Lynn Margulis, bióloga aclamada e crítica do neodarwinismo, RIP

quinta-feira, novembro 24, 2011

Lynn Margulis, bióloga aclamada e crítica do neodarwinismo, RIP 

Casey Luskin 23 de novembro, 2011 4:22 PM | Permalink 

Lynn Margulis, uma eminente bióloga evolucionária, professor na Universidade de Massachusetts Amherst, e membro da U.S. National Academy of Sciences, morreu aos 73 anos de idade. 

Dr. Margulis foi bem conhecida por propor a teoria da simbiogênese, que hipotetiza que as células eucarióticas surgiram quando as células procarióticas engoliam outras células procarióticas e formaram uma relação simbiótica. De acordo com a teoria, as células engolidas finalmente evoluíam em organelas celulares como as mitocôndrias ou cloroplastos encontrados em muitas células eucarióticas. 

No dia em que tal cientista eminente more é hora de relembrá-la e não criticar suas opiniões, assim sendo, eu deixarei a discussão dos defeitos e fraquezas da teoria da simbiogênese para outro dia. Mas Margulis também foi uma crítica ferrenha da teoria neodarwinista, e neste dia nós podemos afirmar muitas das coisas que ela disse sobre a biologia darwiniana. No seu livro de 2002, Acquiring Genomes, com Dorian Sagan, ela escreveu: 

“Nós concordamos que muito poucos descendentes sobrevivem para se reproduzir e que as populações mudam através do tempo, e que portanto a seleção natural é de importância crítica para o processo evolucionário. Mas esta afirmação darwinista para explicar toda a evolução é uma meia-verdade popular cuja falta de poder explicativo é compensada somente pela ferocidade religiosa de sua retórica. Embora as mutações aleatórias influenciaram o curso da evolução, sua influência foi, principalmente, de perda, alteração, e refinamento. Uma mutação confere resistência à malaria, mas também fazem as alegres células sanguíneas em deficientes portadores de oxigênio de anêmicos de células falciformes. Outra converte um lindo recém-nascido em um paciente de fibrose cística ou uma vítima de diabetes de surgimento precoce. Uma mutação faz com que uma mosquinha de fruta de olhos vermelhos não desenvolva asa. Nunca, contudo, aquela mutação fez uma asa, uma fruta, um caule lenhoso, ou uma garra surgir. As mutações, resumindo, tendem induzir doenças, morte, ou deficiências. Nenhuma evidência na vasta literatura das mudanças hereditárias mostra prova inequívoca de que a mutação aleatória em si mesma, até com a isolação geográfica das populações, resulte em especiação. Então, como que surgem novas espécies? Como que os repolhos descendem de pequeníssimas plantas selvagens tipo repolho do Mediterrâneo, ou porcos de ursos selvagens?" 

(Lynn Margulis & Dorion Sagan, Acquiring Genomes: A Theory of the Origins of the Species, p. 29 (Basic Books, 2003).) [1] 

No artigo na American Scientist, de 2006, intitulado "The Phylogenetic Tree Topples," [A árvore filogenética tomba] ele escreveu de modo semelhante que a biologia neodarwinista tinha falhado tanto em explicar a evolução das espécies, como entender corretamente as relações filogenéticas: 

“Mas muitos biólogos afirmam que eles sabem com certeza que a mutação aleatória (acaso sem propósito) é a origem da variação herdada que gera novas espécies de vida e que a vida evoluiu em um único tronco comum, num padrão dicotômico de árvore filogenética ramificada! "Não!" eu digo. Então como uma espécie evoluiu em uma outra espécie? Esta pergunta profunda de pesquisa é assiduamente minada pela hegemonia que se vangloria de sua solução “correta”. Especialmente dogmáticos são aqueles modeladores moleculares da "árvore da vida" que, ignorante de topologias alternativas (tais como teias), não estudam os ancestrais. Vítimas da “falácia da concretude equivocada” whiteheadiana, eles correlacionam o código de computador com nomes dados pelas “autoridades” para os organismos que eles nunca vêem! Nossa pesquisa zelosa, sempre fiel ao deus que mora nos detalhes, desafia abertamente tal certeza dogmática. Isso é ciência”. 

(Lynn Margulis, "The Phylogenetic Tree Topples," American Scientist, Vol 94 (3) (May-June, 2006).) [2] 

Em uma entrevista no começo deste ano com a revista Discover (não é afiliada com o Discovery Institute) ela explicou por que ela rejeita a adequação da mutação e da seleção natural para explicar a evolução da vida: 

“Este é o ponto discutível que eu tenho com os neodarwinistas: eles ensinam que o que gera novidade é o acúmulo de mutações aleatórias no DNA, em uma direção estabelecida pela seleção natural. Se você quiser ovos maiores, você fica selecionando as galinhas que estão pondo os ovos maiores, e você consegue ovos cada vez maiores. Mas você também consegue galinhas com penas defeituosas e pernas bambas. A seleção natural elimina e talvez mantenha, mas ela não cria... Os [n]eodarwinistas dizem que novas espécies surgem quando as mutações ocorrem e modificam o organismo. Eu fui ensinada muitas vezes que o acúmulo de mutações aleatórias ia dar em mudança evolucionária que resultava em novas espécies. Eu acreditava nisso até que eu procurei pela evidência”. [3] 

