A questão de argumentos em
ciência não é avaliada em termos de dinheiro, mas se apoiada por evidências no
contexto de justificação teórica – onde o sentido científico é demonstrado. Lopes
acerta em dizer que nos últimos tempos, o pessoal da TDI tem “centrado sua
atenção sobre dados da biologia molecular e da genômica”. Traduzindo em
graúdos: eles sabem o que é e fazem ciência!
Logo em seguida, Lopes erra
ao dizer que nós afirmamos ser “uma completa balela” a ideia de que há grande
quantidade de material não funcional no genoma humano. O que a turma da TDI
afirma é: o desconhecimento atual sobre o que uma região do DNA faz ou não,
demanda mais pesquisas e estudos, antes de se afirmar que o nosso
desconhecimento científico defina aquela região definitivamente como DNA lixo.
As pesquisas mais recentes,
como a do ENCODE, mostraram, para comoção dos defensores da hipótese do DNA
lixo – usado como prova do fato, Fato, FATO da evolução – que praticamente todo
o DNA é funcional. Querer distinguir funcionalidade de atividade é questiúncula
linguística que nem deveria prosperar em detrimento das pesquisas científicas
sobre a funcionalidade genômica.
Para contestar as teses
defendidas pela turma do TDI, Lopes conversou com dois “gigantes da genômica
brasileira” - Marcelo Nóbrega, da Universidade de Chicago (EUA), e Maria Cátira Bortolini, da
UFRGS.
Destacou que a comparação
excelente e perturbadora feita por Nóbrega teria lançado por terra a ideia de
que “os genomas são entidades tão arrumadinhas e inteligentemente projetadas”
que alguns defensores do DI dizem.
No seu tiquinho de biologia
molecular básica, Lopes recordou que o DNA contém a “receita” para a produção
de praticamente todas as moléculas do nosso organismo. Essa informação primeiro
é “transcrita” na forma de outra molécula, o RNA. Depois, esse RNA é enviado
para máquinas de produção de proteínas, os chamados ribossomos, os quais
“traduzem” a informação presente no RNA numa versão “final”, a de proteínas.
Várias coisas complicadas podem acontecer nesse caminho – o RNA pode ser
“editado” de várias maneiras, por exemplo. Em geral, jogam-se fora os íntrons,
regiões do RNA (e do DNA) que não correspondem a futuras proteínas, e montam-se
os éxons, as regiões funcionais do material genético.
Notaram a linguagem
teleológica empregada por Lopes na sua aula de biologia molecular? “receita”, “transcrita”,
“enviado”, “traduzem”, “editado”, “jogam-se fora” e “montam-se”. Mas Darwin não
tinha alijado a teleologia da biologia evolucionária em 1859? Tudo sobre
informação, que até hoje Darwin e seus discípulos atuais não conseguiram
explicar sua origem... A TDI é uma teoria de informação complexa especificada.
Nóbrega disse – “ninguém acredita
que 85% do genoma é funcional”. Esta afirmação é improcedente, pois há
cientistas evolucionistas que aceitam esses 85% de funcionalidade do genoma.
Ex.: John S. Mattick e Marcel E. Dinger entre outros. Vide The extent of functionality in the human genome.
Ele nomeou duas razões para isso
ter se espalhado. A mais importante, pasme, foi a irresponsabilidade dos membros
do ENCODE ao divulgarem os resultados: eles disseram que em 85% do genoma
acontece algum processo bioquímico mensurável por técnicas usadas no Projeto
ENCODE.
Não entrarei agora em
detalhes sobre somente 1% do genoma ser traduzido em proteínas, e que graças
aos enormes íntrons entre os éxons de cada gene, a fração do genoma ocupada por
genes é um terço, e que isso vira RNA, e que a grande maioria desse RNA é
jogada fora, e apenas uma fração é utilizada para fazer proteínas, pois isso é
um fato científico.
Se os pesquisadores do Projeto
ENCODE utilizaram isso como referencial para suas pesquisas, é porque eles
estavam atrás de alguma coisa que o atual paradigma genecêntrico reducionista
não permite pesquisar. Contrariando esse paradigma, o pessoal do ENCODE achou 85%
de função no genoma humano.
O Projeto ENCODE envolveu 450
pesquisadores do mundo inteiro. Eles realizaram cerca de 1.650 experimentos que
examinou a expressão dos genes em quase 150 tipos diferentes de células humanas.
