Jerry Fodor “falou e disse”: a teoria da seleção natural foi pro saco!

domingo, outubro 14, 2007

A transmutação das espécies é uma idéia antiga da humanidade: os povos antigos já pensavam naquilo. Já o fato, Fato, FATO da evolução, bem, ele é aceito a priori pela quase totalidade da comunidade científica, mesmo sabendo que as evidências favoráveis encontradas na natureza sejam circunstanciais. É preciso um mecanismo “evolutivo” para realizar esta obra de criação de complexidade e diversidade biológica: a seleção natural de Darwin.

Segundo Dennett, a “seleção natural” foi a idéia mais brilhante que a humanidade já teve. Engraçado, lendo as fontes primárias, os cientistas da época de Darwin aceitavam a “idéia” de evolução, mas rejeitavam a “seleção natural” como sendo o mecanismo todo-poderoso: Lyell, Hooker e, pasmem, Huxley. Ele era “buldogue de Darwin”, ma non allegro, capice? Bah, esse “buldogue” não era lá uma Brastemp de buldogue!

Em 1909, após o eclipse do darwinismo, quando comemoraram em Cambridge os 50 anos da publicação do livro Origem das Espécies de Darwin, as críticas severas foram justamente contra a seleção natural. De lá pra cá, recauchuta a teoria aqui, recauchuta a teoria acolá, e volta e meia vem o coral da Nomenklatura científica afirmar o “konsensus darwinianus”: a evolução através da seleção natural.

O problema com esse tal de “konsensus” científico é que, de vez em quando e sempre está errado. Especialmente essa onipotência da seleção natural como motor evolutivo. Geralmente os ultradarwinistas fundamentalistas xiitas berram, como todos os bons cabritos berram, que o próprio Darwin reconheceu ser a seleção natural um mecanismo importante, mas não o mais importante de todos no processo evolutivo: se não for X, então Y; se não for Y, então Z; se não for Z, então todo o ABC. Desde 1859 assinando “notas promissórias epistêmicas” em favor da seleção natural. Haja clareza e suficiência epistêmicas... A navalha de Occam já não está tão afiada como antigamente. Cá entre nós, eu ando meio cético localizado da validade universal da navalha de Occam.

Vou deixá-lo com o meu bom amigo Paul Nelson, Ph. D. em filosofia da biologia (Universidade de Chicago) discorrer sobre um artigo de Jerry Fodor:

por Paul Nelson

Num artigo provocante na mais recente edição do London Review of Books (18 de outubro de 2007), Jerry Fodor, filósofo da ciência e cientista cognitivo da Universidade Rutgers argumenta que “o relato darwinista clássico da evolução como sendo principalmente realizado pela seleção natural está em dificuldades em bases conceituais e empíricas.” Conforme ele elabora,

“A maré alta do adaptacionismo fez flutuar uma esquadra variada, mas isso pode estar agora na maré vazante. Se resultar que a seleção natural não é o que produz a evolução, um punhado de especulações soltas vai ficar em grande apuro, estéril e parecendo um pouco ridícula. A indução ao longo da história da ciência sugere que as melhores teorias que nós temos hoje irão ser demonstradas mais ou menos inverídicas no mais tardar amanhã à tarde. Em ciência, como em qualquer coisa, ‘guardar uma carta nas mangas’ geralmente é um bom conselho.”

Fodor tem sido há muito tempo um crítico do uso da seleção natural na explicação da arquitetura cognitiva humana. Eu me lembro quando foi aluno de pós-graduação de ouvir uma palestra dele (como professor visitante) sobre o tópico, e fiquei espantado pela sua rejeição sem cerimônias dos relatos adaptivo em psicologia humana. Bem, Fodor não leva o design inteligente muito em conta, e ele não está questionando a tese da ancestralidade comum: vide, por exemplo, os dois últimos parágrafos deste artigo [145KB. Download gratuito]

Mas ultimamente a sua crítica do raciocínio darwiniano tem se expandido além dos limites da ciência cognitiva, onde ele principalmente policiou estórias da carochinha de fugas adaptivas em tempos atrás. Vela noturna na mão, Fodor tem batido recentemente em cabeças situadas bem na própria biologia:

“Na verdade, um número apreciável de biólogos perfeitamente sensato está começando a pensar que a teoria da seleção natural não pode ser mais aceita como sendo verdade... O resultado irônico é que é num tempo quando a teoria da seleção natural se tornou um artigo de cultura popular, ela se defronta com o que pode ser o desafio mais sério que já teve. Os darwinistas ficaram conhecidos ao dizerem que o adaptacionismo é a melhor idéia que alguém já teve. Seria uma boa piada, se a melhor idéia que alguém já teve se revelar mentirosa.”

Pow! Vela noturna cinza sólida, acabamento escuro envernizado.

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Fui, rindo da cara dos meninos e meninas da galera de Darwin que apostaram tudo no cavalo pangaré “Selectionis naturalis”. Eu vou ficar esperando 2010 chegar para saber qual mecanismo evolutivo será acolhido em “Darwin 3.0”. Quanto à Nomenklatura científica e à Grande Mídia tupiniquins, elas enfiaram a viola no saco estrategicamente desde 1998 quando a questão é Darwin, mas não vão poder ficar com a viola no saco por muito tempo, porque em ciência a gente segue as evidências aonde elas forem dar.

O rei está nu, mas há algo de podre no reino acadêmico protegendo a nudez epistêmica de Darwin...