Em dezembro de 1998, escrevi um longo artigo-tese "Desnudando Darwin: ciência ou ideologia?" O subtítulo é bem mais contundente: "ou a relação incestuosa da mídia brasileira com a Nomenklatura científica", publicado no Observatório da Imprensa.
Era sobre como a Grande Mídia Tupiniquim (GMT) lida com a questão de Darwin, as insuficiências epistêmicas fundamentais de sua teoria geral da evolução (evolução é um termo muito elástico e eles nunca definem sobre o que estão falando) e seus críticos, sejam científicos ou não. Houve réplicas e tréplicas, mas a minha tese de que a GMT tinha essa relação abjeta com a Nomenklatura científica, baseada tão-somente na troca de correspondência de mais de 10 anos com os editores de ciência e diretores de redação, era difícil de ser demonstrada naquela ocasião.
Não é mais. Ela acabou de ser demonstrada inusitada e inesperadamente na V São Paulo Research Conference – "Teoria da Evolução – Princípios e Impacto", realizada no Auditório do Teatro da Faculdade de Medicina (FAMUSP), evento promovido pela Pró-Reitoria de Pesquisas da USP, no dia 20 de maio de 2006. Eu esperei 8 anos pela confirmação de minha tese de que a GMT não pratica jornalismo científico objetivo, apartidário e pluralista quando a questão é Darwin. Deve ser também assim em outras "áreas cinzentas" que desconhecemos.
Como a hipótese transformista darwinista é aceita a priori, e baseada em evidências circunstanciais, mesmo que haja opiniões divergentes de outros especialistas abalizados sobre o assunto, o mais próximo que a Folha de São Paulo chegou foi uma reportagem especial intitulada "Visões Extremas da Evolução", onde prevaleceu o paradigma neodarwinista e um pequeno destaque marginalizado da Teoria do Design Inteligente na figura de Michael Behe, com a sua tese da complexidade irredutível (A Caixa Preta de Darwin, Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1997).
Todos os cientistas darwinistas foram entrevistados via e-mail. Menos Behe. William Dembski, matemático, autor de The Design Inference (Cambridge: Cambridge University Press, 2000), o mais brilhante dos teóricos do DI, sequer foi entrevistado. A editoria de ciência da FSP daquela época tinha os e-mails desses cientistas, pois tive o prazer de enviá-los ao jornalista Maurício Tuffani (hoje na UNESP).
A GMT posa de vestal e de "dona da verdade" em certos assuntos. Leia os editoriais. Mas agora fica mais difícil essa sua postura de "mulher de César", pois Marcelo Leite, na sua palestra sobre como a mídia cobre a controvérsia da evolução, disse que a relação da GMT com os oponentes de Darwin – ele mencionou como sendo os criacionistas, mas existem outros que fazem por motivos essencialmente científicos – é: "NÃO DAMOS ESPAÇO!"
"NÃO DAMOS ESPAÇO!" Quer dizer, um dos principais preceitos éticos do jornalismo – o dever de jamais frustrar a manifestação de opiniões divergentes e o livre debate de idéias (TUFFANI, Maurício. "Ciência e interesses: As regras do jogo acima do método e da razão", in Formação e Informação Científica, São Paulo: Summus, 2005, p. 67) vem sendo jogado na lata do lixo das redações da GMT, quando a questão é Darwin. Isso também se aplica aos jornais O Globo, O Estado de São Paulo, e as revistas Veja, Época e as de divulgação científica – Galileu e Superinteressante.
Isso é a negação do verdadeiro espírito livre de um acadêmico – Marcelo Leite é doutor em ciências sociais pela UNICAMP. Ao não dar espaço a opiniões divergentes e ao livre debate de idéias, o fundamentalismo da Nomenklatura científica (influenciado pelo naturalismo filosófico) já se instaurou há muito tempo nas redações, e os jornalistas tidos como homens e mulheres livres, sofrem da "síndrome de soldadinhos-de-chumbo", pois as regras do jogo estão acima do método e da razão. E da ética!
Marcelo Leite, quem diria, um guarda-cancelas de Darwin... E a minha tese de relação incestuosa da GMT com a Nomenklatura científica publicada em 1998 no Observatório da Imprensa fica demonstrada. QED.
Eu saí daquela conferência com um ar de alegria e tristeza. Alegria por ter visto a tese confirmada. Triste em saber que a GMT, que se diz livre, encontra-se na verdade no "cativeiro" do naturalismo filosófico que posa como metodologia naturalista.