Quando lhe perguntavam, "Que tipo de evidência fez você ficar contra o neodarwinismo?" ela respondia que é a falta de evidência para a mudança gradual no registro fóssil: 

“O que você quer ver é um bom caso de mudança gradual de uma espécie em outra no campo, no laboratório, ou no registro fóssil – e preferivelmente em todos os três. O grande mistério de Darwin foi por que não existia nenhum registro antes de um ponto específico [datado em 542 milhões de anos atrás por pesquisadores modernos], e depois subitamente no registro fóssil você tem quase todos os principais tipos de animais. Os paleontólogos Niles Eldredge e Stephen Jay Gould estudaram lagos na África Oriental e nas ilhas do Caribe procurando a mudança gradual de Darwin de uma espécie de trilobita ou de caramujo em outra espécie. O que eles encontraram foi bastante variação de um lado para o outro, e depois – puf – nova espécie funcional. Não existe gradualismo no registro fóssil”. [3] 

Margulis não foi nenhuma proponente do design inteligente, e até onde eu sei, ela era materialista. Mas ela foi uma materialista crítica do ponto de vista neodarwinista ortodoxo, e ela foi muito criticada por isso. Bem, pelo menos por isso a Dra. Margulis deve ser admirada como uma cientista que foi bastante corajosa de dizer o que alguns outros cientistas têm desejado dizer. 

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1. “We agree that very few potential offspring ever survive to reproduce and that populations do change through time, and that therefore natural selection is of critical importance to the evolutionary process. But this Darwinian claim to explain all of evolution is a popular half-truth whose lack of explicative power is compensated for only by the religious ferocity of its rhetoric. Although random mutations influenced the course of evolution, their influence was mainly by loss, alteration, and refinement. One mutation confers resistance to malaria but also makes happy blood cells into the deficient oxygen carriers of sickle cell anemics. Another converts a gorgeous newborn into a cystic fibrosis patient or a victim of early onset diabetes. One mutation causes a flighty red-eyed fruit fly to fail to take wing. Never, however, did that one mutation make a wing, a fruit, a woody stem, or a claw appear. Mutations, in summary, tend to induce sickness, death, or deficiencies. No evidence in the vast literature of heredity changes shows unambigious evidence that random mutation itself, even with geographical isolation of populations, leads to speciation. Then how do new species come into being? How do cauliflowers descend from tiny, wild Mediterranean cabbagelike plants, or pigs from wild boars?" 

(Lynn Margulis & Dorion Sagan, Acquiring Genomes: A Theory of the Origins of the Species, p. 29 (Basic Books, 2003).) 

2. “But many biologists claim they know for sure that random mutation(purposeless chance) is the source of inherited variation that generates new species of life and that life evolved in a single-common-trunk, dichotomously branching-phylogenetic-tree pattern! "No!" I say. Then how did one species evolve into another? This profound research question is assiduously undermined by the hegemony who flaunt their "correct" solution. Especially dogmatic are those molecular modelers of the "tree of life" who, ignorant of alternative topologies (such as webs), don't study ancestors. Victims of a Whiteheadian "fallacy of misplaced concreteness," they correlate computer code with names given by "authorities" to organisms they never see! Our zealous research, ever faithful to the god who dwells in the details, openly challenges such dogmatic certainty. This is science”. 

(Lynn Margulis, "The Phylogenetic Tree Topples," American Scientist, Vol 94 (3) (May-June, 2006).) 

3. “This is the issue I have with neo-Darwinists: They teach that what is generating novelty is the accumulation of random mutations in DNA, in a direction set by natural selection. If you want bigger eggs, you keep selecting the hens that are laying the biggest eggs, and you get bigger and bigger eggs. But you also get hens with defective feathers and wobbly legs. Natural selection eliminates and maybe maintains, but it doesn't create.... [N]eo-Darwinists say that new species emerge when mutations occur and modify the organism. I was taught over and over again that the accumulation of random mutations led to evolutionary change-led to new species. I believed it until I looked for evidence”. 

4. “What you'd like to see is a good case for gradual change from one species to another in the field, in the laboratory, or in the fossil record -- and preferably in all three. Darwin's big mystery was why there was no record at all before a specific point [dated to 542 million years ago by modern researchers], and then all of the sudden in the fossil record you get nearly all the major types of animals. The paleontologists Niles Eldredge and Stephen Jay Gould studied lakes in East Africa and on Caribbean islands looking for Darwin's gradual change from one species of trilobite or snail to another. What they found was lots of back-and-forth variation in the population and then -- whoop -- a whole new species. There is no gradualism in the fossil record”. Discover magazine.

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NOTA DESTE BLOGGER:

A posição crítica fundamental de Lynn Margulis foi completamente evitada pela nota da Folha de São Paulo publicada aqui. Chamam isso de jornalismo científico objetivo. Nada mais falso! Isso é desonestidade jornalística, pois a editoria de ciência da FSP sabe que Margulis era crítica ferrenha da robustez epistêmica da Síntese Evolutiva Moderna.