Laboratórios de títulos

terça-feira, abril 13, 2010

12/4/2010

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Bibliotecas de 175 instituições paulistas receberão, durante os próximos meses, uma “enxurrada” de livros que acrescentarão 165 mil títulos às suas coleções. As aquisições serão feitas por meio do Programa FAP-Livros, da FAPESP, cujo resultado da sexta chamada foi anunciado em março.

Do total de R$ 33,9 milhões previstos para essas aquisições, R$ 17 milhões serão concedidos a propostas voltadas para complementar coleções e ajudar a estruturar novas bibliotecas das áreas de ciências humanas e sociais.


Em sua sexta chamada, Programa FAP-Livros, da FAPESP, terá metade dos recursos – R$ 17 milhões – investidos em bibliotecas de ciências humanas, área na qual os livros são a ferramenta de pesquisa por excelência

De acordo com os responsáveis por algumas das propostas que receberam as maiores concessões, a concentração de recursos nas áreas de humanidades se explica pela importância especial do livro para essas disciplinas.

Segundo Michael Hall, professor do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o FAP-Livros tem um impacto incalculável para a pesquisa nas áreas de ciências humanas.

“Costumo dizer que, para essas áreas, a biblioteca é o equivalente ao laboratório. Incrementar nossas coleções de livros equivale a equipar laboratórios nas áreas de ciências biológicas e exatas”, disse Hall à Agência FAPESP.

A Biblioteca Octávio Ianni, do IFCH, receberá cerca de 30 mil títulos nesta chamada do FAP-Livros, totalizando mais de R$ 2,5 milhões. A Unicamp – que ficou em segundo lugar entre as instituições com maiores concessões – receberá, no total, 75 mil títulos, avaliados em cerca de R$ 9,2 milhões.

“Os novos livros vão incrementar o acervo da biblioteca em geral, mas procuramos aproveitar a oportunidade para aprofundá-lo em algumas áreas que consideramos atualmente inadequadas para as necessidades do instituto, em especial nos temas relacionados à América Latina e à África. Enfatizamos em especial os campos da antropologia e da história da arte”, disse Hall.

A maioria absoluta dos volumes será importada. “Enfatizamos as obras estrangeiras, porque o orçamento da Unicamp é suficiente para cobrir pelo menos uma parte das necessidades de bibliografias nacionais”, afirmou.

Segundo ele, as aquisições irão servir, em sua maior parte, para atualizar o acervo em áreas prioritárias, de acordo com a demanda manifestada pelos docentes da unidade.

“Mobilizamos uma parte razoável dos professores de cada departamento para identificar essa demanda. Fizemos circular catálogos de editoras e designamos duas funcionárias da biblioteca para acompanhar os lançamentos em revistas internacionais”, disse.

O programa, segundo Hall, representa um grande avanço para a biblioteca do IFHC. “Na última chamada do FAP-Livros foi concedida uma solicitação de cerca de 27 mil títulos. Agora serão mais 30 mil. Para uma biblioteca que conta com cerca de 200 mil volumes, trata-se de um impacto formidável”, disse Hall.

Mais do que o previsto

O Programa FAP-Livros tem o objetivo de apoiar a aquisição de livros, e-books e publicações em outras mídias, destinados à pesquisa científica e tecnológica.

Participaram da sexta chamada bibliotecas de instituições que tiveram pesquisadores vinculados a solicitações de qualquer natureza apoiadas pela FAPESP no período de 2003 a 2009.

As propostas foram analisadas considerando-se os benefícios ao desenvolvimento científico e tecnológico do Estado de São Paulo, a capacitação das instituições proponentes e a aderência às condições da chamada de propostas.

O valor reservado para apoio às solicitações aprovadas na sexta chamada do programa era de, inicialmente, até R$ 25 milhões. Como o valor total das propostas recomendadas foi superior (R$ 33,9 milhões) ao reservado inicialmente, a Diretoria Científica da FAPESP recomendou e o Conselho Técnico-Administrativo aprovou a suplementação.

“Dessa forma, será possível apoiar fortemente todas as propostas qualificadas e viabilizar a aquisição de aproximadamente 165 mil títulos para as bibliotecas de 175 instituições de pesquisa no Estado de São Paulo”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

Acervo abastecido

Entre as 175 instituições contempladas pela sexta chamada, a Universidade de São Paulo (USP) foi a que teve a maior concessão: R$ 11 milhões para a aquisição de mais de cerca de 54,7 mil títulos. A maior parte deles, quase 30 mil itens, terá como destino a Biblioteca Florestan Fernandes, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).

De acordo com Sandra Nitrini, diretora da FFLCH, a biblioteca da unidade, que possui mais de 860 mil itens, tem um acervo de humanidades reconhecido internacionalmente como um dos mais importantes no Brasil e na América Latina. Em recente processo de avaliação externa, o acervo, que dispõe de livros raros, foi objeto de elogios de pareceristas estrangeiros.

