Natureza e evolução estelar

sexta-feira, abril 08, 2011

8/4/2011

Agência FAPESP – A sonda Kepler, lançada em março de 2009 pela Nasa, a agência espacial norte-americana, tem se mostrado um dos mais valiosos instrumentos para os astrônomos.

Em fevereiro, artigo de capa da Nature destacou a descoberta de um sistema formado por uma estrela parecida com o Sol, com seis planetas em trânsito (que passam pela linha de visão entre a Terra e a estrela). Agora é a vez de outra revista, a Science, trazer outras novidades da sonda, em dois artigos.

Novos dados enviados pela Kepler estão fornecendo aos cientistas a oportunidade de conhecer novas estrelas distantes e sua estrutura interna de modo inédido.

Com dados da sonda Kepler, cientistas identificam sistema estelar triplo e 500 estrelas que oscilam de forma semelhante à do Sol. Estudos são destaques naScience (divulgação)

William Chaplin, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, e colegas mediram 500 estrelas no campo de visão da sonda que oscilam – promovendo variações de seu brilho – de forma semelhante ao Sol. Até então, os cientistas conheciam apenas 25 estrelas com oscilações do tipo.

O estudo das oscilações permite conhecer informações básicas sobre as estrelas, como massa, raio ou idade, bem como obter pistas sobre suas estruturas internas. Com essas medidas, o grupo de Chaplin pode testar algumas teorias da evolução estelar.

Os pesquisadores descobriram que os raios das estrelas analisadas se encaixaram com as expectativas teóricas, mas que, surpreendentemente, a distribuição das massas entre essas estrelas era muito diferente do que se estimava.

Diante dessa inconsistência, o grupo concluiu que os modelos atuais de formação estelar, particularmente na questão da relação entre massa e raio, precisam ser revistos.

No outro artigo, Aliz Derekas, da Universidade Eötvös, na Hungria, e colegas usaram dados obtidos pela Kepler para descobrir um sistema de três estrelas.

Denominado HD 181068, o sistema conta com uma estrela do tipo gigante vermelha e duas anãs vermelhas. Os pesquisadores verificaram que o sistema também tem tipos diferentes de eclipses. Segundo eles, essas variações fornecem informações sobre a geometria do sistema triplo que poderão ser usadas para testar futuros modelos de evolução estelar.

A Kepler está em órbita do Sol e carrega um fotômetro para medir alterações no brilho de estrelas. O equipamento inclui um telescópio com um pouco menos de 1 metro de diâmetro conectado a uma câmera digital com 95 megapixels.

O fotômetro da sonda está continuamente apontado para a região Cygnus-Lyra, na Via Láctea. Os cientistas estimam que, nos três anos e meio estimados para a duração da missão, a Kepler possa observar continuamente mais de 170 mil estrelas.

Por meio de pequenas variações no brilho das estrelas, a sonda é capaz de identificar planetas que possam ser parecidos com a Terra. A quantidade de dados enviada pela Kepler é tamanha que Chaplin e colegas afirmam em seu artigo que a sonda deu início a uma “era de ouro para a física estelar”.

Os artigos Ensemble Asteroseismology of Solar-Type Stars with the Nasa Kepler Mission(doi:10.1126/science.1201827), de William J. Chaplin, e HD 181068: A Red Giant in a Triply Eclipsing Compact Hierarchical Triple System (doi:10.1126/science.1201762), de Aliz Derekas e outros, podem ser lidos por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

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