Marcelo Gleiser ‘falou e disse’: Vade mecum [Sigam-me]!!!

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Domingo, Janeiro 22, 2012
O artigo Por que duvidam da evolução?, de Marcelo Gleiser, publicado na Folha de São Paulo, em 22/01/12, [acesso integral para assinantes da FSP ou UOL] *, artigo original em inglês Why do so many have trouble believing in evolution, repete, ad nauseam, o antigo mantra darwiniano de polarizar uma questão científica extremamente importante como sendo ciência (racionalidade) versus religião (irracionalidade). 






Algumas vezes o registro fóssil vem com dentes: Mapusaurus roseae sendo exibido na exposição “Dinosauros de Gondwana”, no Museu Nacional da Natureza e Ciência, Tóquio, 2009. 

Nada mais falso na apologética de Gleiser, e o pior, ele e a Nomenklatura científica sabem disso, mas fingem não saber: a questão hoje em dia é científica – como que as especulações transformistas de Darwin são corroboradas no contexto de justificação teórica? 

Para dar um verniz de respeitabilidade científica ao seu artigo, Gleiser menciona uma pesquisa de opinião Gallup feita nos Estados Unidos, e dramatiza para causar impacto nos leitores, ao mencionar que a pesquisa foi feita “na véspera do aniversário de 200 anos do nascimento de Charles Darwin, no dia 12 de fevereiro de 2009”, onde as pessoas mais religiosas nos EUA disseram se opor mais à teoria da evolução: somente 39% dos americanos “acreditam na teoria da evolução”. 

Pasmem os leitores – na ausência de “dados semelhantes no Brasil”, Gleiser apela, nota bene, apela para a imaginação de “que os números sejam semelhantes ou piores”. Aqui ele deixou de ser o cientista objetivo, racional, que exige evidências para a aceitação de um fato, deu lugar à imaginação subjetiva de que no Brasil a situação deve ser pior. Quase deixei de ler seu artigo. 

Uma variável naquela pesquisa Gallup relacionou o nível educacional dos respondentes: 

21% das pessoas com ensino médio completo ou menos acreditam na evolução, 53% nos graduados e 74% de pós-graduados. 

Outra variável investigada dos que acreditam na evolução foi a frequência à igreja: 

24% vão a igreja semanalmente, 30% ao menos uma vez por mês e 55% nunca vão. 

QEDE [Que era de esperar], quanto mais crente, maior a desconfiança em relação à teoria de Darwin. 

Destaco aqui uma falha na pesquisa Gallup, e que Gleiser sequer pensou a respeito (não lhe convém): eles deixaram de fora a variável sobre os ateus, agnósticos e céticos nos EUA que não acreditam na evolução. Eu conheço vários, e por razões estritamente científicas! Gleiser também conhece, mas finge desconhecer. 

Gleiser afirma que a evidência em favor da evolução é indiscutível. Para isso ele mencionou o registro fóssil e a resistência das bactérias aos antibióticos. A primeira evidência tem alvo direcionado intencionalmente: os criacionistas da Terra jovem (entre 6 a 10.000 anos atrás), pois a datação usando a emissão de partículas de núcleos atômicos radioativos vai revelar que os dinossauros desapareceram há 65 milhões de anos. 

Gleiser sabe, mas finge não saber: o registro fóssil testemunha o tendão de Aquiles de Darwin – a Explosão Cambriana. Nem ele e muito menos a Nomenklatura científica ousam abordar as implicações disso para Darwin, pois a especulação transformacionista de ancestralidade comum colapsa no contexto de justificação teórica. O nome disso, Gleiser, é desonestidade acadêmica, pois você sabe disso, mas nunca abordou em suas colunas! Por que? Porque é preciso ter cojones e enfrentar o discurso único da Nomenklatura científica. Ousar ser cientista, aquele que segue as evidências aonde elas forem dar. Mas isso é para poucos, muito poucos! 

A outra evidência que Gleiser trouxe a favor da evolução foi a “resistência que bactérias podem desenvolver contra antibióticos”. Isso ocorre quando antibióticos são usados, e as mutações gerarem bactérias resistentes. Mas qual evolução está ocorrendo aqui? Macroevolução ou microevolução? Gleiser não especificou aos seus leitores. Será que ele sabe essa diferença? A evolução não é um processo cego? Como a mutação pode antever [teleologia] resistência para as bactérias? Darwin, me desculpe, mas a Lógica Darwiniana 101 é complicada... 

Embora esse tipo de adaptação por pressão seletiva seja investigado no laboratório, sujeitando populações de bactérias a certas drogas e monitorando modificações no seu código genético, o que temos aqui é um exemplo de microevolução – mudanças dentro de uma espécie. 

