Um caso de “síndrome de Darwin” em último grau

terça-feira, outubro 09, 2007

Eu nem vou comentar tanta sandice científica da parte de um pesquisador, e nem tampouco tecer comentários sobre a subjetividade religiosa, mas eis aqui um caso gravíssimo de “síndrome de Darwin” relatado no JC E-Mail. O espaço é dado aqui neste blog para tanta asneira, porque o design inteligente foi mais uma vez equiparado com o criacionismo.

Marschalek, você mostra estar bem desatualizado na literatura científica sobre a evolução e design inteligente.

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Leitor comenta matéria “Exposição ‘Nas Pegadas de Darwin’, a relação entre Fritz Muller e Darwin versus Criacionismo

JC E-Mail 3366, de 09 de outubro de 2007

“A despeito de Darwin e Frizt Müller, o Criacionismo fundamentalista avança a passos largos, agora também na Europa, reduto tradicional da racionalidade e sensatez”

Mensagem de Rubens Marschalek, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), professor do Depto. de Engenharia Florestal da Universidade Regional de Blumenau, Evangélico Batista:

“Parabéns à Fiocruz pela iniciativa da exposição 'Nas Pegadas de Darwin'.

Bem lembrado também pelo colega prof. dr Rudi Ricardo Laps, da FURB, a importância do trabalho do cientista Fritz Müller, que por muitos anos morou em Blumenau. Cabe lembrar que, Fritz Müller é citado no livro "A Origem das Espécies", de Charles Darwin (1859).

A propósito, Fritz Müller era evangélico (filho e neto de Pastores), e cabe a nós, cientistas da área biológica, a tarefa de esclarecer continuamente, e incansavelmente, a sociedade no que se refere à evolução biológica, visto que um criacionismo fundamentalista ronda constantemente nossas instituições de ensino, que têm o dever de zelar pela racionalidade, sem contudo perder de vista os aspectos morais e éticos na formação dos nossos jovens.

No entanto, neste momento, até na Europa, reduto tradicional da racionalidade, discussões a respeito do criacionismo e suas conseqüências chegam ao Parlamento da Comunidade Econômica Européia.

Não somente na Alemanha (na cidade de Giessen), mas também na Holanda, Grã-Bretanha, Polônia, Suécia, e outros países da comunidade econômica européia, há casos de Escolas tentando introduzir o ensino do criacionismo nas disciplinas relacionadas à biologia e/ou ciências.

Isso levou o parlamentar francês Guy Lengagne a propor no Parlamento Europeu o controverso documento "Os perigos do criacionismo na Educação". Este documento está em pauta justamente esta semana e nele Lengagne trata de "Defender a ciência contra as ofensivas do Criacionismo". O documento também visa "Defender o ensino da evolução como pilar fundamental da Educação nas Escolas".

O criacionismo, no entanto, tem sido defendido inclusive por correntes políticas que representam também os interesses religiosos, que já retiraram o documento da pauta de discussões em junho, quando deveria ter sido analisado pelo parlamento.

Entre eles estava o parlamentar belga Luc Van den Brande, que se declarou contra o documento. A reação, à época, de Lengagne foi de declarar que a Europa estava "retrocedendo à Idade Média".

Fato é que o criacionismo já não está mais apenas limitado aos Estados Unidos da América, mas também já se espalhou, e chegou à Europa, e seria fatal se esta, não tomasse, em tempo, providências contra a influência criacionista.

Há as mais diversas correntes fundamentalistas na europa, e recentemente, um pastor evangélico da Inglaterra, com o qual vez ou outra me correspondo, me confidenciou que na Universidade da sua cidade, um bom grupo de estudantes estava divulgando a teoria da terra jovem, ou seja, partindo da premissa de que a terra não tem, e jamais teve, os estimados 4,6 bilhões de anos que a ciência diz ter.

