Críticas à Abordagem da Evolução em Livros Didáticos de Biologia
1. A origem da vida - Teoria da evolução química (Teoria de Oparin-Haldane e o experimento de Miller-Urey)
AMABIS & MARTHO (1997), Cap. 1 Breve História das Origens, p. 2-15, (2002), Cap. 2 A origem da biosfera, p. 2-15 (2004).
A teoria da evolução de Darwin aplica-se somente às coisas vivas. Darwin nunca propôs uma teoria sobre a origem da vida, mas especulou como que a vida poderia ter começado num “pequeno lago quente” (Francis Darwin, ed., "The Life and Letters of Charles Darwin", Vol. 2, p. 202). A teoria da evolução química geralmente apresentada nos livros didáticos é a de Oparin-Haldane dos anos 1930s do século 20.
AMABIS & MARTHO 1997 e 2002 mencionam os aspectos teóricos da evolução química, mas não mencionam seus autores: Oparin e Haldane. Foi tão-somente no começo da década de 1950 do século 20 que Stanley Miller, então aluno de pós-graduação na Universidade de Chicago, realizou um experimento no laboratório de seu professor Harold Urey, iniciando assim a moderna pesquisa da origem da vida.
Naquela década, os cientistas acreditavam que a atmosfera da Terra primitiva consistia principalmente de vapor d’água, hidrogênio e gases ricos em hidrogênio tais como metano e amônia. Miller colocou estes gases num aparato de vidro e os submeteu a uma descarga elétrica simulando relâmpagos. Uma semana mais tarde, ele verificou que o aparato continha uma mistura de moléculas orgânicas que incluía alguns aminoácidos - os tijolos construtores de proteínas. Depois que ele relatou os seus resultados em 1953, o experimento de Miller foi incorporado mundialmente nos livros didáticos de Biologia para mostrar que os cientistas estavam começando a entender a origem da vida.
Todavia, nos anos 1960s, os geoquímicos chegaram à conclusão de que a atmosfera da Terra primitiva provavelmente continha um pouco de hidrogênio (que, sendo leve demais, teria subido para o espaço exterior), mas em vez disto consistia de gases vulcânicos tais como dióxido de carbono e nitrogênio. Quando o experimento de Miller-Urey é repetido com dióxido de carbono (CO2), nitrogênio (N2) e vapor de água em vez de hidrogênio, metano, amônia e vapor de água, os aminoácidos não são produzidos. Já por volta da década de 1980, a maioria dos geoquímicos tinha concluído que o experimento de Miller-Urey era imensamente irrelevante para a origem da vida.
Apesar de tudo isso, AMABIS & MARTHO (1997 e 2002) continuam apresentando o experimento completo com desenho e fotografia do aparato original de Miller como evidência de que os tijolos construtores podiam ter se formado espontaneamente na Terra primitiva. Apesar de informarem aos estudantes de que a atmosfera da Terra primitiva era provavelmente bem diferente da mistura de gases usados no experimento, não informam que quando o experimento é repetido com uma mistura real ele simplesmente não funciona. Sem destacar os problemas sérios com o experimento de 1953, AMABIS & MARTHO (1997 e 2002) informam aos alunos que misturas de gases mais reais ainda produzem “diverso tipos de moléculas orgânicas” (2002, p. 8), sem informá-los de que aquelas moléculas incluem elementos químicos tóxicos tais como cianureto e formoldeído, mas não inclui aminoácidos.
A verdade é que os cientistas estão cada vez mais longe de entender como que os tijolos construtores da vida se formaram na Terra primitiva, e mais longe ainda de entender como que as células se formaram de tais tijolos construtores. Ao não informarem aos estudantes de que a origem da vida ainda permanece um mistério impenetrável, AMABIS & MARTHO (1997 e 2002) dão aos alunos a falsa impressão de que os cientistas fizeram grandes avanços em compreendê-la. Para o atual conhecimento científico sobre a origem da vida, vide
http://www.issol.org/archive/newsF99.html/#summaries
Apesar de instarem aos alunos a compreensão de polêmicas sobre a origem dos seres vivos, ao darem uma versão errônea do significado do agora já abandonado experimento de Miller-Urey, e induzirem os estudantes ao erro sobre o atual estado da pesquisa da origem da vida, AMABIS & MARTHO (1997 e 2002), não capacitam os estudantes na “sua autonomia intelectual e do pensamento crítico” (LDB 9394/96).
