O editorial meio manco, meio vero da Folha de São Paulo sobre ateus e religiosos

terça-feira, maio 11, 2010

A comparação feita pelo filósofo Daniel Dennett entre ateus e homossexuais nos Estados Unidos não foi inusitada não, ela foi devidamente pinçada para demonizar os religiosos como homófobos. É muito fácil desmentir este professor da Universidade Tufts: o que é difícil hoje não é ter uma identidade gay, mas se declarar crente de qualquer subjetividade religiosa na maioria das universidades americanas.

A filosofia é o amor à verdade, mas Dennett como filósofo está em flagrante descompasso com a verdade ao afirmar de que ainda há enormes áreas nos Estados Unidos onde, se você disser que não acredita em Deus, vai perder seus amigos, seu negócio. É o contrário. São os crentes em Deus, os teóricos e proponentes do Design Inteligente que estão mais ou menos na mesma posição em que estavam os homossexuais nos anos 50. O editor da FSP já assistiu ao documentário Expelled? Parece que não!

O fato, Fato, FATO da evolução em ação diante de nossos olhos

O editorial induziu o leitor a acreditar na mentira forjada e forçada de Dennett — o ser hostilizado por ser gay aplica-se também aos ateus “quando se leva em conta a disputa particular entre ateus e criacionistas nos EUA” onde é “expressiva —e militante— a parcela da população americana que toma as escrituras sagradas ao pé da letra”, diferentemente da maioria dos países europeus e do Brasil que seriam países com populações mais iluminadas.

Embora 45% dos americanos repilam realmente a explicação da origem e evolução das espécies através da seleção natural proposta por Darwin por razões religiosas, há também um grande número de cientistas que o fazem por razões estritamente científicas e seculares. Aliás, a nova teoria geral da evolução — a Síntese Evolutiva Ampliada — pela montanha de evidências contrárias, não deve ser selecionista, e deve relegar a seleção natural a um papel muito mais secundário. Lá, como aqui, quando a questão é Darwin, a Nomenklatura científica e a Grande Mídia é tutti cosa nostra, capice?

O editorial da Folha de São Paulo acerta ao afirmar que na principal democracia do mundo o problema está na beligerância das opiniões se radicalizarem “a ponto de cercear a livre manifestação de ideias” e de que o fundamentalismo cristão não age sozinho contra a preservação do desejável clima de tolerância: existe também o fundamentalismo ateu representado por Dennett, e pela Nomenklatura científica que destroi carreiras acadêmicas de cientistas dissidentes do paradogma consensual engesssado que não admite dissidência.

O editorial da FSP afirmou que os “militantes da descrença exageram ao negar a possibilidade de conciliação entre fé e razão científica”, embora sejam “dimensões diferentes da consciência humana”. Eu não entendi a lógica do editorial: Como que dimensões diferentes da consciência humana podem ser iguais? O editor dá uma no cravo (os religiosos fundamentalistas) e outra na ferradura (os ateus fundamentalistas) ao afirmar que quando “os fanáticos do ateísmo exigem do público a adesão irrestrita a um dos lados em disputa, sem margem para dúvidas ou ceticismo” eles estão agindo como aqueles.

O editorial concluiu batendo forte nos dois tipos de fundamentalismo: eles parecem esquecer que a crença coletiva em verdades incontestáveis, reveladas ou “descobertas”, pode marginalizar —quando não oprimir— quem as questione. Atualmente os marginalizados e oprimidos na Academia (lugar de livre debates de ideias) somos nós teóricos e proponentes do Design Inteligente. O editorial da FSP deixou de fora, mas foi Dennett quem sugeriu no seu livro "A Perigosa Ideia de Darwin" a 'solução final': colocar todos os crentes de subjetividades religiosas que duvidam da evolução humana através da seleção natural enjaulados num zoológico.

Contudo, o gemido dos oprimidos nos Estados Unidos, a maior democracia do mundo, não é dos ateus fundamentalistas, xiitas, pós-modernos, chiques e perfumados a la Dennett, mas dos religiosos fundamentalistas, céticos, agnósticos e até ateus, teóricos e proponentes do Design Inteligente que são dissidentes de Darwin por razões religiosas e seculares.

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