A revista VEJA, Gabriele Carelli e o Ctrl + Alt + Design Inteligente = religião

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Um e-mail enviado ao Diretor de Redação de VEJA:

Ilmo. Sr.
Eurípides Alcântara
Diretor de Redação – VEJA

Prezado Sr.:
Interessante a entrevista de Francis Collins, famoso cientista americano, “Ciência não exclui Deus”, na revista VEJA Edição 1992, de 24 de janeiro de 2007, p. 11, 14,15, com a jornalista Gabriela Carelli.
http://veja.abril.com.br/240107/entrevista.html [Só para assinantes]

Pretendo abordar essa entrevista ponto a ponto ainda esta semana no meu blog. Contudo, é expediente lidar mais uma vez com a revista VEJA. Já destaquei aqui neste blog que todas as vezes que a VEJA e a Grande Mídia Tupiniquim abordam a questão da teoria do Design, todos os jornalistas científicos ou não parecem usar tão somente a macro Ctrl + Alt + Design Inteligente = religião. Além de não ouvirem o outro lado da questão. Eu já sugeri aos Srs. uma entrevista com Michael Behe e William Dembski há muito tempo.

O exemplo mais recente dessa nossa descaracterização se encontra na pergunta que sua jornalista Gabriela Carelli fez para Francis Collins:

Veja – O senhor diz que a ciência e a religião convergem, mas devem ser tratadas separadamente. Como vê o movimento do "design inteligente", em que cientistas usam a religião para explicar fatos da natureza que permanecem um mistério para a ciência?

>>> A sua repórter Gabriela Carelli, como toda a Grande Mídia Tupiniquim, reflete aqui a sua ignorância e má vontade sobre a teoria, o movimento e os cientistas que propõem e defendem a teoria do Design Inteligente. Os cientistas do DI como Michael Behe e William Dembski não usam ‘a religião para explicar fatos da natureza que permanecem um mistério para a ciência’. O que nós usamos são fatos tirados da natureza – complexidade irredutível de sistemas biológicos (Behe) e informação complexa especificada (Dembski). Argumentos científicos derivados da natureza. A teoria do Design Inteligente pode ter implicações teológicas, mas não depende disso para sua suficiência epistêmica.

A resposta de Collins é mais interessante ainda, e vamos respondê-la por partes:

Collins – Essa abordagem é um grande erro. Os cientistas não podem cair na armadilha a que chamo de "lacuna divina".

>>> O grande erro de todos os erros de Collins é ser um guarda-cancela epistemológico impedindo que perguntas sejam feitas na Academia. O design tem uma história desde os filósofos gregos antigos. Eles eram pagãos. A armadilha que os cientistas não podem colocar diante da sociedade que lhes paga os estudos e os salários é o que chamo de ‘notas promissórias epistemológicas’ que nunca são empiricamente resgatadas, ou agora carinhosamente de ‘lacuna darwiniana’.

Lamento que o movimento do design inteligente tenha caído nessa cilada ao usar o argumento de que a evolução não explica estruturas tão complicadas como as células ou o olho humano. É dever de todos os cientistas, inclusive dos que têm fé, tentar encontrar explicações racionais para tudo o que existe.

>>> Nós não caímos nessa cilada ao argumentarmos que ‘a evolução não explica estruturas tão complicadas como as células ou o olho humano’. Nós derivamos esses argumentos da literatura especializada da qual Collin tem amplo acesso. Nós nos propomos ‘encontrar explicações racionais para tudo o que existe’, mas entendemos que somente o acaso, a necessidade, as mutações filtradas pela seleção natural ou quaisquer outros mecanismos evolutivos, e causas naturais não explicam a origem e a evolução do universo e da vida. Tudo isso é melhor explicado por causas inteligentes. Essas causas inteligentes são empiricamente detectadas (Dembski).

Todos os sistemas complexos citados pelo design inteligente – o mais citado é o “bacterial flagellum”, um pequeno motor externo que permite à bactéria se mover nos líquidos – são um conjunto de trinta proteínas.

>>> O flagelo bacteriano, “bacterial flagellum” é mais chique, apesar de ser ‘um pequeno motor externo’, é considerado uma obra prima de engenharia que os nossos melhores cientistas ainda não conseguiram biomimetizar.

Realmente, nós podemos juntar artificialmente essas trinta proteínas, que nada vai acontecer. Isso porque esses mecanismos se formaram gradualmente através do recrutamento de outros componentes.

>>> Longe de mim dar aulas de biologia ou bioquímica a um Collins, mas a lógica dele é um samba do crioulo doido epistemológico. Realmente, juntar artificialmente essas proteínas em laboratório é possível e nada vai acontecer. Mas Collins se esqueceu de trazer no seu exemplo a sua bactéria e o flagelo bacteriano juntos. Como que esses mecanismos se formaram gradualmente é que os processos graduais darwinistas não dão conta. Collins sabe muito bem que sem uma das proteínas o flagelo bacteriano simplesmente não funciona. Não funcionando, a bactéria não sobrevive. Não sobrevivendo, não tem como levar adiante a sua descendência com modificação. A evolução coadaptiva não resolve o dilema de Darwin e agora de Collins.

No curso de longos períodos de tempo, as máquinas moleculares se desenvolveram por meio do processo que Darwin vislumbrou, ou seja, a evolução.

>>> Stephen Jay Gould chama isso de ‘just-so-stories’ – estórias da carochinha. Estas ‘just-so-stories’ têm os seguintes componentes: tempo, acaso, necessidade, evolução (um processo nunca descrito satisfatoriamente), e VAPT, VUPT, as maravilhosas máquinas moleculares se desenvolveram pelo processo evolutivo darwinista. Collins, o que nós do DI queremos saber é o COMO isso se deu. Michael Behe, no seu livro “A Caixa Preta de Darwin” (Rio de Janeiro, Zahar, 1997) afirma que não existe descrição de COMO isso se deu em toda a literatura científica.
Uma descrição maravilhosa da construção progressiva de um flagelo bacteriano pode ser vista aqui.

http://www.arn.org/docs/mm/flagellarassembly-l.mov

Melhor ainda – assista a um filme de 30 minutos da pesquisa sobre as descobertas que permitiram que o filme animado do flagelo bacteriano fosse feito. Esses pesquisadores japoneses não são ligados ao movimento do Design Inteligente:

http://www.nanonet.go.jp/english/mailmag/2004/files/011a.wmv

Com todo respeito, mas quando a sua revista VEJA e a Grande Mídia Nacional não nos concede espaço para expormos nossas idéias, quando não entrevista nossos maiores teóricos e expoentes como Michael Behe e William Dembski, o jornalismo praticado não é objetivo nem imparcial – simplesmente não é mais jornalismo. É acintosamente panfletário ideológico.

Atenciosamente,

Enézio E. de Almeida Filho
Coordenador - NBDI
Núcleo Brasileiro de Design Inteligente