20/1/2011
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – A cerimônia de abertura do Ano Internacional da Química 2011 (AIQ-2011) será realizada nos dias 27 e 28 de janeiro, na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Paris. Mas a “ala feminina” da comunidade internacional de químicos já iniciou suas atividades.
Pesquisadoras da área de química de pelo menos 37 países se reuniram na terça-feira (18/1) em diferentes partes do planeta – por videoconferência, Skype e Twitter – para um “café da manhã mundial” em homenagem à cientista polonesa Marie Curie (1867-1934), que há 100 anos conquistava o Prêmio Nobel da Química. A pesquisadora radicada na França foi a primeira pessoa a ser laureada duas vezes – ela já havia recebido o Prêmio Nobel da Física em 1903.
Pré-lançamento do Ano Internacional da Química 2011 reúne virtualmente pesquisadoras de 37 países para celebrar os 100 anos do Nobel de Marie Curie e refletir sobre papel da mulher na ciência
No Brasil, o evento intitulado Women Sharing a Chemical Moment in Time (“Mulheres compartilhando um momento químico no tempo”) foi organizado pela professora Vanderlan da Silva Bolzani, professora do Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara (SP), onde cientistas brasileiras se reuniram.
Segundo Vanderlan, que é membro do comitê nacional de atividades do AIQ-2011 da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e será uma das representantes do Brasil na cerimônia oficial de lançamento em Paris, o café da manhã mundial foi idealizado por Mary Garson, professora da Faculdade de Química e Biociências Moleculares da Universidade de Queensland, em Brisbane (Austrália). O evento foi um pré-lançamento do AIQ-2011.
“O evento foi uma homenagem a todas as mulheres na ciência a partir dos feitos de Marie Curie – a primeira mulher a conquistar espaço no universo acadêmico e única a ganhar dois Nobel. O objetivo foi criar uma oportunidade para refletir sobre o cenário atual para as mulheres cientistas e pesquisadoras da química”, disse Vanderlan à Agência FAPESP.
A pesquisadora, que é membro da coordenação do programa Biota-FAPESP e ex-presidente da SBQ, enfatizou a importância da participação do Brasil no café da manhã – ou almoço, dependendo do fuso horário – que reuniu virtualmente químicas de todo o mundo.
“Essa celebração vem em um grande momento para as cientistas brasileiras. É fantástico o número de mulheres químicas brasileiras que têm contribuído para a divulgação da química e para o avanço científico e tecnológico empreendido em suas várias áreas. O evento estimulou a reflexão sobre o papel das mulheres na ciência e no avanço econômico e social que o país demanda para enfrentar o desafio da sustentabilidade e os inúmeros problemas de um mundo complexo”, disse.
Com o tema “Química: nossa vida, nosso futuro”, o AIQ-2011 tem os objetivos de aumentar o conhecimento do público sobre a química, despertar o interesse entre os jovens e realçar as contribuições das mulheres para a ciência. Também será lembrado o centenário de fundação da Associação Internacional das Sociedades de Química, iniciativa que possibilitou a colaboração científica internacional.
“A ideia é incentivar uma mudança na percepção que o público tem da química. Trata-se de uma ciência que tem muito a contribuir com a sustentabilidade do planeta e com o bem-estar das pessoas, possibilitando o desenvolvimento de novos medicamentos, alimentos, fontes de energia, produção industrial com impactos ambientais mais baixos e assim por diante”, afirmou Vanderlan.
Um novo olhar sobre a química
O AIQ-2011 é promovido pela Unesco e pela União Internacional da Química Pura e Aplicada (Iupac, na sigla em inglês). De acordo com a presidente da Iupac, Nicole Moreau, as atividades do AIQ-2011 terão o foco em mostrar para os cidadãos como a química está presente de fato em suas vidas, melhorando sua qualidade.
