O empurrãozinho de que os pequenos fascistas precisam

quarta-feira, junho 17, 2009

Gerson Faria em 13 de junho de 2009

Era uma vez um sindicato e uma associação de professores que, no intuito de promover seus interesses corporativistas, teleguiaram miolos moles de hormônios alterados chamados indistintamente de "os universitários" por uma sociedade que só paga e não sabe o que lá dentro ocorre, à 463a revivescência do espírito de ‘68, muito conhecido de ouvir não sei quem falar, em busca da esperança de encontrar a motivação essencial de sua presença naquele terreno imenso, cheio de funcionários resmungões, bibliotecas vazias, laboratórios sempre assaltados e teorias mirabolantes também conhecido como universidade pública.

Na tentativa de esmiuçar as profundezas dessa insignificante poça da realidade brasileira, dou voz a um fictício mas bastante real em minha memória de ex-aluno uspiano, que várias vezes assistiu à aulas noturnas em plena greve com professores memoráveis, tipo muito distinto do multifacetado professor ativista, sociólogo de botequim e fauno do campus que aqui tento seu espírito verbalizar.


Exemplo da democracia brasileira e sua infinita benevolência com o desperdício de recursos públicos (Foto:Adusp)

“Veja, se formos mobilizar pessoal de outras camadas da população, teremos que pagar cesta básica, transporte até o campus e tudo mais, e isso custa dinheiro, como bem sabe o MST. Iria parecer estranho essas pessoas comuns reivindicando na universidade. Esses moleques, além de terem uma aparência de ingenuidade - o que ajuda -, já vêm cheios de energia, comem sucrilhos e tomam Red Bull, vêm com seus próprios carros, filmadoras digitais compactas, possuem rede de contatos na Internet, blogs, coletivos de sei lá o quê, têm influência na mídia etc. Um zé-mané apanhar da polícia é uma coisa. Esses meninos, alguns até filhos de políticos e de professores da USP são mais chorões, gritam por qualquer coisa. E a imprensa ouve que é uma beleza, sempre os leva a sério. Esses ativistas-mirins são nosso maior recurso”.

E continuou, aprofundando a análise de forma muito realista:

“Esses jovens não sabem o que possuem sem esforço algum. Conheci uma menina que entrou no curso de arquitetura com 16 anos, inteligentíssima, pais ricos, linda, parecia a Isabelle Adjani. ‘Desbundou’ completamente, passou a beber e fumar maconha e em um ano já não assistia mais às aulas e parecia mais com a Ângela Ro-Ro. Outro dia mesmo, um maloqueiro foi expulso da faculdade porque caiu no ouvido do diretor que ele estava morando no grêmio com o aval dos alunos há não sei quanto tempo e era traficante de drogas. Ora, quanto mais molengas esses alunos ficam, melhor. Eles só querem saber de festas e passam a entender somente coisas muito simples, como slogans, ‘fora Rede Globo, o povo não é bobo’, ‘abaixo isso e abaixo aquilo outro’ e coisas assim. E muitos professores ajudam, até pedem aos alunos fumarem um baseado para relaxar”.


O senhor não entende nada, seu guarda, nada. Nunca deve ter ouvido falar na Marilena Chauí (Foto:Adusp)

Sempre me pergunto se não é por esse tipo de mistura entre a marginalidade útil e a canalhice sociológica o motivo que se proíbe a entrada da polícia no campus. Não só a polícia, a imprensa também é sempre muito camarada e, estranhamente, respeitosa. Não é à toa que sempre se houve histórias de estupros no campus, laboratórios dilapidados e pessoas assaltadas.

Até agora a USP não criou o argumento final, a ideologia última que impeça o criminoso pequeno ou grande de efetivar seu intento. Mas ela continua tentando. Enquanto nada surge, ficam com o bordão fenecido '68 "fora polícia do campus", querendo dizer, aqui quem manda é a minoria radical mobilizada, nós é que decidimos quem trabalha e quem não, quem estuda e quem não, quem entra e quem sai.

Deu uma pausa, tragou o cigarro e cofiou a barba já parcialmente encanecida.

“Quando eles estão nesse estado existencial, de não saberem mais o que os trouxe à universidade, qualquer atividade que os faça sentir responsáveis pelo ‘avanço da democracia’, ‘combate ao imperialismo’, qualquer tema elástico e escapista é um prato cheio à vagabundagem. E isso nos auxilia! E eles próprios já possuem as respostas aos alunos discordantes: alienados, no melhor caso, coxinha, fascista e por aí afora. Já os alunos que precisam se sustentar ou que sabem o porquê de estarem lá e não têm tempo a perder com os ‘temas elevados’ que os outros fazem crer estarem preocupados, são presas menos fáceis.”

ABAIXO A DEMOCRACIA!

Bradou um. O outro olhou para aquele com certo estranhamento. Ninguém os repreendeu. Continuaram pois, afinal, enquanto houver polícia não haverá democracia, acreditam.

ABAIXO A DEMOCRACIA BURGUESA!
ABAIXO A ABAIXO A ABAIXO A DEMOCRACIA! ABAIXO A DEMOCRACIA! ABAIXO A DEMOCRACIA! DEMOCRACIA! ABAIXO A BURGUESA! DEMOCRACIA! BURGUESA! ABAIXO A DEMOCRACIA! ABAIXO A ABAIXO A DEMOCRACIA! ABAIXO A DEMOCRACIA! ABAIXO A DEMOCRACIA! BURGUESA! BURGUESA! BURGUESA!