O artigo Defendendo a ciência, de Marcelo Gleiser, (Folha de São Paulo, 13/02/2011 - Requer assinatura da FSP ou UOL) é interessante por várias razões. A primeira é porque Gleiser considera os criacionistas criminosos, sujeitos perigosos para a sociedade.
Não irei defender aqui o criacionismo e nem os criacionistas: eles são bem grandinhos e instruídos para se defenderem.
O que Gleiser abordou é notícia mais do que velha e requentada: a ciência e o ensino da ciência no Brasil continuam sob ataque. Cita um exemplo mor dessa cruzada fundamentalista: o texto de Rainer Sousa, da Equipe Brasil Escola, discutindo a origem do homem. Naquele artigo, Souza afirmou ser o assunto “um amplo debate, no qual filosofia, religião e ciência entram em cena para construir diferentes concepções sobre a existência da vida”. Gleiser, humanista que você é, uma pergunta pertinente: Isso não é uma questão de abordagem interdisciplinar?
Infelizmente Souza concluiu que a origem humana é um “tema polêmico e inacabado” e que ainda seria “uma questão capaz de se desdobrar em outros debates”, cabendo “a cada um adotar, por critérios pessoais, a corrente explicativa que lhe parece plausível”.
Realmente a questão das origens humanas ainda é tema científico polêmico e inacabado. Contudo, a afirmação de Souza defendendo “critérios pessoais” para decidir isso não é epistemologicamente aceitável. O Brasil é um estado laico, e os relatos de criação das subjetividades religiosas em salas de aula públicas não é aceitável como “corrente explicativa”. O ensino de visões religiosas sobre o assunto são legalmente permitidas (até agora) nas escolas confessionais.
Todavia, Gleiser mostrou profunda ignorância imperdoável ao afirmar que este tema científico, amplamente discutido já foi comprovado através dos fósseis à análise genética. Nada mais falso! Esta é justamente uma das áreas científicas mais controversa entre os especialistas, e eles são muito mais capacitados do que Gleiser para dizer o status epistêmico desta questão: a origem humana ainda não está comprovada nem pelos fósseis, muito menos pela análise genética.
Como um cientista do naipe de Gleiser é capaz de afirmar isso em flagrante descompasso com o status epistêmico da teoria da evolução na literatura especializada com evidências que comprovem, sem sombras de dúvidas científicas, o fato, Fato, FATO da evolução, em pleno século 21, e num jornal que diz estar a serviço do nosso país e a favor da educação? Para se atualizar Gleiser, me dê o prazer de consultar o meu blog. Aqui a gente mata a cobra de Down e mostra o pau.
Gleiser escreveu o artigo mencionado a partir de uma experiência cultural dos Estados Unidos quando afirmou a existência de “inúmeros exemplos da tentativa, às vezes vitoriosa, da infiltração de noções criacionistas no currículo escolar.” Aqui tentaram copiar, mas deu em nada. Além disso, Gleiser ignora que as escolas confessionais ensinam a visão criacionista porque respaldadas pela LDB 9194/96 e os atuais PCNs.
Ele não vê nenhum problema “se o criacionismo fosse estudado como fenômeno cultural”, mas “alçá-lo ao nível de teoria científica deturpa o sentido do que é ciência e de seu ensino”. Concordo com Gleiser aqui, mas discordo dele quanto ao que é ciência e o seu ensino. O que é ciência? Gleiser não definiu, e acha que todo o mundo sabe. Eu teria mais de 15 definições de ciência, e essas definições não satisfariam a gregos e baianos.
E qual é o melhor ensino de ciência? Existem vários, um deles é o ensino objetivo e honesto das teorias científicas através das evidências. Outro é o ensino das evidências a favor e contra uma teoria científica. Outro é o ensino das controvérsias científicas. Gleiser não definiu sua preferência, mas vou dizê-la: ele favorece o ensino da ciência descendo goela abaixo dos alunos e sem questionamentos. Isso não é educação, mas doutrinação numa ideologia materialista que se mascara de ciência.
A onisciência de Gleiser é interessante e inquietante. Ele disse que ninguém no Brasil sabe o que é ciência, e que por isso estamos “condenado a retornar ao obscurantismo medieval”. Mas Gleiser não é brasileiro? Ele também não sabe o que é ciência? Mas sempre pontifica na Folha de São Paulo sobre ciência. Ué, deu para entender? É, a Lógica Darwinista 101 é demais. Demais ilógica. Um pouco de História da Ciência para Gleiser: o período medievo não foi obscurantista como você afirmou. Leia mais e aprenda que naquele período a ciência continuou robusta.
Os criacionistas foram acusados por Gleiser como indo na contramão da História educacional, tecnológica e de sucesso das nações: “enquanto outros países estão trabalhando para educar seus jovens sobre a importância da ciência, aqui vemos uma corrente contrária, que parece não perceber que a ciência e as suas aplicações tecnológicas determinam, em grande parte, o sucesso de uma nação”.
"o projeto iluminista de esclarecimento racional universal baseado na redução e controle das circunstâncias empíricas dos fenômenos naturais começou a se institucionalizar no século 17, sobretudo a partir da poderosa obra do físico e matemático inglês Isaac Newton (1643-1727)."
