Nos dias 18-20 de maio eu apresentei o pôster “Uma Iminente Mudança Paradigmática em Biologia Evolutiva?” na V São Paulo Research Conference – “Teoria da Evolução: Princípios e Impacto” na USP. Era sobre as muitas dificuldades que os especialistas estão encontrando na atual teoria geral da evolução de Darwin – o neodarwinismo e o que isso poderia significar em termos paradigmáticos.
Li o artigo abaixo e quase não acreditei – as minhas indicações de se revisar o neodarwinismo estão sendo vindicadas por um cientista evolucionista americano de renome!
“Os Pensadores: Antropólogo da Universidade de Pittsburgh acha que a teoria de Darwin precisa evoluir em alguns pontos.
A série deste mês destaca pessoas da Pensilvânia Ocidental que estão na vanguarda de novas idéias em suas áreas.
Segunda-feira, 29 de maio de 2006
Foto de John Beale, Post-Gazette
Jeffrey H. Schwartz, Universidade de Pittsburgh
Por Mark Roth
Pittsburgh Post-Gazette
http://www.post-gazette.com/pg/06149/694046-85.stm
Darwin estava errado, e seus seguidores modernos perpetuam os seus erros.
Isso soa como a salva de abertura de um defensor do Design Inteligente ou algum outro crítico religiosamente motivado da teoria da evolução.
Mas, na verdade, resume as idéias de Jeffrey Schwartz, um eminente antropólogo na Universidade de Pittsburgh e um de um grupo crescente [sic] de críticos da teoria darwiana padrão.
A mais recente publicidade que o Dr. Schwartz recebeu focalizou o seu papel na criação de réplicas em tamanho natural de George Washington para exposição no Monte Vernon.
Muito de sua carreira, contudo, tem sido devotada à evolução humana e a história das idéias de Charles Darwin.
Ao criticar Darwin, o Dr. Schwartz não contesta que os humanos, os animais e as plantas evoluíram de outras espécies. Na verdade, um de seus livros, “The Red Ape” [O macaco vermelho], argumenta que os orangutangos, e não os chimpanzés, são os parentes evolucionários mais próximos dos seres humanos.
Todavia, ele discorda de duas partes importantes de pensamento darwiniano tradicional – gradualismo e adaptação.
O gradualismo sustenta que novas espécies evoluem de seus ancestrais através pequenas mudanças incrementadas. A adaptação diz que aquelas mudanças vêm em resposta às mudanças de condições no ambiente.
“Nós temos abundante evidência”, Darwin escreveu em um de seus livros, “da constante ocorrência sob a natureza de insignificantes diferenças individuais da maioria dos gêneros mais diversificados; e então nós somos levados a concluir que as espécies geralmente têm se originado pela seleção natural de diferenças extremamente insignificantes”.
O dr. Schwartz disse que ele tem dois problemas com esta visão.
Primeiro, se a evolução fosse gradual, deveria haver um registro de mudança contínua nos fósseis pré-históricos, mas existem muitas lacunas [sic] entre as espécies no registro fóssil.
Darwin disse que era simplesmente má sorte que aqueles fósseis intermediários estivessem faltando. Os criacionistas científicos têm usado as lacunas fósseis para argumentar que Deus [Argh, “é como se eu estivesse cometendo um assassinato” (Darwin) mencionando este nome aqui neste blog!!!], conforme descrito no livro de Genêsis.
Mas há uma outra possibilidade, disse o Dr. Schwartz. Não existe um imenso número de fósseis transicionais perdidos porque, em primeiro lugar, eles nunca estiveram lá. Em vez disso, as novas espécies surgiram subitamente devido a alterações genéticas que criaram diferenças acentuadas com seus predecessores.
Outro problema com o gradualismo, ele argumentou, é que ele sugere que as estruturas complexas, tais como os olhos de vertebrados ou as glândulas mamárias dos mamíferos, tiveram milhares de precursores levemente diferentes em criaturas anteriores. Isso desafia a lógica, ele disse. Os pensadores evolucionários modernas como Niles Eldredge e o falecido Stephen Jay Gould lidaram com as lacunas dos fósseis apresentando a teoria do “equilíbrio pontuado”. As criaturas evoluíram bem do jeito que Darwin tinha descrito, eles disseram, mas não numa velocidade constante. Algumas vezes haveria períodos de inatividade; algumas vezes haveria explosões pródigas de novas espécies.
Contudo, aquele conceito ainda defendia a idéia de adaptação, disse o dr. Schwartz – que as mudanças nas condições ambientais levam a “seleção natural” favorecer a sobrevivência das espécies melhor adequadas para aquelas condições.
Ele tem uma visão alternativa.
O dr. Schwartz afirma que os novos organismos provavelmente são gerados por mudanças aleatórias nos genes de desenvolvimento, e que quaisquer novas características que eles têm permanecerão existindo enquanto eles não provocarem danos às chances de sobrevivência das criaturas.
