Críticas à Abordagem da Evolução em Livros Didáticos de Biologia
3. Os embriões de vertebrados e os desenhos de Haeckel
AMABIS & MARTHO Cap. 27 Teorias da evolução, p. 548-68, especialmente a p. 550 (1997).
Darwin estava ciente dos problemas com o registro fóssil, incluindo a explosão cambriana, desse modo ele se voltou para a embriologia para fornecer a melhor evidência para a sua teoria de que todos os animais são descendentes de um animal comum. Darwin acreditava que a semelhança de embriões de vertebrados nos seus estágios iniciais revela a sua ancestralidade comum, e ele considerou aquelas semelhanças embriológicas “até aqui a mais forte classe de fatos a favor” de sua teoria (“Origem das espécies”, cap. 13; Francis Darwin, ed., “The Life and Letters of Charles Darwin”, Vol. 2, p. 311).
Logo após a publicação do “Origem das Espécies”, o biólogo alemão Ernst Haeckel elaborou alguns desenhos para ilustrar o ponto de Darwin mostrando que os embriões de vertebrados são quase que idênticos nos seus primeiros estágios. Contudo, alguns dos colegas de Haeckel o acusaram de fraude por fazer os embriões parecerem muito mais similares do que realmente são.
Na verdade, os desenhos de Haeckel descrevem enganosamente a evidência em três respeitos: eles selecionam da ampla variedade de embriões de vertebrados somente aqueles que se aproximam mais de se encaixar na teoria de Darwin, eles distorcem aqueles embriões selecionados para fazê-los parecer mais semelhantes do que são realmente e eles omitem completamente os estágios iniciais dos embriões - nos quais as dessemelhanças são evidentes. (A dessemelhança no estágio inicial não apóia a teoria de Darwin, mas deve ser invalidada pela teoria...).
Estas distorções dos fatos encorajaram a Haeckel e Darwin na sua crença de os vertebrados recapitulam a sua história evolutiva (“filogenia”) durante o seu desenvolvimento embrionário (“ontogenia”) - uma crença que Haeckel imortalizou com a frase “a ontogenia recapitula a filogenia”. Hoje os cientistas sabem que esta doutrina é falsa. A fraude de Haeckel, originalmente revelada no tempo de Darwin é periodicamente redescoberta. Em 1997, um grupo de embriologistas comparou os desenhos de Haeckel com fotografias de verdadeiros embriões de vertebrados. Numa entrevista com a publicação especializada Science, o líder do grupo declarou: “Parece que isso está se revelando ser uma das mais famosas fraudes em biologia”.
Em 2000, o eminente biólogo evolucionista de Harvard, Stephen Jay Gould, escreveu que os desenhos de Haeckel dos embriões de vertebrados “exageraram as semelhanças pelas idealizações e omissões. Ele também, em alguns casos - num procedimento que somente pode ser chamado de fraudulento - simplesmente copiou a mesma figura muitas e muitas vezes”.
Apesar disso, os desenhos de Haeckel ou as suas versões redesenhadas têm aparecido nos livros didáticos de Biologia como evidência a favor da evolução por mais de um século. Não há desculpa para isso. “Nós temos, eu penso, o direito”, Gould escreveu em 2000, “de ficarmos assombrados e envergonhados pelo século de reciclagem tola que tem resultado na persistência destes desenhos em um grande número, se não a maioria, dos livros didáticos modernos”.
Alguns autores de livros didáticos têm respondido às críticas substituindo os desenhos de Haeckel por fotografias de verdadeiros embriões de vertebrados. Todavia, mesmo assim, os embriões selecionados geralmente estão nos estágios intermediários dos embriões de galinha e de mamíferos que resultam ser semelhantes entre si. As fotografias de estágios mais no início, ou de outras classes de vertebrados - que não exibem uma semelhança óbvia entre si - são omitidas.
AMABIS & MARTHO (2002) não estão mais reciclando os desenhos fraudulentos de Haeckel, mas ainda estão mostrando aos estudantes somente aquela parte da evidência que resulta encaixar na teoria de Darwin, e omitindo as evidências que a teoria tem dificuldades em explicar. Ao não informarem os alunos que omitiram este ícone da evolução na sua edição revista e atualizada de 2002, AMABIS & MARTHO não podem capacitar os estudantes a terem uma mente crítica e independente sem acesso a essas dificuldades e inconsistências da teoria sintética da evolução [neodarwinismo] e de como “compreender as ciências como construções humanas, entendendo que elas se desenvolvem por acumulação, continuidade ou ruptura de paradigmas...” e que “a ciência não tem respostas definitivas para tudo, sendo uma de suas características a possibilidade de ser questionada e de se transformar”.