Não cola a segunda razão
considerada importante por Nóbrega de que a mídia interpretou errado o que os
membros do ENCODE estavam dizendo e, pasmem, alteraram o contexto do que foi
dito para dizer que 85% do genoma é funcional. Alô Nature, como foi publicado aí
a descoberta do ENCODE em 2012? Com revisão por pares, certo? Quais foram as reações de cientistas
reportadas na Nature?
Nóbrega lançou um desafio:
se alguém quiser defender o design inteligente no genoma cheio de lixo
evolucionário, vai ter que “resolver o paradoxo da cebola”.
1. Se nosso genoma de 3
bilhões de letras reflete a dita complexidade organísmica, como então
justificar o genoma da cebola, com 15 bilhões de letras? Será que é tão mais
complicado colocar uma camada de cebola sobre a outra do que construir um
cérebro humano?
RESPOSTA:
Desde quando a complexidade
de um genoma é medida pelo seu tamanho? A complexidade está no código, na sua
eficiência, na sua aperiodicidade, nas suas estratégias de splicing alternativo
e overlapping genético, no enovelar das histonas, na troca de timina por
uracila, na troca de ribose por desoxirribose, e tantos outros detalhes.
O “paradoxo da cebola” é uma
questão biológica antiga, conhecida como paradoxo/enigma do valor C – falta de
relação entre o conteúdo de DNA em um organismo e seu potencial codificador e complexidade.
Os fatores que são importantes
em limitar o número de genes funcionais contidos em um genoma de quaisquer
organismos são completamente desconhecidos, não são Nóbrega?
Para complicar ainda mais o
meio de campo da turma do DNA lixo, ainda nem está claro o que significa “número
de genes funcionais” Será DNA codificando proteína? DNA codificador de RNA? DNA que serve para outras
funções estruturais?
Na verdade, até o significadode “gene” ficou no ar desde o ENCODE.
Outro fator extremamente complicador,
e Nóbrega sabe disso, é que a maioria da informação biológica em um organismo não está no seu DNA.
Nóbrega perguntou se seria “tão
mais complicado colocar uma camada de cebola sobre a outra do que construir um
cérebro humano?” Eu sei que ele não está propondo a existência de “uma função
universal” aplicada tanto para mamíferos (nós humanos somos mamíferos) e
cebolas.
Baseado em evidências, e
Nóbrega sabe disso, os cientistas propuseram que o DNA intrônico não
codificador de proteína ajudam a regular o splicing alternativo nas células do cérebro,
e que o DNA repetitivo não codificador de proteína exerce um papel fundamental
no desenvolvimento da placenta.
Por que Nóbrega apresenta um aparente dilema científico
sinuca de bico, quando cebolas não têm cérebros e nem placentas??? E Nóbrega é
um dos “gigantes da genômica brasileira” e professor na Universidade de
Chicago...
Por que as células de cebola
têm cinco vezes mais DNA do que as células humanas, é uma pergunta
interessante, mas não coloca nenhuma dificuldade para a crescente evidência
contra o mito do DNA lixo.
Como justificar por que peixes como o baiacu tenham um genoma de 400 milhões de letras, e outros peixes, como os pulmonados, tenham um genoma de 150 bilhões de letras? Ambos são peixes, nadam, soltam bolhinhas. Por que 600 vezes mais complexo? Boa pergunta, mas facilmente respondida: variação do mesmo tema de arquitetura biológica adaptada ao nicho ecológico – baiacu é baiacu, e peixe pulmonado é peixe pulmonado. Cada espécie com o seu genoma variável e complexo, mas adequado ao seu meio ambiente.
Como justificar por que peixes como o baiacu tenham um genoma de 400 milhões de letras, e outros peixes, como os pulmonados, tenham um genoma de 150 bilhões de letras? Ambos são peixes, nadam, soltam bolhinhas. Por que 600 vezes mais complexo? Boa pergunta, mas facilmente respondida: variação do mesmo tema de arquitetura biológica adaptada ao nicho ecológico – baiacu é baiacu, e peixe pulmonado é peixe pulmonado. Cada espécie com o seu genoma variável e complexo, mas adequado ao seu meio ambiente.
Como justificar o genoma da
Polychaos dubium, com 670 bilhões de letras sendo uma [simples] ameba. Apesar
de a ameba ser 200 vezes mais complexa e sofisticada do que criacionistas e evolucionistas,
quem está fazendo a pesquisa sobre a complexidade e sofisticação da ameba somos
nós e não as amebas: uma grande diferença ontológica e de essência. Mas aí,
Nóbrega não se deu conta de que não estava mais fazendo ciência, e sim expondo
seu materialismo filosófico que posa como se fosse ciência. Nada mais falso!
