Marcelo Gleiser, tardiamente, dá um ponta-pé no traseiro de Dawkins e de todos os neo-ateus

domingo, abril 11, 2010

+Marcelo Gleiser

Mitos, ciência e religiosidade

É possível ser uma pessoa espiritualizada e cética

Começo hoje com a definição de mito dada por Joseph Campbell, uma das grandes autoridades mundiais em mitologia: "Mito é algo que nunca existiu, mas que existe sempre". Sabemos que mitos são narrativas criadas para explicar algo, para justificar alguma coisa. Na prática, não importa se o mito é verdadeiro ou falso; o que importa é sua eficiência.

Por exemplo, o mito da supremacia ariana propagado por Hitler teve consequências trágicas para milhões de judeus, ciganos e outros. [NOTA DO BLOGGER 1: Gleiser nem abordou, mas Darwin foi responsável indiretamente pelo Holocausto e as demais práticas genocidas dos regimes comunistas do século 20 e início do 21. Vide From Darwin to Hitler: Evolutionary thics, Eugenics, and racism in GermanyHitler's Ethic: The Nazi Pursuit of Evolutionary Progress de Richard Weikart. Judeu que é, Gleiser deveria saber muito mais que ideias têm consequências. Mesmo as 'chamadas' ideias científicas.O mito que funciona tem alto poder de sedução, apelando para medos e fraquezas, oferecendo soluções, prometendo desenlaces alternativos aos dramas que nos afligem diariamente. 

A fé num determinado mito reflete a paixão com que a pessoa se apega a ele. No Rio, quem acredita em Nossa Senhora de Fátima sobe ajoelhado centenas de degraus em direção à igreja da santa e chega ao topo com os joelhos sangrando, mas com um sorriso estampado no rosto. As peregrinações religiosas movimentam bilhões de pessoas por todo o mundo. É tolo desprezar essa força com o sarcasmo do cético. Querendo trazer a ciência para um número maior de pessoas, eu me questiono muito sobre isso. 

Como escrevi antes neste espaço, os que creem veem o avanço científico com uma ambiguidade surpreendente: de um lado, condenam a ciência como sendo materialista, cética e destruidora da fé das pessoas. "Ah, esses cientistas são uns chatos, não acreditam em Deus, duendes, ETs, nada!"
De outro, tomam antibióticos, voam em aviões, usam seus celulares e GPSs e assistem às suas TVs digitais. Existe uma descontinuidade gritante entre os usos da ciência e de suas aplicações tecnológicas e a percepção de suas implicações culturais e mesmo religiosas. Como resolver esse dilema?



A solução não é simples. Decretar guerra à fé, como andam fazendo alguns ateus mais radicais, como Richard Dawkin, não me parece uma estratégia viável. Pelo contrário, vejo essa polarização como um péssimo instrumento diplomático. Como Dawkins corretamente afirmou, os extremistas religiosos nunca mudarão de opinião, enquanto um cientista, diante de evidência convincente, é forçado eticamente a fazê-lo. [NOTA DO BLOGGER 2: Gleiser precisa reler Thomas Kuhn, Karl Popper e Paul Feyerabend: os cientistas são refratários demais para se convencerem das evidências contrárias ao paradigma aceito pela Nomenklatura científica. É somente a 'solução biológica' que permite o surgimento de novos cientistas que, provavelmente, serão mais abertos às ideias e evidências contrárias do paradigma aceito pelos que praticam ciência normal. Morram logo! pra dar espaço a novas ideias e teorias científicas!] Talvez essa seja a distinção mais essencial entre ciência e religião: o ver para crer da ciência versus o crer para ver da religião. 

Aplicando esse critério à existência de entidades sobrenaturais, fica claro que o ateísmo é radical demais; melhor optar pelo agnosticismo, que duvida, mas não nega categoricamente o que não sabe. Carl Sagan famosamente disse que a ausência de evidência não é evidência de ausência.

Mesmo que estivesse se referindo à existência de ETs inteligentes, podemos usar o mesmo raciocínio para a existência de divindades: não vejo evidência delas, mas não posso descartar sua existência por completo, por mais que duvide dela. Essa coexistência do existir e do não-existir é incômoda tanto para os céticos quanto para os crentes. Mas talvez seja inevitável.

A ciência caminha por meio do acúmulo de observações e provas concretas, replicáveis por grupos diferentes. A experiência religiosa é individual e subjetiva, mesmo que, às vezes, seja induzida em rituais públicos. Como escreveu o psicólogo americano William James, a verdadeira experiência religiosa é espiritual e não depende de dogmas. Apesar de o natural e o sobrenatural serem irreconciliáveis, é possível ser uma pessoa espiritualizada e cética.

Einstein dizia que a busca pelo conhecimento científico é, em essência, religiosa. Essa religião é bem diferente da dos ortodoxos, mas nos remete ao mesmo lugar, o cosmo de onde viemos, seja lá qual o nome que lhe damos.

(Folha de SP, 11/4)

Via: JC E-Mail
+++++

NOTA CAUSTICANTE DESTE BLOGGER:

É praxe da Nomenklatura científica que quando os críticos e oponentes do paradigma começam a se tornar públicos é simplesmente fazer de conta que eles não existem. Quando esse grupo de hereges começa a ganhar notoriedade, a regra geral é tentar silenciá-los através da descaracterização e demonização dessas pessoas como ignorantes, defensores de pseudociência, e fanáticos fundamentalistas. 

Agora, quando tudo isso falhar, aí vem este discurso meloso e capcioso de Gleiser direcionando a questão para a antiga polarização ciência (racionalidade) versus religião (irracionalidade). O que isso significa e a quem interessa esse tipo de discurso cavalo de Troia? Isso significa que a Nomenklatura científica sabe que o número de críticos está ganhando foro de respeitabilidade. Interessa somente à Nomenklatura científica, pois polariza a questão como sendo ciência versus religião somente para blindar o paradigma consensual de quaisquer críticas. Mesmo as científicas.

Marcelo Gleiser, a questão hoje em dia não é se as especulações transformistas de Darwin contrariam relatos sagrados de criação, mas se as evidências encontradas na natureza corroboram as especulações de Darwin. Não corroboram, e a questão é totalmente científica.

Mas, isso a Nomenklatura científica não quer ver publicado e nem debatido civilmente, e a Grande Mídia não deseja abordar pela sua Weltanschauung mesmerizado pelo naturalismo filosófico que posa com ciência.

Marcelo Leite, valeu o ponta-pé no traseiro de Dawkins et caterva, mas foi tardiamente, companheiro! Dawkins foi nauseabundantamente citado por muitos cientistas com aprovação da Nomenklatura científica em artigos e palestras (a História da Ciência revela isso) .

Às evidências, Srs.!, pois a questão é totalmente científica!!!