Concordo com Gleiser: há muitos que são contra a ciência quando ela vai de encontro à fé. Discordo de Gleiser: que essas pessoas tomem antibióticos, mas rejeitam a teoria da evolução só por desconhecer que o uso de antibióticos faz ‒ aumentar as chances de que os germes criem imunidade por mutações genéticas, como ilustração concreta da teoria da evolução, e que se soubessem, talvez mudassem de ideia.
Ué, mas tomar antibióticos não é interferir no processo evolucionário dos germes??? O mais apto [quem toma os antibióticos] sobrevive? E os germes? Kaput, num processo de extinção catastrófico para a espécie. Ilustração concreta de evolução em ação a favor de quem cara-pálida? Que tipo de evolução? Evolução trivial, pois nem sequer afetou a estrutura e a forma das coisas bióticas. Todavia, a evolução que Gleiser tem em mente é a de grande escala, e ele como cientista deveria saber melhor que este não é o melhor exemplo do fato, Fato, FATO da evolução em ação!!!
Alô Folha de São Paulo: arranjem um assessor em biologia evolucionária para o Gleiser. Urgente!!! Se não a FSP vai passar cada vez mais vergonha diante de leitores mais esclarecidos e que lêem este blog danado da peste!!!
Alô Folha de São Paulo: arranjem um assessor em biologia evolucionária para o Gleiser. Urgente!!! Se não a FSP vai passar cada vez mais vergonha diante de leitores mais esclarecidos e que lêem este blog danado da peste!!!
É Gleiser, nem as melhores evidências contrárias à teoria da evolução através da seleção natural podem ensinar e convencer quem não quer aprender. Você é um deles.
Concordo com você que os cientistas precisam se engajar mais e em maior número na causa da educação do público em geral, mas é preciso muito mais honestidade acadêmica, atualmente um artigo muito em falta entre os cientistas na Nomenklatura científica.
Sua opinião de se ter cuidado como apresentar a ciência, sem fazê-la dona da verdade, celebrar seus feitos, ser francos sobre suas limitações e desafios, é mais do que bemvinda, mas você erra ao atribuir inexistência de limitações e desafios na teoria da evolução. Existem muitas limitações e desafios. especialmente depois do Projeto Genoma.
Gleiser, lá na sua universidade ninguém está discutindo a iminente e eminente revisão da teoria da evolução, e que uma nova teoria da evolução está sendo elaborada justamente por causa das limitações heurísticas da Síntese Evolutiva Moderna [SEM], e que a Síntese Evolutiva Ampliada não pode e nem deve ser selecionista pelos desafios das anomalias que SEM não pode responder satisfatoriamente? E que esta teoria somente fica pronta em 2020? Não estranhe se em sua universidade ninguém está discutindo isso. Aqui no Brasil também não. Aqui está todo o mundo pensando e mesma coisa e ninguém pensando em nada. Triste ciência!!!
Concordo com você que a ciência não deve ser usada como arma contra a religião, pois a ciência seria transformando numa religião também. Mas nem sempre os achados científicos são postos em dúvida e teorias “aceitas” são suplantadas assim facilmente como você coloca. Há muita resistência, Darwin que o diga. Se nunca leu, leia A estrutura das revoluções científicas, de Thomas Kuhn: é somente com a solução biológica – morte dos detentores do poder paradigmático da Nomenklatura científica, derem lugar aos mais novos, e que essas ideias, hipóteses e teorias são consideradas e aceitas pelos jovens cientistas. Traduzindo em graúdos: morram logo para dar lugar a um novo paradigma.
Apesar disso, Gleiser reconhece que “é melhor explicar que a ciência cria conhecimento por meio de um processo de tentativa e erro, baseado na verificação constante por grupos distintos que realizam experimentos para comprovar ou não as várias hipóteses propostas”. Aplique-se isso nas especulações transformistas de Darwin, e nós saímos de mãos vazias em termos de conhecimento científico.
O demarcacionismo de Gleiser é gritante, revoltante, e ultrapassado, pois nem sempre as “teorias surgem quando as existentes não explicam novas descobertas”, e mesmo sabendo que as teorias científicas que norteiam as pesquisas não são robustas no contexto de justificação teórica, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes, oops de Darwin. Chamam isso de objetividade científica. Eu chamo de desonestidade acadêmica!!!
Existe sim mais do que drama e beleza nessa empreitada, na luta para compreender o mundo em que vivemos. Existe uma resistência ferrenha pelos que praticam ciência normal e não querem abandonar a teoria falida: eles varrem para debaixo do tapete epistemológico as anomalias que a teoria não explica. Ignorar isso sim é denegrir a história da ciência e da civilização. O problema não é somente o não saber. O problema é não querer deixar que os outros saibam que existem limitações e desafios na teoria da evolução. É aí que a truculência dos mandarins da Nomenklatura científica vira tragédia e um crime contra a ciência, que não precisa de defensores, mas de cientistas que sigam as evidências aonde elas forem dar.
ENÉZIO E. DE ALMEIDA FILHO é pesquisador em História da Ciência, e coordenador do NBDI – Núcleo Brasileiro de Design Inteligente, Campinas, SP (Brasil).