JC e-mail 4128, de 01 de Novembro de 2010.
21. Fernando Haddad ouvirá teóricos sobre veto a Charles Darwin
Conselho da Educação defende que obra tem conteúdo racista e faz apologia aberta ao genocídio e não deve ser usada na escola
O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que vai ouvir opiniões de acadêmicos e educadores sobre o parecer do Conselho Nacional da Educação que caracteriza como racista e genocida o conteúdo da obra A Origem do Homem e a Seleção Sexual (São Paulo, Editora Hemus), de Charles Darwin, considerado um dos maiores cientistas do mundo por ter tido a maior ideia que toda a humanidade já teve: a evolução através da seleção natural.
Em deliberação, o conselho afirmou que o livro está em desacordo com a legislação do país e que deveria deixar de ser dado aos estudantes ou que isso seja feito com explicações sobre seu conteúdo. Para entrar em vigor, o parecer precisa ser homologado pelo ministro. "Não vou decidir no calor do momento", afirmou ele, ressaltando que é preciso pensar melhor sobre o tema.
A polêmica começou após Antonio Gomes da Costa Neto, servidor da Secretaria do Estado de Educação do Distrito Federal, ter encaminhando uma denúncia contra o uso do livro à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. A pasta encaminhou a crítica ao conselho, que deu parecer contra o uso da obra, numa votação unânime.
Em relatório seguido de voto, a conselheira Nilma Lino Gomes concordou com as alegações encaminhadas pela denúncia. O livro, distribuído a escolas da rede no Distrito Federal e parte do programa de bibliotecas do Ministério da Educação, elabora teoria sobre a origem e evolução humana, mas preconiza o genocídio de povos indígenas e tem conteúdo racista contra os povos africanos.
Para o denunciante, a publicação tem expressões de prática de racismo cultural e apologia aberta ao genocídio, principalmente quando menciona os negros e os povos indígenas australianos. Animais como gorila são citados nas comparações feitas aos negros e, para Costa Neto, reforçariam ainda mais os estereótipos relacionados ao negro, ao universo africano.
No voto, a conselheira pontua: "A despeito do importante caráter científico da obra de Charles Darwin, o qual não se pode negar, é necessário considerar que somos sujeitos da nossa própria época (...) responsáveis pelos desdobramentos e efeitos das opções e orientações políticas, pedagógicas, literárias e científicas no contexto que vivemos."
O conselheiro Cesar Callegari, que não esteve presente na sessão, afirmou que o conselho, ao ser provocado, sempre vota "baseado na legislação" e não em opiniões pessoais. Mesmo assim, Callegari fez algumas ressalvas à decisão. "Na minha opinião, nunca cabe censura."
Representantes do movimento negro no Brasil defendem parecer do conselho. "Nós, da Educafro, consideramos Charles Darwin um dos grandes cientistas do mundo. Ele escreveu em seu tempo, no seu contexto histórico", diz frei David, da ONG Educafro.
Ele faz associação ao movimento Ku Klux Kan, grupo racista que teve atuação forte no sul dos EUA na primeira metade do século 20. "Eles (Ku Klux Kan) faziam coisas que, naquele tempo, eram compreensíveis pela sociedade americana e hoje são questionadas", afirmou. Para o frei, a obra do cientista deveria ter rodapés em todas as páginas em que existam menções racistas. Isso deve ocorrer, cita ele, "em livros que não estejam em sintonia com o pensar de hoje"
O presidente da Afrobras, José Vicente, acha que "a literatura, qualquer que seja ela, numa escola, tem de ter finalidade didática". Para José Vicente, se há menção a racismo, mesmo num clássico, seu conteúdo deve ser revisto. "Acho que, ainda que seja Charles Darwin, deve ser motivo de reparo. O livro pode ser utilizado como material de alerta sobre o quanto mesmo Charles Darwin poderia ter reproduzido preconceitos de época."
(Carolina Stanisci)
(O Estado de SP, 31/10)
+++++
Paráfrase de texto original do JC e-mail 4128, de 01 de Novembro de 2010.
NOTA DESTE BLOGGER:
Exmo. Sr. Fernando Haddad, Ministro da Educação, a questão sobre Darwin não se limita unicamente ao racismo e apologia ao genocídio. A questão de Darwin é muito mais científica: o fato, Fato, FATO da evolução é um fato, Fato, FATO científico que passa pelo rigor do contexto de justificação teórica, ou é um fato, Fato, FATO aceito a priori como fato, Fato, FATO científico?
Lamento dizer-lhe isso no apagar das luzes de sua gestão, mas a abordagem da teoria da evolução nos atuais livros aprovados pelo MEC/SEMTEC/PNLEM está desatualizada cientificamente e é academicamente desonesta em não revelar aos alunos as dificuldades teóricas fundamentais para a corroboração da macroevolução através das evidências. O nome disso é 171 epistêmico.
V. Excia. bem que poderia entrar para a história da educação do Brasil como o ministro que ousou desafiar a Nomenklatura científica num campo que ela abomina a discussão: o rigor do método científico e o debate público e civil da crise epistêmica pela qual passa a teoria da evolução através da seleção natural. Seu ministério não pode coadunar com as fraudes e distorções de evidências científicas a favor do fato, Fato, FATO da evolução quando na literatura especializada os cientistas nem sabem qual o mecanismo evolutivo que foi, é e será responsável pela evolução das espécies.
Ciência e mentira não podem andar de mãos dadas!