“As chamadas do Programa FAP-Livros contribuem para o contínuo processo de complementação deste acervo, o que garante a manutenção de seu padrão de qualidade e a disponibilização para docentes, pesquisadores e estudantes de um acervo cada vez mais rico e atualizado. Isso é um fator imprescindível para o avanço e a produção do conhecimento nas humanidades”, disse Sandra.

Segundo ela, o programa supre a necessidade constante de uma criteriosa atualização e a complementação de grandes e respeitados acervos, como o da Biblioteca Florestan Fernandes.

A também professora do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da FFLCH conta que, na sexta chamada, foram solicitados quase que exclusivamente livros em papel – o que é coerente com uma característica específica das ciências humanas, já que em outras áreas as publicações em periódicos digitais são hoje mais importantes que os livros. Mas as humanidades, segundo ela, não são excessivamente “apegadas” ao papel.

“O livro é uma ferramenta fundamental para as ciências humanas, seja em papel ou em formato eletrônico. Na chamada anterior, o nosso acervo teve um acréscimo de mais de 360 mil itens, graças à aquisição de e-books, periódicos e documentos eletrônicos e microfilmes”, disse Sandra.

Complemento de pesquisa

Segundo Claudio Kiminami, coordenador de Pós-Graduação da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a predominância das áreas de humanas nas concessões da sexta chamada, em geral, foi uma tendência acompanhada pelo caso da UFSCar, em particular.

A UFSCar ficou em quarto lugar entre as instituições com maiores concessões: cerca de R$ 3,2 milhões para a aquisição de mais de 20 mil títulos.

“Cerca de 80% da nossa demanda de referências bibliográficas corresponde às áreas de ciências humanas e educação. São setores cuja pesquisa está fortemente ligada ao acesso a livros. Enquanto em áreas como exatas e biológicas os laboratórios são constituídos de equipamentos de ensaio e análise, nas humanidades eles são constituídos de bibliotecas e livros”, afirmou Kiminami.

Nas áreas de saúde, ciências exatas, tecnologia e ciências biológicas, de acordo com Kiminami, os portais digitais de periódicos são a fonte mais importante de recursos para pesquisa.

Segundo ele, os 20 mil novos títulos serão um item importantíssimo da complementação aos apoios da FAPESP aos pesquisadores da UFSCar. “A solicitação desses recursos está vinculada aos projetos financiados pela FAPESP. O programa consiste em uma complementação fundamental às bolsas e projetos de pesquisa”, disse.

Os novos livros serão distribuídos em três bibliotecas da UFSCar. Cerca de 90% dos volumes irão para a Biblioteca Comunitária no campus de São Carlos (SP). O restante irá para os campi de Araras e Sorocaba, também no interior paulista.

“O campus de Sorocaba está em estágio inicial, pois foi criado em 2006. A atividade de pesquisa ali, no entanto, já é muito intensa e a atuação do corpo docente é digna de nota – são mais de 100 pesquisadores entre professores e jovens doutores. Estruturar a biblioteca local será de uma importância crucial, pois o campus está a quase 300 quilômetros de São Carlos e a mobilidade de livros não é algo trivial nessa circunstância”, explicou.

Do total de volumes solicitados ao programa, cerca de 19 mil são livros importados, perfazendo mais de US$ 1,3 milhão. “O restante – uns 1.600 volumes – são materiais bibliográficos a serem adquiridos no país, totalizando R$ 242 mil”, disse.

Na chamada anterior do FAP-Livros, a concessão feita à UFSCar totalizou aproximadamente 8 mil livros. Segundo Kiminami, o fato de o apoio ser recorrente é importante para o planejamento a longo prazo.

“Essa repetição do apoio à infraestrutura de bibliografias é um indicativo de que a FAPESP está nos dando um apoio regular. Isso faz com que os pesquisadores se preparem para a demanda. Essa consistência dos editais gera um clima favorável entre os pesquisadores, que podem se planejar”, disse.

Segundo ele, também é importante que a chamada tenha sido flexível. O valor original reservado para apoio ao conjunto de solicitações aprovadas era de até R$ 25 milhões, mas a FAPESP aumentou essa quantia em R$ 8,9 milhões a fim de atender integralmente às solicitações.

“É importante que o edital tenha conseguido atender à demanda qualificada. Não foi uma chamada competitiva, que excluiria determinados projetos, como ocorreria se tivéssemos um edital com volume fixo de recursos”, apontou.

Com a chegada de mais de 20 mil volumes, segundo Kiminami, as bibliotecas terão um grande trabalho pela frente. “Temos que importar, catalogar, organizar e instalar em um espaço físico esses volumes. Para isso será necessário investir em uma força-tarefa e engajar estagiários temporários, a fim de dar acesso a esses livros rapidamente. É um problema muito bem-vindo”, disse o também professor do Departamento de Engenharia dos Materiais da UFSCar.

Mais informações sobre o Programa FAP-Livros: www.fapesp.br/faplivros