JC e-mail 3855, de 24 de Setembro de 2009.
19. Sondas encontram sinal de água na superfície da Lua
Cientistas de grupos independentes acreditam que regiões polares possuem refúgios da umidade lunar em crateras. H2O no satélite da Terra pode se formar com íons de hidrogênio do vento solar incidindo sobre minerais que possuem oxigênio
A Lua não é tão seca quanto parece. Traços de água se escondem sobre seu solo. Três sondas espaciais diferentes detectaram a assinatura da água por toda a superfície lunar, surpreendendo os cientistas que, a princípio, duvidaram da medição, até que ela fosse confirmada de forma independente e repetidamente.
A água, que se forma e evapora durante o dia lunar, não é o bastante para sustentar a vida no satélite. Mas, se processada em quantidades maciças, ela poderia abastecer astronautas e foguetes de futuras missões.
Não é muita coisa. Dois litros de solo lunar devem abrigar o volume de um conta-gotas de água, diz Jessica Sunshine, da Universidade de Maryland (EUA), coautora da descoberta.
"Ela está meio que grudada na superfície", disse Sunshine. "Nós sempre pensamos na Lua como um lugar morto, mas há esse processo dinâmico acontecendo lá", afirmou. A água pode se formar com o bombardeio de vento solar - essencialmente um fluxo de núcleos de hidrogênio - sobre minerais da Lua que aprisionam oxigênio.
A descoberta será publicada hoje em três artigos científicos no site da revista "Science", e pode ressuscitar o interesse na Lua. O anúncio vem num momento em que cortes de verba da Nasa ameaçam os planos dos EUA de retornarem ao satélite e duas semanas antes de uma sonda americana bater no polo Sul da Lua para ver se consegue desenterrar o gelo do subsolo.
Na última década, astrônomos têm achado evidências de gelo enterrado sob os polos lunares, mas a nova descoberta é diferente: agora o que se detectou foi água espalhada pelo solo - não absorvida por ele -, inesperada e por toda parte.
A água foi detectada por três espaçonaves: a indiana Chandrayaan-1 e as americanas Cassini e Deep Impact. Todas usaram o mesmo tipo de instrumento, que olhou a absorção de comprimentos de onda específicos da luz que são assinatura química de dois compostos: a água e a hidroxila (OH).
O grupo da sonda indiana foi o primeiro a fazer a detecção, mas os cientistas acharam que havia algo errado com o instrumento - afinal, todo mundo sabia que a Lua não tinha uma gota d'água sequer na superfície.
Depois, a detecção foi feita com dados da Deep Impact, lançada em 2005 para estudar um cometa. Em seguida, cientistas olharam registros da Cassini, que passou pela Lua em 1999 a caminho de Saturno. Todas indicaram água e hidroxila.
A chance de que três instrumentos tenham falhado do mesmo jeito em três naves diferentes é remota. "Não há dúvida de que ela [a água] está lá", disse Carles Pieters, coautor da descoberta. "É inequívoco."
(Folha de SP, 24/9)