Interessante o editorial da Nature 451, 108 (10 Janeiro de 2008), publicado online em 9 de janeiro de 2008. Há da parte do editor um misto de exagerada confiança no fato, Fato, FATO da teoria geral da evolução, e um flagrante desespero do avanço do criacionismo e da teoria do Design Inteligente no mundo.
O editorial é prova evidente do desespero da Nomenklatura científica mundial com a proximidade das celebrações de louvaminhice pelos 200 anos de aniversário de Darwin: eles sabem que os críticos e os oponentes também estão se preparando para estragar a festa darwinista publicando artigos sobre as insuficiências fundamentais da teoria da evolução no contexto de justificação teórica.
O título é evangelisticamente interessante pela sua conotação de subjetividade religiosa: “Spread the Word” [Espalhem a Palavra], seguido do sub-título: “Evolution is a scientific fact, and every organization whose research depends on it should explain why” [A evolução é um fato científico, e toda organização cuja pesquisa dependa dela deve explicar por que].
Em estilo folhetim, o editor de Nature dá três brados de viva para US National Academy of Sciences ter publicado uma versão atualizada do seu livreto Science, Evolution, and Creationism já abordado aqui neste blog. Segundo o editor, o documento resume sucintamente o que é e o que não é ciência, além de fornecer uma visão geral da evidência a favor do fato, Fato, FATO da evolução através da seleção natural, e ter dado destaque de como as figuras de líderes religiosos repetidamente têm defendido a evolução como consistente com a sua visão de mundo.
Engraçado, o editor e esses líderes de concepções religiosas ‘desconhecem’ a visão de mundo de Charles Darwin: se a minha teoria da evolução através da seleção natural depender de alguma ajuda externa, a minha teoria seria ‘bulshit’.
A teoria do Design Inteligente aparece nas entrelinhas do julgamento de Dover com a menção de um relato supostamente mais específico de conhecimento evolutivo feita pelo paleontólogo Kevin Padian durante o julgamento de Kitzmiller v. Dover.
Naquele depoimento, segundo o editor, Padian destruiu as falsas afirmativas feitas pelos criacionistas de que existem lacunas críticas no registro fóssil. Naquela ocasião, Padian teria ilustrado os caminhos evolutivos robustos de peixe a tetrápodes terrestres, de crocodilo a dinossauro, de dinossauro com penas a ave, de quadrúpede terrestre à baleia, e muito mais. O editor se esqueceu de que o registro fóssil continua dizendo um sonoro NÃO às especulações transformistas de Darwin, e que Padian nem lidou com as dificuldades da quantidade de informação genética necessária para transformar um peixe em paleontólogo!
Aí o editor chora as pitangas, e até faz pouco caso dos criacionistas e a turma perversa do Design Inteligente [segundo a Nomenklatura científica – criacionistas disfarçados] ao afirmar que o criacionismo é forte nos Estados Unidos, e de preocupante crescimento na Comunidade Européia de acordo com a Assembléia do Parlamento do Conselho da Europa. Para salvar a cara, o editor afirma que os criacionistas não são um alvo sensível para aumentar a percepção do fato, Fato, FATO da evolução. O que importa para a Nomenklatura científica são aqueles cidadãos que não estão certos sobre a evolução — cerca de 55% da população americana conforme algumas pesquisas recentes.
E como contra fatos não há argumentos, o editor reitera ad baculum que assim como a National Academy of Sciences e Kevin Padian demonstraram, é possível resumir as razões por que a evolução é tanto um fato científico como a existência de átomos ou que a Terra gira em torno do Sol, embora haja muitos refinamentos a serem explorados. E com a campanha presidencial americana na mente, o editor afirma que mesmo assim há chefes de estado atuais e potenciais que se recusam reconhecer isso com fato científico inconteste. Eu acho que esse editor está de gozação querendo tirar sarro de nossas caras. Ou está demonstrando profunda ignorância de que até mesmo nas páginas de Nature, aqui e ali uma pesquisa questiona algum aspecto do fato, Fato, FATO da evolução.
E aí ele projeta a imagem de malignidade da parte dos criacionistas: eles têm uma tendência de usarem deliberadamente as incertezas de alguns cidadãos do fato, Fato, FATO da teoria geral da evolução [que o editor nunca fez distinção no seu editorial]. O mantra dobzhanskyano tinha de aparecer na sua versão pós-moderna: a evolução é de profunda importância para a biologia e medicina modernas. Será mesmo? Há controvérsias!
Para fechar o folheto evangelístico fundamentalista da Nomenklatura científica, que não cabe nas páginas objetivas de uma revista científica, o editor afirma que qualquer pessoa que tenha a capacidade de explicar a evidência por trás do fato, Fato, FATO da evolução para seus alunos, seus amigos e parentes deve receber a devida munição para fazê-lo. Uau, eles declararam mesmo guerra em todos os flancos contra os criacionistas e até mesmo de críticos científicos como a turma do Design Inteligente.
Razão para blindar a teoria geral da evolução de Darwin? Eles não querem que a romaria a Down, as festas de louvaminhice no mundo inteiro que estão sendo elaboradas suntuosamente com o dinheiro público para celebrarem os 200 anos de aniversário de Charles Darwin (12/02/2009) sejam desconstruídas por esses bárbaros que ousaram atacar o templo da Ciência ao manifestarem o seu ceticismo parcial de uma teoria que não é robustamente apoiada pelas evidências.
O editor conclamou toda academia e sociedade científica que tenha interesse na credibilidade da evolução para este esforço de guerra total de resumir a evidência a favor do fato, Fato, FATO da teoria geral da evolução em seus sites, e aproveitar toda a oportunidade para promovê-la. Uau, mas não é isso que vem sendo feito desde 1859 com Thomas Huxley?
Que tal experimentar da sapiência teórica de Charles Darwin? A teoria mais apta sobrevive. O editor de Nature, a Nomenklatura científica e a Grande Mídia temem o quê da exposição da teoria geral da evolução às intempéries do rigor do contexto de justificação teórica? Que a teoria mais apta sobreviva, mas saiba que em ciência não existe Theoria perennis. Nem mesmo a teoria da evolução pela seleção natural de Darwin.
Senhores, chega de editoriais chifrins e ridículos como este, e vamos considerar as evidências contrárias ao fato, Fato, FATO da evolução. Chega de argumentos ad baculum e de inquisições sem fogueiras dos críticos e céticos de Darwin!