Design (des)inteligente
23/08/2009 – 9:59
Publicado em ciência, educação, informação
Tagged Darwin, design inteligente, evolução, seleção natural
Comentários (1)
Visitar blogs como fonte de informações pode ser divertido e até didático. Muitos blogs são enriquecedores e informativos, como a maioria dos blogs inscritos no metablog “Blogs de Ciência”. Outro metablog muito bom é o “Science Blogs“, que reúne uma série de blogs de acadêmicos e estudantes brasileiros, que postam sobre os mais variados temas.
O blog “Desafiando a Nomenklatura Científica” é, no mínimo, curioso. Seu autor, Enézio E. de Almeida Filho, é, antes de tudo, um divulgador da ciência. Inúmeras postagens do seu blog apresentam artigos científicos, outros nem tanto.
Enézio é um ferrenho defensor do design inteligente. Não pretendo discorrer sobre as idéias do design inteligente, pois estas tomariam muito espaço e tempo. Existem centenas de páginas na internet que explicam o design inteligente. O curioso, porém, foi um post inserido por Enézio no seu blog no último dia 20. Intitulado “Assine a lista dos dissidentes científicos de Darwin”, o texto é uma cópia de outra página “Uma Dissensão Científica do Darwinismo”. Tanto no blog de Enézio como nesta página, os autores não identificados do texto exortam leitores acadêmicos a assinar uma lista de manifestação contra o darwinismo.
Seria interessante, se a idéia não fosse velha. A lista foi criada em 2001, em resposta à excelente série “Evolution” produzida pela Public Broadcasting Services (PBS) e pela Scientific American (composta de 4 DVDs, em português “Evolução”, disponível para aquisição na página da Duetto). Em 27 de julho de 2007 a lista contava com 748 assinaturas de acadêmicos e doutores. A lista atual não cresceu muito, está com aproximadamente 800 assinaturas.
800 assinaturas. É muito? Não. Corresponde a exatos 14,7% do número total de professores da Universidade de São Paulo (veja aqui). Ou seja, é um número irrisório. Pífio. Se em 8 anos tal manifesto angariou somente 800 assinaturas no mundo todo, deveria rever seus propósitos.
O problema principal do manifesto é que é contra o Darwinismo. Muito bem. O que oferece em troca? Nada.
[NOTA DESTE BLOGGER 1: A Nomenklatura afirma que não existe dissidência em relação às teses de Darwin - nossa lista prova o contrário. Berlinck omitiu intencionalmente, mas há cientistas de peso que assinaram a lista. Membros de Academias de Ciência. Dr. Stanley Salthe; Dr. Henry Schaefer, da Universidade da Georgia; Dr. Philip Skell, da U.S. National Academy of Sciences; Dr. Lyle Jensen, da American Association for the Advancement of Science; Dr. Lev Beloussov, da Academia Russa de Ciências Naturais; Dr. Giuseppe Sermonti, Editor Emérito da Rivista di Biologia / Biology Forum, e o nosso Dr. Marcos N. Eberlin, Professor da Unicamp e membro da Academia Brasileira de Ciências. Vá lá, dê uma olhada e confira.]
O design inteligente é nada, pois não se fundamenta em qualquer dado experimental ou evidência, mas apenas em idéias sem qualquer fundamento científico.
[NOTA DESTE BLOGGER 2: Berlinck é encontrado aqui em flagrante descompasso com a verdade. As teses do Design Inteligente são pelo menos duas: a complexidade irredutível de sistemas biológicos (flagelo bacteriano entre outros exemplos de Michael Behe no livro A Caixa Preta de Darwin, Rio de Janeiro, Zahar, 1998; e a informação complexa especificada (como no caso do DNA - Vide William Dembski] que são encontradas na natureza. Outros já tentaram falseá-las, mas não conseguiram. Quem sabe Berlinck faz esta boa ação para a ciência.
Berlinck está numa verdadeira situação epistêmica Catch-22: Popper disse que uma teoria seria científica se fosse submetida à falseabilidade. É o que muitos cientistas tentaram fazer, mas somente fortaleceram nossas proposições teóricas. Se saíram em busca do falseamento, é porque a proposta é, plausivelmente, científica. Se não falsearem, a proposta é robustamente científica. Berlinck, que tal apresentar os passos evolutivos gradualistas do flagelo bacteriano? Que tal explicar a origem da informação digital do DNA através das leis naturais???]
É muito pouco para a comunidade científica internacional, cada vez melhor informada, com acesso a publicações científicas e publicações de divulgação científica de excelente qualidade, que mostram que a teoria da evolução não é uma brincadeira, nem uma falácia, nem motivo de risos. É fruto de muita pesquisa desenvolvida ao longo de 150 anos, de maneira muito séria, avaliada e avalizada por centenas de pesquisadores do mundo todo.
[NOTA DESTE BLOGGER 3: Berlinck sabe, mas não mencionou em seu blog: eu tenho um mestrado em História da Ciência pela PUC-SP. Sou doutorando lá e nesta mesma área científica. Eu estou elaborando e trabalhando numa lista de pesquisas e artigos publicados em revistas científicas de renome onde os autores questionam as linhas de evidências apresentadas nas ciências evolutivas química e biológica. São artigos publicados em quatro décadas por especialistas reconhecidos internacionalmente.
As questões levantadas naqueles artigos e pesquisas são chamadas de 'zonas de incertezas'. Edgar Morin, filósofo e educador francês sugeriu à UNESCO em 1999 que elas fossem ensinadas. O MEC/SEMTEC/PNLEM não acolheu esta sugestão e nós temos casos de livros didáticos de Biologia do ensino médio com duas fraudes e várias distorções científicas a favor do fato, Fato, FATO da evolução. O nome disso é 171 epistêmico.]
Como resposta ao manifesto contra o darwinismo, o arqueólogo R. Joe Brandon iniciou um movimento pró-darwinismo. No ano de 2005, em 4 dias (isso mesmo, dias), Brandon angariou 7733 assinaturas. Quase 10 vezes mais do que os criadores do movimento anti-darwinista conseguiram em 8 anos. Está faltando gente para dar crédito ao design inteligente.
[NOTA DESTE BLOGGER: O Design Inteligente não precisa de gente - argumento da autoridade, mas de mais sinais de inteligência na natureza. A mente científica não se submete a nomes, mas ao peso que as evidências trazem a favor ou contra uma teoria científica. Nós vamos à natureza, fazemos perguntas a ela, e nos submetemos às evidências aonde elas forem dar. Isso é Bacon puro em ciência, Berlinck.]