No site oficial do AIQ-2011, Nicole recomenda que, para divulgar a química, os cientistas da área devem começar refletindo sobre o que a química significa pessoalmente para eles mesmos. E sugere que eles se preparem para lidar com falsas impressões difundidas no público sobre essa ciência.
“Há dois tipos principais de percepção equivocada sobre a química. Uma delas ocorre porque a química é vista como uma ciência central, em conexão com todos os outros campos científicos. Essa é uma característica maravilhosa, mas há o perigo de que com isso a química se torne difusa e perca sua identidade”, disse.
O outro tipo de percepção equivocada, segundo Nicole, é especialmente difundido entre o grande público. “Em muitos países, particularmente nas nações ocidentais, uma grande porcentagem da população associa a química com questões como degradação ambiental e câncer”, disse. Segundo ela, é preciso mostrar que a química será essencial para resolver problemas que incluem a “energia, o desenvolvimento sustentável, a saúde, os materiais e a produção de alimentos”.
A programação do AIQ-2011 já conta com mais de 100 eventos ao redor do mundo e tem mais de 400 atividades cadastradas em 74 países, sendo 14 delas no Brasil.
No dia 5 de abril, na sede da FAPESP terá início o “Ciclo de Conferências Ano Internacional da Química – 2011 – Química: nossa vida, nosso futuro”, que reunirá mensalmente, até dezembro, alguns dos mais proeminentes especialistas brasileiros para debater diversas temáticas relacionadas à química. O ciclo será promovido pela SBQ e pela revista Pesquisa FAPESP.
O ciclo incluirá temas como “Fontes alternativas de energia e mudanças climáticas”, “Novos materiais”, “Química medicinal”, “Biodiversidade”, “A química doce, amarga e perfumada”, “Doenças negligenciadas e os desafios no desenvolvimento de novos medicamentos”, “A química no contexto da educação, ciência, tecnologia e inovação”, “Tabela periódica – uma das maiores criações humanas e a obra de Marie Curie” e “A química inteligente a serviço da medicina”.
A programação incluirá nomes como Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gláucia Mendes Souza, da Universidade de São Paulo (USP), Fernando Galembeck, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Eliezer Barreiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Silvia Rogatto (Unesp), Carlos Joly (Unicamp), Claudia Rezende (UFRJ), Glaucius Oliva (USP) e Carlos Henrique de Brito Cruz (diretor científico da FAPESP).
USP e Unicamp
A USP divulgou que celebrará o AIQ-2011 em todos os seus campi. O Instituto de Química organizará uma exposição na Estação Ciência com o tema “Do que as coisas são feitas”. O tema será ilustrado com um carro cortado ao meio, que servirá para mostrar todas as matérias-primas que o compõem. Outra parte da exposição utilizará um “pentágono de sentidos” para mostrar quais são as reações químicas envolvidas no processo de percepção, dentro do corpo humano.
O Instituto de Química de São Carlos planeja promover uma série de palestras mensais, ao longo do segundo semestre de 2011, com especialistas renomados da área de química. A unidade da USP também realizará, mais uma vez, a anual Semana da Química.
A Unicamp já antecipou nesta quarta-feira (19/1) a abertura de sua programação para o AIQ-2011, em cerimônia que contou com a participação da cientista israelense Ada Yonath, vencedora do Nobel de Química em 2009. A cientista, que é a quarta mulher laureada em toda a história, apresentou a palestra “O incrível ribossomo”. Ela participará, nos próximos dias, de atividades no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas.
O Instituto de Química (IQ) da Unicamp também promoverá, entre outras atividades, a terceira edição do Programa Química em Ação, voltado a alunos da rede pública de ensino e que agora será estendido aos professores.
O programa inclui palestras e demonstrações experimentais nos laboratórios, além da visita de docentes do IQ às escolas para a apresentação de palestras. O Simpósio de Profissionais do Ensino de Química (Simpeq) e a criação do Boulevard e do Mural da Química são outras ações da Unicamp.
Mais informações: www.chemistry2011.org