Assim sendo, a resistência a antibióticos envolve, tipicamente, uma mutação minima que altera levemente a estrutura do alvo do antibiótico de tal modo que ele não é mais eficiente. A evolução que ocorreu aqui, não é a que Gleiser tentou engabelar os leitores – a macroevolução, a que envolve grandes mudanças funcionais, mas meramente uma pequena mudança ou até perda de informação genética. 


O que Gleiser apresentou como sendo uma evidência a favor da evolução, é na verdade uma evidência contra o fato, Fato, FATO da evolução, pois os processos por detrás da resistência a antibióticos não envolve a criação de nova informação significante, e não deve ser extrapolada como fornecendo evidência para a ideia que o leitor leigo tem sobre a evolução, pois não ocorreu mudança macroevolucionária. Pesquisa recente - Therapeutic antimicrobial peptides may compromise natural immunity , de Michelle G. J. L. Habets e Michael A. Brockhurst, publicado no Biology Letters, esclarece muito a questão. PDF gratuito aqui.


Tendo arrazoado com exemplos tão contraditórios e epistemicamemente rasos para o estabelecimento do fato, Fato, FATO da evolução, as perguntas de Gleiser sobre “por que a evolução causa tanto problema para tanta gente” e de que seria “tão ofensivo assim termos tido um ancestral em comum com outros primatas, como os chimpanzés” ficam vazias. Quer origem mais humilde do que a atribuída pela visão judaico-cristã de que somos pó? Mas esta explicação não é considerada científica.

A afirmação de Gleiser de que a nossa descendência é ainda muito mais dramática, se formos recuar mais para o passado, onde todos os animais que existem descenderam de um único ancestral, o Último Ancestral Universal Comum (na sigla Luca, em inglês), provavelmente era um ser unicelular, revela desatualização na literatura especializada. Por favor, alguém aí da Nomenklatura científica avise ao Gleiser que a Árvore da Vida de Darwin já caiu em desgraça diante da comunidade científica. O LUCA é apenas uma projeção mental, aceita a priori, pelos cientistas de que realmente o fato, Fato, FATO da evolução é assim. As montanhas de evidências encontradas na natureza dizem NÃO! 

Não é desconfiança do conhecimento científico que leva muitas pessoas a não acreditar na evolução, e nem está ligado “Deus-dos-Vãos” [sic, Deus das Lacunas], nem tampouco a noção de que quanto mais aprendemos sobre o mundo, menos Deus é necessário – é Darwin das lacunas que tem provocado este ceticismo salutar contra o fato, Fato, FATO da evolução. 

Pode até ser que os “que interpretam a Bíblia literalmente” vejam nisso “uma perda de rumo”, mas são muito mais as descobertas científicas que revelam cada vez mais a complexidade e diversidade das formas biológicas que a teoria da evolução de Darwin não consegue explicar, a responsável pela incredulidades dos crentes. 

Não sei por que Gleiser trouxe Deus, Adão e Eva, a nossa mortalidade após a "queda do Paraíso", e o fato de as pessoas não saberem lidar com a morte, num artigo sobre a rejeição de uma teoria científica: são valores subjetivos, não são posicionamentos científicos, e sim ideológicos. 

Pensei que não fosse concordar com Gleiser na minha catilinária, mas “uma teologia que insiste em contrapor a fé ao conhecimento científico só leva a um maior obscurantismo”. Não consegui entender, todavia, como que Gleiser, um ateu-ainda-no-armário imagine existir “outras formas de encontrar Deus ou outros caminhos em busca de uma espiritualidade maior na vida” se Deus não existe?

Desculpe, Gleiser, mas o moto da Royal Society em Londres é Nullius in verba [Não aceitar a palavra de ninguém], e não Vade mecum [Sigam-me] como você quis. Vai ver por isso os americanos resistem mais à teoria da evolução de Darwin.

Não sei qual seria o número aqui no Brasil, mas, seguindo a Gleiser, imagino que deva ser muito, inclusive entre os professores das universidades públicas e privadas que, amordaçados pela Nomenklatura científica, não podem seguir as evidências aonde elas forem dar. 

Da próxima vez, Gleiser, consulte este blog aqui para não escrever bobagens como evidências a favor do fato, Fato, FATO da evolução. 

Alô Suzana Singer, ombudsman da Folha de São Paulo [Email: ombudsman@uol.com.br No Twitter: @folha_ombudsman] seus leitores merecem coisa melhor em termos de divulgação científica. O artigo de Gleiser é panfletagem ideológica que posa como se fosse ciência. E panfletagem bem rastaquera!!!

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* O texto integral do artigo de Gleiser pode ser lido no blog Pavablog.