NOTA BENE: Este artigo descreve em parte o comportamento dos jornalistas e a discussão sobre as insuficiências epistêmicas das atuais teorias da origem e evolução da vida e do universo que mantive e mantenho com os editores de ciência da Grande Mídia Tupiniquim. Que o mesmo ocorre nos Estados Unidos substancia lá fora a minha tese de que há uma relação incestuosa da mídia com a Nomenklatura científica quando a questão é Darwin.
Por que os editores [de ciência] devem ousar serem imbecis
por K.C. Cole
Como muitos repórteres que dão furos jornalísticos, os jornalistas de ciência gastam um bom tempo educando seus editores sobre as peculiaridades de suas áreas, e de um modo geral essas trocas não somente são iluminadoras, mas finalmente vão dar em melhores histórias. Mas há um lugar onde nós batemos numa parede.
Não, não é que os editores não sejam bastante inteligentes para entender a ciência. Na verdade, é o oposto: eles estão muito acostumados em serem inteligentes, e assim não podem lidar com o fato de que eles não entendem isso. E porque eles ficam desconfortáveis sentindo-se confusos, os leitores são deixados no escuro sobre um universo de pesquisa que evita a explicação fácil.
Eu estava discutindo este problema recentemente com um colega que tinha batido sua cabeça contra a parede por meses tentando conseguir uma história sobre uma misteriosa “força escura” em cosmologia dos antigos editores no The New Yorker: “Eles ficavam dizendo que não entendiam isso!”, ele reclamou. Bem, é claro que eles não entenderam isso. Ninguém entende isso. É isso exatamente que o faz tão interessante.
Em ciência, sentir-se confuso é essencial para o progresso. Uma indisposição para sentir-se perdido, na verdade, pode deixar inerte a criatividade no seu curso. Um matemático certa vez me disse que ele pensava ser esta a razão por que os jovens matemáticos fazem as grandes descobertas. A matemática pode ser [uma matéria] difícil, mesmo para os maiores crânios por aí. Os matemáticos podem gastar horas só tentando decifrar uma seqüência de equações. Enquanto isso, eles se sentem bobos e inadequados. Então um dia, esses jovens matemáticos se estabelecem, tornam-se professores [universitários], ganham secretárias e escritórios. Eles não querem mais parecer estúpidos. E eles param de fazer grande trabalho.
De certo modo, você não pode culpar realmente os cientistas ou os editores por recuarem. Tropeçar por aí no escuro pode ser perigosos. “Por sua própria natureza, a orla do conhecimento é ao mesmo tempo a orla da ignorância”, como disse um cosmólogo. “Muitos que a visitaram foram cortados e sangrados pela experiência”.
Além do mais, a razão de ser tão revigorante é que os leitores de histórias da ciência não parecem se importar um pouco de confusão — mesmo quando o assunto seja difícil ou contra a intuição: espaço de dez dimensões, por exemplo, ou fósseis de "bichinhos" de três metros que nadaram para fora do mar há 480 milhões de anos atrás.
Cada escritor científico que eu conheço tem tido a experiência de leitores abordando-os e dizendo: “Puxa vida, foi fascinante; eu não entendi, mas eu fiquei pensando sobre isso o dia todo”. Os leitores freqüentemente perguntam sobre livros onde eles podem ler mais a respeito de um assunto, ou até as fontes primárias.
Os editores, todavia, parecem absorver a dificuldade diferentemente. Se eles não entendem algo, eles freqüentemente acham que aquilo não pode estar certo — ou que não vale a pena escrever a respeito. Ou os escritores não estão claros (que, é claro, pode ser o caso), ou os cientistas não sabem do que eles estão falando (em alguns casos, uma suposição).
Por que a diferença? A minha teoria é que os editores de jornais e de outros periódicos importantes não qualquer tipo de gente. Eles tendem ser pessoas bem realizadas. Eles estão acostumados a serem os caras mais inteligentes na sala. Assim, a ciência os deixa embaraçados. E porque eles não podem ser dar ao luxo de parecerem idiotas, a cobertura da ciência sofre.
