A ameaça do neo-obscurantismo à ciência

sexta-feira, setembro 17, 2010

JC e-mail 4098, de 17 de Setembro de 2010.


Pesquisadores debatem na Reunião Regional da SBPC no Recôncavo da Bahia as facetas do movimento que se vale da estrutura de poder para fazer frente à razão [SIC ULTRA PLUS]

Em junho de 2008, cerca de 100 pessoas ligadas à Via Campesina invadiram e destruíram a Estação Experimental de Cana-de-Açúcar, de Carpina, a cerca de 60 quilômetros do Recife (PE). Vinculada à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), a Estação era usada para pesquisas de melhoramento genético da cana-de-açúcar. Sua destruição, feita como um ato de repúdio à monocultura da cana-de-açúcar no estado, interrompeu várias pesquisas em nível de mestrado e doutorado. [NOTA DESTE BLOGGER: Atitude condenável que merece a aplicação de todo o rigor da lei.]

O caso foi citado como um dos exemplos das facetas do neo-obscurantismo. O assunto foi discutido em uma mesa-redonda durante a Reunião Regional da SBPC no Recôncavo da Bahia, que termina nesta sexta-feira em Cruz das Almas (BA).

A mesa-redonda, que contou com a participação dos pesquisadores Caio Mário Castro de Castilho, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Amilcar Baiardi, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), foi moderada pelo diretor da SBPC, José Antonio Aleixo da Silva. Em síntese, mostrou que o neo-obscurantismo continua se valendo da estrutura de poder para fazer frente à razão, porém, está mais complexo e usa novos instrumentos. [PERGUNTA DESTE BLOGGER: Quem detém e onde se dá esta estrutura de poder que fragiliza tanto a Academia?]

Segundo Castilho, no passado o obscurantismo se apresentava como "um estado de espírito refratário à razão e ao progresso" ou como uma "doutrina que não desejava que a instrução penetrasse na população", a exemplo da inquisição da igreja Católica ou do caso que ficou conhecido como "Lysenko", que afirmava ser possível obter novas variedades de trigo, somente alterando as condições da cultura. Essa teoria, que teve forte apoio de Stalin, jogou no lixo a teoria mendeliana na antiga Rússia.



Novos instrumentos

"Tanto num caso como no outro o poder está a serviço do obscurantismo e isso se repete hoje, mas com novos instrumentos", disse Castilho. No caso da ciência, o neo-obscurantismo tem partido, segundo ele, tanto de governos autoritários (com o objetivo de produzir falso conhecimento) como de setores religiosos (imposição de dogmas) e, em alguns casos, até de organizações sociais (ONGs, sindicatos, movimentos sociais) - os chamados fundamentalistas verdes, que associam o progresso técnico com riscos ambientais.

"Partidos políticos, com viés fortemente autoritário, frequentemente tendem a constituir grupos de pressão, quase que tropas de choque, que terminam por patrulhar a atividade de pesquisa e a liberdade de investigação", afirmou ele, citando a questão dos transgênicos no Brasil.

No caso da região [SIC: religião], há ainda novas roupagens, como o movimento de Design Inteligente - uma forma moderna de criacionismo, que surgiu no final da década de 1980 nos Estados Unidos. [NOTA DESTE BLOGGER: Castilho desconhece totalmente o que propõe a teoria do Design Inteligente (TDI) porque nunca leu nenhum artigo ou livros de nossos teóricos e proponentes: a TDI propõe que sinais de inteligência existem na natureza e são empiricamente detectados todas as vezes que encontrarmos complexidade irredutível de sistemas biológicos e informação complexa especificada como na informação genética digital do DNA. Castilho finge não saber, mas estas duas hipóteses são tiradas das coisas bióticas encontradas na natureza, não foram tiradas de livros sagrados religiosos. Ronald Numbers, historiador de ciência, nada simpático às teses da TDI, afirmou que equiparar a TDI a uma forma moderna de criacionismo é a melhor maneira de desqualificar a teoria e os seus teóricos e proponentes. E eu acrescento, e blindar os paradogmas de quaisquer críticas, mesmo as científicas.]

