Este blog é para ser lido comparando a notícia veiculada no jornal "O Estado de São Paulo", conforme o link do Jornal da Ciência E-Mail:
Agora vamos ao resto da história
postado sexta-feira, 11 de agosto de 2006 10:41 pm
por Mike Gene
Obrigado às pessoas no site Pandas Thumb e no blog Uncommon Descent
eu li o artigo de Ker Than intitulado, "U.S. Lags Behind Europe, Japan in Acceptance of Evolution" [Os Estados Unidos ficam atrás da Europa e Japão na aceitação da evolução].
Uma vez que sou muito familiarizado com os debates Design Inteligente-Evolução, freqüentemente é muito engraçado ler os artigos da grande mídia porque eles omitem tipicamente o contexto mais interessante. O artigo de Than não desaponta.
Vamos considerar vários trechos do artigo de Than e depois vamos considerá-lo um pouco mais profundamente.
A análise descobriu que os americanos com crenças religiosas fundamentalista — definida como a crença num controle divino substancial do universo e na eficácia de oração freqüente — eram mais propensos a rejeitar a evolução do que os europeus com crenças semelhantes.
A descrição de Than é um pouco diferente daquela oferecida por Miller et al. no artigo deles na revista Science:
"indivíduos que têm uma forte crença num Deus pessoal e que oram freqüentemente eram significantemente menos propensos a considerar a evolução como provavelmente ou definitivamente verdade do que adultos com menos opiniões religiosas conservadoras".
"Crença num Deus pessoal" transforma-se em "crença num controle divino substancial do universo" e "oram freqüentemente" transforma-se em "a eficácia de oração freqüente".
Então, você percebe, o verdadeiro problema são todas aquelas pessoas que crêem num Deus pessoal e que oram freqüentemente.
Uma vez que nós estamos lidando com correlações, que tal se nós simplesmente a invertêssemos? Que tal se nós investigássemos a crença num Deus pessoal e oração freqüente, e fizesse a aceitação da evolução uma das variáveis? Os resultados apoiariam a alegação de Dawkins et al. de que a aceitação da evolução leva à rejeição das crenças religiosas básicas devotas e de comportamento? Miller (ou a revista Science) publicaria tal pesquisa?
"Os principais partidos políticos nos Estados Unidos são mais propensos a fazer oposição à evolução uma parte proeminente de suas campanhas para arrebanhar os votos dos conservadores — algo que não acontece na Europa ou Japão.
Miller diz que isso faz quase tanto sentido para os políticos que se opõem à evolução em suas campanhas como é para eles defenderem que a Terra é chata e prometer aprovar uma lei afirmando isso caso sejam eleitos para o cargo".
Miller não estudou campanhas políticas. Então por que ele é considerado um especialista neste tópico? Alguém pode apontar alguns exemplos onde a "oposição à evolução” desempenhou uma “parte proeminente de suas campanhas para arrebanhar os votos dos conservadores?” Nós não estamos falando aqui de questões de conselhos de escolas. Miller (ou Than) coloca isso como se os candidatos usassem a "oposição à evolução" como um componente muito visível de várias campanhas a fim de seduzir o voto conservador. Eu não me lembro de ver esta questão sendo usada tão proeminentemente desta maneira.
"Paul Meyers, um biólogo na Universidade de Minnesota, que não participou na pesquisa, diz que o que os políticos deveriam fazer é dizer - "Nós devemos submeter essas questões às autoridades qualificadas e nós devemos ter comissões de cientistas e engenheiros a quem nós abordaremos para as respostas certas".
Estourando de tanto rir! Então a propensão por oligarquias de Meyers salta aos olhos. É claro, ajuda lembrar aqui o que este biólogo considera ser o seu papel em moldar a comunidade de especialistas.
"Os pesquisadores também destacam a pobre compreensão dos conceitos biológicos, especialmente de genética, pelos americanos adultos como um importante fator contribuindo para a baixa confiança do país na evolução.
"Quanto mais você entende de genética, mais você entende sobre a unidade da vida e da relação que os humanos têm com as outras formas de vida", disse Miller.
A atual pesquisa também analisou os resultados de uma pesquisa com 10 países na qual os adultos foram testados com 10 questões de afirmações verdadeiras ou falsas sobre conceitos básicos de genética. Os americanos tiveram uma nota média de 4 respostas certas em 10".
Quando eu li isso primeiro, eu pensei com os meus botões que isso é uma observação sem-sentido. Quais foram as notas médias nos outros nove países? Por exemplo, elas não deveriam ser mais altas na França? Mas, ah, considere o que Ker Than omitiu no seu artigo. Eis aqui um trecho do artigo de Miller na revista Science:
"Embora a nota média no Index of Genetic Literacy [algo como Índice de Conhecimento Genético] foi um pouco mais alta nos Estados Unidos do que em nove países europeus combinados, os resultados de outra pesquisa sobre os Estados Unidos de 2005 mostra que um número substancial de americanos adultos estão confusos sobre algumas das essenciais relacionadas com a biologia dos séculos 20 e 21".
