Neste blog denunciei vários descompassos com a verdade histórica da exposição Darwin no MASP em 2007. Agora esta exposição historicamente espúria está sendo apresentada no Rio de Janeiro.
JC E-Mail 3436, de 23 de janeiro de 2008
5. A nova viagem de Darwin
Maior exposição já feita sobre o naturalista inglês, autor da teoria da evolução, chega ao Rio
Carlos Albuquerque escreve para “O Globo”:
Charles Darwin continua evoluindo. Quase 200 anos depois do seu nascimento, as idéias do naturalista inglês, considerado o pai da biologia moderna, permanecem sendo discutidas e revistas. Prova disso é a exposição “Darwin — Descubra o Homem e a Teoria Revolucionária que Mudou o Mundo”, que começa hoje, no Museu Histórico Nacional, depois de ter passado por São Paulo, onde foi visitada por 175 mil pessoas no segundo semestre de 2007.
Passagem pela cidade foi em 1832
É a volta de Darwin à cidade que visitou em 1832, durante a sua famosa viagem pelo mundo, a bordo do navio H.M.S. Beagle, após a qual elaborou a maior parte de suas teorias. Fazendo jus ao homenageado, a exposição chega aqui adaptada.
— Nós ampliamos a parte da exposição que trata da sua passagem pelo Brasil, já que foi um trecho importante de sua viagem — explica o paleontólogo americano Niles Eldredge, curador da mostra. — Como todos, ele ficou impressionado com a beleza da cidade. Porém, cocomo vinha de uma família liberal, se assustou ao se deparar com a escravidão no Brasil. E também não gostou da burocracia que disse ter encontrado por aqui.
Organizada em 2005 pelo Museu de História Natural, de Nova York, a exposição passou pelos Estados Unidos e pelo Canadá e vai chegar à Inglaterra em 2009, para coincidir com o bicentenário do cientista e os 150 anos de publicação de sua obra mais importante, o livro “A origem das espécies”, que deu origem à sua teoria da evolução.
— A idéia da exposição era mesmo coincidir com os 200 anos do nascimento de Darwin. Mas resolvemos começar um pouco mais cedo e viajar o mundo com ela, como fez Darwin — conta Eldredge.
Curador critica design inteligente
Mais completa revisão do trabalho de Darwin, a mostra tem cerca de 400 itens em exposição, entre documentos, filmes, livros e reprodução de espécies estudadas pelo naturalista inglês, como sapos, iguanas, tatus e orquídeas. A exposição recria também o quarto onde Darwin fazia seus estudos e onde finalizou “A origem das espécies”.
— O mais fascinante de organizar essa exposição foi ver como Darwin desenvolveu suas idéias de forma criativa — lembra o paleontólogo. — De resto, é impressionante notar como ele está no centro dos debates ainda hoje.
Eldredge sabe o que está falando. Afinal, as idéias evolucionistas de Darwin têm sido contestadas nos Estados Unidos. Sob as bênçãos do governo de George W.
Bush, escolas públicas de alguns estados americanos têm se dedicado ao ensino do chamado design inteligente, controvertida teoria pseudocientífica que defende a idéia de um projetista.
— Isso é patético e me sinto envergonhado que ocorra ainda hoje nos Estados Unidos — reclama Eldredge. — O que me preocupa é que não apenas estão ensinando a evolução de forma errada para as crianças, mas estão dizendo para elas que o criacionismo é uma alternativa. Isso é uma mentira.
Eldredge ressalta que se não fosse Darwin não poderíamos entender e estudar doenças como a gripe aviária e a Aids.
— Ambos têm a ver com a evolução de vírus. Darwin foi o ponto de partida para sabermos como funciona a seleção natural e a mutação. Aliás, é sempre interessante perguntar aos criacionistas o que eles acham disso.
Segundo o paleontólogo, é um divertido exercício de imaginação imaginar o que Darwin pensaria da exposição se estivesse vivo.
— Acho que ele ficaria inicialmente um pouco embaraçado com a homenagem, já que era um homem bastante modesto. Mas tenho certeza que depois Darwin iria direto à parte da exposição que fala de biologia evolutiva. E no final ficaria encantado com tudo.
(O Globo, 23/1)