Para Castilho, no plano individual, hoje a tendência é não negar a razão, mas ignorá-la ou renunciá-la. "O indivíduo especialista torna-se, com frequencia, um ignorante de tudo aquilo que não diretamente diz respeito à sua disciplina ou atividade". Ou no outro extremo: "o não-especialista, que renuncia a toda possibilidade de refletir sobre o mundo, sobre a vida, sobre a sociedade." [NOTA DESTE BLOGGER: Aqui nós concordamos plenamente com Castilho, mas fazemos a aplicação deste juízo à Nomenklatura científica e a sua parva e renitente obtusidade em reconhecer o óbvio: não existe Theoria perennis, e a teoria da evolução através da seleção natural (e n mecanismos) é uma teoria científica declarada morta em 1980, e que já está sendo elaborada uma nova teoria da evolução -- a SÍNTESE EVOLUTIVA AMPLIADA. Não discutir isso publicamente e livremente é que é uma ameaça do neo-obscurantismo à ciência!!!]

Para Amilcar Baiardi, o neo-obscurantismo oferece ameaças específicas à universidade pública no Brasil, como: "pretender transformar a universidade em centros de ensino; condicionar o financiamento à metas estritas de graduação; coibir a liberdade acadêmica; cobrar da universidade resultados para problemas que são de outra esfera; criticar o conhecimento ocidental, o eurocentrismo, sem conhecimento de sua origem; defender nivelamentos de saberes sem refletir sobre a natureza e a possibilidade dos mesmos; ignorar as regras universais de busca da excelência acadêmica; e não fomentar o ensino de línguas estrangeiras e negligenciar o intercâmbio com as melhores universidades do mundo". [NOTA DESTE BLOGGER: Também concordamos com Baiardi, mas ele se esquece que a liberdade acadêmica é tolhida a ferro e fogo nas universidades (os mandarins chefes de departamentos) e com o aval das organizações científicas como a SBPC e ABC.]

Na sua avaliação, devido às várias facetas do neo-obscurantismo, o combate também precisa ser amplo, a começar pelo estudo das causas e as formas do neo-obscurantismo. É necessário também "retomar Galileu no sentido de mostrar a diferença de essência entre ciência e religião", [Baiardi erra aqui em relação à verdaeira dimensão do caso de Galileu -- não foi tanto a diferença de essencia entre religião e ciência, mas de posicionamento obtuso da Nomenklatura científica (defendia o aristotelismo) contra a razão (Galileu). A Igreja condenou a Galileu, mas Baiardi desconhece que quem entregou Galileu de bandeja para ser condenado foi a Akademia que hoje Baiardi pertence.] ressaltou. "Mostrar a irracionalidade das ações do neo-inquisitorialismo e neo-luddismo [movimento da Inglaterra de 1811 que condenava a mecanização do trabalho e liderou a depredação de máquinas de uma indústria] presentes no discurso de Bové e dos fundamentalistas verdes."



Nessa empreitada, será preciso também promover a cultura de C&T, mostrando a capacidade da ciência de salvar vidas (vacinas recentes), restaurar a natureza e reduzir a fome, entre outras ações [NOTA DESTE BLOGGER: a ciência também tem o seu lado cinzento: as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki só foram lançadas porque cientistas como Einstein incentivaram o governo americano a desenvolver o Projeto Manhattan, y otras cositas mais que o espaço não me permite discorrer]. Ou como afirmou Castilho: "Mostrar que a ciência, ao contrário do dogma, tem a capacidade de desmentir a si mesma" [NOTA DESTE BLOGGER: Castilho tem toda a razão -- espera-se que a ciência tenha esta capacidade, só que isso se dá em meio a embates acadêmicos renhidos conforme Kuhn (A Estrutura das Revoluções Científicas), e que somente com a solução biológica -- morte dos detentores do poder na Nomenklatura científica, é que os hereges terão vez com suas ideias, hipóteses e teorias científicas que vão de encontro aos paradigmas engessados (paradogmas).], para ajudar a sociedade na sua evolução.

(Assessoria de Imprensa da SBPC)

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NOTA FINAL DESTE BLOGGER:

Ironia do destino, a mesma SBPC que promoveu um evento desses já se valeu da estrutura de poder que detém junto à comunidade científica, e de modo neo-obscurantista cancelou uma palestra sobre Design Inteligente pelo Dr. Marcos Nogueira Eberlin, professor na Unicamp, membro da Academia Brasileira de Ciências, do NBDI (Núcleo Brasileiro de Design Inteligente, Campinas, SP) em evento realizado pela SBPC naquela universidade. Constava do programa, mas foi cancelada e nem deram explicações do por que. Traduzindo em graúdos: a SBPC agiu como na inquisição, só que sem fogueiras!!!

Quer mais neo-obscurantismo do que isso: impedir a livre discussão de ideias na universidade (universo de ideias)??? Ao livre debate das ideias, senhores. Do jeito que está é NOMENKLATURA com K mesmo.

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