O dogma central da Nomenklatura científica é que a evolução é o resultado de mutações aleatórias filtradas pela seleção natural: uma certeza ‘ex-cathedra’ e aí de quem ousasse contestá-la – era imediatamente banido para o Gulag epistemológico do esquecimento nas publicações e promoções na sua carreira acadêmica nas universidades e seus centros de pesquisas.
A situação está mudando muito rapidamente, e a KGB da Nomenklatura científica está correndo da sala para a cozinha na tentativa tresloucada de salvar o paradigma moribundo. Os guarda-cancelas [revisores – peer-reviewers é mais chique] já não estão podendo mais manter a ‘ortodoxia’ do paradigma fossilizado, pois o dique das verdades das evidências encontradas nos objetos bióticos rompeu e está cada vez mais aparecendo com freqüência nas grandes publicações científicas. Pro bonum scientia!!!
Você viu isso na Grande Mídia Tupiniquim somente en passant porque a grande maioria dos nossos jornalistas científicos não tem a competência devida nessa área. Quando têm, prevalece o naturalismo filosófico – uma ideologia nefasta que tem impedido o avanço da ciência em muitas áreas. E que escamoteia os pontos principais das pesquisas quando contrariam o paradigma dominante. Varrem para debaixo do tapete ideológico falsamente chamado de ciência.
Quando críticos, cientificamente embasados, propõem uma nova teoria, a Grande Mídia em Pindorama é refratária aos oponentes de Darwin. “Não damos espaço para eles” (os oponentes), não é mesmo Marcelo Leite? (Jornalista da Folha de São Paulo, na V São Paulo Research Conference, Auditório da Fac. de Medicina, USP, 18/05/2006, no encerramento).
Para você não ficar mais no escuro sobre uma importante questão fundamental que eles não abordaram – um código dentro do código – eis aqui um blog interessante do resumo de notícias sobre os elementos repetitivos do DNA http://telicthoughts.com/?p=1087 por Guts.
Está acontecendo bastante alvoroço nas publicações científicas nesses dias (de 2006) contestando que as variações que geram as diferenças genotípicas ocorrem numa maneira mais ou menos aleatória e que a maior parte, se não todo o DNA não-codificador, não tem função biológica. Mais e mais evidência demonstra que os genomas são de fato reservatórios de “plasticidade fenotípica adaptiva”. Isso pode ir muito bem com o conceito de evolução pré-carregada [front-loaded evolution] que prediz, em minha opinião, que os benefícios adaptivos são mais prováveis de ocorrer em freqüências muito maiores do que freqüências randômicas.
Recentes descobertas de que a fonte primária do tamanho de variação do genoma é de fato o DNA repetitivo (Brenner et al. 1993; Kidwell 2002) tem levado a um grande número de pesquisas interessantes sobre os papéis e as funções dos loci repetitivos. Por exemplo, Biémont & Vieira (2006) e Volff (2006) focalizam nos elementos de transposição [transposable elements (TEs)], e Kashi & King (2006) revisam a contribuição dos loci de microsatélites.
Traçando a história evolutiva dos elementos repetitivos através do estudo de seqüências de nucleotídeos mostra que a maioria, se não todo, DNA repetitivo é derivado dos elementos de transposição [TEs]: em Drosophila e Cetáceos (Kidwell 2002), as repetições centroméricas têm sido identificadas como tendo origem nos elementos de transposição [TEs] nas plantas (Henikoff et al. 2002); e os microsatélites têm sido observados como tendo origem nos elementos de transposição [TEs] nos organismos tão diversos como as moscas-de-frutas (Wilder & Hollocher 2001), mosquitos (Tu et al. 2004), cevada (Ramsay et al. 1999) e humanos (Deininger & Batzer 2002).
A evidência de que os elementos de transposição doam seqüências repetitivas com funções biológicas únicas aos seus organismos hospedeiros (revisado por Britten 1997; 2006; Biémont & Vieira 2006; Volff 2006) provoca questões sobre os papéis e as funções de outros loci de DNA repetitivo. Específicas respostas a estímulos ambientais têm sido detectadas nos loci repetitivos além dos elementos de transposição [TEs] em plantas (Ceccarelli et al., 2002), bactéria (Servant, Grandvalet & Mazodier 2000; Kojima & Nakamoto, 2002; Ojaimi et al., 2003) e humanos (Uhlemann et al. 2004), indicando que esses loci retêm a capacidade de geração de variação fenotípica.