2. A árvore da vida de Darwin e a “explosão cambriana”
AMABIS & MARTHO, (1997) Cap. 28 As grandes linhas da evolução, p. 569-80; (2002) Cap. 25 História evolutiva da vida, p. 472-87
Darwin chamou a sua teoria de “descendência com modificação”. O termo “descendência” refletia a crença de Darwin de que todos os organismos descendem de um ancestral comum que viveu num passado distante. A única ilustração no livro de Darwin, “Origem das Espécies” [Belo Horizonte: Villa Rica, 1994, p. 123] mostra o padrão da “árvore da vida” que alguém esperaria encontrar no registro fóssil se a teoria de Darwin fosse verdadeira. O ancestral comum apareceria primeiro, na base da árvore; as pequenas diferenças entre os indivíduos finalmente se tornariam espécies diferentes, e as principais diferenças que distinguem os grupos modernos de organismos (chamados de “filo”) apareceriam por último. Os principais filos incluem os anelídeos (minhocas e sanguessugas), moluscos (mexilhões e caracóis), artrópodes (lagostas e insetos), equinodermos (estrela do mar e ouriços-do-mar) e cordatos (peixes e mamíferos).
Contudo, no registro fóssil, a maioria dos principais filos aparece plenamente formada no começo do período geológico conhecido como Cambriano, sem evidência fóssil de que eles se diversificaram a partir de um ancestral comum. Darwin estava ciente desta discrepância, admitindo no “Origem das Espécies” que “determinadas espécies do mesmo grupo teriam aparecido subitamente nas rochas fossilíferas mais antigas que se conhecem”. Ele chamou este problema de “sério” que “por ora, o caso ainda deverá permanecer inexplicável, podendo ser usado como argumento de peso contra as idéias que aqui defendemos” (“Origem das Espécies”, Cap. 9, p. 236-37). Esse argumento considerado de peso por Darwin sequer é mencionado por AMABIS & MARTHO (1997 e 2002).
Darwin temia que o registro fóssil pudesse por sua própria natureza ser tão incompleto que uma solução para o problema não seria nunca encontrada; mas ele tinha esperanças de que a futura coleta de fósseis pudesse, pelo menos, fornecer alguma evidência de que os animais compartilhassem um ancestral comum. Todavia, um século e meio depois o problema é mais sério do que nunca. Os paleontólogos pensaram uma vez que os animais pré-cambrianos pudessem ter sido pequenos demais para serem detectados, mas fósseis unicelulares microscópicos muito mais antigos do que o período cambriano têm sido descobertos desde então. Os paleontólogos também costumavam pensar que os animais pré-cambrianos não podiam ter sido fossilizados porque eles eram de corpos moles, mas agora está claro que a maioria dos animais fossilizados na “explosão cambriana” era de corpos moles.
O surgimento geologicamente súbito dos principais filos de animais tornou-se conhecido como “a explosão cambriana”, ou o “Big Bang da vida”, e muitos paleontólogos o consideram como uma das mais surpreendentes características do registro fóssil. Ele tem sido o assunto de artigos recentes em publicações amplamente lidas tais como a revista Scientific American e em 1995 foi até capa da revista Time.
AMABIS & MARTHO (1997 e 2002) lidaram com o registro fóssil como evidência a favor do ‘fato’ da evolução, mas não mencionaram o desafio que a explosão cambriana representa epistemicamente à teoria de Darwin. Assim, eles não capacitam nossos alunos a analisar, revisar e criticar explicações científicas, inclusive as teorias e hipóteses quanto aos seus graus de possibilidade de serem verificadas cientificamente verdadeiras ou não, usando tão-somente evidências e informações científicas.