Eu não ia abordar neste blog (estritamente voltado para questões científicas) a questão de Francis Collins na sua subjetividade religiosa por entender que isso não impede alguém de fazer ciência qua ciência. O mesmo se aplica aos ateus e agnósticos. Tenho bons amigos ateus e agnósticos que são bons cientistas e bons jornalistas. Alguns deles fazem parte do Design Inteligente.
Todavia, eu não podia deixar escapar batido alguns aspectos de incongruências de lógica e da subjetividade religiosa conflitante na entrevista interessante de Francis Collins, famoso cientista americano, Ciência não exclui Deus, na revista VEJA Edição 1992, de 24 de janeiro de 2007, p. 11, 14,15, com a jornalista Gabriela Carelli.
A entrevista de Collins deve ser lida ‘cum granum salis’ e nas entrelinhas.
Realmente a ciência não exclui Deus, mas o naturalismo filosófico que posa como ciência exclui Deus, e os seus mais ardentes evangelistas como Dawkins, Dennett et al utilizam-se do naturalismo metodológico para avançarem uma agenda ideológica do neo-ateísmo com fervor fundamentalista, e com o aparente ‘nihil obstat’ e incentivo velado da Nomenklatura científica, mais a ampla divulgação da Grande Mídia com seus editoriais, editores e formadores de opinião. Uma relação inusitada já denunciada por este blogger no artigo Desnudando Darwin: ciência ou ideologia? ou A relação incestuosa da mídia brasileira com a Nomenklatura científica, publicado no Observatório da Imprensa em 1998.
A chamada da entrevista da revista VEJA revela a Operação ‘Cavalo de Tróia’ já em ação conforme alertada aqui neste blog em 2006:
“O biólogo que desvendou o genoma humano explica por que é possível aceitar as teorias de Darwin e ao mesmo tempo manter a fé religiosa”.
É a tentativa canhestra dos darwinistas de cooptarem os de concepções religiosas a aceitarem as especulações transformistas de Darwin sem nenhum detrimento à fé religiosa esposada. Nada mais falso. Darwin deve estar bufando e se revirando no seu aconchegante túmulo na Abadia de Westminster com os seus atuais discípulos heterodoxos.
Numa carta a Lyell, Darwin afirmou: “If I were convinced that I required such additions to the theory of natural selection, I would reject it as rubbish” [Se eu fosse convencido de que eu precisaria de tais adições à teoria da seleção natural, eu a rejeitaria como tolice]. Fui ateu e darwinista, estudo o darwinismo há muito tempo. Sei muito bem sobre o que estou escrevendo.
A proposição traduzida em miúdos: é possível ser darwinista e teísta. Será? Eu diria que sim, é possível ser darwinista e teísta, mas um teísta não pode ser darwinista pelas razões que o próprio Darwin exarou na sua teoria da seleção natural, e pelo que explanei nos seguintes blogues:
EXTRA! EXTRA! A estratégia "Cavalo de Tróia 2" da Nomenklatura científica
A estratégia 'Cavalo de Tróia' darwinista 2007-2009
A jornalista Gabriela Carelli talvez desconheça um fato importante em História e Teoria da Ciência: um biólogo evolucionista reconhecido pelos seus pares, membro da Royal Society por indicação de Thomas Huxley e recomendação de Charles Darwin, [argh, revelar isso publicamente na taba tupiniquim é como se eu estivesse cometendo um assassinato!!!] ao defender uma posição teísta evolucionista parecida com a de Francis Collins, foi expulso da elite darwinista nos anos 1860s: St. George Jackson Mivart (1827-1900). Depois ele foi excomungado e reabilitado mais tarde pela Igreja Católica.
E Francis Collins? Bem, Collins, apesar de ser um dos cientistas mais notáveis da atualidade, já não é mais visto com bons olhos pelos seus pares da Nomenklatura científica, que somente o suporta em razão de sua participação no Projeto Genoma – o mapeamento, e não o ‘desvendamento’ do genoma humano como inadvertidamente postulou Gabriela Carelli.
Craig Venter, diante da grande e extremamente complexa descoberta científica, e que dividiu as honras com Collins, disse diante do gigantesco desafio científico colocado agora pela complexidade do genoma humano: We know bullshit of biology! [Tirem as crianças da sala, por favor – Nós sabemos m - - - - de biologia].
Quanto a ser ‘o cientista que mais rastreou genes com vistas ao tratamento de doenças em todo o mundo’ cabe aqui divulgar algo que a Grande Mídia tupiniquim talvez nem saiba, muito menos seu leitores não especializados. Na p. 93 do seu livro The Language of God, Collins cita um poema que escreveu para uma criança com fibrose cística:
Ouse sonhar, ouse sonhar, Todos os nossos irmãos e irmãs respirando livremente, Sem temor, nossos corações imperturbados, Até que a história da fibrose cística seja história [1]
Mas como nós podemos relacionar o trabalho da equipe de Collins e as possibilidades de uma criança com fibrose cística pudesse ‘respirar livremente’? A única solução ‘científica’ que o trabalho de Collins e equipe conseguiu foi que tais crianças pudessem ser abortadas.
Explico: a única solução técnica potencialmente disponível é a fertilização in vitro, descartando-se em seguida os embriões humanos portadores do gene da fibrose cistíca! Realmente, dessa maneira a fibrose cística se tornou ‘história’, mas uma história genocida de eugenia! Pena de morte sem formação de culpa!
Não questiono aqui a sinceridade da subjetividade religiosa cristã de Collins porque há teístas e teístas, mas até onde eu sei, os verdadeiros cristãos não aprovam o assassinato de um embrião humano, pois a vida humana para eles começa na concepção (fertilização).
Com questões éticas tão sérias assim, teria sido melhor que Collins não tivesse se apresentado ao mundo como sendo um cristão. Teria sido melhor que o próprio Collins tivesse se declarado um deísta, porque darwinista ortodoxo ele já não é mais.