A exemplo de Veja (Grupo Abril), a revista Época (das Organizações Globo) passou anos repetindo o mantra do inexistente aquecimento global causado pelo homem. Época não vende tanto quanto a Veja, mas nem precisa, pois tem a Rede Globo, a Globosat, o jornal O Globo e o imenso portal G1 para reverberar a sua visão de mundo. De fato, talvez seja lícito dizer que é a mesma visão de mundo compartilhada por cada um dos veículos e empresas das Organizações Globo.
Václav Klaus: A mudança do clima não depende dos humanos
Assim, causou certa surpresa a publicação, no último dia 20.06, de uma entrevista concedida pelo Presidente da República Tcheca, Václav Klaus (Nota M@M: não confundir com Václav Havel, que também foi presidente da Rep. Tcheca, mas pensa exatamente o oposto), onde ele repete aquilo que vem dizendo há muito tempo: “A mudança do clima não depende dos humanos”.
Por que só agora uma entrevista com alguém que é considerado um dos mais importantes porta-vozes do bom senso contrário ao alarmismo do IPCC e de seus “cientistas”? Será que o peso da realidade começa finalmente a se impor, ou é mera e perfunctória tentativa de parecer imparcial?
No site de Época, a entrevista continua restrita a assinantes, mas o governo federal a disponibilizou na íntegra:
Para que ninguém nos acuse de não respeitar direitos autorais, reproduzimos exatamente aquilo que o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão tornou público em seu site, exceto pela foto de Václav Klaus, que também já é de domínio público:
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Época - 20/06/2011
O presidente da República Tcheca diz que os cientistas sofrem pressão política para defender o aquecimento global e que os céticos são boicotados
Margarida Telles
Václav Klaus é uma das figuras políticas mais controversas da União Europeia. Presidente da República Tcheca, é um ferrenho defensor do liberalismo. Ele atribui a crise europeia ao excesso – e não à escassez – de regulação da economia. Klaus também acredita que o aquecimento global não é causado pelos humanos. E que o fenômeno não deve ser considerado nas políticas de governo. No livro Planeta azul em algemas verdes, lançado no Brasil em 2010, o economista afirma que seria mais conveniente priorizar o enriquecimento dos países antes de destinar fundos à questão climática. Segundo ele, no futuro, possivelmente teremos mais recursos tecnológicos para enfrentar o desafio. Diz também que há um boicote aos pequisadores céticos. Ele acusa os ambientalistas de colocarem em risco a liberdade, a democracia e a economia dos países. Compara o boicote aos cientistas céticos às práticas do antigo regime comunista. Klaus concedeu a entrevista por e-mail.
ÉPOCA – Por que o senhor afirma que o debate sobre o aquecimento global dá importância a apenas um dos lados?
Václav Klaus – Entrei no debate do aquecimento global no meio da década passada, quando percebi que a voz dos economistas era quase nula. Bem antes disso, porém, a ideologia do ambientalismo já era um problema. Um exemplo foram os prognósticos do infame Clube de Roma (grupo de intelectuais que fez projeções sobre desenvolvimento sustentável nos anos 70). Minha primeira discussão na TV com Al Gore (ex-vice-presidente americano) sobre a incoerência do aquecimento global produzido pelo homem ocorreu em Nova York, em fevereiro de 1992, alguns meses antes da Eco 92, no Rio de Janeiro.
ÉPOCA – As maiores organizações científicas, como a Associação Mundial de Meteorologia, a Sociedade Real Britânica para a Ciência, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e o IPCC, painel da ONU para o clima, afirmam que o aquecimento global é causado pelo homem e coloca a civilização em perigo. Estão todas erradas?
Klaus – A ciência é feita por cientistas, e não por centros de pesquisas, muitos deles politicamente engajados. O IPCC não é um centro de pesquisas, mas uma organização altamente politizada sob os auspícios da ONU. O Hadley Center (principal instituto de meteorologia e clima britânico) não é uma organização neutra, mas um grupo de ativistas pró-aquecimento global. No MIT há cientistas do lado do alarmismo do aquecimento global. Mas há também os que estão contra. O físico da atmosfera Richard Lindzen, professor de meteorologia no MIT, é um deles. (Lindzen diz que os cientistas fazem declarações ambíguas, a imprensa as torna alarmistas e os políticos sustentam a mentira.) A Sociedade Real também não é um centro de pesquisas. É um agregador de diversas organizações científicas.
"Como ex-cientista, acredito na ciência, mas estou em alerta quanto ao mau uso desses dados pelos políticos "
ÉPOCA – Se os maiores centros de pesquisas do mundo não são confiáveis em relação ao aquecimento global, devemos pressupor que estão errados em outros assuntos?
Klaus – Não é preciso olhar desse modo. Nenhuma pessoa racional questionaria a ciência em si. Pessoas como eu não têm problemas com a ciência, mas com a ciência politizada. Como ex-cientista, acredito na ciência, mas estou em alerta quanto ao mau uso da ciência na política e pelos políticos.