Então, o que diz respeito à ciência que os deixa desconfortáveis? Certamente que é mais do que óbvio o fato de que é difícil entender coisas que não são (ainda) compreendidas. Em ciência, pode ser tão difícil entender o que é entendido. A [teoria da] relatividade e a mecânica quântica tem andado por aí por quase um século, mas ainda assim elas permanecem confusas em algum sentido mesmo até para aqueles que compreendem bem essas teorias. Nós sabemos que elas estão corretas porque elas foram testadas rigorosamente de muitas maneiras. Mas elas ainda não fazem sentido.
Por outro lado, por que elas deveriam fazer sentido? Os humanos evoluíram para procriar, comer, e evitar serem comidos. O fato que nós aprendemos a entender sobre o que são os átomos, ou o que o universo estava fazendo a um nanosegundo após o seu nascimento é literalmente incrível. Mas o universo não se importa o que nós podemos ou não crer. Ele não fala a nossa língua, assim, não há razão [por que] deveria “fazer sentido”.
É por isso que a ciência depende da evidência.
Na verdade, este é um ponto no qual o pessoal do Design Inteligente tem razão. É insondável que formas de vida complexas evoluíram em pequenos acréscimos ao longo do tempo através de mutação aleatória e seleção natural — que os nossos ancestrais são bactérias e os peixes são os nossos irmãos.
Apesar disso, nós sabemos que aconteceu porque nós temos múltiplas linhas de evidência: o registro fóssil, o DNA, a morfologia, a embriologia e assim por diante [N. deste blogger: são justamente essas áreas onde a teoria geral da evolução tem dificuldades insuperáveis – a autora do artigo repete o 'mantra' da Nomenklatura científica]. (Nós até podemos ver a evolução em ação bem diante de nossos narizes. Se nós não pudéssemos ver, nós não estaríamos nos preocupando com a gripe aviária.) [N. deste blogger: a autora parece não entender muito de teoria geral da evolução – o vírus continuou vírus, não transmutou em outro objeto biótico, que é o que propõe a TGE]. Mas fazer de conta que a evolução “faz sentido” em algum sentido comum presta um desserviço aos nossos leitores (e muito freqüentemente leva os jornalistas a negligenciarem totalmente a evidência).
A ciência também confunde as nossas mentes de muitas outras maneiras. Por exemplo, muito da ciência lida essencialmente com coisas invisíveis. Uma vez eu tive a maior dificuldade em convencer um editor sobre a realidade do espaço-tempo curvo (a explicação de gravidade de Einstein bem testada) porque ela disse, "Você não pode vê-la”. Na verdade, você pode vê-lo — entre outras coisas, através de lentes "gravitacionais" que curvam a luz do modo como fazem as lentes numa câmera fotográfica.
A ciência é inatamente incerta. O que faz a ciência forte é que essas incertezas estão lá fora, detalhadas e quantificadas.
É essencial saber não somente o que os cientistas sabem, mas também o que eles sabem que não sabem. Isso é um conceito não familiar para editores acostumados a lidar com a política e esportes.
E depois há o fato de que os dados são sempre, até certo ponto, ambíguos. Traduzir o comportamento de retrovírus ou de supercondutores em palavra demanda muita interpretação — até para cientistas. Pode haver mais de uma resposta correta. Ou nenhuma descrição na linguagem leiga pode ser capaz de fazer justiça ao assunto à mão.
Por todas essas e mais razões, bons jornalistas científicos sabem que se eles não estiverem lidando com um assunto que os deixa tontos, provavelmente eles não estão fazendo o trabalho deles.
Os melhores editores entendem tudo isso. Quanto ao resto, talvez o Pateta tenha dito melhor: algumas vezes você só precisa “ousar em ser imbecil”.
Ex-jornalista científica do Los Angeles Times, K.C. Cole ensina jornalismo científico na University of Southern California. Seu último livro é Mind Over Matter: Conversations with the Cosmos [A Mente considerando a Matéria: Conversas com o Cosmos].