian" que "os acadêmicos sabem bem de onde vem a história da maçã, é claramente uma história caricata que Newton poliu".

Mas, segundo Moore, o objetivo é que o público veja o manuscrito: "Não foi só Newton que o poliu, sucessivas gerações também lhe deram um brilho extra - a história apenas o humaniza um pouco mais."

Como o humanizam relatos sobre a sua infância (quando construiu uma miniatura de um moinho de vento impulsionada por um rato) ou sobre o seu lado distraído (num dos episódios, Newton conduz um cavalo na subida de uma montanha com a mão direita, enquanto lê um livro que segura com a mão esquerda. Quando chega ao topo da montanha, percebe que o cavalo fugiu).

Além de satisfazer o conhecimento de curiosos, o presidente da Royal Society, Martin Rees, acredita que o novo recurso "permite a qualquer pessoa vê-lo [o livro] como se o tivesse em suas mãos" e que isso "pode ser um precioso instrumento para os investigadores".

Hoje, a casa de Lincolnshire, Inglaterra, onde Isaac Newton fundou a física moderna, foi transformada num museu. No quintal das traseiras sobrevive uma descendente da macieira que inspirou o cientista. A única testemunha do que realmente aconteceu.
(Portal i Online, 19/1)