Japoneses não sabem, mas explicam a evolução da carapaça das tartarugas

segunda-feira, julho 13, 2009

JC e-mail 3803, de 13 de Julho de 2009.

25. Grupo japonês explica como se desenvolve o casco da tartaruga

Estrutura única surge a partir de fusão de costelas, não de placas na pele

Ricardo Bonalume Neto escreve para a “Folha de SP”:

Combinando o estudo de embriões de tartaruga, galinha e camundongo com a análise de um fóssil de 220 milhões de anos foi possível agora a um grupo de cientistas explicar um dos mistérios da evolução biológica: como se desenvolve o casco das tartarugas.

Tartarugas, cágados e jabutis são os únicos vertebrados envolvidos por esse casco arredondado. Os cientistas da equipe de Shigeru Kuratani, do Centro Riken para Biologia do Desenvolvimento, de Kobe, Japão, mostraram como a carapaça é formada pela fusão das costelas e detalharam as mudanças nos ossos e músculos para que isso seja possível.

Uma hipótese dizia que essa estrutura teria surgido a partir da ossificação de placas dentro da pele. Mas havia problemas com essa ideia. Como explicar que essas placas ósseas se fundiam com as costelas? E por que as escápulas, ossos que nos outros vertebrados fazem parte do ombro, estão dentro, e não fora, da caixa torácica?

Kuratani e colegas não precisaram de nenhuma tecnologia revolucionária para comparar os embriões de camundongo, galinha e da tartaruga-de-carapaça-mole-chinesa (de nome científico Pelodiscus sinensis). Foram usadas ferramentas tradicionais do estudo da anatomia conhecidas faz um século.

Quando começa a gestação os embriões de vertebrados são muito parecidos, o que deixa claro como todos tiveram um ancestral comum. Mas, a um terço da incubação da tartaruga, seu embrião começa a apresentar características únicas.

As costelas migram para a região dorsal e uma parte da parede do corpo dobra sobre si mesma, criando a carapaça dérmica. No processo são aproveitadas as mesmas ligações entre osso e músculo comuns aos outros animais, e algumas novas são criadas.

Uma boa pista para o estudo foi a descoberta na China da mais antiga tartaruga fóssil, a Odontochelys. Ela é claramente um elo, uma forma intermediária entre animais sem casco e as tartarugas. A Odontochelys não tem carapaça, tem apenas a parte de baixo, o plastrão.

A equipe que descreveu o fóssil escreveu já em artigo no ano passado na revista "Nature" que a nova espécie mostra que o plastrão se desenvolveu antes da carapaça e que o casco das tartarugas não derivaria de placas ósseas.

O casco duro das tartarugas ajuda na sua defesa contra predadores. Mas por que ele surgiu? "O propósito último é às vezes pouco claro na evolução. Hoje, muitas das tartarugas modernas usam o casco como proteção. Mas, quando ele primeiro surgiu, eu não tenho ideia para que servia", disse Kuratani à Folha.

A Odontochelys só tinha proteção ventral. "Ela era um animal aquático e tinha um plastrão totalmente desenvolvido que oferecia proteção contra predadores vindos de baixo, o que é possível para organismos aquáticos, mas não para os terrestres", disse um dos autores do artigo sobre o fóssil na "Nature", Olivier Rieppel, da Universidade Northwestern, EUA.
(Folha de SP, 13/7)