23/2/2010
Por Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP – Uma importante dificuldade dos pesquisadores brasileiros, especialmente na área de biotecnologia, é obter anticorpos para o desenvolvimento de estudos. A maior parte dos anticorpos – usados principalmente como ferramenta em diagnósticos no estudo de proteínas – é adquirida por meio de importação.
Empresa ligada à Incubadora de Empresas da Unicamp produz anticorpos para pesquisa em escala comercial (divulgação)
Além dos valores elevados, a importação de anticorpos atrasa pesquisas e algumas vezes até mesmo as inviabiliza, quando chegam com validade já vencida. Diante dessa carência, um grupo de pesquisadores fundou, em 2008, a Rheabiotech, empresa ligada à Incubadora de Empresas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com a proposta de produzir anticorpos em escala comercial.
De acordo com Fernanda Alvarez Rojas, sócia fundadora da Rheabiotech, a ideia de abrir uma empresa nessa área surgiu diante das dificuldades enfrentadas no desenvolvimento de suas próprias pesquisas.
“No meu caso, muitas vezes os anticorpos importados chegavam com validade vencida. O prazo de entrega dificilmente é cumprido. Para evitar isso, alguns pesquisadores brasileiros produzem seus próprios anticorpos, mas esses casos são raros”, disse à Agência FAPESP .
Fernanda é doutora em clínica médica e realizou os estudos de mestrado, doutorado e pós-doutorado na Unicamp. Coordenou o projeto “Produção de anticorpos policlonais”, que recebeu apoio da FAPESP por meio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
A Rheabiotech nasceu como um braço da Imuny Biotechnology, fundada pelo mesmo grupo em 2004. “Por uma questão de câmbio societário, a Imuny acabou se tornando uma empresa unicamente comercial. A Rheabiotech produz insumos de laboratório para pesquisa, com uma linha de desenvolvimento, fazendo uma ponte entre pesquisa e mercado”, explicou.
Fernando destaca, além dos colegas envolvidos, a participação do seu orientador de pós-doutorado, Lício AugustoVelloso, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, que atualmente coordena o Projeto Temático “Inflamação e resposta imune em obesidade”, apoiado pela FAPESP.
“Eu conhecia a tecnologia para a produção de anticorpos e, com o apoio de meu orientador, surgiu a ideia de produzir os anticorpos, não apenas para meus estudos como também para os de outros pesquisadores, uma vez que se trata de uma carência geral”, disse.
Com sede na cidade de Paulínia (SP), a Rheabiotech atua em três linhas de negócio, envolvendo parcerias com universidades e empresas no país e em outros na América Latina. Além da produção de insumos de biotecnologia para a área de pesquisa (anticorpos e proteínas), a empresa produz kits de diagnósticos para o setor agrícola e para área de saúde humana.
“Temos uma lista de cerca de 300 anticorpos. O nosso maior foco na área de insumos é a substituição da importação. Oferecemos preço, prazo e atuação pós-venda. Outro ponto é que realizamos trabalhos sob encomenda”, disse.
Os anticorpos são uma importante ferramenta para identificar e neutralizar corpos estranhos como bactérias, vírus ou células tumorais. O estudo de suas funções, por exemplo, permite investigar os mecanismos de várias doenças.
“No caso de biotecnologia aplicada à agricultura, o anticorpo é uma importante ferramenta para estudo de proteínas e detecção dos fitopatógenos. Por meio do estudo de cada um destes organismos, podemos gerar um anticorpo específico”, disse Fernanda.
Na área agrícola, a Rheabiotech produz anticorpos específicos para algumas doenças como a ferrugem asiática da soja, provocado pelo fungo Phakopsora pachyr hizi. O kit, chamado de Soja Detecta, permite identificar a presença da doença com até cinco dias de antecedência ao aparecimento e visualização das pústulas pelo método tradicional da lupa.
“A rápida detecção da infecção facilita a tomada de decisões sobre o manejo da cultura, e garante uma aplicação de fungicidas eficiente, correta e em menor frequência, evitando o comprometimento da plantação e a disseminação dos esporos para outras áreas não afetadas. O sistema permite a análise simultânea de 20 a 50 amostras de folha de soja”, explicou Fernanda.
Outro kit desenvolvido pela empresa diagnostica a morte-súbita de citros, um grave problema que atinge as plantações de laranja em São Paulo e Minas Gerais. A empresa também desenvolveu kits para os vírus PVX (potato virus X) e PVY (potato virus Y), que atacam a batata. O desenvolvimento dos kits para a área agrícola é o foco do projeto atual, sob coordenação de Luís Antonio Peroni, sócio de Fernanda na empresa.
Diagnóstico de doenças
Além da disponibilidade maior, outra vantagem dos produtos nacionais é o preço. Segundo Fernanda, nos kits para doenças na soja, por exemplo, cada tira importada (um kit contém 50 tiras) custa US$ 7, em média, fora a taxa de importação, e o produto nacional sai por R$ 2,50.
“O fato de trabalhar sobre encomenda promove uma vantagem local porque podemos nos adequar às necessidades de cada pesquisador, e não depender da produção estrangeira”, apontou.
Na área de saúde humana, a Rheabiotech desenvolve kits para o diagnóstico e prognóstico de várias doenças autoimunes (como artrites, esclerose múltipla e doença celíaca) a partir da interleucina 6, uma proteína tradicionalmente associada ao controle e à coordenação das respostas imunológicas.
Entre os clientes da Rheabiotech estão própria Unicamp, alguns institutos e faculdades da Universidade de São Paulo e outras universidades e empresas.
Mais informações: www.rheabiotech.com.br, comercial@rheabiotech.com.br ou (19) 3249‐1222