4. As mariposas de Manchester (Biston betularia) - Melanismo industrial
AMABIS & MARTHO (1997), Cap. 27 Teorias da evolução, p.548-68, especialmente a p. 558.
Para a segunda parte de sua teoria, “modificação”, Darwin apoiou-se principalmente na seleção natural como o mecanismo da evolução. O próprio Darwin não tinha evidência direta da seleção natural, então ele se apoiou nos exemplos de cruzamento doméstico e “um ou dois exemplos imaginários” da natureza (“Origem das Espécies”, capítulo 4, p. 95). Foi somente um século após a publicação de “Origem das Espécies” que o médico britânico Bernard Kettlewell afirmou ter encontrado a “evidência perdida de Darwin” nas mariposas de Manchester (Biston betularia).
Antes do início dos anos 1800s, quase todas as mariposas eram claras. Contudo, durante a Revolução Industrial as populações de mariposas mudaram para uma coloração mais escura. De acordo com a teoria da evolução, a mudança ocorreu porque as mariposas escuras ficavam melhor camufladas nos troncos das árvores escurecidos pela poluição, e assim mais prováveis de sobreviver a aves predadoras. No começo dos anos 1950s, Kettlewell realizou vários experimentos nos quais ele liberou as mariposas cativas claras e escuras nos troncos de árvores claros e escuros, e observou à medida que as aves comiam as mais visíveis, e no dia seguinte calculou as porcentagens das mariposas sobreviventes. Os seus dados pareciam apoiar a teoria de Darwin. As mariposas de Manchester tornaram-se a história clássica da seleção natural em ação, geralmente ilustrada com fotografias de mariposas claras e escuras em troncos de árvores claros e escuros.
Nos anos 1960s a legislação do meio-ambiente na Grã-Bretanha reduziu a poluição, e as mariposas claras retornaram. Contudo, retorno delas em muitas localidades precedeu às mudanças significantes na cor dos troncos das árvores, levantando questões sobre a história clássica. Pelos idos dos anos 1980s, ficou claro que as mariposas (Biston betularia) normalmente não repousam em troncos de árvores. Em diversas décadas de pesquisa de campo, envolvendo dezenas de milhares de mariposas, somente 47 foram encontradas repousando ao ar livre e apenas 6 daquelas foram encontradas em posições expostas nos troncos das árvores. As fotografias dos livros didáticos, descobriu-se, foram ‘montadas’ - em muitos casos espetando-se ou colando-se as mariposas mortas aos troncos das árvores.
Nos anos 1950s, quando os especialistas ainda acreditavam que as mariposas do gênero Biston betularia repousavam naturalmente nos troncos das árvores, os experimentos de Kettlewell pareciam válidos e não havia nada de errado com a ‘montagem’ das fotografias. Mas quando se tornou evidente que a história clássica era falsa, os livros didáticos deveriam ter começado a alertar os alunos para o fato. As fotografias ‘montadas’ deveriam ter sido retiradas ou pelo menos serem apropriadamente rotuladas. Exige-se legalmente dos empreendimentos comercias que rotulem honestamente seus produtos e propagandas, os livros de ciência não deveriam fazer menos do que isso.
A verdade sobre a história das mariposas Biston betularia é conhecida há muitos anos (vide a bibliografia abaixo). Artigos em publicações científicas especializadas e jornais populares têm noticiado a respeito desde 1998, e a história foi até o assunto de um livro popular em 2002. Em outubro de 2002, o jornal The New York Times incluiu as fotografias ‘montadas’ de mariposas Biston betularia numa galeria de exemplos famosos de “fraude científica”.
Simplesmente não cabia mais desculpa para AMABIS & MARTHO continuarem a dar informações erradas para os estudantes sobre a história das mariposas de Manchester, muito menos acompanhando a história com ilustrações falsas e enganadoras (1997, p. 558). AMABIS & MARTHO (2002) não reproduziram mais esta ‘fraude científica’ a favor do ‘fato’ da seleção natural em ação, mas não informam aos alunos a razão por que da omissão desse ícone da evolução. Isso não capacita os alunos a compreender a existência das ‘zonas de incertezas’ existentes na biologia evolutiva, nem o que isso significa para a suficiência epistêmica da teoria da evolução e tampouco como “as ciências como construções humanas... se desenvolvem por acumulação, continuidade ou ruptura de paradigmas...”
