Geólogos comprovam impacto de meteorito no RS

sexta-feira, janeiro 15, 2010



Geólogos comprovam impacto de meteorito no RS


Por Danilo Albergaria
14/01/2010

Na região próxima à fronteira entre Brasil e Uruguai, perto da cidade de Quaraí (RS), uma estrutura montanhosa no formato de um curioso semi-círculo destoa completamente do cenário plano dos pampas gaúchos. É o chamado Cerro do Jarau, que inspirou lendas populares e serviu de posto de observação militar privilegiado durante a Revolução Farroupilha. Nas últimas décadas, contudo, o interesse folclórico e histórico que cerca o Cerro mudou para o campo das preocupações científicas, guiadas pela seguinte pergunta: qual é a sua origem geológica? Depois de muito tempo sem evidências para uma resposta inequívoca, a geologia pode finalmente tê-las encontrado com o trabalho dos pesquisadores Álvaro Crósta e sua aluna Fernanda Lourenço, do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O Cerro do Jarau foi formado pelo impacto de um grande meteorito: esta é a conclusão do artigo dos geólogos da Unicamp, a ser publicado em março como capítulo do livro Large meteorite impacts IV, editado pela Geological Society of America.



Não é novidade a suspeita de que o Cerro fosse uma cratera provocada por impacto de meteorito. Antes que Crósta e Lourenço coletassem as evidências que demonstram a origem celeste da cratera, estudos de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) já cogitavam essa possibilidade. A diferença é que as pesquisas anteriores não haviam conseguido identificar o “cano fumegante” do impacto ocorrido há muitos milhões de anos.


As provas inequívocas encontradas por Crósta e Lourenço são as chamadas brechas de impacto. “São fragmentos de variadas dimensões que são reunidos e formam numa nova rocha no processo de impacto”, esclarece Crósta. Outra evidência importante do impacto é a ocorrência de PDF’s (do inglês Planar Deformation Feature), que, segundo o pesquisador, são “fraturas microscópicas que formam estrias em grãos de quartzo”. Essas evidências, bem como o exame de imagens de sensoriamento remoto por satélite, ajudam não apenas a comprovar a ocorrência do impacto como também algumas de suas características básicas.


Para se ter uma ideia da violência cósmica que originou o Cerro do Jarau, Crósta estima que a energia liberada pelo impacto tenha sido o equivalente a 550 mil bombas atômicas similares à que destruiu a cidade de Hiroshima em 1945. O meteorito, calculado entre 600 e 700 metros de diâmetro, deixou uma cicatriz em formato semi-circular de aproximadamente 13,5 quilômetros de largura, com elevação de mais de 200 metros sobre o solo. A época em que ocorreu o impacto ainda está sendo investigada. Estima-se, no entanto, que tenha sido há várias dezenas de milhões de anos.


A importância dessa cratera para o estudo dos astroblemas - como são chamadas as cicatrizes deixadas na superfície terrestre pelo impacto de meteoritos - está na raridade de crateras no nosso planeta formadas em basalto, embora sejam abundantes nos outros planetas rochosos e na Lua. Como os pesquisadores apontam no artigo sobre o Cerro do Jarau, a cratera estudada foi formada sobre rochas basálticas, comuns na região Sul do Brasil. Por isso, ela fornece oportunidades de estudo privilegiadas sobre esse tipo de formação geológica.


A cratera do Cerro do Jarau é apenas a sexta de existência comprovada no território brasileiro - quatro delas, pelo próprio Àlvaro Crósta. Comparadas com o número de astroblemas conhecidos na Europa, América do Norte e Austrália, as poucas crateras brasileiras não significam que menos asteroides caíram por aqui. “O campo de estudos de impacto ainda se encontra em estágio inicial no Brasil”, afirma o geólogo. Crósta esclarece, por fim, que a comprovação de que uma formação geológica se trata de uma cratera não é um fim em si mesmo. “Isso abre caminho para uma série de novos estudos. A comprovação é apenas o começo do que deve vir pela frente”, conclui.