Rafael Garcia noticia atrasado a mudança teórica em Biologia Evolutiva amplamente discutida neste blog desde 2006

terça-feira, outubro 14, 2014

Vem aí a nova biologia. Ou não.

POR RAFAEL GARCIA
14/10/14  08:00



NOTÍCIAS SOBRE BIOLOGIA voltadas ao público geral com frequência fazem referência à briga de acadêmicos contra o criacionismo –o movimento defensor de que seres vivos foram criados por Deus, não pelos processos descritos na teoria da evolução. Ofuscado por essa discussão infrutífera de cientistas lançando argumentos racionais contra mentes religiosas impenetráveis, porém, existe um debate sério sobre se a biologia evolutiva está ou não carente de atualização.

Esse movimento defende que a chamada “nova síntese” –a teoria da evolução de Darwin reformulada à luz da genética e, depois, da biologia molecular– precisa ser recauchutada. Liderados por biólogos como Gerd Muller, da Universidade de Viena, e Eva Jablonka, da Universidade de Tel Aviv, esses pesquisadores defendem aquilo que batizaram de EES (Síntese Evolucionária Estendida). É um corpo de conhecimento baseado em fenômenos que correm paralelamente aos descritos pela seleção natural de Darwin. Mas seria esta nova biologia algo com força suficiente para tornar a nova síntese uma teoria ultrapassada?

Para defender uma mudança radical, Jablonka recorre a fenômenos como a epigenética –transmissão de características que não requer mudança do DNA– e à construção de nichos –capacidade de animais de alterarem seu próprio ambiente e, portanto, modificar as pressões que a seleção natural exerceria sobre eles mesmos. Também são alvo de estudo da EES o “viés de desenvolvimento” –a impossibilidade de organismos de adquirirem certas formas enquanto evoluem– e a plasticidade –capacidade de um indivíduo de adquirir diferentes formas reagindo a seu ambiente.

Todos esses fenômenos, que são tratados pela (velha) nova síntese apenas como processos marginais, seriam sinal de que uma teoria de evolução com excesso de foco na biologia molecular se tornou incapaz de dar conta da explicação de processos que ocorrem sem interação com o DNA. Só a incorporação desses outros fenômenos, argumentam, pode salvar a teoria da evolução de se tornar algo ultrapassado.
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LEIA O TEXTO COMPLETO DA FOLHA DE SÃO PAULO AQUI.

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NOTA DESTE BLOGGER:

Sempre afirmei aqui que a Grande Mídia vive uma relação incestuosa com a Nomenklatura científica quando a questão é Darwin. Ler um artigo desses é prova mais do que evidente de que os editores de ciência e jornalistas científicos estão convencidos da robustez da teoria da evolução de Darwin através da seleção natural e n mecanismos evolucionários de A a Z (vai que um falhe...) e que, mesmo sabedores dos estertores epistêmicos dessa teoria, nesses quase dez anos, nada publicaram a respeito, embora este blog e outros têm aqui e ali, desde 2006, que uma iminente e eminente mudança paradigmática em biologia evolutiva estava em curso. 

Rafael Garcia lê este blog há anos. Estava muito bem informado a respeito dessa questão fundamental de que uma séria e profunda revisão na teoria geral da evolução estava e está sendo engendrada pela Academia. Anunciamos que ela não será selecionista e deverá incorporar alguns aspectos teóricos neolamarckistas, mas será somente anunciada em 2020.

Garcia não abordou, mas se a Síntese Evolutiva Ampliada/Estendida não incorporar a informação genética no seu arcabouço teórico, essa nova Síntese será natimorta, pois a Biologia dos séculos 20 e 21 é uma biologia de informação. Além disso, nem mencionou o que significa trabalhar em Biologia Evolucionária sem um referencial teórico, e o que isso representa, pois a ciência abomina o vazio epistêmico. Enquanto a Síntese Evolutiva Ampliada/Estendida não vem, como está sendo feita biologia evolucionária? Abracadabra? Entranhas de galinha? Búzios? Cartas de Tarô?

Ao mencionar Ernst Mayr, Garcia deixou de fora o que o Darwin do Século 20 disse sobre a Biologia Evolucionária, e aqui é a minha leitura feita do seu livro, Biologia, ciência única (esgotado):
Um ponto inicial é a importância das narrativas históricas para a Biologia Evolutiva - uma Ciência Histórica que difere muito das Ciências Exatas, na conceituação e na metodologia, preocupando-se com os fenômenos: origem das novidades evolutivas, extinção de espécies, diversidade orgânica e a explicação das tendências e taxas evolutivas. 

Ora, não sendo uma ciência dura, a Biologia evolutiva não tem como explicar tais fenômenos a partir de Leis e experimentos que são, geralmente, inapropriados ou ineficientes. 

Então, segundo Mayr, a princípio forma-se uma narrativa histórica (cenário) e numa próxima fase testa-se a sua validade através da comparação das evidências.

Stephen Jay Gould chamou isso de "just-so stories" (estórias da carochinha)...