O contexto de justificação da teoria geral da evolução: só notas promissórias desde 1859

segunda-feira, junho 25, 2007

Vou citar um texto do livro Genetics and the Origin of Species (1941) de Theodosius Dobzhansky. Este livro, segundo alguns historiadores da ciência, é o segundo livro mais importante sobre a teoria geral da evolução. O primeiro ninguém tasca, é de Darwin: Origem das Espécies (1859). Ernst Mayr disse que o livro de Darwin era ‘confuso’, e não explicava o que propunha no título: a origem das espécies.
Bem, vamos deixar o Dobzhansky falar sobre o contexto de justificação da teoria geral da evolução, mas prestem bem atenção no comentário feito por Bateson em 1922 sobre o(s) mecanismo(s) evolutivo(s), e vejam se alguma coisa mudou no discurso dos ultradarwinistas e dos meninos e meninas da galera de Darwin:

“Desde Darwin, qualquer discussão da diversidade orgânica inevitavelmente envolve uma consideração da teoria da evolução que representa a maior generalização desenvolvida nesta área. Aqui novamente, as biologias morfológicas e fisiológicas estão interessadas em aspectos diferentes da matéria.

A teoria da evolução afirma que (1) os seres vivendo hoje descendem de seres diferentes que viveram no passado; (2) a variação descontínua observada em nosso nível temporal — as lacunas hoje existentes entre os grupos de formas — surgiu gradualmente, de modo que se nós pudéssemos reunir todos os indivíduos que já habitaram a Terra, uma disposição razoavelmente contínua de formas surgiria; (3) todas estas mudanças surgiram de causas que hoje continuam em operação, e que, portanto podem ser estudadas experimentalmente. Chegou-se à teoria da evolução através da generalização e da inferência de um conjunto de dados predominantemente morfológicos, e pode ser considerada como uma das mais importantes realizações da biologia morfológica. Contudo, os evolucionistas da escola morfológica concentraram seus esforços em provar a exatidão da primeira e da segunda das três afirmativas mencionadas acima, deixando a terceira até certo ponto temporariamente em suspensão. Eles estiveram interessados principalmente em demonstrar que a evolução aconteceu realmente, e no “preencher da lacuna”, no preencher das descontinuidades entre os grupos de organismos existentes, no entender da relação entre os ramos das árvores filogenéticas, e nem tanto em elucidar a natureza das descontinuidades em si, ou dos mecanismos pelos quais elas se originaram. De fato, Darwin foi um dos muitos poucos evolucionistas do século dezenove cujos interesses principais residem nos estudos dos mecanismos da evolução, no causal em vez do problema histórico. Foi exatamente este aspecto causal da evolução que perto do final do último século [XIX] começou a atrair mais e mais atenção, e que agora foi tomado pela genética e ciências relativas. Neste sentido a genética, em vez da morfologia evolucionária é a herdeira da tradição darwiniana.


Quão negligenciados foram os estudos dos mecanismos da evolução é aparente a partir do fato de que em 1922 Bateson foi capaz de escrever: “Em linhas gerais indistintas a evolução é bastante evidente. Mas aquela parte particular e essencial da teoria da evolução que diz respeito à origem e à natureza das espécies permanece completamente misteriosa.” Para a maioria dos biólogos estas opiniões parecem indevidamente pessimistas. Seja o que for, o fato permanece que, entre a atual geração nenhuma pessoa informada nutre qualquer dúvida da validade da teoria da evolução no sentido de que a evolução ocorreu, e ainda assim ninguém é audaz o suficiente para acreditar estar de posse do conhecimento dos mecanismos reais de evolução. A evolução como um processo histórico está tão rigorosamente estabelecido quanto a ciência pode estabelecer um fato testemunhado por nenhum olho humano. A massa de evidência relacionada com este assunto não nos interessa neste livro; nós a supomos como verdadeira. Mas o entendimento das causas que possam ter provocado esta evolução, e que pode produzir a sua continuação no futuro, ainda está na sua infância. Muito trabalho já tem sido feito para garantir tal entendimento, e indubitavelmente mais ainda está por ser feito. Nas páginas seguintes, uma tentativa será feita para avaliar o presente status do conhecimento nesta área.” [1]

A ciência qua ciência não vive de ‘notas promissórias epistêmicas’. Vive de evidências. Quando é que o Darwin Bank of London e/ou qualquer uma de suas sucursais internacionais vão honrar seus compromissos financeiros, oops, científicos desde 1859? Bateson observou muito bem em 1922 — ninguém ousa afirmar quais são esses mecanismos causais. Dobzhansky naquela altura disse que “mais [trabalho] ainda está por ser feito”.

É o que temos no contexto da justificação da teoria geral da evolução: é um fato, Fato, FATO cientificamente inconteste, mas “aquela parte particular e essencial da teoria da evolução que diz respeito à origem e à natureza das espécies permanece completamente misteriosa”.

Fui, cientificamente indignado, com um monte de notas promissórias epistêmicas abanando nas mãos não honradas por Darwin desde 1859. Darwin 3.0 só em 2010???

NOTA

1. DOBZHANSKY, T., “Evolution” in Genetics and The Origin of Species, 2nd. ed.,
rev., New York, Columbia University Press, 1941, pp. 7-9. Tradução deste blogger.