Jerry Fodor: um darwinista herético pós-moderno na mira da Nomenklatura científica

sexta-feira, outubro 19, 2007

Nas minhas incursões em História da Ciência [por que será, hein?], aqui e ali eu me deparo com darwinistas heréticos: cientistas que, apesar de serem evolucionistas, questionam cientificamente algum aspecto fundamental da teoria geral da evolução de Darwin.

O último darwinista herético eminente contemporâneo foi Stephen Jay Gould. A Nomenklatura científica é antropofágica, e a KGB sabe muito bem como lidar com os dissidentes 5 estrelas: pressões particulares, denuncismo público, e finalmente ostracismo acadêmico no Gulag das publicações científicas, y otras cositas mais [leia-se: destruição de carreiras acadêmicas].

Bem, vou deixá-lo com o artigo do meu amigo Robert Crowther sobre o mais recente darwinista herético pós-moderno:

Hoje (ou ontem, dependendo de que lado do lago você está), Jerry Fodor, biólogo evolucionista [sic, Fodor é filósofo da ciência e cientista cognitivo da Universidade Rutgers] saiu da linha e publicou artigo colocando em risco toda sua carreira acadêmica, sem mencionar que, possivelmente, ele pode ter dito adeus a qualquer chance de conseguir outra ajuda financeira para pesquisa.

“Na verdade, um número apreciável de biólogos perfeitamente sensato está começando a pensar que a teoria da seleção natural não pode ser mais aceita como sendo verdade. Isso é, até aqui, na maioria gravetos ao vento; mas não está fora de cogitação que uma revolução científica − não menos do que uma grande revisão da teoria da evolução − está pra sair. Diferente da estória de as nossas mentes serem adaptações anacrônicas, esta nova inclinação parece não ter sido amplamente notada fora dos círculos profissionais. O resultado irônico é que é num tempo quando a teoria da seleção natural se tornou um artigo de cultura popular, ela se defronta com o que pode ser o desafio mais sério que já teve. Os darwinistas ficaram conhecidos ao dizerem que o adaptacionismo é a melhor idéia que alguém já teve. Seria uma boa piada, se a melhor idéia que alguém já teve se revelar mentirosa. Muito da história da ciência consiste em o mundo fazer aquele tipo de piada em nossas teorias mais queridas.” [1]

Fodor, isso deve ser destacado, é totalmente materialista — não tão totalmente quanto os darwinistas queriam que ele fosse. (Você sabe como é que é, alguns materialistas são mais iguais do que os outros). Qual é então a preocupação? É a sua heresia quando considerada à luz do dogmatismo dos darwinistas que controlam os fios da bolsa que é surpreendente. Mesmo assim, Fodor parece saber parcialmente:

“Não seria irracional para um biólogo de persuasão darwinista argumentar assim: ‘Enche o saco questões conceituais, e enche o saco aqueles que as levantam. Nós não podemos ficar sem a biologia, e a biologia não pode ficar sem o darwinismo. Então o darwinismo deve ser verdade.’ Os darwinistas freqüentemente argumentam desta maneira; e o medo da hipérbole parece não inibi-los.”

Eles tampouco se sentem inibidos em provocarem a completa e total destruição da carreira acadêmica de quem quer que se interponha no caminho deles.

NOTA

1. “In fact, an appreciable number of perfectly reasonable biologists are coming to think that the theory of natural selection can no longer be taken for granted. This is, so far, mostly straws in the wind; but it’s not out of the question that a scientific revolution – no less than a major revision of evolutionary theory – is in the offing. Unlike the story about our minds being anachronistic adaptations, this new twist doesn’t seem to have been widely noticed outside professional circles. The ironic upshot is that at a time when the theory of natural selection has become an article of pop culture, it is faced with what may be the most serious challenge it has had so far. Darwinists have been known to say that adaptationism is the best idea that anybody has ever had. It would be a good joke if the best idea that anybody has ever had turned out not to be true. A lot of the history of science consists of the world playing that sort of joke on our most cherished theories.”

Postado por Robert Crowther 18 de outubro de 2007 10:42 AM Permalink