JC e-mail 3981, de 01 de Abril de 2010.
22. Acelerador de partículas multiplica colisões
'Máquina do Big Bang' eleva número de choques subatômicos de 50 para 300 por segundo
Depois de terem conseguido, com sucesso, criar mini-Big Bangs - naquela que é considerada uma das maiores experiências científicas de todos os tempos -, especialistas do Centro Europeu de Energia Nuclear (Cern, na sigla em inglês) querem ter uma visão ainda mais acurada da origem do Universo.
Um dia após as primeiras colisões de partículas subatômicas, os cientistas elevaram o número de choques por segundo de 50 para 300. Mas tiveram que cuidar também de pequenos vazamentos.
- Estamos muito próximos de uma nova fronteira da ciência - afirmou James Gillies, porta-voz da experiência, no momento em que novos feixes de prótons eram injetados no túnel oval de 27 quilômetros de comprimento do Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), localizado na fronteira da Suíça com a França.
Segundo o porta-voz, os pequenos vazamentos detectados ontem não devem provocar uma nova paralisação dos trabalhos do superacelerador, como já aconteceu antes.
- Nada do que aconteceu hoje é capaz de fazer a máquina parar - garantiu. - Estamos avançando. Pequenos problemas são normais num projeto dessa proporção.
Nos próximos meses, o principal objetivo do projeto é ampliar o fluxo de dados sobre o que ocorre durante um choque de partículas subatômicas a uma velocidade similar à da luz e com uma força total de 7 trilhões de elétron volts (7 TeV). Nessas condições, as colisões chegam muito perto de simular eventos ocorridos bilionésimos de segundo após o Big Bang - a explosão ocorrida há 13,7 bilhões de anos, que, segundo as teorias mais correntes, teria dado origem ao Universo.
A ideia é continuar aumentando o número de feixes de partículas colocados no superacelerador pelos próximos dois anos, dos atuais dois de cada vez até 2.700.
- É como se colocássemos mais e mais carros correndo em direções opostas de uma estrada de mão única - comparou Gillies. - Cada vez mais batidas de frente ocorreriam.
As colisões, apresentadas nos monitores do Cern em gráficos multicoloridos, estão sendo acompanhadas e estudadas por milhares de cientistas em mais de 30 países, inclusive no Brasil, envolvidos no projeto.
Um dos principais objetivos deste atento rastreamento é decifrar alguns dos maiores enigmas do Universo, como a matéria escura, que compõe 25% do Cosmos, e até mesmo a existência de novas dimensões. O bóson de Higgs, uma partícula que seria responsável por dotar de massa tudo o que existe no Universo, também é procurada pelos cientistas. Sua existência é inferida, mas nunca foi comprovada.
Se nenhum problema surgir no equipamento, feixes de partículas subatômicas continuarão sendo inseridos no LHC diariamente até o fim de 2011, quando a complexa operação será suspensa para que o acelerador de partícula seja preparado para colisões ainda mais poderosas.
A partir de 2013, os choques terão o dobro da energia atual e poderão, então, revelar o que o diretor de pesquisa do Cern, Sergio Bertolucci, chama de "o desconhecido desconhecido" - ou aspectos totalmente inesperados da composição do Universo.
(O Globo, 1/ 4)