Encerrando essa questão do
paradoxo/enigma do valor C e do ENCODE, eis uma declaração que precisa ser
considerada cum grano salis:
“Se o genoma humano é,
realmente, desprovido de DNA lixo como é sugerido pelo Projeto ENCODE, então,
um processo evolucionário longo e não guiado, não pode explicar o genoma humano.
Se, por outro lado, os organismos são intencionalmente projetados, então todo o
DNA, ou o tanto quanto possível, deve exibir função. Se o ENCODE estiver certo,
então a Evolução está errada.”
“If the human genome is indeed devoid of junk DNA as
implied by the ENCODE project, then a long, undirected evolutionary process
cannot explain the human genome. If, on the other hand, organisms are designed,
then all DNA, or as much as possible, is expected to exhibit function. If
ENCODE is right, then Evolution is wrong.”
Quanto à comparação entre os
genomas humanos e chimpanzés, Nóbrega disse – “não sei do que estão falando”.
Sendo uma grande especialista em genômica, deveria saber. Por que não faz
nenhum sentido falar em 70% e não 98%?
Quanto às evidências
genômicas do parentesco entre o homem e os demais primatas, há outras pesquisas
demonstrando que a semelhança entre o nosso DNA e o dos chimpanzés não é de
mais de 90%, mas estaria na casa de 70% ou até menos.
Jon Cohen, "Relative Differences: The Myth of1%," Science, Vol. 316:1836 (June 29, 2007)
“pesquisas estão
demonstrando que [humanos e chimpanzés] não são tão semelhantes quanto muitos
tendem acreditar”;
“a estatística de 1% é um
“truísmo [que] deve ser retirado”;
“a estatística de 1% é “mais
um impedimento para o entendimento do que uma ajuda”;
“a diferença de 1% não foi
toda a história”;
“Os pesquisadores estão
descobrindo que sobre a distinção do 1%, extensões perdidas de DNA, genes
extras, conexões alteradas em redes de genes, e a própria estrutura dos
cromossomos confundem qualquer quantificação de ‘natureza humana’ vs ‘natureza
de chimpanzé’.
Pesquisas demonstram que ~0.8%
de nosso genoma, os humanos são mais próximos aos orangotangos do que dos chimpanzés.
Incomplete lineage sorting patterns among human,
chimpanzee, and orangutan suggest recent orangutan speciation and widespread
selection
Asger Hobolth, Julien Y. Dutheil, John Hawks, Mikkel
H. Schierup e Thomas Mailund
0.8% de nosso genoma pode
não parecer muito, mas isso é igual a mais de 20 milhões de pares de bases.
Um artigo publicado em 2007
no Molecular Biology and Evolution afirma:
Por cerca de 23% de nosso genoma,
nós não compartilhamos nenhuma ancestralidade genética próxima com o nosso
parente mais próximo existente, o chimpanzé. Isso engloba os genes e os éxons
na mesma extensão das regiões intergênicas. Nós concluímos que cerca de 1/3 de
nossos genes começou a evoluir como linhagens humanas específicas antes de
acontecer a diferenciação dos humanos, chimpanzés, e gorilas.
For about 23% of our genome, we share no immediate
genetic ancestry with our closest living relative, the chimpanzee. This
encompasses genes and exons to the same extent as intergenic regions. We
conclude that about 1/3 of our genes started to evolve as human-specific
lineages before the differentiation of human, chimps, and gorillas took place.
Ingo Ebersberger, Petra Galgoczy, Stefan Taudien,
Simone Taenzer, Matthias Platzer, and Arndt von Haeseler, "Mapping HumanGenetic Ancestry," Molecular Biology and Evolution, Vol. 24 (10):2266-2276
2007.
Maria Cátira Bortolini
preferiu não entrar no mérito da questão genômica e fez algumas observações
mais gerais sobre o fenômeno do criacionismo. Como a TDI não é criacionismo,
nada replicaremos. Apenas lamentamos uma atitude dessas incompatível para uma
cientista. Fica até deselegante dizer aqui, mas sua postura parece muito mais de uma
advogada de porta de cadeia do que de uma cientista! Aproveite e se inteire acima a
quantas anda a questão da semelhança entre humanos e chimpanzés na
literatura especializada!
+++++
Por que o Reinaldo Lopes não entrevista certos membros do MDI no Brasil???