O referido Pastor ficou sensibilizado e tentou conversar com o grupo, no intuito de que estes viessem a reconsiderar o absurdo científico que estavam propondo, no entanto seus argumentos foram ignorados.

Um dos textos que encontrei na internet informa de que fica claro que a Teoria da Evolução tem sido atacada por fundamentalistas religiosos, que conclamam e reclamam o ensino do criacionismo nas escolas européias paralelamente ou em substituição ao ensino da Evolução.

Do ponto de vista científico, como menciona o documento de Lengagne, não há absolutamente dúvidas de que a Evolução seja uma das teorias mais importantes e fundamentais para o entendimento do universo e da vida na terra.

Opostamente a isto, o criacionismo, em todas as suas formas, como o "desenho inteligente", não está baseado em fatos concretos, que possam ser cientificamente comprovados.

Já muitos religiosos defendem que um cerceamento ao ensino do criacionismo nas escolas européias implica na perda de liberdade na discussão de idéias, e, se uma Teoria não representa ameaça às leis e ao estado de direito, deveria ser permitido a pesquisadores, professores e seus alunos, analisá-la e discuti-la.

Pessoalmente, tanto como evangélico, como pesquisador, não vejo o Criacionismo como uma Teoria, uma vez que não pode ser testada.

Continuo achando que em si, a concepção Bíblica sobre a vida, através do relato apresentado na Bíblia nos capítulos primeiro e segundo do livro de Gênesis, pode nortear discussões teológicas e filosóficas sobre a vida, entretanto, hoje a maioria dos teólogos sérios concorda que o relato de Gênesis é apenas poético (vide livro Ciência e Fé: novas perspectivas, do físico e pastor Peter James Cousins, Editora ABU, 1997).

Assim sendo, eu também não creio que todos os aspectos do criacionismo devam ser banidos da escola, como sendo uma ameaça, no entanto, eles precisam estar inseridos impreterivelmente no contexto correto, restritos à disciplina de Religião ou Ensino Religioso, como aliás, sempre estiveram. Jamais devem ser inseridos no ensino de ciências ou biologia.

A mesma linha coerente e sóbria de raciocínio básico segue o renomado diretor do Projeto Genoma Humano, dr. Francis Collins, que publicou recentemente o livro "A linguagem de Deus" (2007), que procura compatibilizar, saudavelmente, ciência e fé, no entanto defendendo notadamente a verdade científica incontestável da Evolução biológica.

Não devemos todavia perder de vista que no estabelecimento dos valores morais e legais, e na construção dos princípios éticos, hoje defendidos pela sociedade ocidental, a religião cristã tem e teve papel fundamental. Isso parece estar sendo desconsiderado por um número cada vez maior de pessoas.

Além disso, há mesmo entre os cientistas, aqueles que continuam crendo em Deus, até mesmo porque o fator "religiosidade humana" pode ser, eventualmente, também entendido como uma prova da interferência divina junto a evolução (algo talvez como o "sopro divino", se assim o quiséssemos considerar...), ou também, pelos mais céticos e racionais (que gozam igualmente do meu respeito), pode ser entendida apenas como mais uma das provas cabais da inexistência definitiva desta interferência sobrenatural nos processos biológicos, visto que poderia, a religiosidade, também ser fruto pura e simplesmente de seleção natural, como algo que representou uma vantagem adaptativa para o Homo sapiens.

Isso, no entanto, é uma discussão interminável, e por isso mesmo, tanto Evolução, quanto a Criação, podem ser abordadas na educação dos nossos jovens, resguardado no entanto que cada uma ocupe seu nicho particular e apropriado, pois uma lida com fatos científicos, a saber, a Evolução, e a outra, com ensinamentos morais, espirituais e filosóficos (que não deveriam ser menosprezados) através de uma linguagem poética, a saber, a Criação, aliás, do ponto de vista literário, uma bela estória.

Partes dos textos acima foram extraídos do link (em língua alemã).