Você percebeu isso? A nota média no Index of Genetic Literacy [Índice de Conhecimento Genético] foi um pouco maior nos Estados Unidos do que nos nove países europeus juntos! Miller obscurece este fato ao argumentar em seguida que os americanos não são realmente inteligentes em biologia, ao mesmo tempo em que se abstém de fazer tais comentários sobre os próprios países europeus que tiveram piores notas. Mas o fato permanece que os americanos tiveram melhores notas no Index of Genetic Literacy [Índice de Conhecimento Genético] mas as suas notas foram pinçadas para argumentar "a pobre compreensão dos conceitos biológicos, especialmente de genética, pelos americanos adultos como uma importante fator contribuindo para a baixa confiança do país na evolução".
Pulando adiante, nós encontramos isto:
"[Eugenie] Scott disse que uma coisa que ajudará é fazer com que católicos e os protestantes de denominações importantes falem sobre a aceitação da evolução em suas teologias.
"Tem que haver mais abordagem do criacionismo por essas perspectivas teológicas mais moderadas," disse Scott. "Os clérigos profissionais e os teólogos que eu conheço tendem ser muito relutantes em se envolver naquele tipo de discussão 'a minha teologia versus a sua teologia, mas isso importa porque está tendo um efeito negativo no conhecimento científico americano".
Uau! Tenho a impressão que se a Scott está a algumas polegadas em culpar os católicos e os protestantes de denominações importantes em não dizerem sobre a aceitação da evolução por suas teologias! Ela deixa bem claro que eles não gostam de se envolver em batalhas teológicas com os outros crentes, mas mesmo assim, o silêncio deles está "tendo um efeito negativo no conhecimento científico americano ". Se você não é parte da solução, você é parte do problema.
Quanto ao "efeito negativo no conhecimento científico americano ", deixe-me lembrar as pessoas de algo que o mesmo Jon Miller disse há alguns meses atrás:
"Quão vergonhosamente baixo possa ser o índice de conhecimento científico de adultos nos Estados Unidos, Miller descobriu índices ainda mais baixos no Canadá, Europa, e Japão—um resultado que ele atribui principalmente aos índices baixos de matrículas nas universidades".
Eu acho que, desde que esse pequeno fato também quase que não se encaixava no tema do artigo de Than, não havia espaço para isso. Ah, mas há espaço para a lição costumeira sobre o Design Inteligente:
"A mais recente roupagem do criacionismo é o design inteligente, ou "DI", uma conjectura que afirma que certas características do mundo natural são tão complexas que elas só podem ser obra de um Ser Supremo". [Nota deste blogger - o DI não postula um Ser Supremo]
A fim de evitar confusão entre nossos leitores, nós devemos destacar que Than está apenas propagando estereótipos. Eu e outros aqui [no blog Telicthoughts] não afirmamos que “certas características do mundo natural são tão complexas que elas só podem ser obra de um Ser Supremo”.
"Scott disse que promover a incerteza sobre a evolução é tão mau quanto negá-la abertamente e que tanto o DI e o criacionismo espalham a mesma mensagem.
"Os dois estão dizendo que a evolução é má ciência, que a evolução é uma ciência fraca e inadequada, e que não pode realizar o trabalho, portanto Deus fez isso", ela disse.
Bem, eu certamente não afirmo que a evolução é "má ciência, que a evolução é uma ciência fraca e inadequada, e que não pode realizar o trabalho, portanto Deus fez isso ". Mas, se eu mencionar "DI", é isso que a mente de Scott et al. ouvem.
Finalmente, o artigo termina primeiro citando Bruce Chapman com "uma visão diferente da pesquisa".
"Uma melhor explicação para o alto percentual dos que duvidam do darwinismo na América pode ser que os cidadãos deste país são famosamente independentes e não são dados a serem enrolados por uma elite ideológica em qualquer área", disse Chapman. "Em particular, as crescentes dúvidas sobre o darwinismo indubitavelmente reflete as crescentes dúvidas entre os cientistas sobre a teoria darwiniana. Mais de 640 já assinaram uma dissensão pública e o número continua crescendo".
[Nota deste blogger: Fonte segura confirma a presença de 2 professores de universidades públicas brasileiras nesta lista, e que outros mais gostariam de assiná-la, mas temem represálias às suas carreiras acadêmicas pela Nomenklatura científica tupiniquim: INQUISIÇÃO SEM FOGUEIRAS!!!].
A partir dDeste ponto, Nick Matzke pondera com argumento sobre a lista. Muitos leitores podem ter sido distraídos por tudo aquilo, pois eu penso que pode haver algo no primeiro ponto destacado por Chapman – " os cidadãos deste país são famosamente independentes e não são dados a serem enrolados por uma elite ideológica em qualquer área". Considere o simples fato que os europeus mostram tremendamente ampla aceitação da evolução ainda que suas notas no Genetic Literacy e no conhecimento científico básico sejam menores do que as do americanos. Então, o que é responsável por esta ampla aceitação [da evolução]?
[As ênfases neste texto~são deste blogger]
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Pano rápido - parece que a rejeição à teoria geral da evolução é mundial - se as evidências encontradas na natureza não apóiam o FATO da evolução, os cientistas precisam parar de continuar contando 'estórias da carochinha' que os leigos não especializados estão ficando cada vez mais 'especialistas' nesses assuntos teóricos.
Darwin ia adorar este debate - ele que era averso a controvérsias...