“Basicamente”, disse ele, “se uma característica não lhe mata, você continuará a tê-la”.
Em vez de o ambiente fazer com que as espécies mudem favorecendo um tipo de criatura em detrimento de outra, disse ele, é bem provável que uma criatura produzida por evolução aleatória pode sobreviver em ambientes diferentes.
O seu exemplo favorito é o lêmure mangusto, encontrado em Madagascar e nas ilhas Comoros distante da costa da África. Em Madagascar, esses lêmures são ativos durante o dia, comem frutas e folhas e viajam pelo chão. Nas ilhas Comoros, eles são ativos à noite, ficam nas árvores, e se alimentam pendurados de cabeça para baixo pelos seus pés para chuparem néctar das flores.
“Este tipo de mudança é na verdade bem comum”, disse ele. “Esses lêmures têm os mesmos dentes, os mesmos pés, os mesmos olhos, mas se o ambiente muda, eles mudam a sua atividade e sua dieta, não a sua anatomia”.
O dr. Schwartz acha que há duas razões por que ele e outros pensadores evolucionários contrários não têm alcançado a consciência do público.
Por uma razão, eles todos não concordam entre si, assim eles nunca desenvolveram uma frente unificada.
Também, o desafio ao pensamento evolucionário em décadas recentes dos defensores do Design Inteligente [É só aqui na Belíndia que a Grande Mídia tupiniquim, à la Stalin, faz de conta que não existimos] e o criacionismo têm impelido muitos cientistas a se juntarem em defesa das idéias de Darwin, empurrando as teorias alternativas para uma posição obscura.
Embora o dr. Schwartz seja tão apaixonado sobre a evolução, ela é apenas uma dos seus ecléticos interesses. Uma pequena lista de outros projetos:
O projeto George Washington, que ele escreveu a respeito na edição de Fevereiro da revista Scientific American, está quase pronto para ser mostrado ao público. As figuras de cera de Washington com as idades de 19, 45 e 57 foram desenvolvidas com a ajuda dos conhecimentos especiais do Dr. Schwartz sobre como o rosto do presidente teria mudado por causa do envelhecimento e dos seus dentes notoriamente de péssima qualidade. Elas serão expostas em outubro.
Como um especialista estudando ossos a fim de ajudar nas investigações criminais, ele tem assistido a ascensão dos programas de televisão tipo “CSI” com preocupação e prazer. O efeito total dos programas tem sido provavelmente o “aumentar as expectativas não realistas” sobre quão eficaz a evidência forense pode ser na solução de crimes, ele disse – “mais o fato que quando eu vou ao escritório do médico-legista, ninguém se parece com ninguém naqueles programas de televisão”.
Ele e vários co-autores acabaram de completar um estudo de quatro volumes de todo o registro fóssil humano. Perguntado sobre o por que os Neandertais desapareceram após quase 200.000 anos de existência, ele disse: “Eu acho que a nossa espécies os matour. Nós somos uma espécie belicosa e intolerante e eu não me surpreenderia se nós empurramos esta outra espécie para refúgios e os exterminamos completamenmte”.
O dr. Schwartz disse que ele não sabe se as suas idéias evolucionárias se tornarão parte do convencional, mas mesmo assim ele pensa que elas são boas para a ciência.
“Eu acho que foi George Patton quem disse, ‘Se todo o mundo estiver pensando a mesma coisa, então ninguém está pensando’ [Eu chamo isso carinhosamente de ‘síndrome-de-soldadinho-de-chumbo’. E eu acredito que esse é o problema com o pensamento darwiniano que coloca todos os ovos numa cesta só”.
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(Mark Roth pode ser contatado pelo e-mail mroth@post-gazette.com ou pelo telefone 412-263-1130. )
Dados biográficos:
Nome: Jeffrey H. Schwartz
Idade: 58
Posição: Professor de antropologia, Universidade de Pittsburgh, há 32 anos.
Formação acadêmica: Bacharel, Columbia College, 1969; Mestrado e Ph.D. em antropologia, Columbia University, 1973-74.
Prévias posições: Consultor em antropologia forense, escritório do médico-legista do Condado de Allegheny, de 1998 até hoje; Distinto Professor visitante, University of Alabama, 2003; Professor Visitante, University of Vienna, 2005.
Publicações: Diversos livros, inclusive o “The Human Fossil Record” (4 volumes), 2002-05; “Sudden Origins: Fossils, Genes and the Emergence of Species” (1999); “The Red Ape” (1987, atualizado 2005), e 140 artigos e capítulos em publicações científicas com revisão por pares.
Homenagens profissionais: Melhor obra de referência em ciências, American Association of Publishers, 2003; Distinto palestrante, Gesellschaft fur Anthropologie, 1998; Medalha de Honra, College de France, 1989.