OMBUDSMAN
SUZAN STINGER
A síndrome do "ninguém jamais deu isso"
Folha nada noticia sobre o status epistêmico da teoria da evolução de Darwin, porque “a informação não foi publicada pela Grande Mídia há mais de uma década”
"Ninguém jamais deu isso." Quem trabalha na chefia da Redação de ciência da Folha de São Paulo ouve essa frase centenas de vezes. É a resposta clássica dada por quem é cobrado por algum furo (informação publicada na concorrência).
Nas reuniões de pauta, acontece mais ou menos assim:
Chefia: Por que não publicamos uma crítica da teoria da evolução de Darwin no contexto de justificação teórica?
Editor: Ninguém jamais deu isso.
Chefia: Não?
Editor: Esta informação não foi publicada pela Grande Mídia há mais de uma década, apesar desta editoria de Ciência da Folha de São Paulo ter conhecimento.
ou
Chefia: Por que blogs na internet trazem que a teoria da evolução de Darwin não resiste ao rigor do contexto de justificação teórica? E que ele pode cair.
Editor: Ninguém jamais deu isso.
Chefia: Verdade. Não me lembro de alguém ter dado...
Editor: Sai apenas nesses blogs há mais de uma década, e no início do século 21. Mando links desses blogs para você. Adianto este aqui, Desafiando a Nomenklatura Científica, que é o mais ousado contra a Nomenklatura científica e como a Grande Mídia se relaciona com dela.
Os diálogos não são pura ficção. As Redações funcionam, especialmente a de ciência, em alguns momentos, como espaçonaves em órbita, com lógica própria, descoladas da realidade, e em relação incestuosa com a Nomenklatura científica.
O que adianta publicar, depois desses blogs, a crítica de uma teoria científica nos seus estertores epistêmicos, e não dizer nada que uma nova teoria da evolução – a SÍNTESE EVOLUTIVA AMPLIADA, que não será selecionista e deve incorporar alguns aspectos lamarckista, será anunciada pela Nomenklatura científica somente em 2020?
Quem se lembra da trigésima denúncia de dificuldades fundamentais da teoria, a não ser quando Darwin está sob fogo cerrado?
Quem se lembra da trigésima denúncia de dificuldades fundamentais da teoria, a não ser quando Darwin está sob fogo cerrado?
A síndrome do “ninguém jamais deu isso” baixou na Folha há mais de um década. O jornal nunca noticiou uma linha sequer sobre a previsão de que uma iminente e eminente mudança paradigmática em biologia evolucionária está para acontecer. A única reportagem feita, “Visões extremas da evolução” falava mais da robustez do darwinismo e tocou en passant sobre a teoria do Design Inteligente, sem nenhum quadro crítico do que é reportado nas publicações científicas.
A justificativa: “ninguém jamais deu isso”. De fato, nem Folha e nem outro veículo da Grande Mídia publicou artigos desses cientistas que apontavam a possibilidade do surgimento de uma nova teoria geral da evolução. Esses artigos, contudo, são do conhecimento das redações de ciência, porque eles são anunciados nos press releases e facilmente encontrados numa busca no Google – mas somente esses blogs na internet é que dão essa informação.
Na hora do "buzz", não faz sentido se calar e apostar que as pessoas vão lembrar-se de uma notícia dada há mais de uma década atrás. O leitor da Folha não vive em uma bolha alimentado apenas pelas suas páginas. Ele vê TV, navega na rede e, nos casos importantes, espera que o impresso analise e contextualize o fato.
A Redação da Folha não vê erro de avaliação no caso de não ter noticiado sobre a falência epistêmica da teoria da evolução de Darwin através da seleção natural e n mecanismos evolucionários, falência essa demonstrada pelo contexto de justificação teórica. "A notícia é muito velha, pois Stephen Jay Gould já tinha publicado algo em 1980".
A Redação realçou que os artigos críticos desses blogs só ganhou destaque “por causa da profusão de artigos científicos contestando algum aspecto da teoria de Darwin", contudo, elas são as chamadas de “ninharias midiatizadas” na “leseira noticiosa de finais de século”.
Pode até ser, mas a Redação dedicou apenas uma reportagem especial, explicando ao leitor a relevância de a teoria da evolução ser a única teoria que explica a origem e evolução da complexidade e diversidade das formas biológicas. Não fez o que se espera do jornal, que ignorou o assunto sobre a falência epistêmica da teoria da evolução de Darwin, porque, afinal, “ninguém jamais deu isso”.
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Postagem real baseada em artigo A síndrome do 'já demos isso', da ombudsman Suzana Singer, da Folha de São Paulo, 01/01/2012.
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Alguns links ainda serão postados neste artigo.
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Alguns links ainda serão postados neste artigo.
