Jornalistas científicos: mais que tradutores

terça-feira, agosto 31, 2010

Mais que tradutores

31/8/2010

Por Fábio de Castro, de Itatiba (SP)

Agência FAPESP – O jornalismo voltado para a cobertura de ciência foi um dos temas debatidos por especialistas em Itatiba (SP), diante de uma plateia composta por alguns dos mais proeminentes cientistas do Brasil e do Reino Unido em diferentes áreas do conhecimento.

O debate ocorreu durante o UK-Brazil Frontiers of Science Symposium, evento que terminou nesta segunda-feira (30/8) e integra o programa Fronteiras da Ciência da Royal Society. A instituição britânica – que comemora 350 anos – e a FAPESP organizaram o evento em parceria com o Consulado Britânico em São Paulo, a Academia Brasileira de Ciências, a Academia Chilena de Ciências e a Cooperação Reino Unido-Brasil em Ciência e Inovação.

Com base em seus estudos sobre jornalismo científico e a percepção pública da ciência, o sociólogo Yurij Castelfranchi defendeu que o envolvimento do público com o universo científico é importante para a sociedade e fundamental para a própria ciência. De acordo com o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Brasil tem atualmente um ambiente favorável para essa aproximação entre ciência e sociedade.

“Quando aprofundamos os estudos sobre o tema, nos surpreendemos ao descobrir que o apoio do público à ciência no Brasil é imenso. Cerca de 80% das pessoas têm uma atitude positiva em relação à ciência. Isso não quer dizer que as pessoas compreendam a ciência. A questão que nos interessa é como transformar essa ‘confiança ignorante’ na ciência e na tecnologia em conhecimento real”, disse.

Segundo ele, não se trata apenas de transmitir informação de forma autoritária, trazendo “a luz do conhecimento” para o público. A tarefa consiste em mostrar ao público, por meio de um jornalismo crítico, como a ciência funciona do ponto de vista político e epistemológico. O jornalista não seria um vulgarizador, mas “uma ponte entre dois mundos”.

“Se transmitirmos a ideia da ciência como uma máquina de invenções maravilhosas, tentando conquistar o interesse do público com uma brilhante lista de descobertas, o efeito pode ser o inverso do desejado. Isso equivale a apresentar a ciência como uma solução mágica. Não temos que fazer marketing da ciência, mas mostrar como ela é feita a partir de um ponto de vista crítico”, afirmou.

A jornalista Mariluce Moura, diretora da revista Pesquisa FAPESP apresentou uma análise da evolução do jornalismo científico no Brasil nas últimas décadas. Segundo ela, nos últimos dez anos, o foco da mídia brasileira sobre o conhecimento científico tem se acentuado de forma extraordinária. A própria revista, derivada do boletim Notícias FAPESP, lançado em 1995, teve um papel central nessa evolução.

A Pesquisa FAPESP é um exemplo de sucesso em relação à cooperação entre cientistas e jornalistas. A revista se tornou muito próxima da comunidade científica paulista, estabelecendo uma relação de confiança”, disse.

Essa cooperação, segundo Mariluce, é exercida por um procedimento particular adotado na produção da revista: antes de chegar ao público, a informação apurada pelos jornalistas é, em geral, revisada pelos entrevistados.

“Pertencendo a uma instituição pública, normalmente enviamos o texto final para os pesquisadores. Entretanto, há uma recomendação expressa: eles podem corrigir todo tipo de informação científica, mas o texto é a nossa área de excelência. A noção estética e a ideia de produto jornalístico cabem ao profissional da área”, afirmou.

O britânico Tim Hirsch comentou as dificuldades do jornalismo científico e destacou as diferenças marcantes das experiências de divulgação da ciência no Brasil e no Reino Unido. Hirsch foi correspondente da área de meio ambiente da BBC News entre 1997 e 2006 e hoje atua no Brasil como consultor e jornalista independente.

Segundo ele, a interação entre os cientistas e os meios de comunicação de massa é bastante difícil. “Há uma área de cooperação, mas nem sempre isso é possível. O limite entre a informação científica responsável e a liberdade da comunicação não é nada fácil de estabelecer. Não há respostas fáceis nesse terreno. É preciso unir talento e coragem para traduzir um processo de expertise em uma linguagem que seja acessível ao grande público”, afirmou.

Para contornar essas dificuldades, a saída seria desenvolver um relacionamento de confiança entre cientistas e jornalistas. “No Brasil, parece-me, a autocrítica em relação à cobertura jornalística da ciência é muito severa. Há bastante preocupação com a tensão entre jornalistas e cientistas e com a qualidade do material publicado, mas o fato é que grande parte do noticiário é muito bom”, afirmou.

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NOTA IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:

O jornalismo científico brasileiro precisa questionar mais os cientistas e suas teorias. Especialmente as teorias da origem e evolução do universo e da vida. O que vemos noticiado é o AMÉM para todas as colocações teóricas consensuais e NECAS DE PITIBIRIBA de ceticismo localizado e de questionamentos sobre se a teoria é corroborada no contexto de justificação teórica. Muito menos falar sobre as dificuldades fundamentais dessas teoria queridinhas da Nomenklatura científica: é assunto Shiboleth -- ninguém mija fora do caco de Down, o lugar onde se teve a maior ideia que toda a humanidade já teve.

Pobre jornalismo científico que não ousa questionar os luminares da ciência... Pobres leigos, que continuarão na sua confiança ignorante... Pobre ciência que desprezou as visões antípodas que provoca os avanços científicos... Pobres críticos e oponentes, que continuarão marginalizados e demonizados pela Nomenklatura científica...

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