Se for para as mutações RE benéficas induzidas ambientalmente terem significância evolutiva, elas também devem ser passadas adiante para gerações subseqüentes. As mudanças mediadas ambientalmente em REs têm sido notadas numa série de táxons, mas os exemplos mais conhecidos focalizam nas situações onde os efeitos fenotípicos são negativos. Pouca atenção parece ter sido dada à possibilidade de que tais situações pudessem também ter efeito positivo. Isso é uma ampla avenida para investigação.
Caporale (2000) indicou que as respostas genômicas herdadas dadas às classes recorrentes do desafio ambiental são de fato um mecanismo importante de evolução adaptiva. A evidência de que os elementos repetitivos do DNA são pelo menos uma fonte de tais mutações é forte:
- As mutações no e/ou a transposição de DNA repetitivo afetam a estrutura e a expressão dos genes codificadores em muitas espécies diversas, e desempenham papéis essenciais nos processos biológicos fundamentais.
- As REs tendem em aglomerar-se em genes, ou regiões genômicas, envolvidas em ou associadas com processos externamente ativados, e mostram uma capacidade única de responder a sinais ambientais.
- As mutações de local específico em e/ou a transposição de loci repetitivos são associados com mudanças adaptivas de fenótipos em populações naturais.
Tais descobertas sugerem que os genomas são compostos de unidades genéticas que são muito maiores e mais complexas do que fora pensado antes. Em vez de ser determinada por simples mutações pontuais nas regiões codificadoras de proteínas, a maioria da variação fenotípica é gerada e mantida por combinações complexas de variação dentro de sistemas muito maiores compostos tanto de elementos codificadores e não codificadores.
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Está relacionado com o que foi abordado no blog de Guts, mas foi postado por Carl Zimmer, renomado jornalista científico evolucionista, sobre essa briga de foice no escuro entre os biólogos evolucionistas. Vale a pena ler. Segue em inglês porque estou sem tempo de traduzir para os meus leitores, pois as minhas muitas leituras voltadas para a minha dissertação sobre as críticas feitas à teoria da seleção natural de Darwin estão demandando todo o meu tempo e atenção.
“The Genome: An Outsider’s View” by Carl Zimmer
The Buddha once told a story about a king who ordered a group of blind men to be presented with an elephant. Each man touched a different part of the animal. The king then asked them what an elephant is like.
The blind men who touched the elephant’s head replied, “An elephant, your majesty, is just like a water jar.” The blind men who touched its ear said, “An elephant, your majesty, is just like a winnowing basket.” The blind men who touched its tusk declared, “An elephant, your majesty, is just like a plowshare.” The ones who touched the trunk replied, “An elephant, your majesty, is just like a plow pole.” The blind men who touched the body replied, “An elephant, your majesty, is just like a storeroom.” The blind men who touched the foot replied, “An elephant, your majesty, is just like a post.” The blind men who touched the hindquarters replied, “An elephant, your majesty, is just like a mortar.” The blind men who touched the tail replied, “An elephant, your majesty, is just like a pestle.” And the blind men who touched the tuft at the end of the tail replied, “An elephant, your majesty, is just like a broom.”
The blind men fell into a fistfight, shouting, “An elephant is like this, an elephant is not like that! An elephant is not like this, an elephant is like that!” [1]
I am a science writer, and my chief passion is biology. I spend time with biologists of all stripes—computational biologists, paleontologists, biochemists, ecologists, and all the rest. It is a marvelous privilege. But there are times, I must confess, when I feel like I am watching a blind fistfight.
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Leia o resto deste artigo interessante do Carl Zimmer (um jornalista científico evolucionista) em PLoS: Computational Biology
http://compbiol.plosjournals.org/perlserv/?request=get-document&doi=10.1371%2Fjournal.pcbi.0020156