Este texto vai sair da linha editorial deste blog para mostrar a trave do olho de alguns membros da intelligentsia humanista-secularista e de formadores de opinião na Grande Mídia Tupiniquim [ateus e agnósticos] quando eles lidam com a questão da 'violência em nome de Deus'. Para mim, é uma espécie de confissão, de 'mea culpa', pois ajudei a destruir corações e mentes no passado.
Eu fui ateu marxista-leninista, mas hoje não tenho mais fé cega no ateísmo. Não consigo entender como que ainda existam 'comunistas' ou intelectuais 'rezando' pela cartilha marxista. Marx já foi para a lata do lixo histórico há muito tempo, mas alguns intelectuais 'idiotas' brasileiros ainda 'tomam a bênção' de Marx. Ai do universitário que não citar favoralmente a Marx nos seus trabalhos. Especialmente na USP...
Bem, historicamente não há como se negar que algumas pessoas religiosas fazem coisas que deixam a todos nós escandalizados. Mas é bom considerar esta palavra 'algumas' – isso já dilui em muito o impacto desses argumentos usados para descrever a todos os de tradições religiosas como sendo pessoas perigosas. Isso nos leva a uma série de perguntas críticas: Quantas pessoas religiosas se envolveram nesses conflitos? Sob quais circunstâncias elas agiram assim? Quão freqüentemente elas agem assim?
Agora, e é aqui que percebo a trave nos olhos da intelligentsia humanista-secularista tupiniquim, e me força fazer uma pergunta que eles não ousam fazer para si mesmos quando destilam seu ódio rabioso contra os crentes de tradições religiosas: Quantas pessoas de pontos de vista anti-religiosos fazem também algumas coisas que nos deixam escandalizados? Esta pergunta é feita a fim de provocá-los a serem um pouco mais inteligentes quando lidarem com os 'outros'. Aliás, isso me lembra muito ao que Sartre disse: "O inferno são os outros".
Quando fazemos esta pergunta para nós mesmos, nós deixamos de fazer acusações simples, mas perigosas contra nossos adversários – nós vamos nos confrontar com alguns aspectos tenebrosos e perturbadores dentro da nossa natureza humana.
Vou citar aqui um trecho de um livro que está 'desconstruindo' o ateísmo de Richard Dawkins e que serve muito bem para alguns de nossos formadores de opinião:
“.... Mas quando o ateísmo cessou de ser um assunto privado e se tornou uma ideologia estatal, as coisas se tornaram bem diferentes. O libertador se tornou opressor. ...Sem ser surpreendente, estes desenvolvimentos tendem a ser removidos da leitura bem seletiva de Dawkins da história. Mas eles precisam ser considerados com imensa seriedade se a história completa é para ser contada. A abertura completa dos arquivos soviéticos nos anos 1990 levaram a revelações que acabaram com qualquer noção de que o ateísmo era uma visão de mundo bem graciosa, gentil, e generosa como acreditaram alguns de seus defensores mais idealistas.
O livro The Black Book of Communism, baseado naqueles arquivos, [Courtois S., “The Black Book of Communism: Crimes, Terror, Repression,” Harvard University Press: Cambridge MA, 1999] criou uma sensação quando foi publicado pela primeira vez na França em 1997...
O comunismo foi uma 'tragédia de dimensões planetárias' com um grande total de vítimas estimado pelos autores colaboradores do livro entre 85 milhões a 100 milhões [de mortos]...
Uma das grandes ironias do século 20 é que muitos dos atos deploráveis de assassinato, intolerância, e repressão foi levado a cabo por aqueles que pensavam que a religião era assassina, intolerante, e repressora – e assim procuraram tenazmente removê-la da face do planeta como um ato humanitário. Mesmo a maioria dos seus leitores acríticos deve ficar se perguntando por que Dawkins curiosamente deixou de mencionar, muito menos se envolver na discussão da trilha tingida de sangue do ateísmo no século 20 – uma das razões, incidentalmente, que eu conclui eventualmente que não poderia mais ser um ateu". (McGRATH, A.E., “Dawkins' God: Genes, Memes, and the Meaning of Life,” Blackwell: Malden MA, 2005, pp.112-114.
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NOTA
[1] McGRATH, A. E., Dawkins' God: Genes, Memes, and the Meaning of Life, Blackwell: Malden MA, 2005, pp.112-114.