ÉPOCA – Os cidadãos de seu país compartilham sua opinião sobre o aquecimento global?
Klaus – Os tchecos são bem racionais. Nas pesquisas de opinião, a porcentagem dos que acreditam na doutrina do aquecimento global está abaixo dos 50%.
ÉPOCA – O senhor afirma que a natureza sempre conseguiu se adaptar às mudanças climáticas que ocorreram na história da Terra. Mas, agora, segundo as previsões, as mudanças no clima serão mais rápidas. Segundo alguns estudos, as florestas de 70% das regiões teriam de migrar 1.500 metros por ano para acompanhar as alterações nas zonas climáticas. Como elas conseguiriam isso?
Klaus – Nunca vi evidência de que há uma aceleração das mudanças no clima. Isso é um argumento apenas dos ideólogos do ambientalismo. Os dados não provam isso. A média global da temperatura na Terra subiu 0,74 grau no último século. É totalmente irresponsável espalhar dados falsos e enganosos (o relatório do IPCC afirma que a temperatura pode subir até 4 graus ao fim deste século).
ÉPOCA – Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial e ex-secretário do Tesouro britânico, fez o mais completo levantamento dos custos das mudanças climáticas. Segundo ele, se não fizermos nada, o impacto do clima nos faria perder, ao menos, 5% do PIB mundial todos os anos. Ele está errado?
Klaus – O senhor Stern está, para minha tristeza, errado. Seu “relatório” não é um texto científico, mas sim um panfleto tendencioso sobre o aquecimento global. Ele argumenta que, se a humanidade não fizer nada, o PIB mundial em 2100 será 5% mais baixo do que seria sem nenhum aquecimento global. Nicholas Stern assume que o PIB mundial estará oito vezes mais alto que agora em países em desenvolvimento. E que a riqueza em países em desenvolvimento será aproximadamente cinco vezes maior do que a riqueza dos países desenvolvidos hoje.
ÉPOCA – O senhor diz que há uma campanha para silenciar as vozes que se elevam contra os ambientalistas. O senhor já foi censurado?
Klaus – Como presidente de um país tenho privilégios a esse respeito. É mais fácil para quem censura complicar a vida de outras pessoas que estão a meu redor. É também uma ironia da história ser mais fácil para os cientistas publicarem críticas à doutrina do aquecimento global quando eles estão aposentados, porque assim eles não correm o risco de ter problemas com seu emprego, promoções, publicações etc.
ÉPOCA – Se há cientistas que dão palestras e escrevem livros contra as políticas para combater as mudanças climáticas, como afirmar que há censura?
Klaus – Não uso o termo “censura”. Estou me referindo à não publicação ou à publicação tardia de artigos sérios, trabalhos de cientistas promissores que são simplesmente dispensados. Isso me lembra os procedimentos usados no regime comunista de meu país.
ÉPOCA – O senhor não acredita que é necessário limitar as emissões de gases responsáveis pelo aquecimento global, como o gás carbônico?
Klaus – Certamente não. Promover essa ideia é um engano trágico em muitos aspectos. Primeiro, porque o gás carbônico não é um poluente. (O gás está presente naturalmente na atmosfera, mas o excesso, segundo cientistas, está relacionado às mudanças climáticas.) Em segundo lugar, eu não acredito – e não estou sozinho – que as emissões de gás carbônico geradas pelo homem sejam responsáveis pelo aquecimento global. As restrições não vão acabar com as flutuações climáticas.
ÉPOCA – Como o senhor vê acordos internacionais, como o Protocolo de Kyoto, que limitam a emissão dos países e permitem a troca de créditos entre eles?
Klaus – A troca de emissões é um mero jogo com o mercado. É o Estado jogando com o mercado. A experiência da República Tcheca com o comunismo mostrou que não se deve brincar com o mercado.
ÉPOCA – O senhor pretende escrever um novo livro?
Klaus – Eu escrevo artigos e dou palestras sobre o aquecimento global praticamente o tempo todo. Há teorias e argumentos novos sobre o aquecimento global. Estou ciente de todos eles, mas não vejo nenhum novo argumento para me motivar a escrever um novo livro dedicado ao mesmo assunto. Estou convencido de que os “bons e velhos” argumentos ainda são suficientes.
Quem é Václav Klaus
Presidente da República Tcheca desde 2003, reeleito em 2008. É formado em economia pela Universidade de Praga e pós-graduado pela Universidade Cornell, EUA.
O que fez
Foi primeiro-ministro do país entre 1992 e 1997 e cofundador do Partido Cívico Democrático, de centro-direita
O que publicou
Lançou o livro Planeta azul em algemas verdes, da DVS Editora
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Link da revista Época: Václav Klaus: “A mudança do clima não depende dos humanos ”