A escolha de grupos de ‘otimistas’ (evolucionistas) e de ‘pessimistas’ (não evolucionistas e/ou criacionistas) para a interpretação da pesquisa é mais subjetiva do que científica, pois os 59% dos que ‘acreditam’ ter sido a evolução um processo guiado por Deus ficaram de fora dessa rotulação. Segundo Sandro, os otimistas dirão que 67% dos brasileiros são evolucionistas e os pessimistas dirão que 25% são criacionistas e 59% são evolucionistas teístas.
Otimistas e pessimistas estão celebrando o que chamo de ‘vitória de Pirro’:
1. Os evolucionistas, mesmo dominando a educação com o ensino acrítico da evolução, vêem a evolução (processo cego de acaso, necessidade, mutações filtradas pela seleção natural [e quaisquer outros mecanismos evolutivos]) ao longo do tempo ser compreendida por uma maioria de subjetividades religiosas como sendo um processo guiado por Deus.
2. Os de subjetividades religiosas por não entenderem que o compatibilismo de seus relatos sagrados de criação com as hipóteses tranformistas de Darwin é considerada como metafísica e rejeitada pela Nomenklatura científica.
Não sei ajuizar se em uma pesquisa qualitativa percentuais possam ser considerados desprezíveis ou não. Eu incorreria em hermenêutica subjetiva onde minhas preferências ideológicas influenciariam na interpretação dos dados. Sandro considerou nada desprezível o fato de 2/3 da população brasileira ‘acreditarem’ na evolução, comparando este percentual com o de países de indicadores educacionais melhores do que os nossos. Mas também considerou nada desprezível 1/4 da população ignorar as evidências científicas a favor da evolução. Esse 1/4 da população deve ignorar completamente as evidências científicas contrárias sobre o fato da evolução que Sandro sabe existir, mas não ousa abordar publicamente: uma goleada de evidências contrárias.
Ficou surpreso que até mesmo 17% dos entrevistados com curso superior acreditem que Deus criou o homem, mas considerou a ideia de uma primeira causa na figura de um Deus, mesmo não sendo científica, como legítima. Ué, não entendi, vez que existem outras ideias que não podem ser submetidas ao rigor do método científico e que, mesmo assim, são verdadeiras. E a ciência tem várias ideias assim. Algumas nem podem, ainda, ser demonstradas verdadeiras: buracos negros, energia escura, multiversos, ancestral comum universal, y otras cositas mais.
Na sua análise sociológica, Sandro considera o evolucionismo teísta como a corrente mais moderada de criacionismo porque aceita todas as evidências científicas a favor da evolução, mas mantém Deus como agente causal. Aqui acaba o encanto de Sandro, e da Nomenklatura científica, com o evolucionismo teísta: não pode ser tratado como ciência devido à sua natureza metafísica.
Há uma situação Catch-22 aqui. Existem evolucionistas teístas que são cientistas eminentes: Kenneth Miller e Michael Behe, entre outros. Kenneth Miller é crítico severo da teoria do Design Inteligente com aval e aplauso da Nomenklatura científica. Uma espécie de política externa ‘Big Stick’. Já Michael Behe, só não foi ‘expulso’ da Lehigh University porque já tem ‘tenure’e não pode mais ser demitido. Dois pesos, duas medidas: Kenneth Miller é considerado evolucionista, mas Michael Behe é rotulado de criacionista.
Sandro está correto sobre a existência ou não de Deus não poder ser testada e por isso não ser científica, e que sua aceitação depende de um estado da mente chamado de fé. Mas está errado quando afirma que a evolução (macroevolução: um Australopithecus afarensis se transformar em antropólogo amazonense) é fato corroborado por evidências científicas acumuladas nos últimos 150 anos. Desconheço na literatura científica qual cientista que ‘estabeleceu’definitivamente este aspecto da história evolutiva humana. Aqui, a fé darwinista remove montanhas de obstáculos encontrados no contexto de justificação teórica: o fato, Fato, FATO da evolução é um a priori aceito pela fé como verdade científica. A montanha de evidências a favor da evolução que conheço são pesquisas que demonstraram apenas aspectos microevolutivos.
Sandro se inclue entre os otimistas. Eu, não sou nem otimista nem pessimista. Sou realista.
Concordo mais uma vez com Sandro: a predominância de uma visão teísta na população brasileira possa gerar um risco de que assuntos da fé sobreponham-se a assuntos da ciência. Não somente isso, mas assuntos ideológicos fortalecendo o naturalismo filosófico também podem gerar isso nos livros didáticos e nas aulas de ciência. Aulas de ciência devem se ater à ciência e o que isso possa representar em termos de ensino crítico de teorias científicas através de evidências. Por que não se pode criticar Darwin?
Assim como temos visto figuras públicas manifestarem-se a favor da equiparação entre evolucionismo e criacionismo, temos visto a Nomenklatura científica blindar a teoria da evolução de quaisquer críticas, mesmo as científicas, e concordar com a manutenção de duas fraudes e distorção de evidências científicas a favor do fato da evolução em livros didáticos de Biologia do ensino médio aprovados pelo MEC/SEMTEC/PNLEM. O nome disso é 171 epistêmico. Sandro sabe disso, mas se cala. E o resto da Nomenklatura científica. E a Grande Mídia também.
As escolas brasileiras que ensinam criacionismo em aulas de ciência são as escolas confessionais amparadas em documento legal do MEC. Sandro considera isso um absurdo por colocar em risco a formação de milhões de brasileiros, mas se esquece intencionalmente que esses estudantes estão sendo lesados agora mesmo na sua formação em biologia evolutiva: o que temos hoje em salas de ciência não é educação, é doutrinação em naturalismo filósofico que posa como se fosse ciência. Com duas fraudes, distorções de evidências científicas y otras cositas mais.
Ideologia não pode se sobrepor à ciência!