Conclusão
Como bem disse Stephen Hawking, “... uma boa teoria descreverá uma vasta série de fenômenos com base em uns poucos postulados simples e fará previsões claras que podem ser testadas. Se as previsões concordam com as observações, a teoria sobrevive àquele teste, embora nunca se possa provar que esteja correta. Por outro lado, se as observações discordam das previsões, é preciso descartar ou modificar a teoria. (Pelo menos, é isso que deveria acontecer. Na prática, as pessoas muitas vezes questionam a exatidão das observações, a confiabilidade e o caráter moral de seus realizadores), p. 31, in ”O universo numa casca de noz” [São Paulo: Mandarim, 2001].
Em ciência, é a confiança racional das evidências encontradas na natureza que deve nortear a aceitação ou não de um paradigma e não as preferências ideológicas. Contrariando a Dobzhansky, em biologia nada faz sentido a não ser à luz das evidências. A questão da origem e evolução da vida ainda não foi cientificamente estabelecida, as evidências continuam dizendo um sonoro não a Darwin et al.
As fraudes e as distorções sobre as teorias da origem e evolução da vida são veladas e diariamente omitidas do público leitor não-especializado nas revistas, jornais e televisão, e especialmente dos alunos do ensino médio e superior pelos conteúdos seletivos e distorcidos dos livros didáticos. Por muito menos do que isso um juiz mandaria fraudadores no serviço público e privado para a cadeia, mas quando o assunto é Darwin, o MEC, a Academia e a mídia se calam e tentam intimidar e execrar seus críticos.
O MEC não dispõe de um grupo de analistas para avaliar criticamente os livros didáticos de Ciências do ensino médio. Todavia, algum conteúdo de biologia evolutiva já foi analisado separadamente por BIZZO (1994). O MEC foi alertado por este Autor em 2003 através da análise-relatório “As Teorias da Origem e Evolução da Vida no Ensino Médio do Brasil - Uma análise científica crítica e sugestão de implementações”, e novamente em 2005, sobre o uso distorcido das evidências e a manutenção de duas fraudes amplamente conhecidas pelos biólogos para apoiar o ‘fato’ da evolução nos livros-texto. Até agora nada de substancial foi feito publicamente em relação à improbidade científica da abordagem da evolução nos livros didáticos de Biologia do ensino médio.
Os principais senões de AMABIS & MARTHO (1998 e 2002) são:
• Falha em apresentar exata e imparcialmente os sérios problemas científicos trazidos pelas evidências contra a teoria da evolução darwinista.
• A omissão das discordâncias entre os biólogos evolucionistas sobre as afirmações teóricas e dos pontos de vistas de cientistas que duvidam do darwinismo nas suas bases teóricas fundamentais devido aos últimos avanços em bioquímica, paleontologia, embriologia, genética, teoria da informação e outras áreas científicas.
Esta análise preliminar conclui que, nas duas edições de Fundamentos da Biologia Moderna, AMABIS & MARTHO falharam repetidamente nas exigências preconizadas pelos PCNs na falta de exatidão e análise crítica. A evidência científica da teoria darwinista foi abordada sem crítica e sem identificação de suas fraquezas. Nesse processo, os Autores não levaram em conta a evidência científica publicada e ensinam alguns erros factuais sérios.
Apesar de o livro-texto “Fundamentos da Biologia Moderna”, ter melhor traduzido o espírito dos atuais PCNs, ao manter algumas daquelas evidências distorcidas a favor do fato da teoria da evolução geral e de não abordar as “inúmeras zonas de incerteza... que surgiram nas ciências da evolução biológica” (MORIN, 2000:16), propedeuticamente não atingiu o preconizado pela LDB 9.394/96, pelos atuais PCNs (1999) e nem à proposição da educação para o futuro feita por Morin à UNESCO. AMABIS & MARTHO e os demais autores de livros didáticos de Biologia sabem que “a ciência não tem respostas definitivas para tudo, sendo uma de suas características a possibilidade de ser questionada e de se transformar”, mas não aplicam esse juízo epistêmico em relação a Darwin. Para a Academia, quando o assunto é Darwin, Darwin locuta, causa finita! Darwin disse, assunto encerrado!
AMABIS & MARTHO dizem que certas características encontradas nos objetos bióticos dão uma “falsa impressão de que foram intencionalmente projetadas com um fim específico” (2002:457). Processo cego, aleatório, inconsciente e inconseqüente ao longo de bilhões de anos ou design inteligente? Parafraseando o espírito científico liberal de Darwin: Uma conclusão satisfatória só poderá ser alcançada através do exame e confronto dos fatos e argumentos em prol deste ou daquele ponto de vista, e tal coisa seria impossível de se fazer nesta análise preliminar.