16/06/2011
Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Os candidatos ao vestibular mais concorrido do país terão uma nova opção de carreira para escolher a partir deste ano. A Universidade de São Paulo (USP) criou o curso de graduação em ciências biomédicas.
Com duração de oito semestres, o curso, que será oferecido já no próximo vestibular da Fuvest e será ministrado a partir de 2012 no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, em São Paulo, em período integral, pretende formar cientistas na área biológica para desenvolver projetos multidisciplinares de pesquisa de fronteira.
Voltado para formar cientistas que desenvolvam projetos multidisciplinares de pesquisa de fronteira, curso será oferecido no próximo vestibular da Fuvest (Wikimedia)
Para isso, o curso pretende possibilitar aos alunos um amplo conhecimento dos aspectos básicos da biologia humana, dos processos patológicos e das abordagens diagnósticas e terapêuticas para aplicação na medicina translacional – a “tradução” da pesquisa biológica em práticas clínicas. E, ao mesmo tempo, incentivá-los a participar, desde o ingresso no curso, em pesquisas científicas.
“O curso será voltado, basicamente, para formar pesquisadores na área biológica voltada à saúde, tendo acesso a conceitos avançados de conhecimento, como genômica, bioinformática, terapias celular e gênica, medicina translacional, sequenciamento de nova geração, desenho racional de drogas, etc. Eventualmente, os graduandos também poderão atuar em empresas de iniciativa privada ligadas à área de biomédicas, como a indústria farmacêutica e a de alimentos ou ainda em laboratórios de análise, desde que façam cursos de especialização após o curso”, disse o professor do ICB e um dos idealizadores do curso, Carlos Frederico Martins Menck, à Agência FAPESP.
De acordo com o professor, isso será possível devido ao formato da grade curricular do novo curso, que possui uma certa flexibilidade, e permitirá ao aluno optar pelo seu próprio caminho de formação.
Nos dois primeiros anos e meio de curso, os estudantes cursarão um conjunto de disciplinas obrigatórias, com enfoque multidisciplinar, integrando áreas como anatomia, fisiologia, biologia celular, genômica e bioinformática, entre outras. Posteriormente, terão que realizar um estágio, no qual desenvolverão um projeto de pesquisa experimental.
Ao fim do curso, o graduando poderá receber, preferencialmente e dependendo do trabalho desempenhado em seu estágio experimental, uma das seguintes habilitações: biofísica; imunologia; microbiologia; parasitologia; fisiologia; biologia molecular; histologia humana; bioquímica e embriologia.
Aumento de vagas
Segundo Menck, desde a Reforma Universitária de 1968 não se aumentava o número de vagas em cursos de graduação em São Paulo para formar cientistas na área biológica sem viés profissional, ou seja, orientados também para áreas de interesse das indústrias.
Alguns exemplos isolados foram cursos de graduação em ciências biológicas criados na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), em Piracicaba, e outros relacionados à área na USP de São Carlos. Porém, o curso na Esalq tem um certo cunho vegetal e os da USP de São Carlos tinham enfoque na parte estrutural.
“Além desses exemplos, foram criados dois cursos muito bons, que são o de Ciências Moleculares (multi-institucional) e o de Ciências Fundamentais para a Saúde, este ministrado pelo ICB, que também formam pesquisadores. Mas as vagas para esses cursos não são oferecidas no vestibular – o ingresso ocorre apenas por transferência de estudantes da própria USP – e eles formam poucos alunos”, explicou.
Com base nessa constatação e na necessidade de formar cientistas na área biológica, com maior foco em saúde, para realizar pesquisa translacional, em 2006 um grupo de trabalho composto por professores do próprio instituto propôs a criação do curso, que foi aprovado em dezembro de 2010 pelo Conselho Universitário da USP, juntamente com o novo bacharelado em saúde pública. Com isso, a USP se soma a outras universidades públicas que oferecem o curso de bacharelado em ciências biomédicas para formar pesquisadores.
O primeiro curso de ciências biomédicas foi instituído em 1966 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – na época, Escola Paulista de Medicina – originado da necessidade de pesquisadores e docentes para as áreas básicas.
Com a criação do curso, algumas universidades particulares viram nele um nicho para formar profissionais para trabalhar com análises clínicas, em hospitais e laboratórios, que não é o objetivo do novo curso de ciências biomédicas da USP, ressalta Menck.
“O novo curso será diferenciado. Mas ele se aproxima e converge com os cursos oferecidos por outras universidades públicas, no sentido de formar pesquisadores”, disse.
Inicialmente, serão oferecidas 40 vagas para o curso no próximo vestibular da Fuvest, e a expectativa é que a concorrência seja de, aproximadamente, 20 candidatos por vaga.
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